A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 16
Capítulo 16




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Como Dís previu, o rumor não tão falso a respeito da idade de Lobélia espalhou-se pela montanha como fogo na mata. Era a fofoca mais quente entre os reais desde que o rei tinha trocado as moças hobbits para ser sua prometida. Lobélia estava mais uma vez nas línguas do povo, mas agora como uma criancinha ingênua, inocente demais para saber que não era adequada.

Por um tempo, Lobélia só era vista acompanhada por Bilbo ou Bena, e o povo de Erebor passava por eles assentindo, em aprovação aos mais velhos da família tomando conta de sua criança. Lobélia vocalizou sua irritação ao ser chamada de criança, mas se calou quando Bilbo apontou que ela poderia ser chamada de rameira ou coisa pior.

— Ainda assim, primo, é irritante — disse ela, frustrada. — Fui ao mercado e muitas senhoras se ofereceram para me ajudar, como se eu estivesse perdida!

Bilbo sorriu sarcasticamente e exclamou:

— Oh, que gesto atencioso. Quem disse que anões não eram gentis?

A moça fez biquinho:

— Eu tive que mentir e dizer que vocês estavam esperando por mim. Isso é ridículo!

— Ainda digo que ser chamada de criança não é o pior que pode lhe acontecer — repetiu ele, e voltou-se para Bena. — Minha menina, tenho notícias. Antes que saiba por outras fontes, fui informado que uma caravana deve chegar a Erebor em um ou dois dias.

A moça chegou a brilhar de contentamento:

— O senhor acha que...?

—... que é a caravana com seu terceiro presente? — ele completou. — Não, criança, lamento. Meu amigo Nori disse que é uma caravana de comércio, com muitas mercadorias.

Bena estava chateada:

— Quanto tempo mais vai demorar? Tio, já não deveria ter chegado?

— Paciência, criança — disse Bilbo. — É uma viagem longa, esperemos que nada tenha acontecido no caminho.

— Só vou acreditar quando eu vir chegar — disse Bena. — Mas eu me preocupo porque o casamento se aproxima. Thorin vai me dar seu terceiro presente, e o meu sequer não estará aqui...!

Bilbo tentou acalmá-la:

— Vai dar tudo certo. Você vai ver.

Lobélia viu a angústia a prima e observou:

— Vai valer a pena, pode acreditar. Tenho certeza de que Thorin vai adorar o presente. Foi uma ideia muito inteligente essa sua Bena — muito inteligente.

Bena voltou-se para ela:

— Acha mesmo que ele vai gostar, Lobélia?

— Não fui prometida dele muito tempo, mas na minha opinião, seu presente representa de verdade tudo que é Rei Thorin. Tenho certeza de que o povo vai comentar sobre isso durante anos.

Bena disse:

— Oh, eu mal posso esperar que chegue...!

Bena ainda precisou esperar mais algum tempo antes que seu presente chegasse. E um de seus temores se concretizou: Thorin aprontou o presente dela antes que o presente para ele tivesse chegado.

Tudo começou inocentemente, numa daqueles encontros com acompanhantes durante um lindo dia ensolarado. Em retrospecto, Bena deveria ter desconfiado de alguma coisa quando Balin convidou Lobélia para acompanhá-los. E então eles receberam a companhia do resto da família. Thorin ostentava um imenso sorriso ao se dirigir a todos:

— Agradeço a todos por virem. Gostaria de lhes mostrar algo.

Thorin pegou a mão de Bena e guiou-os para a outra parte da ala real. Ele explicou:

— Essa parte inteira da ala real ficou fechada desde antes mesmo do ataque de Smaug. A restauração começou antes de sua chegada aqui, e agora está concluída.

Bena notou que a área mostrada por Thorin estava dentro da ala real, bem próxima ao quarto do rei assim como da Lady Dís e de Kíli e de Fíli. Os corredores eram novinhos em folha, e Bilbo comentou sobre a qualidade do trabalho cuidadoso.

Thorin foi a uma porta onde Dwalin os esperava com dois soldados em posição de sentido. O comandante feroz cuspiu uma ordem em Khuzdul, e ambos os soldados abriram a imensa porta. Thorin anunciou formalmente:

— Sejam todos bem-vindos ao refúgio da rainha.

Bena quase perdeu a voz de emoção, e os demais sorriram antes mesmo de entrar no local. Thorin beijou a mão dela e convidou:

— Venha comigo, meu amor.

Ele a guiou pela mão, e todos seguiram. Era uma sala espaçosa com tapeçarias e carpetes, além de uma cama, uma escrivaninha, um armário e mais portas. Havia claraboias acima de muitas das portas, iluminando o local com luz do dia. O efeito produzido era magnífico.

— Este quarto — explicou Thorin — pertenceu a minha mãe. Era seu refúgio de trabalho e lazer, embora ela também usasse para jantares em família quando éramos crianças. Ela costumava cantar e também usava para seus trabalhos manuais. Aqui também ficava a maior parte de suas roupas e joias. — Ele abriu uma das portas e virou-se para Bena. — Como pode ver, tem muito espaço. Podemos ajeitar uma pequena cozinha, se desejar.

A moça estava boquiaberta, de olhos arregalados, tamanho assombro. Thorin não lhe deu chance de falar, mostrando as outras portas:

— Aqui tem um pequeno banheiro com água quente, e essa outra porta se conecta diretamente com o quarto do rei — Bena se avermelhou tanto que Kíli gargalhou alto. Thorin jamais largou a mão dela, os olhos azuis faiscando ao dizer. — Tudo isso fiz para você, amrâlimê (meu amor).

Bena o encarou e viu seus olhos azuis quase transparentes de deleite com a reação dela. Ela gaguejou:

— M-Meu r-rei?

Thorin continuou:

— Já está tudo pronto e você poderia se mudar para cá agora mesmo, mas Bilbo diz que seria impróprio fazer isso antes do casamento. E eu também acredito que você prefira ficar com sua família.

Bena assentiu, incapaz de falar. Lady Dís, que ajudara a dar toques mais femininos nos aposentos, sorriu diante da reação sincera da cunhada. Bilbo também sabia da surpresa, e trocou olhares com a dama khuzd. Mas Lobélia e os príncipes estavam boquiabertos com o que viam, mesmo que ainda não entendessem direito o que faziam ali. O casal prestes a se unir estava terrivelmente envolvido um no outro.

Verdade seja dita, Bena esqueceu-se totalmente dos demais, até do tio. Estava tão feliz que lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ela tentou falar, mas Thorin a impediu:

— Por favor, ghivashel (tesouro de todos os tesouros), não diga nada até eu terminar de lhe mostrar tudo, pois agora é que vem a melhor parte de tudo.

Suas palavras provocaram ainda mais inquietação. Bena tinha dificuldade em acreditar naquilo. O que mais poderia haver e como poderia ser ainda melhor?

Thorin fez um sinal, e Dwalin se dirigiu para abrir pessoalmente um segundo conjunto de grandes portas. Quando ele as abriu, a luz inundou a sala.

Bena abriu a boca, seu sorriso aumentou. A porta se abriu para um espaço do lado de fora da montanha. Seria um terraço, um igual ao do rei?

Ela não contou tempo para sair. Seus olhos não encontraram um local estreito como o do rei, mas um local aberto, bem vasto, cheio de dezenas de objetos que pareciam canteiros, exceto que não havia plantas, só terra. Ela só entendeu o que via quando seus olhos localizaram um pequeno galpão com ferramentas de jardinagem, sacos de terra, sementes e regadores.

Bena estava sem palavras. Seu queixo caíra.

Mais uma vez, Thorin não a deixou falar.

— Minha mãe costumava cultivar ervas neste deck, o que é uma coisa muito incomum para um anão. Seu tio me contou que você partilha da paixão dele por jardinagem, e ele também disse que poucas coisas traduzem mais a alma de um hobbit do que trabalhar o solo. Então, meu amor, minha prometida — ele se ajoelhou, ainda com a mão dela entre as suas —, eu lhe ofereço esse jardim como o terceiro presente de noivado. Bilbo me ajudou a obter tudo diretamente do Shire. É meu humilde desejo que você aceite essa oferta, e que todas as ervas e flores que você plantar aqui possam crescer tão fortes quanto é meu amor por você, minha amada Verbena, amrâlimê.

Nesse momento Bena não pôde conter as lágrimas e se jogou nos braços de seu noivo.

— Oh, Thorin...!

Eles se beijaram.

Bilbo também teve dificuldades em conter as próprias lágrimas. Um jardim era um poderoso símbolo sagrado para um hobbit: representava não apenas crescimento mas também a profunda conexão com a deusa Yavanna, a esposa de Mahal. Anões eram filhos de Mahal, e hobbits eram filhos de Yavanna. O casamento de Thorin e Bena tinha um significado profundo para as duas raças, e Bilbo sabia disso.

Thorin se pôs de pé e, ainda com Bena em seus braços, declarou, com um sorriso maroto:

— Desconfio que você gostou do meu presente.

— Oh, Thorin, eu amei! Você mandou vir tudo desde o Shire?

— Seu tio ajudou, é claro. Ele só comprou o melhor, e todos os seus favoritos.

— Isso tudo é lindo! Estou tão animada que nem sei o que semear primeiro!

Lobélia exclamou:

— Prima, isso é enorme! Vai precisar de ajuda.

Dís apressou-se em dizer:

— Claro que vai. Já estamos recrutando corajosos anões que queiram experimentar algo diferente e ajudar com o jardim.

Bena virou-se para Thorin, com uma expressão de angústia:

— Oh, meu amor. Desculpe-me. Meu terceiro presente para você ainda não está pronto.

O rei sorriu.

— Não se preocupe, âzyungâl (amada). Seja lá o que tenha escolhido para mim, tenho certeza de que vou apreciar.

— Mas nosso casamento não será adiado por causa disso, não é?

Thorin garantiu:

— Claro que não. E vai ser o casamento mais lindo que Erebor já viu.

A data se aproximava, e Bena se envolveu na preparação e arranjos do evento. Haveria a boda em si, feita por ninguém menos do que Gandalf em pessoa, como velho amigo de Thorin e Bilbo, e também de Bena, é claro. Durante a cerimônia, Bena seria coroada como rainha e ganharia seu nome e títulos em Khuzdul. Após as cerimônias, um banquete formal começaria ao meio-dia para os reis e demais autoridades.

No dia seguinte, Erebor seria palco de um grandioso baile público, e todos estavam convidados a dançar. O baile foi sugestão de Bena, para uma festa no estilo hobbit: comida, bebida, dança e alegria. Secretamente, Bena esperava que Gandalf os brindasse com os seus sempre excelentes fogos de artifício à noite.

Seu vestido de noiva, no tom lavanda e azul, combinava com topázio e outras gemas azuis. Para o banquete de Estado, ela escolhera um vestido amarelo, mais leve. Suas roupas para o baile público eram vermelhas, com alguns poucos rubis e diamantes numa delicada tiara dourada para combinar com a segunda coroa de Thorin.

Ainda que tudo parecesse sob controle e progredindo conforme era esperado, Bena se angustiava por não ver sinal de seu presente chegando. Ela indagou a Bilbo pela milésima vez:

— O que os corvos disseram?

Ele respondeu:

— Eles disseram que está a caminho, mas isso já faz tempo. Provavelmente já está saindo de Mirkwood agora.

— Mal posso esperar!

Lobélia tentou acalmá-la:

— Verbena, seu presente será ótimo. Por que não se angustia com coisas sobre as quais tem real controle, como as decorações do banquete de Estado?

— Mestre Dori disse que está tudo providenciado, e que haverá lindas bandeiras com o símbolo de Thorin em todos os salões. As novas lamparinas serão montadas semana que vem.

Bilbo observou:

— Foi um gesto inteligente ter mais luz para o banquete de casamento. Ficará tão claro que as pessoas vão se esquecer que estão numa montanha.

Lobélia disse:

— Tudo se encaminha para ser um casamento lindíssimo, Bena. Faço questão de contar tudinho para todo o Shire. Sem mencionar seu vestido — é um sonho que se tornou realidade!

Bena garantiu:

— O único sonho que importa para mim é que eu vou me casar com Thorin. Eu desistiria de tudo por ele: festa, dança, joias...

— Você realmente é uma grande romântica, prima.

Uma batida na porta interrompeu a reunião de família. Bilbo foi atender a porta

Era Ori.

— Desculpe interromper, Mestre Baggins, mas o senhor exigiu saber primeiro, e eu acabei de ser informado.

Bilbo indagou:

— O que aconteceu, Ori?

— A caravana que o senhor esperava vai descansar esta noite em Valle. Devem chegar a Erebor amanhã ao meio-dia, mais tardar.

O hobbit sorriu.

— São notícias maravilhosas, Ori. Obrigado por me contar pessoalmente.

Ori fez uma mesura antes de sair, e Bilbo fechou a porta, virando-se para as moças:

— Bena, chegou. A caravana estará amanhã em Erebor.

A moça se animou:

— É ela, titio? A caravana que traz o meu presente?

— Exatamente essa. Agora você pode ficar descansada.

Bena deu um gritinho de excitação, e Lobélia observou, sorrindo:

— Primo Bilbo, eu acredito que descanso é a última coisa que ela fará. Não tenho nem certeza de que ela vai dormir essa noite!


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