Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 34
Deixando você.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Juliana pela recomendação. EU AMEI DEMAIS!



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Lucas acordou antes do sol nascer e voltou para o seu quarto antes que nossos pais batessem na porta procurando por ele e ele tivesse que se esconder de baixo da cama.

Papai me acordou muito cedo algumas horas depois para eu ajudar ele ir comprar um bolo de aniversário para Sara.

Fomos em uma confeitaria algumas quadras longe de casa e escolhemos um lindo bolo de chocolate cheios de morangos. Só de olhar me dava água na boca.

Papai convidou alguns vizinhos que eram amigos da família há anos para comemorar junto conosco.

Quando o pessoal me viu a maioria ficou impressionado e começaram a dizer o quanto eu tinha crescido e me tornado uma bela mulher. Perguntaram como eu estava indo na faculdade, se eu trabalhava e se eu tinha algum namoradinho.

Nessas horas era impossivel não olhar para o Lucas do outro lado da sala e trocarmos um sorriso cumplice.

Mal sabiam eles que eu estava dormindo com o meu próprio irmão. Irmão de consideração, devo acrescentar. Ainda assim a ideia me parecia assustadoramente terrível.

Mas não tive muito tempo para pensar nisso enquanto eu dava atenção àquelas pessoas que eu não via há tanto tempo.

− Você está ainda mais bonita hoje. – Disse Lucas no meu ouvido quando fui até a cozinha pegar alguns copos.

Eu sorri envergonhada.

Como era possível ele mexer tanto assim comigo com tão poucas palavras?

Antes de irmos embora, eu dei meu presente a Sara: um vestido da marca para qual eu estava trabalhando no momento. Mas que ainda não era uma criação minha.

− Filha, mas isso é absurdamente caro.

− Não se preocupe, mãe. Você merece.

Dei um beijo nela e um abraço e me afastei para me despedir do meu pai e deixar o Lucas se despedir da mãe.

Eu sabia que ele tinha comprado um colar pra ela.

Já estávamos na estrada quando o Lucas colocou a mão na minha coxa e me deu um rápido olhar.

No horizonte o céu estava colorido de tons rosa, laranja e azul. Minha combinação preferida.

A viajem até em casa era longa e tínhamos todo aquele tempo só para nós. Eu tinha vindo dirigindo e agora era sua vez de voltar dirigindo. Apesar de não dizermos nada um para outro por não acharmos palavras suficientes, algumas vezes trocávamos olhares bastantes significativos.

Eu pensei seriamente em pedir para o Lucas mudar de direção e irmos para um lugar longe dali, longe de todos, deixar tudo para traz e viver nossa perigosa história de amor recomeçando do zero.

− No que você está pensando? – Perguntou ele com sua voz mansa.

− Em você, é claro. – Sorri para ele e ele sorriu de volta com seus olhos castanhos ainda mais claros por causa dos últimos raios do sol antes de se pôr completamente.

Sua mão ainda estava em minha coxa e eu sentia um leve formigamento ali. Resolvi colocar a minha mão sobre a sua na intensão de dizer que apesar de tudo estava tudo bem. Eu estava bem com ele ali ao meu lado.

Mas então eu vi o pequeno anel que ganhei do Yuri e me lembrei do que tínhamos feito. Tirei minha mão dali imediatamente. Sentindo um pesar no dedo anelar.

Eu tinha acabado de me dar conta de que tinha cometido mais um grande pecado: trair o meu namorado. Como se já não bastasse todos os segredos que eu escondia dele.

Eu estava me sentindo tão mal agora que estava com vontade de vomitar com nojo de mim mesma.

− Manu, você está bem? Está tonta ou enjoada? Quer que eu pare o carro por alguns instantes?

− Não, eu só quero ir para casa. – Digo friamente. Viro minha cabeça, encosto na janela e fecho meus olhos tentando bloquear meus próprios pensamentos. 

Ao chegar em casa, eu não entro de imediato, eu opto por subir correndo até o apartamento do Yuri.

Quem me recebe é Helena.

Não digo nada a ela, apenas entro com tudo e vou em direção ao quarto dele.

Yuri está sentado em sua cama, vendo uma revista de esportes. Quando me vê ele se senta, surpreso.

− Japonesa?

Eu vou direto abraça-lo, sentindo as lágrimas que eu tentei tanto segura-las, escorrerem livremente por minha bochecha.

− Ei...

− Eu amo você, Yuri. Eu amo muito você!

Eu estava me sentindo um lixo de pessoa. Completamente mentirosa e traidora. Como é que eu tinha a cara de pau de ainda olhar para ele e dizer que o amava?

− Eu também amo você, Japonesa. – Sinto que ele sorri.

Quero abraça-lo para sempre e ter a certeza de que tudo vai ficar bem, mas eu não tenho tanta certeza.

− Vem cá. – Ele me leva até sua cama e me senta em seu colo, passando as mãos nos meus braços.

− Eu estava com saudade. – Digo quando enfim consigo controlar o choro. Ele seca minhas ultimas lágrimas.

− Eu também estava com saudade. – Depois ele afasta meu cabelo do rosto molhado. – Fiquei pensando em você o tempo todo. Não achei que seria tão difícil ficar longe de você por quase dois dias. Não agora que você é minha garota.

− Quero te perguntar uma coisa. – Olho fixamente dentro de seus olhos verdes. – Você tem certeza que me ama?

Ele ri.

− Que pergunta é essa, Manuela? Não estou entendendo.

− Apenas me resposta, por favor.

− Mas é claro que eu tenho. Ficou maluca? Quantas vezes eu vou precisar te dizer isso para você se convencer?

Eu o beijei.

− Diga quantas vezes forem necessárias. Eu sempre vou gostar de ouvir.

Saio do colo dele e me coloco de pé.

− Preciso ir agora. Preciso tirar as roupas da mochila e dormir um pouco. Amanhã a gente se vê no treino.

Dou-lhe um último beijinho antes de ir.

− Você não se contenta com pouco, não é mesmo? – Helena me provoca quando passo por ela a caminho da porta. – Não basta para você um homem apenas?

Ignoro-a e vou para casa.

− Lucas, preciso ter uma conversa séria com você.

Lucas estava na área de serviço colocando a roupa suja para lavar.

Ele se vira para mim.

− O que aconteceu entre nós nesses últimos dois finais de semana nunca mais vai voltar a acontecer, ouviu bem? Nunca mais. Você pode insistir o quanto quiser, a escolha é toda sua. Mas eu não vou mais me envolver com você. Isso não é certo. Ainda mais agora que eu estou com o Yuri.

− Manu, do que você está falando? Eu pensei.... Eu pensei que...

− Não pense mais nisso, Lucas. Faça esse favor a si mesmo. Nós nunca vamos ficar juntos. Nunca! Isso foi um grande erro. Pois eu não amo, apesar de admira-lo muito...

− Isso não é verdade! – Ele gritou, se aproximando de mim. Eu não dei nenhum passo para trás. Eu não tinha medo dele. Eu tinha medo apenas de mim mesma e das burradas que eu estava cometendo utilmente. – Você me ama também, Manuela. Você sempre me amou! Só não disse isso ainda por medo. Mas não precisa te medo. Eu sempre vou estar aqui por você. Vamos lutar por isso juntos até o fim.

− Não, Lucas. Nós não vamos lutar por isso. Isso não existe. Você pode até continuar lutando por algo que não existe, talvez exista só na sua cabeça, mas eu não vou mais fazer parte disso. A única coisa que eu vou fazer é lutar para salvar o meu relacionamento com o Yuri, porque é como ele que eu quero ficar. Como você disse antes: eu já fiz a minha escolha. E eu escolho ele!

Lucas virou a cabeça como se eu tivesse lhe dado um forte tapa no rosto. Ele suspirou fundo e mordeu o lábio.

− Não diga essas coisas, Manu. – Pediu ele quase sem voz. – Você me destrói toda vez que diz coisas assim.

Depois de alguns segundos Lucas deu mais um passo à frente e procurou pelas minhas mãos.

− Porque você se engana tanto? Porque é tão difícil assim para você aceitar verdade? Você tem medo que as pessoas não entendam e nos julguem? Eu pensei que você não ligasse para isso. Não depois de tudo que eu fiz por você! Não depois de ter provado de tantas formas como o meu amor por você é imenso. Não me afaste, Manu. Não quando eu já passei tanto tempo me segurando para não agarrar você na primeira oportunidade.

Tirei minhas mãos dele rudemente.

− Você é maluco, Lucas Andrade. Completamente maluco e insano. E eu, estupidamente caí na sua. E me arrependo amargamente por isso. Estar com você foi o pior erro que eu já cometi na minha vida

Virei as costas e andei até o meu quarto.

Me joguei em minha cama.

Dessa vez eu não ia chorar. Sabia que tinha feito a coisa certa. Por mim, por ele, por nós. Não tinha outro jeito de cortar isso. Eu precisei mentir. Precisei ser amarga e fria. Ou ele jamais acreditaria em minhas palavras e jamais me deixaria.

Eu só espero que dessa vez ele tenha entendido o recado e pare de provocar e me atormentar para que eu consiga voltar a ser a Manuela de antes. A Manuela que sempre prezava pelo bem das pessoas. Não sempre. Mas pelo menos sim na maioria das vezes.

Eu sei que não seria nada fácil, ainda mais porque tínhamos que compartilhar o mesmo teto. Mas dessa vez eu seria dura na queda. Eu precisava ser. Com o tempo o Lucas acabaria aceitando isso e até mesmo esqueceria. E um dia vamos rir e ver que tudo isso não passou de um grande engano.

Agora que eu estava de férias da faculdade tinha bastante tempo para focar nos meus desenhos, no meu namoro e no meu trabalho. Passei a maior parte do tempo trancada no quarto, saindo apenas para comer, usar o banheiro, ver o Yuri, ir aos treinos ou gravar vídeos externos.

O andamento dos meus desenhos estava impressionante. Geralmente eu precisava do meu próprio tempo para criar alguma coisa. Mas agora a situação era diferente. Já que eu tinha prazo e estava bastante ansiosa para ver em breve meu nome circulando por aí junto das roupas que eu mesma criei.

Mandei as primeiras ideias para a Sara. Eu queria muito que a primeira pessoa a dar sua opinião fosse o Lucas, pois era muito importante para mim. Mas como estava dando um tempo a ele preferi recorrer aos meus pais.

Depois da aprovação deles e dos meus leitores, eu enviei as primeiras ideias aos empresários da marca para serem avaliadas e enquanto eu aguardava a respostas deles, passei meu tempo com o Yuri, saboreando essa nossa nova fase.

− Uma pergunta apenas. – Lucas entrou no meio quarto no meio da noite, bem no exato momento que eu estava com uma máscara estranho rosto para cuidados com a pele. – Você me ama?

− Ah, não, Lucas. Isso de novo não!

− Apenas me responda, Manuela.

Suspirei profundamente.

− Amo, mas não amo desse jeito que você...

− Sem essa de “mas”. Eu só precisava mesmo saber da sua resposta.

− E porquê?

− Eu tomei uma decisão e você vai descobri-la em breve.

− Como assim, Lucas? Não estou entendendo.

− Em breve. A única coisa que você precisa saber agora é que eu te amo o suficiente para te deixar ser feliz com outro.

Engoli em seco.

Isso era realmente preocupante.

Ele estava muito sério, muito esquisito.

− Obrigada.... Eu acho.

Nossa, Manuela. Parabéns pela resposta mais inteligente de todos os tempos. Você acaba de destroçar o restinho do que sobrou do coração do seu melhor amigo.

Lucas não diz mais nada, apenas me dá uma última olhada de partir o coração e se vira para sair.

− Lucas! Espera!

Relutante ele se vira alguns segundos depois.

− O que você vai fazer agora? - Perguntei, aflita.

− Deixar você. - Responde ele, decidido.

Me deixar?

Dessa vez ele se vira e vai de uma vez por todas.

No fundo eu sei que não há nada que eu possa dizer nesse momento que faça ele voltar.


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Notas finais do capítulo

Como vocês já podem perceber, a história já está se encaminhando para os últimos acontecimentos. Não esqueçam de comentar e até a semana que vem. Bjus!