A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 14
Capítulo 14




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Os cidadãos de Erebor ficaram muito espantados com a revelação de que a eleita do rei não era mais a menina hobbit de olhos azuis, e sim a de olhos castanhos. Não apenas isso: aparentemente Príncipe Kíli tinha caído de amores pela antiga prometida, e agora eles planejavam um duplo casamento real. Desta vez, a fofoca comeu solta, indo de como o jovem príncipe havia arrebatado a bela hobbit do próprio rei seu tio ao amor incontrolável dos dois jovens, deixando ao Rei Thorin a graciosa dama de companhia como prêmio de consolação.

Para Bena, era estranho não mais ser invisível. Na verdade, havia todo tipo de fofocas a respeito dela também. Herdeira de Mestre Baggins, que tinha os títulos oficiais de Herói de Erebor e KhazâdBahel (amigo do anões), Verbena era aprovada pelo povo. Afinal, fora vista em numerosas atividades típicas dos khazâd (anões), como combate. Além disso, a equipe das cozinhas comemorou discretamente a troca, dizendo que agora eles teriam uma verdadeira autoridade em comida, para variar.

Levou uns dois dias até Bena absorver a nova realidade, mas Bilbo ficou praticamente em choque durante uma semana inteira. Se por um lado o hobbit mais velho ainda estava possesso de raiva pela atitude de Lobélia, por outro ele estava encantado com a escolha de Bena. Não apenas porque Thorin Oakenshield era seu velho e querido amigo, mas também um homem bom e honrado, e ele certamente tomaria conta de Bena.

Daquele dia em diante, Lobélia tornou-se isolada, até mesmo pela família. Bilbo jamais perdoaria suas ações ou sua ganância. Ele falava à família real todos os dias sobre sua vergonha.

Bena também era o maior foco de atenção da Lady Dís com respeito às roupas, joias e modos de uma verdadeira Rainha Sob a Montanha. Havia aulas e muito material de leitura. Balin a ajudava com história dos anões e aulas de Khuzdul.

O jantar para anunciar a nova corte às famílias mais proeminentes da corte foi, no mínimo, interessante e inusitado. Os mesmos khazâd que ergueram brindes a Lobélia agora saudavam Verbena. A escolhida do rei achou isso bizarro.

Uma vez iniciada a corte, também foi iniciada a tradicional troca de presentes. O primeiro foi roupas, para que o casal provasse que podia prover o outro. Bena tricotou um cachecol vermelho com luvas fechadas para seu amado. Thorin a presenteou com um casaco com peles por dentro e por fora, já que Bena era tão sensível a baixas temperaturas. Para Bilbo, era um primeiro presente bem auspicioso.

A tensão com Lobélia só aumentava. Embora Kíli nunca tenha sido grosseiro com sua noiva, ele raramente era gentil ou afetuoso. Seu comportamento beirava a indiferença. Teimosa como era, Lobélia fingia não se importar. Bena, contudo, sentia-se mal a cada olhar frio de Kíli para Lobélia com seus olhos normalmente gentis e afetuosos. A moça sofria estoicamente, mas estava claro que ela não suportaria por muito mais tempo.

Bena foi até Kíli.

— Eu sei que não tenho nenhum direito de lhe pedir isso — disse ela. — Mas Lobélia está no fim da linha. Eu a conheço e sei que ela vai surtar em breve.

O príncipe disse:

— Bem, eu espero que ela esteja muito infeliz. Assim ela pode experimentar o que inflige aos outros.

— Ai, ai — Bena estava aflita. — Que situação difícil. Ela está infeliz, você está infeliz...

Kíli sorriu, dizendo:

— Tente não se preocupar, futura tia. Foi ela mesma quem criou essa situação. Mas tenha fé — ela pode mudar de ideia. Lembre-se: nós, khazâd, conhecemos um pouco sobre ganância.

— Kíli, quando você pediu a mão de Lobélia, você tinha um plano, não?

— Sim, eu tinha. É por isso que tenho fé.

— Que plano é esse?

— Você vai ver. Não tem nenhuma garantia, é claro. O tiro pode sair pela culatra.

Bena pegou as mãos do futuro sobrinho:

— Mesmo que saia pela culatra, você tem minha eterna gratidão pelo que fez. Jamais esquecerei, e não sei como fazer para um dia retribuir.

Kíli sorriu:

— Espero que você e Thorin sejam felizes. Ele merece e encontrou alguém digno.

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Ambos noivados prosseguiram, e logo chegou a hora de marcar a data das bodas. Thorin opôs-se a casar-se ao lado da pessoa que ameaçou sua felicidade, mas Lobélia estava decidida, e Bena afirmou não se importar. Balin lembrou que o duplo casamento de um rei e um de seus herdeiros era inédito em Erebor, e o povo aguardava com expectativa tal ocasião histórica.

A data escolhida foi no final da primavera, quando Bilbo começaria sua jornada de volta para o Shire, viajando pelo verão e começo do outono, quando o clima não era tão ruim. Bena sentiria muita falta de seu tio e pai adotivo.

Aquela seria uma cerimônia grandiosa. A realeza usaria suas coroas, e as meninas receberiam as suas próprias coroas, já que se tornariam realeza também. Bena pensou que precisaria esperar muito, mas Balin explicou que o casamento de um rei era uma ocasião que atraía outros monarcas. Assim, esse era considerado até apressado, pois eles só tinham poucos meses para preparar tudo.

Enquanto isso, o noivado prosseguia.

— Estou pensando o que lhe dar como terceiro presente de noivado — disse Thorin. — Não está sendo fácil.

Eles estavam num encontro formal de corte, na presença de seus acompanhantes. Bilbo e Balin estavam a uma distância respeitável, aparentemente jogando xadrez.

Bena quis saber:

— O que é o terceiro presente? Preciso de muita ajuda com o segundo presente.

Thorin explicou:

— O primeiro presente simboliza prover conforto, então tradicionalmente são dadas roupas. O segundo significa proteção, então a tradição indica fazer uma arma da preferência do prometido.

Bena fez uma careta, dizendo:

— Eu sei. Dís tem me ajudado na forja. Mas não vou contar o que estou forjando.

— Isso não é o importante. O terceiro e último presente deve ser uma expressão do ser amado. É como um resumo daquela pessoa, uma visão da pessoa amada, ou uma declaração do quanto essa pessoa é importante para o outro.

— Oh, puxa! — Bena estava impressionada. — É muito importante!

Thorin sorriu e observou:

— Parece que agora nós dois temos um problema.

Bena devolveu o sorriso, dizendo:

— No mínimo, é um desafio. Ainda bem que temos três meses para resolver isso.

Ele tomou as pequenas mãos entre as suas, dizendo:

— Três meses ainda... Parece uma eternidade até você finalmente ser minha.

Bena acariciou as mãos dele, grandes e fortes, com um sorriso:

— Parece mesmo uma eternidade, não é mesmo? Mal posso esperar para ser sua esposa. Ainda tenho dificuldade em acreditar que finalmente podemos ser felizes, meu amor.

Thorin usou a ponta de seu dedo para delinear o delicado queixo da moça, sorrindo com os olhos:

— Nunca poderia imaginar que eu iria encontrar amor tão tarde na vida. Sou um khuzd (anão) maduro. Se você fosse uma mulher do meu povo e se casasse comigo, você se tornaria uma viúva na flor da idade. Mas com as diferenças entre nossas raças, acho que vamos envelhecer juntos.

Bena disse:

— Pelo que ouvi, você pode viver ainda mais do que eu.

— Nunca. Tenho certeza de que minha vida estará terminada no dia que eu a perder, meu amor.

— Assim como eu perderei toda vontade de viver no dia que os Valar o levarem a seu descanso final.

— Com sorte — disse o rei, tentando desviar para um assunto mais leve —, isso só vai acontecer daqui a muito tempo, então podemos viver felizes.

Ele deu uma olhada discreta para os dois acompanhantes, entretidos no jogo de xadrez. Eles se beijaram em silêncio. Não deveriam fazer isso. Embora não fossem reprovados, beijos durante a corte eram considerados falta de respeito e de decoro. Então não foi nenhuma surpresa quando um ataque de tosse se abateu sobre Bilbo, que disse, bem alto, para os dois amantes ouvirem:

— Oh, Balin, meu amigo, parece que o tempo vai esquentar novamente.

O khuzd concordou, ironicamente:

— Sim, sim, é mesmo. Temos que ficar de olho o tempo todo....!

Bena e Thorin se separaram, rindo de sua própria ousadia. Claro que seriam perdoados, pois era apenas a expressão de sua ansiedade em estarem juntos.

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Bena se preparava para se recolher à noite, ao fim de um maravilhoso jantar com Lady Dís e sua família. Bena se sentia tão acolhida pela família e mesmo pelo povo de Erebor, quase como se ela fosse uma anã também e tivesse vivido toda sua vida na montanha. Era um grande alívio porque tio Bilbo partiria após o casamento e provavelmente não voltaria tão cedo.

Então uma batida à porta se ouviu.

— Entre!

A porta se abriu e sua prima apareceu. Bena franziu o rosto:

— Lobélia?

— Posso entrar?

— Claro.

Bena observou a prima enquanto ela entrava no quarto, sem interromper o que fazia. Lobélia estava cabisbaixa, ao contrário de sua alegre disposição costumeira.

— Que posso fazer por você, prima?

Lobélia se sentou perto de Bena e indagou, sentida:

— Queria conversar com você. Prima, você me odeia?

A pergunta, feita com uma atitude servil e voz baixa, pegou Bena de surpresa. Ela suspirou e tentou explicar:

— Lobélia...

A outra a interrompeu, triste:

— Eu sinto como se todo o mundo me odiasse. Não é que me tratem mal, mas são tão frios...!

Bena contra-indagou:

— Bem, mas o que você esperava, prima? Depois de tudo o que você fez, é um milagre que eles ainda falem com você, para dizer o mínimo. Ou alguém andou tratando você mal?

— Não é isso.

— Então tudo está como deveria ser.

— E isso está certo? Como pode ser certo que meu noivo mal me dirija a palavra? Minha futura sogra praticamente rosna cada vez que fala comigo.

Bena comentou:

— Você não pode querer nem esperar dessa gente qualquer chance de gentileza se só o que você lhes deu foi dor e sofrimento.

— Estou exercendo o meu direito. Na verdade, abri mão do meu direito de ser rainha. Serei apenas uma mera princesa.

— Você vai se casar com um dos herdeiros ao trono, Lobélia! Quando Kíli se erguer para ser monarca, você também se elevará. Do que exatamente você abriu mão?

— Eu poderia ter me casado com seu precioso Thorin e seria rainha agora mesmo. Mas não sou uma pessoa cruel: já que você o ama tanto, poderia ter sido sua concubina. Tenho certeza de que ele teria lhe dado até um título.

Bena empalideceu e lembrou:

— Você desistiu dele! Assinou um contrato e tudo! Não ameace mudar de ideia agora.

— Não, não vou mudar de ideia. Não tema, querida prima. Pode ficar com seu amado rei. Amor não é minha preocupação principal. Mas por que me tratam tão friamente?

Bena suspirou e disse:

— Lobélia, se você se sente assim agora, imagine o que acontecerá daqui a alguns anos. Se Kíli arranjar uma amante, como sugeriu, ele terá alguém para amar e ser feliz, e você não. Ele pode terminar ficando com raiva de você, pois será culpa sua ele não poder viver abertamente ao lado da amada. Seu marido terá ódio de você.

Lobélia ficou assustada e preocupada:

— Você acha que ele poderia tentar- tentar se livrar de mim?

Bena estava escandalizada:

— Kíli? Não. E você quer saber por quê?

Lobélia desdenhou dela:

— Porque ele é bom e nobre?

— Não. Bem, ele é bom e nobre, mas não é só por isso que ele jamais encostaria um dedo em você. Ele jamais faria isso por minha causa. Kíli saberia que isso me afetaria profundamente.

A moça de cabelos pretos olhou para a prima e indagou, para ter certeza:

— Afetaria?

— É claro que sim! Lobélia, você é minha prima. E como prima, eu imploro a você: desista dessa loucura. Desista, por favor. Thorin não é um homem cruel e ele vai perdoar essa sua loucura se você pedir. Kíli também. Só desista, por favor — antes que alguma coisa grave aconteça e o perdão se torne impossível. Eu lhe imploro.

Lobélia a encarou por alguns segundos, em silêncio. Era impossível dizer se tinha se convencido ou não. Bena pediu, esperançosa:

— Pode ao menos pensar sobre isso? Lembre-se também de que o rei prometeu compensação justa. Mas acredito que não exista compensação mais justa que paz de espírito.

Lobélia se ergueu e assentiu, dizendo:

— Prometo pensar sobre o assunto. Boa noite, Bena.

— Boa noite, prima.

Quando Lobélia desejou boa noite à prima, Bilbo (que ouvira tudo atrás da porta) correu de volta ao seu quarto, tão silencioso quanto podia. Embora o hobbit não admitisse, seu coração pesado ficou um pouco mais leve. "Bilbo, seu velho tolo. Tente não elevar suas esperanças. Pode ficar decepcionado."

Mas seu coração se recusava a desistir de ter esperança.

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Notas finais do capítulo

A SEGUIR: A idade da razão



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