Avatar: A lenda de Tara - Livro 1 Terra escrita por Glenda Leão


Capítulo 18
O portal no centro do mundo


Notas iniciais do capítulo

Gente quem é que percebeu que nós estamos chegando ao final do livro 1?



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Acordei com o sol batendo no rosto. Alguém recolheu as cortinas, mas eu sou a única que está no quarto nesse momento. Me espreguicei e levantei para ir ao banheiro. Abri o chuveiro e a água saiu num jato forte, enquanto o vapor embaçava o espelho. Depois de um banho rápido voltei para o quarto e fiquei surpresa ao ver minha cama arrumada e um conjunto de roupas sobre ela. Os acólitos do ar são verdadeiros ninjas. Vesti a camiseta verde escura e logo em seguida a calça preta. Peguei os coturnos que estavam no chão e me agachei para amarrar os cadarços. Olhei pela janela e avistei uma figura familiar vestindo camiseta e bermuda sair de um dos dormitórios masculinos.

— Dao! — exclamo extremamente feliz, não esperava vê-lo tão cedo. Me ergui com um suspiro de felicidade. Com os coturnos amarrados, estava pronta para sair.

Sai do dormitório feminino e comecei a andar pela ilha. Senti um cheiro agradável vindo de onde devem estar servindo o café da manhã. Pretendia ir direto atrás de Dao, mas a fome me levou pelo caminho em direção ao cheiro agradável de comida. Chegando lá fui servida imediatamente por gentis acólitos do ar. Bebi um gole do refresco e dei uma mordida generosa em um pão de queijo.

— Com licença avatar Tara. — ergui a cabeça e vi uma gentil senhora me observado, engoli a comida que tinha na boca de uma vez quase engasgando.

— Sim?

— Mestre Jinora gostaria de falar com você assim que terminar seu café.

— Claro, onde ela está?

— Na arena de treino, a senhorita deve ter visto quando saiu do dormitório. — ela tem razão, a arena fica entre os dormitórios femininos.

— Ah sim, obrigada. — agradeci a ela e com um enorme sorriso ela se curvou em reverencia o que me fez rir um pouco e sumiu tão rápido quanto apareceu.

Devorei o resto do café rapidamente e segui em direção à arena limpando os dedos com a boca. Antes de chegar até onde Jinora me espera pude ver pelo caminho enormes bisões voando alto no céu. Há muitos aqui, todos grandiosos, magníficos e poderosos. Tão distantes do mundo, da terra. Sinto algo estranho, uma fobia só de pensar em subir em um deles.

— Ai! — ouço a voz de Rizia, filha de Jinora. Ela é a cara e o corpo da mãe. Eu estava tão distraída admirando os bisões que não a vi e acabei esbarrando nela. — Ah, é só você. — ela fala com desdém. Nunca fui com a cara dela. Mostro a língua a ela e sigo até Jinora que está a alguns metros de distancia.

— Queria me ver? — pergunto. Jinora está vestida com o típico traje planador que os nômades do ar usam. Mesmo com seus quarenta e cinco anos e depois de cinco filhos, Jinora tem um corpo esbelto e o rosto jovem exceto por algumas linhas de expressão.

— Claro. Seus amigos, Kai e eu conversamos e chegamos à conclusão que talvez você estivesse muito cansada depois de tudo que passou desde que chegou à cidade e que devia descansar. — Jinora diz. — Mas então me ocorreu que nós estávamos falando de você e que Tara Caol não se cansa fácil. — sorri. — Pensei que gostaria de participar do treino dos dominadores de ar. Bei tian está sem ninguém para treinar.

Olho por sobre o ombro de Jinora e o vejo encostado em uma arvore segurando seu planador em uma mão e roendo as unhas da outra com um ar despreocupado. Bei tian, irmão gêmeo de Rizia e tão insuportável quanto. Tem o cabelo da mesma cor do da mãe, mas seus olhos são verdes como os do pai.

— Eu lutar contra ele? — digo apontando para Bei tian. — desculpe Jinora, mas não achei que quisesse sentenciar seu filho a morte. — dou uma risada e poucos me acompanham. Os que permanecem sérios são os seguidores dos gêmeos.

— O que quer dizer? Não está com medo está, Avatar? — ele usa meu titulo como um meio para tentar me enfurecer. Mas eu sei exatamente o que acontece comigo quando fico com raiva.

— Então, Tara? Vai ajuda-lo no treino? — Jinora pergunta.

— Com muito prazer. — respondo estralando os dedos e o pescoço. — Não se preocupe Bei tian, serei delicada com você. — avanço contra ele urrando com um tatu tigre, mas sou pega de surpresa quando ele gira seu bastão e me joga longe com um forte jato de vento. Prendo meus pés na terra e enquanto ele ri com os amigos acerto um chute direto em seu queixo o que o faz cair de cara no chão.

Bei tian se enfurece e começa a tentar me golpear com ataques simultâneos os quais eu apenas desvio. Não consigo achar uma brecha para atacar. Fiz uma avaliação errada dele, ele nunca lutou assim nos combates anuais que aconteciam no palácio presidencial de Ba Sing Se, apenas lançava alguns oponentes fora da arena, a não violência é algo que constitui ou pelo menos constituía a nação dos nômades do ar.

“Eu ficaria feliz em acabar com ele.”

Vaatu. Agora não. Há pouco tempo atrás para mim era instintivo despejar toda minha força em uma luta. Desfrutar de toda a dor que causava aos meus oponentes. E, apesar de não querer perder essa luta, apesar de querer esfolar Bei tian, e apesar de minhas pernas começarem a apresentar sinais de cansaço de tanto desviar dos golpes, silencio essa parte inquieta e maligna da minha mente a fim de evitar um novo massacre da nação dos nômades do ar.

Bei tian acaba me pegando distraída. Me envolve em uma bola de ar e começa a impedir a passagem do oxigênio para os meus pulmões. Lembro-me do pesadelo que há muito tempo não tenho e começo a me desesperar.

“Me liberte Tara, me deixe mata-lo.”

— Pare! — Jinora grita lançando um olhar fulminante para o filho que me solta no chão. — Para o quarto agora. — ela ordena. Bei tian abre um sorriso, recua alguns passos e desaparece. — Desculpe por isso querida. Você está bem? — pergunta para mim e não respondo.

Minha respiração sai em arfadas estranguladas enquanto me levanto. Jinora coloca a mão sobre meu peito e tenta me fazer respirar com mais tranquilidade. Meu coração está batendo com tanta força que parece querer sair do meu peito.

Quando dou por mim estou sentada em uma pequena escada na companhia de três dos homens da minha vida, Suna, Kadda e Dao. Jinora está sentada ao meu lado se certificando de que estou bem. Os garotos estão com rostos preocupados.

— Está tudo bem gente, serio. Eu só me assustei um pouco. — digo tentando tranquiliza-los.

— Desculpe perguntar Tara, mas a sensação foi algo familiar para você? O ar saindo de seus pulmões? — Jinora pergunta e não tenho problemas para responder.

— Tenho pesadelos com isso desde pequena. Mas não é Bei tian que está lá, é um homem careca e mais ou menos com a sua idade Jinora.

— Eu sabia que estava certa. Seus sonhos são as memorias de Korra, da sua outra vida. — Jinora abre um enorme sorriso e toca minha testa. — Sua conexão espiritual é enorme.

Eu já sabia disso, sempre soube, mas ultimamente tudo que queria era não ter nascido assim. Sempre desejei ter poder e agora tenho medo de usa-lo.

— Chega a me dar inveja. — ela continua. — Já sei exatamente o que você precisa fazer para começar a dominar. Agora descanse se precisar ou ande por ai, apenas não saia da ilha, por favor. Preciso ir. — ela me beija na testa e vai embora.

Converso por algumas horas com os garotos. De dez em dez minutos tenho que por fim em uma discursão entre Suna e Dao enquanto Kadda gargalha. Me fez bem passar esse tempo com eles três, estava precisando de um pouco de descontração.

— Já está na hora do almoço. Vamos? — Kadda pergunta com água na boca, não consigo imaginar a decepção que terá quando descobrir que aqui só se come comida vegetariana. Seguro um sorriso.

— Vão lá, preciso ficar um pouco sozinha. — os garotos me deixam, embora Suna esteja um pouco relutante em me deixar sozinha acaba indo também.

Passeio pela enorme ilha até chegar ao meio das arvores onde encontro uma ponte que passa por cima de um pequeno córrego. Me certifico que estou sozinha e começo a tirar minhas roupas, peça por peça até ficar apenas de roupa intima. Respiro fundo e mergulho de uma vez. Por azar acabo engolindo uma enorme quantidade de água, sinto o liquido gelado descendo por minha garganta. Quero tossir, mas não posso. Esqueci que sou uma péssima nadadora. Minha visão fica cada vez mais turva, sinto alguém pular na água e me puxar pela cintura até a superfície. Saboreio seus lábios quentes sobre os meus. Suna.

Abro os olhos e ele sorri aliviado.

— Dá próxima vez que quiser se matar certifique-se que eu não esteja por perto. — não escuto o que ele diz, apenas o puxo para mais um beijo. — É tão errado se aproveitar da respiração boca-a-boca. — ele faz piada e eu sorrio.

Sinto um calafrio percorrer todo meu corpo quando ele me beija de novo. Paro o beijo apenas para enterrar meu rosto em seu pescoço me deliciando com seu cheiro. Seus cabelos roçam na minha bochecha enquanto ele passa as mãos por minhas costas com o mais delicado dos toques. Levo minhas mãos até a barra da sua camisa molhada, mas antes que eu consiga tira-la ele empurra minhas mãos e se levanta ofegante.

— Desculpe Tara, não consigo. Desculpe. — Suna me da às costas e vai embora repetindo suas desculpas. Continuo sentada no chão catatônica e com o orgulho ferido.

Depois de me vestir e me secar passei o resto da tarde trancada em meu quarto. Jinora trouxe meu almoço e jantar, amanhã vou começar a controlar meu lado espiritual e entender por que Raava não fala comigo assim como Vaatu fala. Primeira parada: mundo espiritual. Jinora disse que devíamos começar por lá. Kadda e Dao passaram por aqui pra saber o que eu tinha, mas essa noite meus pensamentos estão confusos, distante, minha mente estava vagando, então preferi encerrar a conversa antes que brigássemos. Acabei pegando no sono.

De repente vi uma criatura com o corpo de uma centopeia gigante, rosto pálido e o olhar cinzento. Sua presença era malévola e seu hálito frio. Essa criatura me encheu de medo. Me sinto impotente e petrificada. Tento gritar o mais alto que posso e finalmente consigo acordar.

Quando a tarde chegou Jinora, os garotos, alguns nômades do ar e eu fomos até o portal espiritual que fica no antigo centro de cidade republica. O portal estava muito bem guardado e apenas pessoas com grupos turísticos podiam entrar. Jinora disse que eu precisava ir sozinha, ela me deu um abraço e se afastou. Kadda se aproximou de mim e segurou minha mão, acariciei seus cabelos que já caiam abaixo dos ombros e lhe dei um beijo na bochecha.

— Vou ficar bem. — digo enquanto solto minha mão da dele. — Te vejo mais tarde. Amo você.

Kadda se afastou e foi a vez de Dao vir se despedir de mim.

— Se precisar de mim, estarei aqui.

— Não vou precisar, se algo der errado não quero que se machuque.

Dao agarra minha mão e aperta contra seu peito como se quisesse que eu levasse seu coração comigo.

— Cuidado. — avisa. — Você não conhece nada sobre esse lugar.

— Mais coisas para conhecer. — digo com um sorriso, mas seu rosto está serio.

— Mais perigoso também. — entendo a preocupação que ele carrega no rosto, um olhar suave e gentil me encarando. É engraçado, eu nunca reparei direito nesse sentimento dele por mim até encontrar com ele em Omashu.

— Serio Dao, é o mundo espiritual e eu tenho o espirito mais poderoso do mundo dentro de mim. Eu vou ficar bem.

Dao se afasta. Sem querer eu olho na direção onde Suna está e ele desvia o olhar, noto seu desconforto e sua preocupação, mas ele não vai vir falar comigo. Decisão sabia, ele sabe que estou chateada com ele e não quer arriscar ser pulverizado.

Finalmente tomo coragem e entro no mundo espiritual, começo a andar por ai sem rumo e não escondo o receio. Um calafrio percorre minha nuca. Encontro um trilha de lama esburacada e sigo por ela até uma enorme arvore morta e retorcida, na base da arvore há o que parece ser a entrada para uma caverna. Chego até lá, sinto algo me chamar e alguma coisa me faz assumir uma expressão fria. Agradeço por ser baixinha e magricela se não, não conseguiria passar por essa pequena passagem. Respirei fundo, contei até dez mentalmente e comecei a andar pelo estranho lugar, um nó começou a se formar em minha garganta.

Nenhum som. Nenhum habitante. Nenhum perigo. Começo a achar que meu receio era bobagem. Estava quase dando meia volta quando ouvi uma voz.

— O que a trás aqui, onde nenhum humano ou espirito ousa pisar a não ser que tenha um forte desejo pela morte? — virei para encarar seu rosto, sua expressão é cadavérica.

É a mesma criatura que apareceu em meu pesadelo, grande, sinistro e mortal. Reparei seus olhos analisando todo meu rosto.

— Eu disse que nos veríamos de novo Avatar, naquela ou em outra vida.

— Koh! — a lembrança dele me vem à mente e continuo sem demonstrar emoção alguma. — Pode me dizer o que me trouxe aqui?

— Seu destino, talvez. Todas as mortes pela qual você é responsável. Quem sabe? — seu corpo de centopeia me rodeia e seu rosto fica de frente ao meu.

— Do que está falando?

— Prepare-se para dizer adeus a seus amigos jovem avatar. — um calafrio percorre minha coluna quando o ouço dizer isso, mas afasto a sensação, me concentro em manter seria a expressão.

— Pode, por favor, ir direto ao ponto? — não queria soar desagradável, mas sinto que preciso ir embora logo daqui.

— Todas as vidas inocentes que vão manchar suas mãos. As pessoas que morrerão por sua causa.

— Está falando do futuro? — pergunto confusa e temendo sua resposta.

— Sim. E lá você não matou apenas uma pessoa. — penso em Yuka que é a que mais desejo matar nesse momento. — Matou centenas, milhares. Incluindo as pessoas que te acolheram, amaram e cuidaram de você. — ele explica tudo o que fiz ou que farei.

— Então o que está tentando me dizer é que o mundo ficará melhor sem mim.

— Está enganada mais uma vez. O mundo precisa de você e sempre vai precisar. — explica.

— Não entendo. — digo irritada.

— Não há mais nada para entender. — murmura ranzinza e me empurra para que eu tome o curso pela estrada de lama. — Boa sorte pra você jovem avatar.

Koh me segue com os olhos enquanto saio de sua caverna. Acelero ainda mais o passo deixando-o para trás. Atravessei o portal espiritual e quando minha vista se acostumou respirei aliviada. Estou de volta ao mundo material. Não me surpreendo pelo fato de já ser noite, o tempo no mundo espiritual passa de uma maneira diferente.

Além dos dominadores de ar alguns agentes da guarda de metal me esperavam perto da entrada do portal, com certeza isso é obra de Dao. Dispensei a companhia deles e tomei uma balsa sozinha até a ilha. Fui até a arena e me encostei ao muro de um dos dormitórios femininos. Olhei atentamente para as sombras atrás das arvores e voltei os olhos para observar as estrelas que brilhavam como joias no céu negro. Percebi que meus olhos ardiam com as lagrimas que eu não tinha percebido escorrerem. Limpei o rosto com a barra da camisa e apertei os olhos para evitar que mais lagrimas caíssem. Quando abri os olhos fui tomada pelo medo. Vaatu estava lá, em forma de espirito vindo em minha direção, meu peito ficou tão apertado que doeu. Ouço uma voz familiar e ele some.

— Sempre gostei de olhar as estrelas com você. — Dao aparece, usando uma calça de moletom e uma camiseta cinza sem mangas. O aperto em meu peito diminui. Percebo que ele está com a cabeça baixa quando para ao meu lado.

— O que foi? — pergunto. Dao levanta a cabeça.

— Estava preocupado, você demorou. Achei que não voltaria mais.

— Mas eu prometi que voltaria, e eu sempre cumpro o que prometo não é? — ele sorriu, mas concordou.

— Eu sei, mas eu pensei... E se por alguma razão você não voltasse?

Eu não sabia o que responder, apenas o abracei forte e nos sentamos juntos no chão, ele deitou sua cabeça sobre meu colo e nós admiramos as estrelas como costumávamos fazer.


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