Meses depois...

—Cuidado, cuidado... —Zion pede enquanto desço os degraus da sala do trono. Ele e Djoser me seguram firme com medo que eu caia no chão, por isso acho graça. Meu ventre está volumoso dando indícios de que muito em breve meu filho irá nascer.

—Acho melhor você não subir mais ao trono. —Meu irmão fala preocupado. —Está próximo da criança nascer, logo você vai ter que ficar acamada querendo ou não.

—Djoser! —Meu pai chama afoito pelo meu irmão. —Meu filho, vá até os seus aposentos.

—O que aconteceu? —Djoser indaga preocupado.

—Seu filho vai nascer, Djoser. —Meu pai revela e então Djoser me olha assustado. —Halima acabou de entrar em trabalho de parto. Sua mãe está com ela.

—Meu Deus, eu vou ser pai. —Djoser fala assustado.

—Vai logo, Djoser. —Zion fala animado. —Meu sobrinho vai nascer.

—Vão os dois. —Falo. —Eu vou logo em seguida. —Afirmo. Zion e Djoser logo saem apressados da sala do trono me deixando sozinha com meu pai.

—A mamãe está com Halima? —Pergunto nervosa.

—Halima pediu para sua mãe ficar com ela. —Meu pai fala sorrindo. Entre todos esses meses, Djoser e Halima acabaram se casando. Algo doloroso para Yaffa, mas agora ela deve estar frustrada em saber que o filho de Halima irá nascer primeiro. —Sua mãe estava radiante, Anippe.

—Ela vai ser avó. É natural que esteja radiante. —Falo alegre. —Eu espero que a criança nasça saudável.

—A sua também vai. —Meu pai fala contente. Sinto meu filho se mexer e por isso levo a mão de meu pai até meu ventre. —Tenha um pouco de calma, logo será a sua vez. —Falo com meu filho.

—Papai! —Lyanna chama pelo nosso pai e então vejo minha irmã com Khalid. Desde que Mhysa, a irmã mais velha de Khalid morreu, minha mãe e Gab cuidam da garota. —É verdade que o bebê da Halima vai nascer?

—É verdade, meu amor. —Meu pai afirma.

—A senhora se sente bem? —Khalid pergunta. Faz alguns dias que me senti mal. Fiquei tão fraca que pensei que fosse morrer repentinamente.

—Estou melhor, minha querida. —Respondo fazendo Khalid sorrir. Khalid está com quase doze anos e é uma verdadeira irmã para Lyanna. Já que não posso correr com Lyanna, Khalid faz isso por mim.

—Eu vou ser tia, sabia? —Lyanna pergunta para Khalid. Minha irmã fica de mãos dadas com meu pai e isso me faz sorrir.

—Eu sei, Lyanna. —Khalid fala. Lyanna então toma o brinquedo que está nas mãos de Khalid e corre. —Lyanna! —Ela exclama e corre atrás da minha irmã.

—Eu acho que de todos os meus filhos, Lyanna é a que mais tem energia. —Meu pai brinca com a situação.

—Eu estive pensando em Uri. —Falo triste pelo meu irmão. —O aniversário dele está chegando e eu não consigo parar de pensar nele, pai.

—Eu penso nele todos os dias. —Meu pai fala pensativo. Sorrio ao lembrar de Uri, mas logo gemo de dor ao sentir uma dor terrível vinda do meu ventre. —Anippe? —Meu pai chama por mim ao ver que sinto dor. —Está tudo bem? —Ele pergunta preocupado.

—Já passou. —Falo surpresa ao me sentir bem novamente. —Não é a primeira vez que sinto. Paser me disse que é normal.

—Acho melhor você ir repousar. —Meu pai fala sugestivo, mas eu nego. —Anippe, essa criança não é pequena. Você precisa descansar, mesmo que não queira. —Meu pai fala enquanto andamos.

—Não gosto de ficar acamada, sabe disso. —Falo. —Mas o senhor tem razão. —Afirmo fazendo meu pai sorrir. —A mamãe também sentiu muitas dores quando estava grávida?

—Ela mesma disse que quando tinha você no ventre não sentia nenhuma dor, nem mesmo as dores do parto fizeram sua mãe chorar. —Meu pai fala e então sorrio. —Não tenha medo, Anippe. Você vai resistir.

—Eu tenho certeza disso. —Afirmo. —Mas tenho medo mesmo assim. —Falo. —Isso me faz lembrar de Nefertari. Ela morreu com um filho ainda no ventre.

—Uma fatalidade. —Meu pai fala nostálgico. Sinto novamente a dor que antes senti, por isso tremo da cabeça aos pés, mas não falo nada para meu pai. —Sua mãe já esperava Lyanna.

—Eu me lembro bem. —Falo nostálgica. —Se Nefertari não tivesse morrido, seu filho ou filha teria nascido.

(...)

—Então? —Djoser pergunta ao ver nossa mãe sair dos aposentos com um bebê em seus braços. Os gritos de Halima não existem mais, apenas o choro da criança.

—É um menino. —Minha mãe fala ao balançar o neto nos braços. Olho para meu pai que está totalmente radiante ao ver minha mãe com o filho de Djoser nos braços. —Quer segurar seu filho, Djoser?

—Claro que sim. —Djoser afirma e então pega seu filho nos braços. Minha mãe beija a mãozinha de meu sobrinho e logo olha para meu pai. —Tudo bem, está tudo bem... —Djoser tenta acalmar o filho enquanto Zion toca em meu ventre. —Você está com sua família, príncipe.

—Ele tem os seus olhos. —Meu pai fala ao olhar para o neto. —Como vai se chamar?

—Eu ainda vou entrar em um acordo com Halima sobre isso. —Djoser brinca e então rimos. —Mas nós já sabemos que você tem sorte, meu filho. Toda a sua família te ama.

—Ele foi como você. —Minha mãe fala ao olhar para meu irmão. —Deu um pouco de trabalho para nascer. —Ela fala em tom de brincadeira.

—E Halima? —Pergunto.

—Está se recuperando. —Minha mãe fala. —Como o pai, esse meu neto deu trabalho. —Minha mãe fala ainda mais orgulhosa. —Parece que isso é de família, não é? —Ela pergunta ainda olhando para o neto.

—Quer segurar ele novamente? —Djoser pergunta e então entrega o filho para nossa mãe.

—Ele parece gostar mais da nossa mãe. —Falo e então meu irmão finalmente sorri para mim.

—Será que a praga que Amun falou vai mesmo acontecer? —Djoser pergunta preocupado.

—Ele disse que seria com a primeira esposa. Mas Halima é sua esposa secundária. —Zion fala tentando acalmar Djoser. —Mas nada vai acontecer com Yaffa e com a criança que ela espera, Djoser. —Meu marido garante.

—Não vamos falar dele agora. —Meu pai pede ao ver minha mãe balançar o neto nos braços. Meu pai sorri orgulhoso pela família que tem ao lado de minha mãe. Essa criança é o primeiro neto deles dois, com o sangue deles, com o nome deles. —Parabéns, meu filho. —Meu pai fala orgulhoso pelo neto que acaba de ganhar. —Já tenho Bezalel, agora este... —Meu pai fala ao olhar para o filho de Djoser. —Precisamos de uma neta não acha, Henutmire? —Meu pai pergunta sugestivo e olha para mim. Minha mãe então sorri maravilhada com a idéia.

—Eu realmente espero que seja uma menina. —Zion fala ao tocar em meu ventre. —E que tenha toda a beleza da mãe.

—Eu disse a mesma coisa quando Henutmire estava grávida e aí está... —Meu pai fala orgulhoso, ainda olhando para mim. Meu sobrinho começa a chorar novamente. Por isso minha mãe tenta acalmá-lo, mas o garoto não para de chorar.

—É melhor eu entregar para a mãe. —Minha mãe fala ainda ninando o neto. —Pegue, Djoser. —Minha mãe fala ao entregar o bebê para meu irmão. —Você é o pai, agora quem deve cuidar dele é você.

—Boa sorte, Djoser. —Brinco com meu irmão. Logo ele entra em seus aposentos com o filho nos braços e vai até Halima. Sorrio ao ver que meu irmão está feliz com a sua família, mas logo meu sorriso se desfaz ao sentir a dor novamente, a dor vinda de meu ventre.

—Tudo bem, meu amor? —Zion perguntar preocupado e carinhoso comigo.

—Está tudo bem. —Afirmo. Logo seguro firme em Zion ao escutar algo forte estremecer o palácio. Meu pai protege minha mãe em seus braços, ela acaba se assustando e teme por todos nós.

—Eu vou ver o que foi isso. —Zion fala e então olha para mim. —Fique calma, eu volto logo. —Ele promete antes de partir.

—Anippe? —Minha mãe chama por mim preocupada. Fico assustada pelo barulho que aumenta a cada minuto, por isso meus pais ficam preocupados.

—O que foi isso? —Djoser pergunta incrédulo e então olha para mim. Meu irmão logo me toma em seus braços e entra comigo em seus aposentos. —Onde está doendo? —Meu irmão pergunta.

—Mãe! Pai! —Lyanna chama por nossos pais ao entrar assustada com Khalid. Minha irmã corre até nosso pai e pede pelos braços dele. —O que foi isso? —Minha irmã pergunta para Khalid.

—Foi Amun. —Khalid fala assustada e então abraça minha mãe. —Eu estava com Lyanna no jardim quando vimos a bola de fogo.

—Ele quer nos matar. —Halima fala assustada com o filho nos braços. Grito de dor ainda sentada no divã fazendo com que todos me olhem assustados.

—Eu vou procurar Gab e Zion. Não saiam daqui. —Djoser fala antes de sair porta a fora.

—O que você tem, Anippe? —Minha mãe pergunta ainda agarrada à Khalid.

—Acho que foi o susto. —Falo ainda assustada. —Meu filho, mãe... —Falo temendo pelo meu filho. Minha mãe então vem até mim e tenta me acalmar.

—Beba isto. —Khalid oferece uma taça para mim com água. Tento me acalmar, mas ainda estou nervosa.

—Esse homem não poderia ser menos... —Não termino de falar, sinto novamente a dor se alastrar pelo meu corpo. Minha mãe põe a mão em meu ventre, mas logo se acalma.

—Ele não vai nascer agora. —Minha mãe fala firme e então olha para Lyanna nos braços de meu pai. —Lyanna, venha cá. —Minha mãe chama por minha irmã, mas ela nega sair dos braços de meu pai.

—Ela está assustada. —Meu pai fala enquanto Lyanna chora em seus braços. Vejo que Halima balança o filho nos braços, fazendo meu sobrinho se acalmar.

—Ela está muito mal. —Khalid fala ao me ver tremer. Minha mãe se assusta ao pôr sua mão em meu rosto e sentir o quanto estou quente.

—Eu vou chamar Paser. —Minha mãe fala, mas meu pai impede de imediato.

—De maneira alguma, Henutmire. Você vai ficar aqui. —Meu pai pede assustado. Talvez ele esteja assim pelo fato de ser Amun quem nos ataca. Talvez ele tenha medo de que Amun faça algo contra minha mãe. Posso ver o quanto meu pai está assustado com essa situação.

—Acho que parou. —Falo sobre os barulhos causados por Amun. Agora resta apenas ver o que foi danificado.

—Eu vi, pai. Era fogo vindo céu. —Lyanna fala ainda assustada.

— Catapultas e flechas com fogo. —Khalid fala. —Eram várias. Tinham um alvo certo. A maioria caia no jardim e por sorte corri a tempo de me salvar.

—Ele queria me matar. Amun sabe que eu poderia estar ali com Lyanna e Anippe. —Minha mãe fala pensativa.

—Senhora Henutmire. —Karoma chama por minha mãe ao entrar afoita. —É sobre a senhora Yaffa...

—Yaffa? —Indago surpresa.

—Ela acabou se assustando com os estrondos. —Karoma fala ainda ofegante. —E acabou caindo. Está até agora lutando para salvar a criança que carrega, mas o sumo sacerdote não está conseguindo.

—Ela vai perder a criança, Henutmire. —Meu pai fala e então olha para mim. —Melhor chamar Paser agora. Talvez a criança de Yaffa não resista, mas a de Anippe pode.

—A criança está bem, pai. —Falo, mas sinto medo. Abafo meu grito de dor mais uma vez, não quero piorar a situação.

(...)

—Os prejuízos foram poucos. —Minha mãe fala enquanto andamos pelo jardim do palácio.

—Alguém está ferido? —Pergunto.

—Alguns. —Leila fala. —E Yaffa?

—Paser está cuidando dela. —Minha mãe fala enquanto paro de andar. —O que foi? —Ela pergunta para mim.

—Não foi nada. —Falo ao sentir a dor se alastrar pelo meu ventre.

—Vocês não vão acreditar. —Djoser começa a falar assim que vem até nós. —A rainha Elda de Moabe não morreu como pensei.

—Como? —Indago curiosa.

—Ela está no palácio. —Meu irmão revela. —Pediu ajuda por ter perdido o reino após a morte de seu marido e seu irmão. Elda vem fugindo desde que Amun sentou no trono de Moabe.

—E você vai ajudar essa mulher? —Pergunto.

—Elda ainda tem um exército, Anippe. E tê-la aqui é formar uma aliança entre os dois reinos. —Meu irmão fala.

—Elda é uma rainha pagã, Djoser. —Minha mãe fala com um pouco de reprovação.

—Ela vai deixar de cultuar outros deuses. Elda não tem escolha. Enquanto ela precisar de ajuda, vai fazer o que eu quiser. —Djoser fala soberbo. Meu irmão está diferente desde que se tornou rei oficialmente, mas não é cruel como nosso tio.

—Eu quero vê-la.

(...)

Caminho lentamente ao lado de Leila até os aposentos de Elda. Meu coração diz que preciso conhecer ela, vê-la de perto, saber como ela é. Nunca fiquei tão curiosa para saber como é a soberana de Moabe. Já ouvi muitos falarem que Elda é uma mulher exuberante, elegante e que nunca foi de perder a postura diante das piores situações. —Ouço uma voz feminina através da porta, com isso entro sem pedir permissão. —Logo vejo uma mulher alta, bem mais alta que eu. Magra e de cabelos ruivos, sentada no divã. Mas que ao me ver, se levanta lentamente e fica de frente para mim.

—Soberana. —Falamos ao mesmo tempo. Com isso acabamos rindo da situação.

—Deve ser a soberana de Moabe. —Minhas palavras satisfazem Elda. —Espero que goste da nossa hospitalidade.

—A senhora e vosso irmão estão sendo generosos comigo. —Elda fala. —Irei agradecer eternamente por isso.

—Imagino que esteja cansada depois de tanto vagar até chegar aqui. —Falo. —Vou deixá-la sozinha para que descanse.

—Não precisa se acanhar, majestade. —Elda fala e então me lança um sorriso.

—Sem formalidades. —Falo. Leila me olha como se eu estivesse agindo de forma estranha, por isso sorrio. —Pode me chamar pelo meu nome.

—Com muito prazer, Anippe. —Elda fala pausadamente e vem até mim. —Posso? —Ela pergunta enquanto mantém a mão próxima ao meu ventre. Elda põe sua mão em meu ventre e sorri logo em seguida.

—Se fosse uma menina e nascesse em Moabe, seria oferecida aos deuses. —As palavras de Elda me assustam. —Mas essa criança tem sorte. —Ela fala assim que retira sua mão de meu ventre. —Presumo que esteja ansiosa.

—Claro que sim. Nunca pensei em ser mãe, Elda. Mas agora acho que estou vendo o mundo de outra maneira. —Falo. —Porquê nunca teve filhos?

—Prefiro estar sozinha do que mal acompanhada. —Elda fala e por fim mostra a sua acidez.

—Tenha um bom descanso, Elda. —Falo dando fim a nossa conversa. Saio desnorteada dos aposentos de Elda após saber como ela é. Sinto minhas pernas tremerem, mas não tremo de medo. Qual seria a razão de Elda me deixar tão nervosa? —Quem está gritando? —Pergunto ao ouvir gritos e pessoas chorando. Logo ando depressa e Leila acava me seguindo como de costume. Quando estou prestes a chegar no harém vejo minha mãe sair com suas vestes sujas de sangue.

—É Yaffa? —Pergunto ao ouvir a voz da filha de Amun.

—A criança nasceu morta. —Minha mãe fala e então olha para si mesma. —Eu mesma fiz o parto. Yaffa não confiava em nenhuma parteira e por isso eu fui obrigada a ajudá-la ter a criança no harém. —Minha mãe explica. —Era um menino também. —Ela revela enquanto Paser tenta ajudá-la, mas minha mãe parece estar em choque.

—As palavras do homem tem força. Mas Amun não sabia que a sua filha seria a esposa que não daria filhos para meu irmão. —Falo. —Como a criança era? —Indago e então minha mãe começa a chorar.

—Estava morta dentro dela faziam meses. —Paser revela me deixando chocada. Eu então olho para Leila que tenta me acalmar assim que penso sobre a criança que carrego. —Todas as vezes que Yaffa dizia que sentia a criança se mexer nada mais era que o psicológico dela. —Paser acrescenta.

—Assim que peguei o bebê nos meus braços... Seu corpo estava inerte enquanto o sangue transbordava pelos meus dedos. —Minha mãe fala ainda em estado de choque. —Amun condenou a própria filha. Yaffa terá a vida desgraçada tudo por causa das palavras do próprio pai.

—A senhora precisa se limpar. —Falo sugestiva ao ver que minha mãe está péssima.

—Isso é o que menos importa agora. —Minha mãe fala e então um sorriso forçado constatada em seu rosto onde lágrimas escorregam. —Quando o filho de Halima nasceu eu pensei... Na verdade lembrei de quando Djoser nasceu. O primeiro filho é algo grandioso na vida de uma mulher. —Ela fala. —O mesmo eu vi quando Yaffa entregava todas as suas forças para seu filho nascer. Eu me vi no lugar de Yaffa hoje. Me vi em Halima quando ele teve o filho nos braços. E também me vi em Yaffa com o filho morto. Em uma me vi realizada. Na outra voltei ao passado e lembrei de quando perdi os filhos que ainda estavam crescendo em mim. —Minha mãe fala enquanto eu choro. —Eu sofri com as crianças que perdi, mas anos depois tive você e seus irmãos. Mas Yaffa... —Minha mãe suspira pesadamente antes de ouvirmos os gritos de Yaffa. —Ela nunca será mãe...