Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 21
Capítulo 14 – CARTAS.


Notas iniciais do capítulo

Uffa! O Nyah voltou Fico feliz com isso... bom, preparem os lencinhos, o drama vai correr solto. MAS POR FAVOR NAO DEIXEM DE LER AS NOTAS FINAIS. É MUITO IMPORTANTE....



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Narração: Bella Swan.

Ficar no quarto de Joshua não tinha sido a melhor idéia. Eu passei horas pensando em tudo, exatamente tudo o que acontecia ao meu redor. Comentários de Charlie e Renée, conselhos de Alice, os sonhos de Amber, o amor que eu nutria por Edward, seus carinhos e apoio em meus momentos de crise, aquela dor que não abandonava meu peito, e principalmente Joshua. Pensei em tudo sobre Joshua. Eu não dormi muitas horas naquela noite, não fechei as janelas, não tentei fechar a porta arrombada, não chamei Edward, não quis falar com Charlie, não comi. Eu só respirava.

Na mesma posição em que me joguei na cama no instante em que Renée saiu, eu permaneci por intermináveis horas. Vi o sol se deitar e a noite chegar. Eu não queria sair dali para nada. Será que um dia minha mãe entenderia que ele não voltaria? Será que poderia viver minha vida em paz longe de suas interferências algum dia? Ela sugava todas as minhas forças e vontades. Eu, mais do que ninguém, precisava ser forte. Agora eu tinha no que me agarrar, algo que era grande o bastante para eu lutar. Eu tinha Edward. Se ele não tivesse entrado em meu caminho, sei que não conseguiria confrontar toda essa situação em que vivo. Se não fosse por Edward, eu tenho certeza que ficaria para sempre infeliz. Ele era meu ar e minha vida. Minha dor o afetava e tudo o que eu menos desejava era que ele ficasse infeliz, assim como eu estava.

Não senti o sono chegar, só sei que pela manhã acordei com a cabeça no travesseiro, sem meus sapatos, coberta com a colcha, a janela estava fechada, porém com as cortinas abertas e a porta encostada. Sentei-me na cama olhando ao redor. Devia ser cedo, a luz que invadia o quarto era acinzentada. Esfreguei as mãos em meu rosto, e respirei fundo.

“Bom dia Isabella.” Falei para mim mesma. Era completamente estranho para mim acordar sem Edward. Faltava algo em mim se eu não sentia seus braços me envolvendo e seu cheiro para confirmar que ele era mesmo meu, só meu. Olhei para os lados analisando o quarto de meu irmão, e ainda era possível sentir a presença dele ali. Cada pedacinho daquele quarto havia sido escolhido por ele, cada objeto tinha seu lugar e tinha sido ele a organizar. Aquele quarto resumia bem a personalidade de Josh.

Levantei da cama e segui para o andar de baixo. Tudo estava muito quieto, sem dúvida era cedo demais. Eu estava cansada por ter tido uma noite quase que inteiramente insone, porém não sentia vontade de voltar para a cama e tentar dormir. Dei uma volta nos cômodos de baixo só para constatar o que eu já sabia: todos estavam dormindo. Subi novamente, um pouco mais acordada. Olhei para as portas dos quartos, e todas estavam fechadas, exceto pela do meu quarto que estava entre aberta e a do quarto de Josh. Fui dar uma olhada melhor na destruição que Renée fizera na tarde anterior. Fiquei surpresa ao olhar ao redor e ver que tudo estava mais organizado, os cacos de vidros tinham sido removidos do piso, os objetos que ainda estavam inteiros colocados de volta em seus lugares e que deitado em minha cama estava Edward, dormindo encolhido e agarrado ao meu travesseiro. Ele parecia tão… contente.

Entrei pé por pé no quarto, tentado não fazer barulho. Ele respirava calmo e as bochechas estavam rosadas. Ri baixinho, ele parecia uma criança. Mas de criança aquele homem não tinha nada! Só dormindo mesmo… Eu sentia saudade de ter seu corpo junto ao meu. Sentei-me na cama e puxei o travesseiro de seu abraço. Ele se revirou um pouco, mas não acordou. Levantei a coberta me deitando ao seu lado. Coloquei uma ponta do travesseiro embaixo de sua cabeça e quando a depositei no travesseiro pude jurar que tinha visto um sorriso em seus lábios, mas acho que não. Deixei a outra parte para mim e me coloquei junto dele, imitando sua posição fetal, encaixando nossos corpos. Trouxe seu braço para cima do meu corpo, o fazendo me envolver. Enlacei nossos dedos e com a mão livre nos cobri novamente. Respirei fundo. Era bom estar com ele.

Edward se mexeu e suspirou fundo. Quando eu vi, ele estava afundando seu rosto contra minha pele do pescoço, sugando o ar com vontade e fundo, me fazendo ter arrepios e sorrir. Ele apertou minha mão e juntou mais seu corpo do meu. Senti que o Ediota estava um tanto… uhm… digamos, excitado. Eu bem que tive vontade de atacá-lo.

“Estava sonhando com você!” Edward disse em meus cabelos.

“Espero que tenham sido coisas boas.”

“Ótimas! Uhm… como eu senti falta desse seu cheiro…” Ele ainda respirava em meu pescoço. Se continuasse daquele jeito eu iria cometer uma loucurinha na casa do general.

“Pelo visto não foi só do cheiro que você sentiu falta! Não é?” Falei bem baixinho. Ele apertava mais a minha mão e a levava em direção a entrada de minha calça. “Edward, meu pai ainda está em casa…”

“E você não quer? A gente fecha a porta… Por favor?” GOLPE BAIXO. Ele sussurrou na base de meu ouvido. Sacana, ele sabe que eu não resistia a isso.

“Uhm… e se ele acordar? O que você vai fazer?”

“Eu vou parar de te…”

“HAHAHA…” Não agüentei e ri alto com a rima que ele ia fazer.

“Shiiii Shiii” Edward tampou minha boca. “Assim eles vão acordar, Monstrenga!”

“Tá, tá bom!” Eu falei abafado ainda em sua mão. Mesmo assim ele a manteve ali. Eu o mordi.

“Sssssss… Bella, Bella, Bella… como você quer que eu me controle?” Ele apertou mais nossos corpos. Pude sentir ele nitidamente na base de minhas costas. Soltei um gemido. Ele forçou nossas mãos a entrarem em minha calça. Minha respiração já estava pesando. Ele tinha a boca em meu pescoço e sugava de leve minha pele.

“Você está brincando com fogo Edward!”

“E que fogo!” Ele colocou sua mão em meu sexo que pulsava de desejo.  Edward e eu começamos a brincar em minha entrada, os dois juntos. Eu tinha tanta vontade de tê-lo dentro de mim que sem querer já começava a movimentar meus quadris, indo e vindo. Senti que Edward iria me penetrar com um de seus dedos, e eu queria que ele não parasse. O jeans estava nos atrapalhando. Quando notei seu dedo em mim, um barulho de porta batendo no final do corredor nos assustou. Ele arrancou nossas mãos da calça, rapidinho. Ouvi os passos firmes de meu pai ecoando pelo assoalho.

“É Charlie, finge que dorme.” Falei muito baixo e ele prontamente escondeu o rosto em meus cabelos. Eu tentei acalmar minha respiração. Apertei sua mão na minha contra o peito e fechei meus olhos. Escutei atentamente.

A porta rangeu um pouco ao cessar dos passos de meu pai. Pensei em abrir os olhos e falar com ele, mas eu queria ouvir que reação ele teria. Meu pai sempre teve esse hábito de falar conosco enquanto dormimos. Algumas vezes soube de muitas coisas enquanto eu tentava dormir. Ele simplesmente se sentava ao lado de minha cama e conversava. Falava adoidado. Acho que Renée nunca fora uma boa ouvinte. Normalmente isso acontecia quando passava o dia fora trabalhando e não nos via acordados e falando, era a forma dele de passar um tempo com a gente. Isso eu sempre soube.

“Ah Bella, minha pequena… você cresceu.” Ele falou com certo pesar na voz. “O que esse garoto quer com ela? O que eles estavam fazendo? Será que estão dormindo? Ela é tão pura… tenho que falar mais de perto. Não, não, não, isso não está certo! Isso vai ter que acabar…” O que? Acabar? Não! Pelo visto Charlie não tinha mudado nada sua opinião quanto ao meu relacionamento com o Ediota. Me mexi incomodada com aquela situação, talvez assim ele parasse de me espiar.  Ouvi ele respirando fundo e resmungando qualquer coisa em um tom nervoso. Edward para piorar a situação suspirou alto e chegou mais perto ainda de mim, me abraçando forte. Eu queria arrancar a cabeça dele. Sabia que Charlie ainda estava ali, comecei a ficar revoltada com ele e com Edward que não parava de se mexer ao meu lado. Pensei por um instante e decidi que estava na hora de “acordar”.

Me virei na cama ficando de frente para Edward e falei tão baixo que eu mal consegui ouvir minha voz.

“Te mato.” E joguei meu braço por cima de seu corpo o abraçando. Empurrei as cobertas com os pés para baixo só para Charlie ver que estávamos vestidos. Me espreguicei e sentei na cama, e olhei para a porta.

“Bom dia pai! O que faz aí?” Falei baixinho.

“Er… Bom dia Bells, nada não… eu só tava, ahm… olhando!”

“Olhando?”

“É olhando… ele não vai acordar não?!”

“Quem? Edward?! Vai sim…” Olhei para o dissimulado que ainda fingia dormir. Pensei como seria a forma mais dolorosa de fazê-lo parar de fingir. Olhei seu sorriso torto que surgia nos lábios. Passei minhas mãos por seus cabelos, entrelaçando meus dedos nos fios e delicadamente puxei. Vi o sorriso no rosto do Ediota sumir. Ele abriu os olhos. “BOM DIA EDWARD!”

“É… bom dia!”

“Dê bom dia a Charlie também!” Ele se levantou em um átimo para longe de mim. Como se não soubesse que meu pai estava ali. Qual era a dele? Não podia, simplesmente, se sentar e cumprimentar? Charlie não estava bravo, dava para perceber que só estava um pouco receoso com a proximidade que eu e Edward tínhamos. Edward deu um bom dia sério para o General. Agradeci a Deus por ele estar usando uma calça e uma camiseta para dormir, porque seria no mínimo constrangedor para mim, ele levantar só de cueca, por exemplo.

Expliquei a Charlie que tinha ido há pouco tempo para o quarto com Edward e que acabei pegando no sono. Eles me contaram que Renée fez uma cena na noite anterior e que queria ir me tirar do quarto de Joshua. Acho que fiquei tão envolvida nas memórias que não ouvi nada ao meu redor. Descemos e tomamos café juntos. Por mais incrível que pareça, meu pai e Edward estavam tendo uma conversa bem amigável, porém Edward não chegava nem perto de mim. Será que ele tinha ficado irritado por eu ter puxado seus cabelos? Se sim, seria muita infantilidade de sua parte. As torradas desciam arranhando minha garganta.

Charlie iria pela manhã para o quartel e voltaria no início da tarde. Me pediu para olhar no sótão algumas roupas antigas que eu tinha guardado que ele queria que eu doasse para que não ficasse ocupando espaço. Por mim estava tudo certo, eu não precisaria delas em Forks. Edward foi comigo para o depósito porque eu tinha medo daquele lugar… sei lá, não tinha nada assustador demais, mas só de ver aqueles lençóis brancos cobrindo os objetos já tinha calafrios.  Peguei as caixas que tinham meu nome e comecei a abri-las. Tirei o excesso de pó que tinha em suas abas. Nós começamos a conversar. Sem Charlie por perto era como antes, ele ficava próximo e me enchia de carinhos e toques. Não estava me sentindo muito confortável com essa nova constatação.

Ele me disse que Charlie pôs Renée no quarto de hóspedes em que estava e que meu pai não queria minha mãe por perto. Eles tinham discutido por um bom tempo no escritório quando Charlie viu meu quarto destruído. Eu via em Renée, não só apenas aquela melancolia, agora eu via uma demência em seu olhar. Ela não parecia mais assimilar o que era realidade e o que era fantasia de sua cabeça. Eu estava preocupada com Renée. Tudo que ela fazia me levava a pensar que ela deveria ficar afastada de todos, talvez assim recuperasse um pouco da clareza. Enquanto separávamos as roupas, Edward me contava que ele e Luzia tinham arrumado meu quarto e que a cada pouco iam à porta de onde eu estava para ver de perto se eu estava bem. Como eu mesma já sabia, eu não tinha movido um músculo de lugar desde que tinha me deitado naquela cama e ao que parece meu pai achou que eu estava em estado de choque e queria ligar para o hospital.  Eu não ouvi nada mesmo. Provavelmente tinha sido Charlie a ir me cobrir porque Edward me garantiu que ele dormiu e não acordou durante a noite.

“Edward, por que você está agindo desse jeito perto de Charlie?”

“De que jeito, Bella?” Ele foliava as páginas de um álbum de fotografias e eu revirava algumas coisas em uma caixa com brinquedos velhos.

“Você está estranho… sabe o que eu quero dizer! Hoje de manhã não havia necessidade de ter pulado da cama daquele jeito! Você sabia que ele estava ali… por que fez isso? Isso não vai ajudar em nada! Foi porque puxei seus cabelos? Me desculpe por isso então! Mas não é agindo assim que ele vai ver que nós estamos de fato juntos!”

“Bella, com certeza não foi porque você puxou meu cabelo. Exagerou na força, mas não foi por isso, Monstrenga! Eu não sei… não há um motivo, só parece que as coisas não… fluem perto de Charlie. Pode ser receio meu que ele vá complicar com nós, ou quem sabe não fique feliz, ou ache que estamos desrespeitando a sua casa… Eu não sei. Não sei mesmo… não quero te deixar mal por isso…” Ele falava relutante. “Eu só não estou conseguindo me sentir livre perto dele para te tratar como sempre tratei.”

“Olha Ediota, eu gostaria muito que você se sentisse livre próximo de meu pai, até porque isso é algo importante para mim: que ele compreenda e aceite o que temos. E Charlie não vai conseguir confiar em você se você continuar pulando para longe de mim toda vez que ele chega perto de nós! Eu só queria esclarecer que não gostei disso… mas agora eu entendi, um pouco, os seus motivos. Mas preciso te falar que só abraços e carinhos não são formas de desrespeito, e eu tenho certeza que o General entende isso.” Ele me olhava fixo prestando atenção em minhas palavras.

“Você está certa. Te prometo tentar ficar mais a vontade quando ele estiver ao redor, ok?!”

“Está certo…” Olhei para a boneca que tinha em minhas mãos. Ela era muito velha e ainda assim era linda. Usava uma boininha vermelha e tinha duas trancinhas. Exatamente como a foto que o General Churchill tinha de mim garotinha em seu escritório. Lembrei que a chamava de Luly e que tinha ganhado de Renée quando criança. Algumas memórias de minha mãe e eu brincando quando eu era muito pequena vieram a minha cabeça, porém não eram muitas.

“Vê Edward?” Balancei a bonequinha para ele. “Renée já foi minha mãe… um dia. Ela brincava de bonecas comigo, mas isso quando eu tinha três anos! Por que ela não sente amor por mim?” Falei com meus olhos cheios de lágrimas. Ele ficou mudo. Essa era uma pergunta que ninguém, além dela, poderia me responder. Respirei fundo tentando mandar embora a vontade de chorar. “Bom… pelo menos um dia ela me amou.” Levantei sem esperar qualquer tipo de piedade de Edward e fui atrás de outra caixa. Fazia algum tempo que estávamos ali no sótão e eu queria acabar logo com aquilo e sair daquele lugar. Pensei em abrir um pouco a janela redonda que tinha no lado norte do local. Algumas réstias de sol batiam ali e deixar entrar um vento ali seria uma boa idéia.

Andei até a pequena janela e a forcei para abrir, mas ela devia estar emperrada. Puxava e puxava e ela não abria.

“Quer ajuda?” O Ediota me perguntou ao ver meu esforço.

“Não, não… eu VOU conseguir. Se não eu não me chamo Monstrenga.” Fiz ele rir. Eu estava estranhando que Renée não tinha dado as caras ainda. Já devia ser perto do horário de almoço e ela ainda não tinha vindo me desejar a morte.

Eu coloquei meu pé na parede, para tentar aplicar mais força. Eu estava era com medo de quebrar o puxador de tanta força que estava aplicando. Ouvi um leve rangido e senti a janela ceder um pouco. Como boa exagerada que sou, dei um puxão com todas as minhas forças e a janela se abriu com tudo para o meu lado. Como estava apoiada em uma perna só, não tive equilíbrio suficiente para me manter de pé. Cai sentada de bunda no chão ao lado de uma pilha de caixas de todos os tamanhos. Uma pequena, baixa, larga e preta chamou minha atenção. Havia nela uma etiqueta adesiva branca com a letra de Charlie desenhando o nome JOSHUA em vermelho. Edward correu até mim e me ajudou a levantar. Olhei para aquelas caixinhas e ponderei se eu deveria as abrir.

Sim, eu deveria.

Me coloquei de pé e pedi para Edward segurar os volumes que haviam em cima de meu pequeno alvo. Agarrei a caixa e por incrível que pareça ela estava um tanto pesada.

“É de Josh?” Ele me perguntou enquanto eu me sentava de frente para a janela que tinha aberto.

            “Sim. Só não sei o que tem aqui… ele mantinha tudo o que precisava no quarto. Não gostava de guardar coisas que não eram mais necessárias…”

            “Bom, se você quer descobrir… então abra. Se quiser posso te deixar sozinha.”

            “Não… fique. Por favor, abre para mim?” Ele se sentou ao meu lado, pegou a caixa de meu colo e com calma a abriu colocando a tampa ao lado de seu corpo.

            “São cartas, Bella.”

            “Cartas?”

            “Sim, cartas.” Olhei para a caixinha preta. Diversos envelopes com selos e carimbos da bandeira dos Estados Unidos estampavam a pilha de papel amarelado.

            “Me dê a primeira.” Ele me entregou a primeira. Olhei a data de postagem: 15 de outubro de 2007. O remetente era Joshua e a carta estava endereçada a família Swan. Foi a única que foi enviada em nome de toda a família. Eu me lembrava daquela. Charlie não quisera me deixar ler, mas eu a roubei e li mesmo assim.

            Abri o envelope e comecei a ler em voz alta.

Iraque, 13 de outubro de 2007.

Pai, mãe e minha pequena.

Faz apenas uma semana que não os vejo e já sinto saudades. Parece que meu peito está totalmente vazio. Não tenho muito tempo para escrever, mas tenho a adiantar que de início já vi que essa é uma missão sem propósito. Nessa primeira semana não fizemos nada, apenas alguns treinamentos e exercícios. Por que me mandaram para cá? Sinceramente, eu não entendo. Estamos em um campo seguro ao que tudo indica, mas mesmo no horizonte distante podemos ouvir as bombas explodindo. E cara, é deserto demais… Os dias são quentes como o inferno e as noites são tão frias quanto o nosso inverno. Não vejo muita lógica aqui. Espero que as coisas sejam sempre calmas e que esse tempo acabe logo!

Charlie, você poderia ter me tirado dessa! Eu fico irritado de pensar que estou aqui. Justo eu! Justo eu! Ah, mas isso vai ter fim, não é? Quero respostas… Eles já definiram quanto tempo eu vou ter que permanecer aqui? Nesse inferno que não é meu? Nessa luta que não me pertence?

Droga queria escrever mais! Mas o alarme está soando. Tenho cinco minutos até meu superior entrar aqui e começar a nos mandar sair. Sair… Hum, eu queria era sair dessa guerra inútil de uma vez por todas! Sumir e voltar para casa. Abraçar a todos e ir para a minha faculdade como eu sempre quis! Mas tiraram esse sonho de mim, não é mãezinha?

Pai, não se esqueça: cuide da pequena.

Mãe, não se esqueça: não sou seu único filho.

Bells entenda: EU TE AMO PEQUENA E VOU VOLTAR.

Prometo lhes escrever mais assim que puder!

Mande lembranças a Luzia. Diga a Kristen que eu não me esquecerei dela, e que na próxima semana escreverei. Estou com saudades.

Joshua S.

            Eu me lembrava das suas palavras, já tinha lido por diversas vezes essa carta enquanto tive acesso a ela, mas tinha algo novo. As linhas eram as mesmas… cada traço desenhado era exatamente igual aos de anos atrás. Mas havia, para mim, um novo sentido em suas palavras.

            Porque me mandaram para cá?… Charlie, você poderia ter me tirado dessa!… Mas tiraram esse sonho de mim, não é mãezinha?

            Ele estava desabafando e jogando verdades na cara de meus pais. Eu precisava reler todas as cartas.

            “Quem é Kristen?”

            “Era a namorada de Joshua na época… Ela sofreu, mas encontrou um cara legal… Acho que já se casou com ele. Edward me passe a próxima…”

            “Você está bem para continuar com isso?”

            “Claro… sei lá, eu preciso. Tem carta demais ai dentro! Tenho certeza que nunca li nem metade dessas cartas! Eu preciso saber!”

            “Ok, a próxima é para Charlie… só pra Charlie.” Ele me entregou.

Iraque, 24 de Outubro de 2007.

Pai.

            Como você está? Bem e sentado com sua bunda na sua maldita cadeira de general? Espero que não! Porque eu… EU ESTOU NO INFERNO! Tudo o que eu escuto ao redor são bombas e comentários sobre possíveis atentados contra a base… Você nunca esteve em campo de guerra, não foi? Como pode ser tão omisso? Como pode aceitar isso? Como pode me colocar nessa história?

            Esse não era meu destino… e você sabe disso! EU NÃO NASCI PARA MATAR! NÃO NASCI PARA CARREGAR UM AK-47 EM MINHAS MÃOS E MUITO MENOS GRANADAS EM MEU CINTO! Eu odeio esse lugar! Como eu odeio vocês dois!

            Vocês dois são dois grandes hipócritas! Espero do fundo de minha alma que não façam o mesmo com Isabella! A deixem escolher a própria vida que quer para si! Eu não quero que ela sofra com a minha ausência… garanta a ela que eu vou voltar logo… já que para mim você não pode garantir merda nenhuma! Aliás, a única garantia que você me deu foi a garantia de raiva!

            Diga a Renée que eu quero que ela se exploda com suas desculpas. Ela mais do que ninguém deveria ter evitado isso! Cadê todo aquele amor? FODA-SE O AMOR, NÃO É? Afinal, eu sou SÓ o filho de vocês! FILHO DE VOCÊS!

            Eu tenho que sair para reconhecimento de campo daqui uma hora. Sabe o que tem no campo? Minas. Você já esteve em um campo minado, General? Só de brincadeirinha, não é? ISSO ONDE EU ESTOU NÃO É BRINCADEIRINHA. POR ISSO REZE! Reze para essa carta não chegar com um telegrama anexado a ela anunciando a minha morte.

            Diga a Bella que a amo, e que se ainda luto por minha vida é por ela. Porque sei que ela precisa ser protegida da negligência de vocês e das feras que estão à solta pelas ruas.

            Eu sinto saudades de todos, mesmo sabendo que não era para eu estar aqui.

Vocês são minha família, eu amo vocês.

Joshua S.

            Nunca tinha visto palavras de Joshua tão carregadas de raiva e dor. Por que ele mandava aquele recado a Renée? Por que chamava Charlie de omisso? Por que meu pai não podia aceitar o fato de ele ter ido para a guerra, se tinha sido o próprio a ter posto meu irmão lá?

            “Isso não faz sentido, Bella. Ele fala para Charlie como se ele tivesse compactuado com algo e não por ter sido ele a por ele na guerra!”

            “Eu sei, eu sei Edward. Qual é a que vem agora? Tem algo que não me contaram… e eu quero saber. Charlie sempre fala das verdades que joga na cara de Renée. Edward, é sobre Joshua!”

            “Uhm, a próxima é…” Ele olhou os dois lados do pacote. “Para você.”

            “Para mim? Mas todas as cartas que eu recebi dele eu… o envelope está aberto, Edward?”

            “Está.” Arranquei o papel da mão de Edward e comecei a ler alto.

Iraque, 14 de Novembro de 2007.

Minha Pequena.

            Oi mana, como você está? Espero que bem. Não vou mentir para você: não estou me sentindo a melhor pessoa. Primeiro: eu não queria estar longe de você. E segundo: a guerra começou para mim.

           

            Não me sinto bem em pensar que posso estar prendendo inocentes e vendo gente morrer sem julgamento. É pesado para mim carregar essas armas e essa farda. Isso seria para a vida de Charlie e não a minha. As pessoas falam de patriotismo e não pensam em quem vem para esse inferno. Tudo é tão cinza e sem cor. Só se vê poeira, tristeza e destruição. Você não é a pessoa certa para eu estar contando isso, mas é para você que abria meu coração, e isso não seria diferente agora. Não há um só dia, irmãzinha, que me esqueça de você e de suas lágrimas ao me ver partir. E por Deus, eu vou voltar para poder te ver feliz.

            A essa altura você já deve estar sabendo da verdade e espero que entenda que ela tem um jeito estranho de amar. Ela fez o que fez porque se sentia em dívida com nosso pai. Não culpe Charlie por isso. Ele a ama e você sabe como ele faz tudo por ela. Ela pensou que fazendo isso estaria demonstrando o seu amor por mim, ela acha que esse era o melhor caminho para mim. Eles não estão me deixando seguir meus passos e lutar por meus sonhos. Isso que mais me deixa louco! Eles estão me perdendo. Eu estou crescendo no meio dessa destruição.

            Quando eu voltar, e EU VOU VOLTAR, não vou querer mais morar em casa. Vem junto? Nós sabemos nos virar muito bem sozinhos. Você sabe que sim! Eu não quero que você tenha o mesmo destino que eu Bella. Claro eles não vão mandar você para a guerra como fizeram comigo, mas eu não vou permitir que eles mandem e desmandem em sua vida.

            Você é a mais próxima de Kristen, duvido que qualquer um de meus recados tenha chego até ela… então você poderia fazer o favor de dizer a ela que a amo?

           

            E não esqueça: EU AMO VOCÊ MANINHA. AMO MAIS QUE TUDO. ESPERE PELO MEU ABRAÇO.

Joshua S.

            Eu não percebi quando as lágrimas começaram a sair por meus olhos, só sei que eu soluçava e tremia ao terminar de ler aquele pequeno pedaço de papel. Os braços de Edward me envolviam e ele tentava me acalmar deslizando seus dedos em meus cabelos.

            “Ed-ward… eles… eles nunca me entregaram… essa carta!” Eu falava entre os soluços e lágrimas. “Como eles puderam? Como Charlie pôde? Edward, eu quero meu irmão de volta! Eles estão me escondendo… ele fala com tanta raiva de nossos pais. Eu não queria que fosse assim! Por que eles estão fazendo isso?”

            “Bella calma. Fica calma, amor. Por favor? Olha pra mim…” Eu não conseguia tirar meus olhos do papel. “Olha para mim, Bella!” Eu olhei e vi o homem que me mantinha ali respirando. “Vamos ler mais. Se precisar eu leio para você… nós já vamos saber o porquê que Joshua se referia aos dois nas cartas! Quer que eu leia?”

            “Edward eu não preciso ler mais nada! EU JÁ ENTENDI! OS DOIS MANDARAM ELE! E EU SEMPRE CULPEI A CHARLIE!”

            “Vamos ler? Eu não tenho certeza que seja bem isso… se você precisa saber da verdade, vamos tê-la por completo. Joshua tem as respostas. Deixa que eu leio.”

            “Está certo.”

            “Bom a próxima é para Renée, ela foi postada no dia 19 de dezembro.” Segurei minha respiração. Isso tinha sido três dias antes de recebermos a notícia que ele estava morto. “Respire Bella.” Eu tive que rir com o seu comentário.

Limp Bizkit - Behind Blue Eyes.

http://www.youtube.com/watch?v=5MSqF_rQ6Mw

Iraque, 13 de dezembro de 2007.

Renée.

            Você está sofrendo, não está? Eu sei que sim. Você tenta esconder a dor de seu erro atrás de palavras maquiadas. Não tente. Não adiantará nada. Eu sei muito bem o que você fez. E sei melhor ainda que se castiga por isso, porque sabe tão bem quanto eu que não tenho nem 50% de chances de voltar vivo para casa. Eles me mandaram para o pior lugar que existe e você sabe que foi você quem fez isso.

           

            Mãe, eu odeio esse lugar! Eu odeio todo esse sangue! E sinceramente, hoje eu odeio você. Odeio esse seu jeito manipulador, odeio toda esse seu falso amor, odeio, odeio e odeio. Vi um dos soldados de meu batalhão morrer ontem… como você acha que eu me sinto? Bem e feliz? Ele morreu e ninguém sabe de onde veio o tiro. Você não fez o melhor para mim. Você nunca faz. Sempre me super protegendo e na hora que tem que saber o que é melhor para mim, me atira na guerra. Gostaria muito de saber quais foram suas motivações. Porque eu sei o que vocês conversavam, eu sempre estive por perto. Charlie sempre relutou nessa idéia… quais eram seus argumentos?

Nosso Joshua merece ser um soldado de honra… Ele deve seguir a mesma carreira que você, Charlie… O coloque para servir, ele será um homem quando voltar… Meu sonho é que nosso menino siga o mesmo caminho que você… Josh ficará lindo dentro do uniforme dos fuzileiros… Pense na carreira militar dele, Charlie... ele se tornará um comandante logo, logo…

Eram coisas assim, não eram? Você sabe como conseguir as coisas, só se esqueceu de perguntar se eu queria isso para mim! EU NÃO QUERIA! EU NÃO QUERO! Você não pensava que depois que eu vestisse essa maldita farda e embarcasse naquele avião militar, Charlie não poderia mais tomar conta de mim? É por isso que você está sofrendo, não é? Eu ainda falo com Charlie.

Renée isso não é uma brincadeira. Você não faz idéia do sangue que sai de minhas mãos no final do dia! Se você queria um filho que fosse um homem honrado, você conseguiu, pois a única coisa pela qual eu luto é pela minha honra e pela minha vida. Não luto por meu país. Não luto por você. Luto por mim.

Você não terá mais o mesmo amor quando eu voltar, isto é, se um dia eu chegar a voltar. Eu irei embora e levarei Bella comigo. Te prometo que assim que eu sumir de suas vistas ela sumirá também! Eu não quero isso para Bells. Eu não quero que vocês guiem a vida dela para o lado errado como fizeram com a minha. Ela é diferente de todos nós e você sabe disso. Ela nutre os sentimentos mais intensos e se fosse ela, por mais que você merecesse, Bella nunca diria que odeia você. Ninguém nessa família suportaria viver sem Isabella… Eu não suporto. Ela é forte o suficiente para viver longe de vocês, mas fraca demais para continuar suportando essa omissão sua e de Charlie. Espero que você saiba a amar de uma maneira diferente da que me amou. Se você não o fizer eu o farei, porque conheço mais de minha irmã do que a minha própria mãe. Eu não vou deixar você acabar com a vida dela Renée, esteja eu onde estiver. E eu… eu sou um homem de palavra. E não foi nessa guerra que aprendi isso…

Desejo que você seja forte e supere, por que um dia eu ainda quero ouvir suas razões. E se eu não voltar, não se preocupe, você já tem o meu perdão, porque por mais ódio que eu sinta de você nesse momento, o meu amor e meu carinho por você vence.

Não sei como será o dia de amanhã. Não sei se eu poderei escrever outra carta para pedir desculpas por minhas grosserias acima e para te dizer que o amor que se tem em uma família é maior e incondicional. Não importa os erros que cometemos. Não importa as ofensas que proferimos. Não interessa o tempo e a distância. O amor continuará.

Por isso Renée, eu te amo minha mãe e sei que você só deseja que eu volte vivo e bem para casa. Eu voltarei para casa.

Joshua S.

Dor. Eu só sentia dor. Tantas promessas não foram cumpridas. Tantos sonhos foram tolhidos. Tanta culpa foi incumbida. Tantas dúvidas foram deixadas para trás. Tantas certezas incertas. E a única coisa que todos queríamos é que Joshua voltasse para casa. E ele voltou: aos pedaços dentro de um caixão do exército americano. 

Agora eu sabia que Charlie não tinha sido o único a querer que ele fosse. Renée que sempre quis. Eu não perdoava a meu pai e sentia pena de minha mãe. Quantas vezes eu o fiz sofrer por jogar em sua face que tinha sido ele a mandar meu irmão para a guerra? Por que eles me esconderam isso? Não que um tivesse mais culpa que o outro, eles estavam no mesmo patamar, mas eu não entendia o porquê de esconderem de mim que Renée o queria lutando.

Minha visão estava turva pelas lágrimas, mas sentia algo diferente em minha cabeça. Uma dor latejante. Eu estava tonta e me sentia gelada. Já tinha sentido aquela sensação antes, na noite de minha tentativa de suicídio. Meu corpo parecia estar sendo esmagado por um rolo compressor. Eu pensei em falar algo para Edward, mas quando olhei em seus olhos não vi meu namorado, eu vi Joshua. Achei que morreria. A claridade invadiu meus olhos e senti o chão ceder sob mim. E de novo aquele vazio, imenso e escuro.

Um cheiro forte invadiu minhas narinas. Ardeu enquanto adentrava meus pulmões. Era álcool. Eu voltava à consciência com a voz de Edward e Luzia conversando baixo próximos de mim.

“O patrão ligou e avisou que não voltará para o almoço.”

“Mas ele tem que voltar! Pode ter certeza que quando Bella acordar ela vai surtar!”

“O que houve?”

“Ela descobriu umas coisas sobre a ida de Joshua para a guerra…”

“Olhe, ela está acordando.”

“Bella! Bella! Você está bem?” Edward apareceu em meu campo de visão. Passei a mão por minha testa e me sentei devagar. Olhei ao redor, estava na sala de casa.  Ele colocou a garrafa de álcool na mesinha de centro.

“Minha cabeça está doendo Edward. Eu quero um remédio.” Não gostava de tomar remédios, mas aquela dor gritava dentro de minha cabeça. Era aguda e parecia que tinham aberto um buraco em meu crânio.

“Já lhe trago Isa…” Luzia foi buscar para mim, me deixando a sós com o Ediota.

“Obrigada Luzia.” Olhei para Edward que estava ajoelhado em minha frente. “O que houve?”

“Você desmaiou… você lembra o que causou seu desmaio?”

“Eu me esqueci de respirar. Na verdade não estava conseguindo. Edward… eu fui injusta com Charlie todos esses anos.”

“Não Bella, você só não sabia da verdade, que culpa você tem disso? Se foi ela que quis que ele fosse para guerra é por isso que ela sofre tanto… Ela mandou o filho para a morte.”

“Onde ela está?”

“Luzia disse que ela acordou, olhou em todos os quartos da casa, não nos achou e resolveu ir para o quarto novamente. Renée está muda pelo que Luzia me falou.”

“Ah ela está muda? Então eu a farei falar.” Me levantei decidida. Caminhei escada acima a base se passos firmes. Eu não estava nervosa, não estava irritada, eu só estava magoada e achando que se eles tivessem me contado desde o início que ambos queriam que meu irmão fosse para a batalha, talvez essa família poderia não estar tão destruída.  Um culpa o outro e no fim ninguém tem culpa. Mas eu queria esclarecimentos. Eu precisava disso, já estava mais do que na hora de me libertar desse passado e dessa dor. Jurei para mim que esse seria o último dia que brigaria ou discutiria com meus pais sobre isso. Seria o fim. Não queria mais tanto sofrimento para mim.

Edward subia atrás de mim. Com Renée era sempre bom ter alguém por perto para apoiar e segurar ela se necessário. Ela tinha se perdido em sua própria mente, era tão palpável a loucura dela! No final do corredor hesitei por um instante com a mão no trinco. Talvez começasse aquela conversa de uma forma diferente. Não abriria a porta em um rompante como sempre fazia. Eu resolvi que bateria até ela me atender.

Dei três batidinhas leves na porta esperando por sua resposta que não veio. Olhei para Edward e ele bateu na porta mais umas quatro vezes com um pouco mais de força. 

“O QUE?” Ouvi Renée gritar.

“Eu quero falar com você!”

“Vai ficar querendo Isabella. Não quero ver você na minha frente.”

“Se eu arrombar mais uma porta Renée, Charlie vai te colocar em um hospício!” Ela ficou quieta por alguns momentos. Fitei Edward, apreensiva. Senti o trinco se mexer em minha mão, tirei dali e cruzei os braços. Renée abriu a porta.

“O que você quer falar?”

“Por que vocês mentiram? Por que você sempre deixou Charlie levar toda a culpa? Porque me esconderam tantas cartas? Por que você não entende que não pode dirigir a vida das pessoas pelo caminho que você quer? POR QUE VOCÊ MANDOU JOSHUA PARA A GUERRA?”

“SAIA DAQUI! EU NÃO QUERO FALAR DESSAS COISAS!”

“NÃO GRITE COMIGO, RENÉE!” Ela tentou fechar a porta e o Ediota colocou a mão na madeira a empurrando para trás novamente.

“Isabella quer falar. Você vai ouvir Renée.” Minha mãe recuou um passo para trás. Edward foi ríspido, mas ele me entendia. Eu precisava falar. Entrei no quarto olhando ao redor.

“Que mania você tem Renée! Já viu o sol que tem lá fora? Por que você não deixa a vida entrar?” Abri a janela do quarto e atirei as cortinas para o lado de fora.

“Por que eu não quero ver sol nenhum. E não quero você aqui…” Me virei para ela. Aquele tipo de comentário não me afetava mais.

“Essa parte eu já entendi… Renée por que você queria que Joshua fosse para a guerra?”

“DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? FOI CHARLIE QUE O OBRIGOU A IR PARA LÁ!”

“VOCÊ PENSA QUE EU SOU BURRA, RENÉE? EU NÃO SOU! PODE TER SIDO CHARLIE QUE O OBRIGOU, MAS FOI VOCÊ QUEM CONVENCEU O MEU PAI! ATÉ JOSHUA SABIA DISSO!”

“JOSHUA NÃO SABIA DE NADA!”

“JOSHUA NÃO SABIA DE NADA? ENTÃO POR QUE ELE SENTIA TANTA RAIVA DE VOCÊ? ENTÃO POR QUE ELE LHE ESCREVEU UMA CARTA DIZENDO QUE A ODIAVA POR TER CONVENCIDO CHARLIE E POR TER O COLOCADO NAQUELA GUERRA? POR QUE ENTÃO EM UMA CARTA PARA MIM, CARTA ESSA QUE VOCÊS ME ESCONDERAM, ELE DIZ QUE EU JÁ DEVIA ESTAR SABENDO DA VERDADE? JOSHUA SABIA MUITAS COISAS! ELE SABIA MAIS COISAS QUE VOCÊ E CHARLIE JUNTOS! ELE SABIA O QUE QUERIA, E VOCÊS TIRARAM ISSO DELE! VOCÊ TIROU ISSO DELE!”

“EU NÃO TIREI NADA DELE! EU SÓ QUERIA DAR UM FUTURO PARA ELE! QUE ELE SEGUISSE OS CAMINHOS DE CHARLIE! ELE FICAVA TÃO LINDO NAQUELA FARDA! ELE DEVERIA SER UM HOMEM BRAVO E HONRADO! E PARA ISSO ELE FARIA O QUE? ELE SERIA UM ARQUITETO? ERA ISSO QUE ELE QUERIA, NÃO ERA? EU ACHAVA QUE ISSO ERA POUCO PARA ELE! JOSHUA MERECIA A GLÓRIA DE SERVIR SEU PAÍS E RECEBER AS HONRAS POR ISSO!”

“VOCÊ NÃO PENSOU QUE ELE PODERIA RECEBER UM TIRO NA CABEÇA FAZENDO ISSO? OU PISAR EM UMA MINA? OU PIOR… ESTAR NO CAMINHO DE UMA BOMBA, COMO ACONTECEU? NUNCA PASSOU POR SUA CABEÇA QUE EM UMA GUERRA NÃO SE USA ARMAS DE BRINQUEDO? ELE MORREU, RENÉE, POR ESSE SEU DESEJO DE CONTROLAR AS PESSOAS!” Eu gritava com ela em meio às lágrimas que deslizavam incessantemente por meu rosto. Edward estava escorado na porta… sua feição era de espanto.

“EU NÃO CONTROLO NINGUÉM! EU CONTROLO VOCÊ? NÃO CONTROLO! EU CONTROLO CHARLIE? NÃO CONTROLO! EU NÃO CONTROLO NEM A MIM MESMA! EU QUERO TODOS VOCÊS MORTOS! PARA MIM NÃO FAZ DIFERENÇA SEM JOSHUA!”

“É POR ISSO QUE VOCÊ SOFRE TANTO E NÃO CONSEGUE SAIR DESSE BURACO, NÃO É? VOCÊ SABE QUE TEM CULPA! VOCÊ CARREGA ESSA CULPA! E VOCÊ NÃO TEVE TEMPO PARA SE REDIMIR DISSO! VOCÊ RECEBEU UMA CARTA EM QUE ELE DIZIA QUE TE ODIAVA E JUNTO DELA A NOTÍCIA DE SUA MORTE! ISSO FAZ VOCÊ PERDER O SONO E A PAZ! VOCÊ SABE QUE ELE NÃO QUERIA ESTAR LÁ! RENÉE, ELE TE PERDOOU! SIGA EM FRENTE! POR FAVOR? ESQUEÇA ESSA LOUCURA DE FICAR SOFRENDO PELOS CANTOS! NÃO ADIANTA MAIS! VOCÊ E CHARLIE O COLOCARAM LÁ, MAS NÃO FOI CULPA DE VOCÊS QUE ELE MORREU! ELE MORREU! ISSO ACONTECE COM AS PESSOAS. TODOS OS DIAS! JÁ FAZ DOIS ANOS! POR FAVOR? SE PERDOE!”

“VOCÊ JÁ SUPEROU? ASSIM TÃO RÁPIDO? AH EU JÁ SEI! VOCÊ ACHOU ALGUÉM PARA SUBSTITUI-LO, NÃO É? ESSE GAROTO IDIOTA… VAI CHEGAR UM DIA QUE VOCÊ VAI VER QUE ELE NÃO É PERFEITO!” Ela metia o dedo na minha cara como se fosse um erro eu ter alguém para me amar.

“NÃO ESTAMOS FALANDO DE EDWARD! ELE NÃO É UM SUBSTITUTO PARA JOSHUA! ELE É MEU NAMORADO! E EU SEI QUE ELE NÃO É PERFEITO… ASSIM COMO NINGUÉM É! EU AINDA SOFRO! EU AINDA ESPERO QUE UM DIA ELE VOLTE… MAS ISSO É FANTASIA!” Minha garganta doía de tanto gritar. Respirei com calma e abaixei o tom de voz.  “Ele nunca mais irá voltar. Temos que mantê-lo vivo em nossas memórias. E temos que nos amar… porque era isso que ele queria. É isso que eu quero. Ser amada… eu só tive o seu desprezo depois que ele partiu, mesmo com ele te pedindo para me amar. Quando eu mais precisei vocês não estavam ali. Não restou ninguém a quem eu pudesse me agarrar. Nem você, nem meu pai. Eu só queria amor quando ele se foi… e vocês? Vocês me esqueceram.” Eu estava cansada de discussões e dor.

“Eu sinto falta de ser chamada de mãe.” Ela disse se jogando sentada na cama. Seus olhos azuis cheios de lágrimas e com a postura de uma pessoa derrotada pelo destino.

“Eu queria poder lhe chamar de mãe novamente, mas você ainda não me permite.”

Eu não tinha o que falar com ela mais. Renée não me contaria mais nada e nem abriria seu coração sobre isso. Eu teria que esperar por Charlie para saber o porquê de tantas mentiras sobre quem tem a culpa ou não. Nessa altura da história, eu já sabia que era uma idiotice descabida pensar em culpados. Tudo tinha saído do controle de todos e o que estava feito estava feito. Não havia cura e nem redenção. O que havia era a possibilidade de seguir adiante.

Saí com Edward a deixando sozinha com seus pensamentos. Eu queria que ela percebesse que não adiantaria nada passar a vida em luto por ele. Minha mãe era uma mulher relativamente nova, assim como Charlie, e eles poderiam viajar e serem felizes se ela permitisse. Tenho certeza que ninguém, inclusive Joshua, ficaria revoltado com isso, muito pelo contrário. Esperava tanto que todos esses gritos, brigas e descobertas tivessem algum peso no final das contas. Eu já não me importava se tinha ou não o amor de Renée, mas me importava que ela soubesse que eu a amava.

Minha mente vagava para Charlie enquanto eu e Edward conversávamos no jardim. Ficava pensando em como seria a nossa conversa sobre a mentira que ele ajudou a sustentar. Pode ser que para alguns isso seja algo pequeno, mas não é. Naquele instante de minha vida eu percebia que não podia culpar ninguém pela morte de Joshua, mas não tinha sido sempre assim. Por quantas vezes fiz questão de lembrar a Charlie que tinha sido ele a tirar Joshua de mim. Na noite de nossa chegada aqui… eu atirei em sua cara que ele arrancara meu irmão de minha vida. E agora suas palavras faziam um sentido absurdo para mim:

“… Mas um dia espero que mude esse seu pensamento sobre Joshua…”

Então era isso. Não tinha sido ele e por isso eu estava me sentindo tola, hipócrita e magoada. Não gosto de mentiras e não gosto de meias verdades. Eles mentiram e me contaram meias verdades. Eu não ficaria quieta e não deixaria de exigir toda a realidade. Já tinha lido as cartas, meu espírito estava preparado para qualquer coisa que viesse a seguir.

“E essa Kristen, Bella? Você acha que algum dia ela recebeu os recados de Joshua?” Edward me trouxe de volta a realidade. Estávamos sentados no gramado sob o sol da manhã. Tudo era tão estranho. Falsas verdades estavam ruindo ao meu redor, Renée definhava na dor, Charlie parecia estar acuado como um cãozinho sem dono e Edward permanecia ali, de uma forma surreal, ao meu lado.  

“Sinceramente? Eu não sei. Provavelmente não. Nunca procurei ela para ver como ela estava. Só me lembro que ela encontrou alguém e que se casou. Rápido demais para quem dizia que amava meu irmão. Mas as pessoas são assim, não são? Elas superam… menos em minha família.” Eu deduzi desanimada. Olhei em seus olhos claros e ele não perdia aquele brilho que me fazia sorrir.

“Vocês vão superar. Eu sei que vão.”

“Obrigado Ediota.” Agradecia por todo o suporte que me dava há meses. Abracei-lhe sentindo seus braços me envolverem em seguida. Quando eu vi, ele já tinha me jogado no chão e me mantinha em seus braços, seus lábios beijavam meus cabelos e suas mãos deslizavam por meus braços. Conversamos sobre tudo que estava acontecendo. Ele ter lembrado Kristen me fez lembrar como ela era uma garota bacana. Eu a adorava para falar a verdade… Joshua então?! A amava loucamente. Eles namoraram por dois anos. Tive vontade de reencontrá-la e transmitir todos os recados de Joshua que sem dúvida não havia recebido.

“Edward, você se importa se eu for dar uma volta?”

“Sozinha?”

“É. Eu preciso fazer algumas coisas… você não se importa, não é?”

“Não, de jeito nenhum. Você precisa de um tempo para você.”

“Certo… se cuida com a Renée, sei lá, fique perto de Luzia… Ah eu queria que você viesse junto, mas…”

“Mas eu posso ir se você quiser?” Ele disse animado.

“Não… Mas eu tenho que fazer isso sozinha.”

“Está bem então… Vá e volte.”

“Sempre.”

Do mesmo jeito que estava saí pelas ruas da vizinhança. Caminhei até a antiga casa de Kristen que não ficava muito longe da minha. Em quinze minutos a passos lentos eu estava apontando em sua esquina. Talvez ela nem morasse mais em New Orleans. Talvez tivesse se mudado e nem se lembrasse mais quem eram os Swan.

Eu quase tremia. Ainda hesitante bati na porta de sua casa. Esperei por alguns minutos e bati novamente. As janelas estavam abertas e deveria ter alguém em casa. Já começava a me achar tola demais. Quem sabe ela nem queria mais nos ver. Por nossa boca ela nunca teve notícias de Joshua, apenas para avisar que ele tinha morrido. Ela era como eu: sempre acreditou que tinha sido meu pai que jogara Joshua lá. Desisti depois de dez minutos tentando ser atendida. Possivelmente não era para eu estar lá mesmo.  Me virei em direção a rua e na ponta da pequena escada que tinha em frente a casa, estava Kristen. Ela me olhava séria, como se me avaliasse. Esperava que ela não ficasse braba.

“Bella? É você?”

“Oi, sou eu sim…”

“Bom… você está diferente!” Kristen caminhou em minha direção subindo as escadas.

“É eu mudei um pouco só nos últimos meses… Er, você se incomoda de conversar comigo um pouco?”

            “Bom, eu não tenho muito tempo… mas vamos, entre!” Ela já estava ao meu lado e passou as mãos por minhas costas. “Foi sorte ter me encontrado aqui… eu só estou de passagem para abrir a casa de meus pais… estão viajando.” Eu caminhava atrás dela, entrando na casa que já era conhecida para mim. “Vamos até a sala.” Seguimos para o cômodo onde eles costumavam receber as visitas. Nos sentamos e eu estava um pouco tensa. Ela me olhou curiosa com um sorriso nos lábios.

            “Diga pequena… o que a trouxe aqui?” Eu sorri para ela quando me chamou pelo apelido que Josh costumava usar.

            “Bom Kristen… nem existe um motivo real. Foi algo meio de impulso. Estou passando alguns dias aqui e hoje pela manhã eu descobri algumas coisas que me fizeram pensar se você sabia…” Ela ficou séria fazendo desaparecer o sorriso que ostentava.

            “É sobre Joshua, não é?” Eu concordei com a cabeça. “Por que disso agora? Tanto tempo em silêncio e agora você vem mexer em algo que está adormecido?” Ela estava certa, eu não tinha o direito.

            “Me desculpe por isso. Você está certa… só achei que você gostaria de saber. Não vou te atormentar com isso, me desculpe mais uma vez…” Falei já me levanto do sofá bege e seguindo para a porta.

            “Bella espere…” Olhei para ela. “Eu não disse que não queria saber. Por favor, o que tem para me contar?” Respirei fundo e voltei.

            “Bom… primeiro de tudo, eu descobri uma verdade: não foi meu pai que colocou Joshua na guerra. Renée o queria lá… e como meu pai nunca negou nada para ela…”

            “Ela ainda tem ataques?”

            “Cada vez estão piores…”

            “Essa mulher é louca… me desculpe, mas é! Como você agüenta? Ela pirou mesmo! Ela deve querer morrer diariamente por isso que ela fez com ele… Não que eu deseje o mal deles, mas eles erraram muito com ele, Bella… Renée está colhendo o que plantou.”

            “Não só com ele… com nós… Kristen, alguma vez recebeu algum recado de Joshua? Sabe, enquanto ele estava lá?”

            “Não da boca de sua família. Ele mandou recados? PARA MIM?”

            “Sim… ele sempre mandava dizer que era para lembrarmos a você o quanto ele a amava e sentia sua falta…”

            “Por que nunca me procurou, Bella?”

            “Eu não sabia disso até hoje pela manhã. Sempre pensei que você tinha superado rápido demais, mas isso não importa, não é? Você seguiu a sua vida como deve ser.”

            “Bella me dói pensar em Joshua ainda. Eu segui sim minha vida… Como ele mesmo me pediu. Mas o sentimento não morreu junto com ele.” Ela tinha lágrimas nos olhos.

            “Não entendi… como ele te pediu?”

            “Sim, Joshua me escreveu uma carta nos meses em que estava guerreando. Uma única carta. Ele me pedia que era para eu fazer ao máximo para ser feliz… Ele sabia que não voltaria de lá. Eu sei que Josh me amava, e eu Bella… ainda o tenho em meu coração. Eu sou casada e  feliz, mas isso era para ser com Joshua. E seus pais tiraram isso de mim… Eu ainda não consigo aceitar isso, por isso que sumi da vida de vocês. Joshua me pediu para não deixar você sozinha… mas isso eu não pude cumprir. Você não tem idéia como me desesperei quando soube que você tentou…”

            “Suicídio?”

            “É… Bella, ele queria que todos nós estivéssemos felizes, como o bom garoto que era ele não nos queria chorando por ele, então, por favor, se você não superou, supere! Tenho certeza que, esteja onde estiver, Joshua vai estar bem também!” Suas palavras entravam em mim com força. Parecia que em todo lugar que eu olhava, via mensagens pra seguir em frente. Eu queria muito isso, mas às vezes era difícil demais.

            Conversei com Kristen por mais algum tempo. Ela me contou sobre sua nova vida e seu marido. Como sempre pensei, ele era um homem bom. Ela insistia que o lugar de Renée era no hospício. Não concordava com isso, ela talvez tivesse salvação… talvez uma casa de repouso, ou algo parecido. Renée precisava cair na realidade. Não sabia o jeito certo para fazer isso.

            Caminhei pelas ruas de New Orleans, buscando – antecipadamente – uma resposta para as mentiras que tinham me contado. Pensava em como eu iria fazer para esquecer o tempo em que culpei a Charlie, apenas a Charlie. De uma coisa estava certa: eu não iria mais me magoar, eu não queria mais qualquer tipo de dor. Seria a última vez e nunca mais falaria sobre quem tinha culpa ou não, sobre quem tinha o mandado para guerra ou deixado de mandar. Vaguei sem rumo até decidir voltar e por meu pai contra a parede.

            Do ponto onde estava demorei cerca de meia hora a pé. Gostava de caminhar por New Orleans, o clima era sempre bom e fresco, as pessoas animadas e era tranqüilo. Fiquei feliz quando cheguei em casa e me deparei com todas as janelas abertas. Isso era bom. Na entrada de carros estava o carro de Charlie. Ótimo, ele estava em casa, não teria que ficar esperando mais. Entrei correndo pela porta, achei que acharia alguém pela sala, mas não. Procurei pelos cômodos do primeiro andar e não vi ninguém. Achei um bilhete de Luzia avisando que tinha ido ao mercado comprar coisas para o jantar.

A casa estava muito quieta. Edward, Charlie e Renée estavam em casa. Alguém devia estar por ali. Subi as escadas e fui até meu quarto. Coloquei um chinelinho e voltei a minha procura pelos habitantes daquela casa. Estava calmo, calmo demais. Fitei ao longo do corredor e vi que a porta do escritório de meu pai estava aberta. Enquanto chegava perto ouvi uma conversa de vozes baixas, porém alteradas.

            Narração: Edward Cullen.

            Assim que Bella saiu resolvi entrar. Eu não queria ficar longe dela. Primeiro que queria ter certeza de que ela estava bem e em segundo que eu não agüentava mesmo. Eu fiquei meio deslocado dentro da casa, sem saber ao certo o que fazer. Fui procurar Luzia como Bella tinha me sugerido. A encontrei organizando algumas coisas na cozinha e lhe ofereci ajuda. Precisava ocupar minha cabeça com algo, se não eu ia pirar sem a Monstrenga ao meu redor. Luzia preferiu que eu só ficasse como companhia e fiquei. Conversei sobre a vida, e perguntei mais como as coisas eram quando Joshua ainda era vivo.

            Me espantou quando ela contou que Joshua reclamava da super proteção da mãe e que Renée tinha um ciúme doentio com os dois filhos, mas que era nítida a preferência dela pelo filho. Sempre deixava Bella em segundo plano para ver tudo que era relacionado ao mais velho. Ela trabalhava com a família há muito tempo. Desde que tinham se mudado para a cidade na verdade. Ela viu minha Monstrenga crescer e entrar na adolescência. Me contou histórias engraçadas de Bella e de como ela conseguiu algumas de suas cicatrizes nas pernas. Me envolvi tanto em suas memórias que quando vi a tarde já tinha se passado quase inteira e Bella ainda não tinha voltado.

            Subi para o quarto dela, onde estavam minhas coisas e sentei na cama, lembrando de nosso momento pela manhã. Eu precisava sentir Isabella. Era claro que ali, na casa do General não ia acontecer nada… ela tinha me deixado isso bem claro e ELE mais ainda. Nós tínhamos que voltar para Forks logo… ou eu não agüentaria. Eu parecia um adolescente que nunca tinha feito sexo na vida. Ri de mim mesmo. Estava sendo dominado por meus hormônios.

            Em vão liguei para Bella que tinha deixado o celular em casa. Me deitei na cama agarrando seu travesseiro. O cheiro dela era absurdamente delicioso. Levei um susto quando vi Renée parada na porta me observando. O que ela estava fazendo ali? Antes de conseguir mover meus lábios, ela estendeu a mão para mim e na ponta de seus dedos tinha um pequeno papel dobrado. Era para mim ao que me pareceu. Ela não falou absolutamente nada. Fui até ela e peguei o papel, olhei em seus olhos azuis que eram vazios de sentimentos bons e cheios de dor. Ela era tão transparente que podia ver a loucura de sua mente doente por eles. Desviei meus olhos para o pequeno bilhete. Me surpreendi com o que li.

Dê a ela todo o amor que eu não consigo dar e todo o carinho que tirei dela quando Joshua partiu. É difícil escrever essas palavras. Não os quero aqui para não machucar mais a quem só quer ser feliz.

Por isso: vão embora.

Quando levantei minha cabeça ela não estava mais ali. Olhei pela porta e a vi descendo correndo as escadas como uma fugitiva. O bilhete estava marcado de lágrimas. Enfim, havia alguma esperança para Renée. Guardei o bilhete em meu bolso traseiro no jeans. Isso deixaria a Monstrenga bem. Por mais forte que ela tentava ser, eu sabia que ela estava despedaçada por dentro depois de ler tais cartas pela manhã. Ela estava confusa com o que sentir. Bella não sabia ao certo o que pensar. Se culpava por culpar Charlie e sentia raiva por terem mentido para ela e por terem escondido cartas e notícias de seu irmão. Eu não me sairia tão bem quanto ela estava se saindo.

Fiquei pelo quarto até ouvir a voz grossa de Charlie no andar de baixo. Queria conversar com ele, expor minhas intenções com Bella. Queria que ele aceitasse nossa condição e que nos deixasse viver o que tínhamos. Eu faria o impossível para conseguir sua aprovação e daria um basta naquela história de informações sobre a Monstrenga, não tinha o porquê disso.

“Como vai Charlie?” Lhe cumprimentei quando cheguei à sala.

“Indo garoto… o que aconteceu aqui enquanto eu estive fora?”

“Bom… isso é algo entre você e Bella, não posso me meter nisso.”

            “Me conte Edward.” O general declarou tentando me intimidar.

            “Desculpe, mas não. Eu já lhe disse: isso é com Bella.”

            “Está certo.” Charlie resmungou ranzinza.

            “Charlie… nós poderíamos conversar por um instante?”

            “Achei que você não fosse homem suficiente para ter coragem de ter essa conversa garoto, mas pelo visto me enganei… vamos até o escritório.”

            Subimos para o escritório e aquela era à hora. Sem rodeios já fui lhe falando a verdade.

            “Primeiro de tudo Charlie, eu a amo. Entende isso, não é? Isso não vai mudar tão cedo…”

            “A ama? Hahaha! Edward há quanto tempo estão juntos para dizer que isso que sente por ela é amor?”

            “Desde a segunda semana que ela está lá.”

            “Segunda semana? Garoto, não acha que vocês ficaram muito tempo me escondendo isso?”

            “Isso foi uma escolha dela! Bella queria lhe contar pessoalmente. Eu não posso interferir nas escolhas que ela faz, Charlie.”

            “E o que você quer com ela? Sabe, por mais que eu te chame de garoto, você já é um homem! E ela? Isabella é uma garotinha ainda… Não sabe nada da vida ainda.”

            “Charlie…” Falei meio receoso. Cocei a cabeça e fiquei sem jeito em lhe falar, aquilo podia ter muitas interpretações. “Bella não é uma garotinha. Bella é uma mulher.”

            “DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO?” Ele ficou vermelho de raiva. Pude ver suas mãos começarem a tremer.

            “Eu estou falando que ela não é mais uma criancinha. Ela cresceu e sabe muito bem o que quer. Ela é madura e decidida. Têm planos e sonhos… e você não imagina o quanto ela sabe da vida.”

            “Você está dizendo que não conheço Isabella? Você me desafia sem medo, não é? Não tem medo que eu a proíba de ficar com você?” Ele gesticulava como um louco.

            “Não General, não estou dizendo que o senhor não a conhece, e sim que ela mudou. E eu não tenho medo de você, Charlie.”

            “Não tem medo… bom o que você quer com ela então?”

            “Quero a amar livremente, sem interrupções ou culpas. Quero a fazer feliz. E sem dúvida, quero isso mais que tudo. E eu quero Charlie… parar com essa história de te passar informações de como ela está. Tudo que eu lhe conto é o que ela te conta… precisa de mim para conseguir notícias dela? Não, você tem a ela! Ela não mente para você. Todas às vezes que fala com Bella, ela te diz tudo o que se passa em sua vida! Acho isso injusto com ela! É como se você a vigiasse como uma fugitiva!”

            “E ELA É! Ela fugiu daqui! Ela foi embora! E o que ela achou? Um cara que só quer se aproveitar dela!” Ele alterou sua voz. Não gritava, mas a calma debochada que ele tinha antes na voz sumiu pra um tom raivoso.

            “Você pensa isso de mim? Você é tão cego assim? Você não vê como ela está melhor? Você acha que isso se deve a quem? Ao cara que só quer se aproveitar dela? Ou ao cara que se importa com ela, que está sempre ao seu lado, sempre lhe suportando e secando suas lágrimas quando ela se sente triste?

            “Ah que discurso mais bonito! Olhe para ela! Bella não é seu tipo garoto! Quero ver o dia em que você vai debochar dela e fazer tudo exatamente igual ao que aquelas pessoas daqui faziam com ela! Eu te quero longe de Bella!”

            “Você não sabe nada sobre mim Charlie! Não sabe o que eu gosto e quem eu sou! Não sabe de onde eu venho e o que eu sinto por ela! Se para você ela não é meu tipo, acho muito bom que você abra bem seus olhos! Eu não vou ficar longe dela!”

            “VOCÊ VAI SIM! POR QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO COM ELA, MOLEQUE? POR QUE PENSA QUE PODE LHE FAZER FELIZ? DE ONDE TIROU ESSA IDEIA? FIQUE LONGE!” Minha paciência foi para o espaço. Ele estava totalmente errado sobre mim. Me forçara a fazer algo que eu não queria e acabei por me envolver com Bella muito mais do que eu esperava. Se ele não queria que isso tivesse acontecido, ele que não tivesse me posto nessa história. Se bem que eu teria me apaixonado por ela de qualquer forma.

            “PORQUE FOI VOCÊ QUEM ME COLOCOU NESSA!” Gritei mais alto que ele! “EU NEM QUERIA FICAR PERTO DE ISABELLA! O MEU DESEJO ERA NÃO TER ELA POR PERTO! MAS FOI VOCÊ CHARLIE… FOI VOCÊ QUEM A COLOCOU NO MEU CAMINHO! ENTÃO AGORA NÃO VENHA ME PEDIR PARA ME AFASTAR!”

            “DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? EU NÃO A COLOQUEI NO SEU CAMINHO!” Ele meteu um dedo em minha cara. Ele não via a verdade não?

            “VOCÊ É IDIOTA OU O QUE? FOI VOCÊ QUEM ME OBRIGOU A FICAR PERTO DELA PARA TE DAR NOTÍCIAS! VOCÊ NÃO QUIS ALICE, VOCÊ QUIS A MIM! EU TIVE QUE FICAR PERTO DELA SEM NEM MESMO QUERER ISSO! E AGORA É TARDE DEMAIS PARA VOCÊ! EU NÃO VOU MAIS ATENDER SUAS LIGAÇÕES, EU NÃO VOU MAIS CONTAR COMO ELA ESTÁ! VOCÊ QUE SE VIRE COM BELLA! EU NÃO ME IMPORTO!”

            “Edward?!” A voz suave e instável de Bella soou atrás de mim. Eu me senti congelar, parecia que não havia sangue correndo em minhas veias. Achei que iria desmaiar. Porém esse sentimento ficou pior quando me virei para ela e vi seu rosto. Nunca a vi tão triste. Não tinha como descrevê-la, ela estava sofrendo e muito. Lágrimas corriam por sua face. Eu sabia naquele instante que ela tinha ouvido a pior parte da conversa.

            Narração: Bella Swan.

            Linkin Park – In the End.

http://www.youtube.com/watch?v=1yw1Tgj9-VU

            “SAÍ DE PERTO DE MIM EDWARD! SAIA! NÃO ME TOQUE!” Quem ele estava pensando que era? Ele não podia fazer aquilo comigo. Não ele.

            “BELLA AMOR! NÃO É ISSO! VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO NADA!” Eu já nem lutava contra as lágrimas que me escapavam. Ele tentava me agarrar pelos braços. Eu não parava, pegava suas coisas e jogava tudo dentro de sua mala.

            “NÃO! TIRE SUAS MÃOS DE MIM, EDWARD CULLEN! EU NÃO SOU BURRA! EU OUVI MUITO BEM O QUE VOCÊ DISSE PARA CHARLIE! POR QUE AS PESSOAS GOSTAM DE ME VER SOFRER? SE VOCÊ NÃO ME QUERIA POR PERTO, NÃO DEVERIA TER FEITO TODA ESSA ENCENAÇÃO! VOCÊ NÃO PRESTA! VOCÊ ESTAVA MENTINDO TODO ESSE TEMPO!”

            “BELLA VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! EU NÃO VOU EMBORA! EU NÃO VOU CONSEGUIR IR SEM VOCÊ! VOCÊ É MINHA!” Ele chorava também. Por que ele estava se dando ao trabalho disso? Eu não acreditava nele! Ele tinha mentido para mim! Por meses!

            “EU. NÃO. SOU. SUA. EDWARD! E VOCÊ PODE PARAR DE CHORAR! PARE COM ESSE TEATRO! O QUE VOCÊ ESTÁ GANHANDO COM ISSO?”

            “EU NÃO ESTOU GANHANDO NADA! EU ESTOU TE FALANDO A VERDADE! EU TE AMO BELLA!”

            “VOCÊ NÃO ME AMA! PARE DE MENTIR! VOCÊ ME ENGANOU POR TODO ESSE TEMPO! O QUE VOCÊ QUERIA DE CHARLIE PARA ESTAR FAZENDO ISSO? VOCÊ TEM PENA DE MIM, NÃO É? EU NÃO PRECISO DE SUA PIEDADE! EU NÃO PRECISO DE VOCÊ!”

            “BELLA NÃO FAZ ISSO COMIGO, POR FAVOR?! NÃO FAZ ISSO COM A GENTE!” Ele implorava para mim.

            “FAZER O QUE EDWARD?” Eu caminhava de um lado para outro pegando qualquer coisa que via que era dele. A única coisa que ainda restava fora de sua bagagem era seu perfume sobre a mesa de meu quarto. Andei até lá com ele em minhas costas tentando me fazer parar.

            “NÃO ME EXPULSE DA SUA VIDA!” Ele me segurou pelos braços e virou para ele. Seus olhos estavam vermelhos e eu quase acreditei nas coisas que dizia. Eu suspirei. Parecia que estava morrendo com a dor. Muita dor.

            “Eu não vou fazer isso… EU JÁ FIZ. Acabou Edward. Eu e você não existimos mais. Afinal, você não se importa, não é?” Ele deixou seus braços caírem ao lado do corpo, derrotado. Mesmo com a dor que ele estava me causando eu sabia que sua ausência me machucaria mais ainda.

            Saí de sua frente e joguei seu perfume entre as roupas. Eu sentiria falta de seu cheiro. Olhei pesarosa para suas coisas, mas era o melhor a ser feito. O melhor para mim. Fechei o zíper com raiva, virei para Edward que estava parado atrás de mim, lhe joguei a mala contra o corpo. Ele a segurou. Sequei uma lágrima em meu rosto.

            “Certa vez você me disse que não suportava pessoas que eram desonestas. Com os outros e consigo mesmas. Por isso: vá Edward. Vá e se sinta livre de mim. Você foi desonesto. Principalmente com você. Vá embora.” Ele não falou mais nada. Tocou meu rosto com a ponta dos dedos. Deixei-lhe fazer isso porque tinha consciência do quanto eu precisava dele, e aquela seria a última vez que ele tocaria em mim.

            Assim que desviei meus olhos dos seus vi ele me dar às costas e partir fechando a porta de meu quarto ao sair. Ao ouvir o clique a selando, desabei de joelhos no chão o sentindo partir. A dor era imensa em meu peito. Pensei que o que tínhamos era real. Eu queria gritar de tanta mágoa. Gostaria de poder arrancar meu coração do peito e fazer toda a tristeza sumir.

            Por horas eu chorei. Queria fazer com que os momentos que tivemos desaparecessem de minha mente ao fechar meus olhos. Eu me sentia mais uma vez vazia. Mais uma vez caindo. E dessa vez não havia ninguém para me amparar.

Continua…

N/A:Bom, por favor, não me matem! ENTENDAM que esse rompimento deles era necessário. Muitas coisas estão por vir. Gostaria de lembrar que A FIC NÃO ACABA AÍ!

            Esse capítulo é foi até o momento o mais esperado por mim. Espero que vocês tenham gostado mesmo com esse finzinho de dar dor.  Eu senti cada corte da Bella como se fosse em mim, cada dor e cada mágoa. Espero ter passado todo esse sentimento para vocês. Nesse instante a história está falando sobre a verdade e a confiança. Coisas difíceis de conseguir hoje em dia. A verdade sempre dói fundo e mais ainda quando ela é encoberta por uma porção de mentiras. O ser humano mente por diversas razões mesmo que por amor ou medo da verdade destruir algo bom, que foi o caso do Edward. Não se esqueçam eles SE AMAM E ISSO NÃO IRÁ MUDAR.

            Eu entre tantas coisas tristes tenho uma ótima notícia... Vocês não vão precisar esperar muito para saber como essa situação em que eles estão vai se resolver... provavelmente segunda o capitulo 15 já esteja online. E lembrem-se:

  SEMPRE NESSA VIDA HÁ ESPERANÇA. ATÉ PARA UM EDIOTA E UMA MONSTRENGA.

            Mais uma coisa: eu lancei uma nova fic, o nome é KANSAS REVENGE quem quiser conferir basta ir nesse link aqui: http://fanfiction.nyah.com.br/historia/77845/Kansas_Revenge

           

Beijos e espero por seus comentários, Grasi.

N/B (Mari Cullen): Eu ameeei o capítulo! Na minha humilde e modesta opinião, esse superou qualquer outro capítulo! Eu espero sinceramente que todas tenham se envolvido com a história enquanto liam, como eu fiquei envolvida… Espero que todas tenham sentido a tristeza e a dor de Bella quando ela leu as cartas, a raiva de que Joshua transmitia com suas palavras... a dor de Edward e Bella quando eles terminam...enfim.Mal posso esperar pelos próximos capítulos! Mal posso esperar para ver como Renée vai ficar e como Charlie vai agir... Estou mega ansiosa para ver a Bella se mostrar verdadeiramente... Seu imenso amor por Edward, seus medos e inseguranças, suas dores, sua (grande!) teimosia… a bendita reconciliação!


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Notas finais do capítulo

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