Tive aquele sonho estranho outra vez. E, como das outras vezes, eu lutava com um homem dominador de ar, e por mais que eu me defendesse dobrando a terra, ele fazia melhor, sempre parando minha respiração e retirando todo o ar dos meus pulmões, nessa hora eu sempre acordo, assustada. Franzo a testa e puxo o ar, me levanto e com um movimento rápido e certeiro abro uma porta na parede do meu quarto e caminho pelo jardim. É um sonho angustiante e cada vez mais frequente, como se eu já tivesse vivido aquilo. Talvez esteja treinando demais.

O som da conversa do guardas prossegue ao redor, eles estão acostumados com minhas caminhadas noturnas embora ninguém saiba sobre meus pesadelos. Caminho um pouco mais e me deito no chão, fecho os olhos relaxando com o cheiro confortante da terra úmida.

– Ei! Tudo bem com você Tara? – olho na direção da voz e vejo Dao li, meu amigo mais próximo, me observando atento há alguns metros, ele caminha até mim, como sempre o rosto marcado de marrom por ter limpado várias vezes o suor da testa com as mãos cheias de terra, toda vez que o vejo ele acaba de sair de um treino, não importa a hora.

– Tudo. – sorri simpática, apesar de continuar tensa mostrando minha irritação – Só preciso de um pouco de ar puro.

Dao li ergue suas sobrancelhas grossas, me examina com o olhar fixo por um instante e logo se senta ao meu lado:

– Só não vou te mandar de volta pro quarto porque corre o risco de você acabar fugindo – ele zomba batendo de leve seu braço no meu, ele tem 17 anos, é um pouco mais alto, olhos verdes escuros, pele morena, cabelo loiro cinza e desgrenhado, uma pequena cicatriz se faz visível embaixo do seu olho direito, presentinho meu de uns tempos atrás quando mostrei a ele minhas habilidades como dominadora de metal.

– Você esqueceu que também não manda em mim.

– Isso é um pequeno detalhe.

Ficamos quietos por um tempo até que ouvimos alguém nos chamar. É o pai do Dao li, general Kono.

– O que os dois estão fazendo aqui a esta hora?

– Nada de mais – respondemos rápido e ao mesmo tempo com medo de levarmos bronca.

– Vocês estão sempre aprontando. – ele para e pensa um pouco, nos olha fixamente, da um sorriso e por fim diz: – tudo bem, voltem para seus respectivos quartos, vocês sabem que os lideres mundiais vem nos visitar essa semana e você tem que treinar muito para a demonstração de habilidades... mas... que fedor é esse? VOCÊ – ele pega Dao li pelo braço e sente seu odor desagradável – JÁ PRO BANHO!

Dao li pirraceia mas segue para dentro sendo arrastado um pouco de longe por um general Kono de nariz irritado, e eu sigo para meu quarto. Consigo dormir tranquilamente sem nenhum pesadelo.

Durante o treino da manhã Kono nos mantém sob seu olhar atento e cauteloso, observando se estamos mesmo treinando dobra de terra, e não atirando bolas de argila vermelha um no outro. Não que ele não goste de diversão, apenas não quer nos ver brincando na frente dos lideres mundiais e não seria justo com quem vai limpar tudo depois.

Os dias passam e chega o grande dia, tive que por um vestido para receber nossos convidados, mas eu não parecia tão incomodada como Dao li estava naquele terno e seu cabelo puxado pra trás que ele logo deu um jeito de bagunçar.

Os lideres começaram a chegar um por um com suas famílias. Os primeiros que aparecem são a família da líder espiritual Jinora, junto de seu marido Kai e seus filhos eles vem nos cumprimentar, sempre achei que eles devessem educar melhor seus filhos. Os dois mais velhos, Bei Tian e Rizia, são os que já a acompanham na função de manter o equilíbrio entre os dois mundos enquanto o novo avatar não da noticias de que existe. O resto da prole não tem controle para realizar projeções, mas certamente estão ansiosos pra isso.

Os governantes da nação do fogo e das tribos da agua gostam de estar juntos, disso ninguém pode duvidar. Há boatos que a senhora do fogo Honora tem um romance com a líder do norte Bing Hua que por sua vez é mãe do líder do sul.

Alguem puxa meus cabelos pra trás, é Dao li, ele e Sadako, filha da senhora do fogo, uma velha amiga nossa conseguem me livrar do resto da recepção. Sentamos os três em um dos bancos perto da fonte aproveitando os sopros de vento que os dobradores de ar estão fazendo enquanto se divertem em cima de bolas de ar, nesse calor cada brisa que sopra é muito bem vinda. O sol ainda vai demorar a baixar. Sadako é quem inicia a conversa:

– Então Tara, como você reagiu quando soube da noticia do século? – pergunta ela toda animada

– Hã?

– Quer dizer que você não sabe?

– Calada Sadako, ela é a única que não sabe – Dao li a interrompe

– Do que vocês estão falando?

Eles riem entre si – Vocês vão me falar por bem ou por mal? – me irrito

– Não é nada, veja, já estão nos chamando para a batalha de demonstração – ates que eu pudesse arrancar algo deles com tortura Dao li nos puxa até o vestiário, todos nos trocamos e vamos ate o centro da arena.

Dao li, Sadako e eu nos juntamos aos filhos e netos dos outros lideres de um lado da arena. Um grupo de guerreiros, formado por homens e mulheres se espalha pelo outro lado.

Começamos a lutar, pedaços de pedra voavam, labaredas tomaram conta de quase toda arena, alguns eram lançados além dos muros por fortes rajadas de vento e outros tinham seus corpos congelados sem poder se mover. Tinha sido uma boa luta, diferente daquela do ano passado quando nós perdemos para o outro time, isso por culpa de alguns dominadores de ar que não queriam lutar, odeiam isso, evitavam a todo custo lidar com batalhas pois acreditavam que violência atrai violência e eles não querem isso pra eles, felizmente mudaram de opinião e nós ganhamos essa luta. Precisou de um tempo para que todos se recuperassem, tanto alguns dos nossos quanto alguns dos deles, já era noite quando estávamos apresentáveis de novo, exceto Dao li que se recusou a vestir o terno e estava sendo fuzilado com olhares do pai.

No jantar todos estavam animados, os lideres estavam em pé e parecia que iam dar uma noticia importante, espero que seja boa, já bastam de noticias ruins sobre a guerra provocada por grupos radicais.

Meu pai é quem começa a falar, agradecendo a todos por estarem ali mas logo passa a palavra a Jinora. Sinto alguns olhares caindo sobre mim mas logo são desviados quando eu viro na direção deles.

– Obrigada presidente Ryuu, por suas palavras e sua hospitalidade, vou tentar ser curta para fazer essa revelação que vai mudar a situação atual do mundo, e sei qua alguns já sabem do que se trata – ouvia risinhos e mais pessoas me encarando – Descobrimos a identidade do novo avatar – dessa vez todos gritaram em comemoração, até eu me juntei a eles, Jinora pediu silencio e como não foi atendida fez algo que eu nunca a vi fazer, ela dobrou o som presente na sala e fez todos se calarem – Como eu ia dizendo, graças a ajuda dos espíritos e anos de testes com milhares de jovens, hoje nós sabemos quem é o novo avatar e ela esta aqui neste salão. Por favor aplaudam seu novo avatar, a ponte entre os dois mundos... Tara, a herdeira da terra.