Devaneios de um coração em pedaços escrita por karoliveira


Capítulo 4
A verdade




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Fazia um mês que eu e Ethan tínhamos terminado. Eu queria ficar sozinha. Audrey me deixou muito confusa e não ter notícias sobre a vida de Ethan me matava por dentro. Eu queria saber se ele sentia minha falta, se ele estava triste, eu queria que ele estivesse passando pelo mesmo que eu. E minutos depois, desejei não ter tido mais nenhuma notícia dele. Amanda me mandou uma mensagem.

[18:03 Amanda: Eu não acredito que Ethan fez isso com você e ainda mais a Zoe! :( Quanta falta de respeito, espero que você esteja bem!]

[18:04 Aurora: Hã? Mas do que cê tá falando, Mand?]

[18:05 Amanda: AH MEU DEUS!!! Tu não sabe. Olha, esquece essa mensagem, tchau!]

O que será que Ethan e Zoe tinham feito que poderia me desrespeitar? Resolvi ligar pra Audrey pra descobrir o que havia acontecido, ele com certeza saberia.
— Audrey...
— Ah, Oi Abey. — Ele me atendeu um pouco nervoso.
— Pode me explicar o que tá acontecendo? Amanda me mandou uma mensagem falando que Ethan e Zoe tinham me desrespeitado. Pode me explicar? — Ele respirou fundo e não falou nada. — Alô? Aud?
— Oi, tô aqui.
— Ótimo, me explica o que tá acontecendo.
— Olha, Abey, promete que não vai surtar? Eu...
— Fala logo!
Ele ficou em silêncio e respirou fundo.
— Eles estão juntos.
O impacto dessa frase foi tão grande que deixei o celular cair no chão. Como eles puderam? Zoe era minha amiga, uma irmã! Involuntariamente as lágrimas começaram a escorrer.
Sem pensar duas vezes, deixei o celular desligado em cima da cama e fui direto pra casa de Ethan.
Ao chegar lá, ainda em prantos, pedi pra falar com ele. Ethan veio correndo até a porta, preocupado, como se tudo fosse normal.
— Aurora, tá tudo bem? Me conta o que aconteceu! — Ele tentou me segurar pelos braços, mas o empurrei com força.
— Não, claro que eu não tô bem! Como é que você pôde? Vocês, aliás! Zoe era minha amiga, Ethan! E, pelo amor de Deus, faz mal um mês que a gente terminou e você começa a namorar MINHA AMIGA? E AINDA TEM A CARA DE PAU DE ME PERGUNTAR SE EU TÔ BEM? QUER SABER, EU QUERO QUE OS DOIS VÃO PRO INFERNO E ESQUEÇAM QUE EU EXISTO! — Eu perdi completamente o controle, eu não gritava mais, estava berrando e apontando veementemente o dedo na cara dele, que me olhava assustado, sem reação.
— Aurora, olha... Eu... Eu posso explicar. — Ethan estava nervoso e perdido no que falar.
— Não, Ethan! Não tem o que explicar! Você nunca me amou! Porque diabos passou três anos comigo, hein? — Sem pensar, dei um tapa na sua cara e sai correndo.
Ele ficou parado na porta, sem reação, com a mão segurando o rosto.

**
Eu não queria falar com ninguém, muito menos Audrey. Cheguei correndo em casa e me tranquei no quarto. Tudo aquilo não parecia real. Tudo em mim doía e eu não sabia como fazer parar. Eu queria gritar, mas não tinha voz. Eu queria correr, mas não tinha força. Eu queria chorar, mas não tinha mais lágrimas. Abri minha gaveta e o fiquei admirando. Peguei o pequeno objeto e levei para o meu banheiro. Tranquei a porta e liguei a torneira. Eu nunca havia feito isso, mas eu precisava sentir dor. Eu precisava dividir a minha dor. Tudo em meu peito era tão dolorido, tão intenso, que eu precisava de dor em outro lugar pra me sentir aliviada. Então, eu me cortei. Abri um corte de aproximadamente cinco centímetros na lateral do braço e deixei doer, deixei o sangue escorrer juntamente com a água. Eu tinha a falsa ilusão de que tudo que doía em mim, escorria por aquele corte, a dor de ter a pele rasgada diminuía a dor dentro de mim. Aliviava. Era um escape. Então, eu me cortei mais e mais. Abri vários cortes no braço até a dor ser extrema. Até eu esquecer do porque tá fazendo aquilo, até esquecer quem eram Ethan e Zoe.

**
Horas mais tarde, coloquei uma blusa de manga pra cobrir os cortes. Me deitei no escuro do meu quarto e fiquei assistindo televisão, enquanto todas as pessoas da cidade batiam à porta, tentando falar comigo. Sem êxito. A dor da traição é tão fina e cruel. Você vê a venda dos seus olhos tiradas e percebe que tudo estava bem ali na sua frente, só você que não via. Só você que é o cego que na inocência do que não vê, não se leva e não se machuca. Como eu iria superar a perda de duas pessoas que eu amava muito em minha vida? Como eu iria aguentar essa apunhalada nas costas pelos dois? Eu não tinha forças, eu não tinha coragem, eu não tinha lágrimas. E como todo bom drama adolescente, eu tinha perdido a vontade de viver. Vê só, por causa de um babaca, eu acreditei que não valeria mais a pena viver. E então eu ouvi a sua voz me chamando, sua voz que me fazia sentir em casa, me fazia sentir bem: Audrey.
— Abey? Cê tá aí? — Ele batia suavemente na porta.
— Não adianta, Audrey, ela não abriu a porta pra ninguém hoje. — Resmungou minha mãe da cozinha.
— Eu sei que você tá arrasada, mas abre a porta. Não vamos falar disso, tá bem? Quero assistir a nova série da Marvel com você no Netflix. Trouxe Nutella pra você. — Eu sorri enquanto ouvia. Audrey definitivamente sabia fazer com que eu me sentisse melhor.
Levantei devagar da cama, destranquei a porta e me joguei na cama, me cobrindo com o cobertor, receosa de que ele visse o meu braço. Ele entrou e trancou a porta de novo. Estava com meu pote de Nutella. Eu realmente amava esse menino.
— Só deixei você entrar por causa da nutella.
Ele sentou do meu lado, beijou minha testa e me abraçou. E eu me senti em casa naquele momento. Eu sabia que tudo ao meu redor desmoronava, mas eu tinha Audrey, então tava tudo bem.
— Você vai ficar bem, Abey. E nada como nutella pra te dar uns ânimos.
— Eu sei. Então, que série nova é essa?
— É da Jessica Jones! — Ele falou super animado enquanto ligava a televisão com controle e conectava o Netflix. — E ela é uma gata! Melhor do que os quadrinhos.
— Hahaha, eu sou mais eu. — Me esquecendo por um segundo que havia cortado meu braço, me estiquei para pegar o pote de Nutella na mesa, quando minha manga puxou um pouco, deixando parte do meu braço visível e neste instante, Audrey surtou.
— Mas o que diabos é isso, Aurora? — tentei recuar o braço, mas ele foi mais rápido. Me agarrou com força e levantou toda a manga. A sua expressão era de horror. Ele se levantou da cama e colocou as duas mãos na cabeça, boquiaberto. — Eu não consigo acreditar que... Que... Que você fez isso. Meu Deus, Abey! Que droga!
— Aud, isso não é da sua conta.
— Como não é da minha conta, Abey? Me diz? Minha melhor amiga tá acabando com a própria vida por causa de um filho da mãe que nem sequer se importa com você e que já começou a namorar alguém, que por sinal, se dizia sua amiga! Sei que tudo isso é um grande saco de merda, mas tu acha que vale a pena se desgastar, se matar por causa deles? Eu esperava mais de você, Aurora. Eu esperava raiva, nojo, mas isso já é demais. Você tá se torturando à toa. E quer saber? Ethan não tá nem aí se você se machucou ou não. Ele teve medo foi de você tirar satisfações com Zoe. Ele não tá nem aí, Abey! Quando é que você vai perceber? Hein? Que ele só te usou? Que pra ele você era só mais uma? Quando é que você parar de pensar nesse cara que não tá nem aí pra você e começar a ver que tem alguém que te ama muito e que quer cuidar de você? Quando é que você vai ver que eu tive aqui todo o tempo? — Audrey praticamente cuspiu todas essas palavras e senti como se tivesse levado não só uma, mas duas bofetadas seguida. Eu estava sem saber o que falar.
— Audrey, vai embora. Agora. — Foi tudo o que consegui dizer. Meu corpo tremia dos pés à cabeça. Eu sentia raiva. Confusão. Medo.
Ele saiu, sem dizer uma palavra, bateu a porta e me deixou lá sozinha no escuro. Com aquelas palavras que ainda pairavam sobre minha cabeça como facas me espetando. Aquilo era demais pra um dia só. Pra uma pessoa só. Tudo que ele falara sobre Ethan era verdade e por isso senti raiva. Porque toda maldita vez, ele tinha razão. E ele confessou que me amava. Não como amigo. Mas como alguém que quer estar comigo. Por um lado, achei interessante. Audrey era extremamente bonito e inteligente. Usava óculos de grau, tinha olhos castanhos claros, uma barba que roçava minha bochecha sempre que a gente se abraçava e um sorriso branco que prendia qualquer olhar. Mas por outro lado, ele não tinha o direito de invadir a minha vida e achar que pode tomar decisões por mim, tudo bem que o que fiz foi errado, mas é a minha vida e ele não tinha nada que se meter com isso.
Eu só queria me enterrar e nunca mais aparecer em lugar algum.

**
{AUDREY}
Saí da casa de Abey espumando de raiva e de terror. O que diabos eu tinha feito, hein?! Contei à ela que a amava, que bela porcaria eu fiz! Acabei de destruir a minha amizade com a única mulher que eu amava! Mas por outro lado, me senti partir no meio quando vi o seu braço todo cheio de machucados que ela mesma causara por causa daquele verme! Meu Deus! Ethan nem se importa com ela! Sei que eu não tinha o direito de falar daquela maneira com ela... Mas senti o meu chão fugir, quando passou pela minha cabeça que ela desejou morrer, que ela pensou em tirar a própria vida porque Ethan foi um grande filho da mãe. Eu não conseguia mais esconder os meus sentimentos por ela e simplesmente estraguei a minha chance de ter algum futuro ao lado dela. Mas o que está feito, está feito. Não tem volta e tem que ser assim. Eu amo Aurora Woode, e agora eu não tenho mais que esconder isso dela.


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