Às vezes eu preferia morar no trabalho, principalmente quando chegava em casa e as crianças aprontavam. Julia ainda não aprontava muito, porém Lorenzo era mestre na arte de aprontar. Gil fazia um horário diferente do meu, então quando eu saia pela manhã, ele tinha duas horas com as crianças, o tempo suficiente para dar-lhes um bom café da manhã, brincar com eles, deixar Julia na creche e Lorenzo na escola, e depois ir trabalhar. Em compensação a tarde eu tinha duas horas a sós com as crianças, então minha rotina era voltar do trabalho aproveitando o caminho e pegando primeiro Julia e depois Lorenzo, quando chegava em casa, lhes dava um lanche e brincava um pouco com eles.

Neste dia em questão estava com uma dor de cabeça terrível, então dei o lanche para os dois, e pedi para que se acomodassem na sala para brincar. Faltava meia hora ainda para Gil chegar quando ouvi a campainha tocar.

“Quem será?”. Pensei prontamente, já que no prédio não poderiam entrar sem avisar via interfone, e Gil tinha a chave do apartamento. “Será que Gil esqueceu a chave novamente?”. Ele havia se esquecido da chave no serviço na semana anterior, isso não ocorria com frequência.

Ao chegar na sala, deparei-me com uma sala silenciosa. Julia brincando no cercadinho e Lorenzo sentado no sofá assistindo televisão. Quando abri a porta me deparei com o zelador todo molhado. E Lorenzo me veio a cabeça instantaneamente.

– O... Olá, está tudo bem? – Gaguejei confesso, era obvio que não estava. O zelador fez uma expressão irritada.

– Se... Seu filho... Ele... É o capeta. – Gritou por fim. – Ele está atirando balões com água em todos que passam por baixo de sua janela.

– Lorenzo. – Gritei.

Ele encolhido veio até mim. Sua expressão já era culpada, e com toda aquela dor de cabeça, eu já não raciocinava direito.

– O que você fez? – Fitei-o com um olhar repreendedor.

– Eu... Eu só estava brincando. – Tentou desculpar-se.

Fitei a janela com as redes de proteção. E agradeci a mim mesma por ter tido a ideia de coloca-las. Se não tivesse posto, imagine o que mais poderia atirar lá de cima. Virei-me ao zelador.

– Sinto muito. Pode ter a certeza que isso não ira acontecer novamente. Por que se acontecer... – Fitei Lorenzo demonstrando minha decepção. – Terei de tomar medidas ainda mais drásticas do que estou pensando agora.

O zelador assentiu. E eu pegando algum dinheiro de dentro da gaveta, lhe alcancei.

– Não necessita senhora.

– Necessita sim, irá precisar limpar-se e secar-se para poder trabalhar. Sei o quanto o síndico pode ser chato. – Virei os olhos, todos sabiam o quanto o síndico poderia ser chato. – É para ressarcir um pouco dos danos. – Disse gentilmente.

– Obrigado. – Ele aceitou o dinheiro, ainda receoso. Apesar de irritado no momento, o zelador era um senhor muito simpático que sempre havia tratado todos do prédio muito bem, e eu não queria criar inimizades.