Kukushka escrita por Taikatalvi


Capítulo 3
Talk


Notas iniciais do capítulo

Sete pessoas acompanhando a fic!! To muito feliz, obrigada, gente, de verdade!!!
Espero que gostem!!!



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Katarina acompanhava um dos maiores empresários da Rússia, ele daria uma palestra em Miami, na Flórida, para um grupo de empreendedores americanos e para isso tinha a contratado para fazer uma tradução simultânea. Aquele era o grande trabalho da sua carreira, tinha acabado de fechar um contrato com a empresa e aquilo lhe deu notoriedade, estava prestes a decolar no ramo.

A palestra ocorria bem, seu inglês tinha o mínimo sotaque possível e ela sabia que seu patrão e os outros que assistiam estavam gostando e entendendo perfeitamente. De repente, um grito foi ouvido no auditório e todos olharam para a porta, por onde havia entrado algumas pessoas que tinham fechado-a logo em seguida. Como todos ficaram preocupados e perderam totalmente o foco, seu patrão anunciou o intervalo e assim poderiam ver o que estava acontecendo.

Curiosa como sempre, a russa chegou disfarçadamente até a porta, onde viu as quatro pessoas que tinham entrado, elas estavam desesperadas. Reparou bem em cada uma delas, duas estavam bem e outras duas tinham ferimentos horríveis, um no rosto e outro no pescoço. O que estava machucado no pescoço estava pálido, perdendo uma quantidade absurda de sangue. Katarina sentiu algo ruim dentro de si, algo ruim estava acontecendo, mas não podia entrar em choque.

– O que aconteceu? - Um homem perguntou, um aglomerado havia se formado em volta deles, mas Katarina assistia de longe.

– Está um caos lá fora - Uma moça respondeu desesperada e com a respiração descompassada - Tiros, sangue, pessoas comendo umas as outras, mas os militares vão conseguir parar com isso, é uma questão de tempo - Terminou confiante.

– Mas o que exatamente está acontecendo?

– Dizem que uma infecção se espalhou e está trazendo os mortos de volta à vida.

– Vocês só podem estar brincando - Um outro disse com tom de deboche - Quanto gastaram para fazer uma maquiagem realista? Além disso, vocês são bons atores - Disse apontando para o cara do pescoço mordido, que "se fingia" de morto.

Katarina não ouviu mais perguntas, apenas se afastou daquele grupo em passos apressados. Estava com medo só de pensar que seu maior pesadelo da adolescência havia se tornado real, ainda mais tão longe de casa. Pegou seu celular e ligou imediatamente para seu irmão, Mikhail, precisava saber se aquilo tinha se espalhado.

– Mikha?

– Nina! - Ele atendeu prontamente - Você está bem?

– Estou sim, como estão as coisas ai?

– Feias, acabei de buscar Yulia na escola e estou indo buscar nossos pais, o mundo virou de cabeça pra baixo, Nina.

– E agora? Como é que eu faço? - Lágrimas começavam a embaçar sua visão - Como eu volto para a Rússia?

– A gente tem que ser realista - Mikhail não era um homem de rodeios - Aeroportos logo serão fechados e também um infectado dentro de um avião não é nada bom...

– Mikha... - Ela já chorava e o irmão também, ela podia ouvi-lo do outro lado da linha - Fala pro pai e pra mãe que eu amo eles e que eu vou sentir saudades de vocês.

– Pode deixar, eu falo para eles... Eles vão ficar bem, vou levá-los para o lago Baikal e vamos todos ficar bem.

– Cuida deles... E... - Ela mal conseguia falar por conta do choro - Provavelmente essa é a nossa última conversa, então... Eu amo você.

– Eu também te amo, maninha.

– Adeus, Mikha.

– Adeus, Nina.

Assim que desligou o celular ouviu um grito vindo da porta e olhou imediatamente para ver o que estava acontecendo. Seu coração parou ao ver o que tinha o pescoço mordido atacando uma das pessoas que lá estavam.

– Katarina! - Ouviu seu chefe chamando-a e ela correu até ele.

– Sim, senhor Zvonkov.

– Vamos sair daqui, venha, vamos em silêncio para a garagem, o motorista já está nos esperando - Apenas assentiu, não era seguro, mas no momento era a melhor opção.

Foram para a garagem apressadamente e acompanhados por dois seguranças. Entraram na Land Rover preta e saíram de lá o mais rápido o possível. Tudo realmente era caos, pessoas gritavam, choravam, corriam, carros da polícia e do exército corriam para cima e para baixo, havia muito sangue e gente sendo comida viva.

Ela estava totalmente distraída quando de repente ouviu um barulho alto seguido de um solavanco, eles haviam sofrido um acidente e o carro capotou, deixando a visão de Katarina turva por alguns segundos até ela recuperar seus sentidos. Mesmo o carro tendo parado sobre as quatro rodas, os vidros se quebraram e assim que voltou a si, ela viu o motorista sendo brutalmente atacado, assim como o passageiro da frente. Ela olhou para o lado e viu que um deles se aproximava de sua porta e seu coração disparou. Percebeu que ainda usava seus sapatos de salto fino e a fuga com eles seria impossível então os tirou com as mãos. Ouviu o gemido do morto próximo de si e ele estava prestes a morde-la, mas instintivamente ela cravou o salto fino do sapato em seu olho. Com a cabeça latejando e sentindo o sangue escorrer por sua testa, ela abriu a porta do carro com força derrubando outro zumbi que tentava atacá-la, correu cambaleante pela larga avenida, chamando a atenção de vários mortos que andavam até ela.

Seu corpo estava dominado pela adrenalina, ela havia entrado no estado de sobrevivência e sabia que se ficasse muito tempo exposta seu fim chegaria logo. Avistou um beco e correu até ele, subindo numa caçamba de lixo e depois numa escada vertical que dava para o terraço do prédio que parecia ser comercial. Os zumbis que estavam atrás dela se aglomeraram ali e gemiam tentando inutilmente alcançá-la...

Flashback Off

– Tantos dias para o mundo acabar e o dia escolhido é bem quando estou longe de casa - Ela disse baixo e olhando para um ponto qualquer.

– Você gostaria de estar na Rússia quando tudo isso aconteceu? - Rick perguntou e ela assentiu - Por que?

– Lá existem muito mais lugares inabitados do que aqui.

– Como aquele lago que você disse que seu irmão levaria a sua família?

– Eu fico pensando se ele fez a escolha certa em relação a aquele lago.

– Por que?

– A última cidade que a rota de Moscou até lá vai te levar é Irkutsk, não é grande como a capital, mas com certeza existe um número considerável de mortos por lá. Além disso, é um caminho muito longo, não acredito que tenham conseguido.

– Para onde você iria se estivesse lá?

– Iria para a cidade onde eu nasci, Cheremukhovo, nos Urais, ela é bem pequena e poderíamos viver caçando nas montanhas. Mas isso também não importa mais.

– Por que eu tenho a impressão de que você já desistiu de tudo o que você ainda tem para viver aqui?

– Porque eu desisti.

– Por que desistiu? Olha tudo o que você passou e onde está agora! Casa, comida, muros, água quente, algo que nenhum de nós mais sonhava em encontrar depois do apocalipse.

– Do que adianta isso se não consigo mais sentir? Medo, felicidade, compaixão, sorrir, só me lembro que ainda sou humana quando olho a foto que eu guardo da minha família... Do que adianta ter tudo aqui fora, mas viver um vazio aqui dentro? - Os dois ficaram em silêncio e olhando fundo nos olhos um do outro.

– Olha, Katarina, eu sei que o que você me contou não é nem um terço do que você passou lá fora. Eu estive lá, Carl, Maggie, Glenn, Judith, e tantos outros que eram do meu grupo e agora estamos aqui. Sim, eu estranhava um lugar "perfeito" como esse, mas desde então nós não tivemos mais problemas, não tivemos que dormir preocupados em acordar com zumbis e cima de nós, ou até mesmo outros grupos, não tivemos que andar quilômetros e quilômetros com um destino incerto e também nunca mais passamos fome. Nós temos muros altos e fortes, estamos protegidos do que tem lá fora, podemos voltar, pelo menos tentar, viver como antes.

– E o que acontece quando algo der errado?

– Nós lutamos, o que não podemos fazer é gastar os raros momentos que ainda temos aqui - Ficaram em silêncio novamente - Sentir novamente é uma escolha sua e aos poucos isso vai voltar, você vai ver - Katarina parecia ainda não acreditar nas palavras que ele dizia - Confia em mim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??? Eu preciso saber o que estão achando, sem um retorno não sei como/se devo continuar...
Gostaram? Acompanhem, favoritem, contem pros amigos... Enfim, vocês são livres! Boa noite!!



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