Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 1
Amigos ou irmãos?


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu já tinha começado a postar essa história aqui antes. Mas ela era um tanto quanto diferente na época. Eu não consegui termina-la, porque achei que estava ela estava se desviando do rumo que eu planejei. Então eu a deletei. Agora estou de volta. E farei o máximo possível para tudo acontecer do jeitinho que eu imagino e planejei. Espero que dê certo. Mas vou precisar da ajuda de vocês. Ah, e pra quem tinha lido essa historia anteriormente, não esperem que as coisas sejam iguais. Eu mudei muita coisa e estou confiante dessa vez. Então vamos lá. Vamos começar mais uma jornada juntos. Espero que gostem :)



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SETE ANOS ANTES

Meu pai sempre foi um querido para mim. Afinal, sempre foi só nós dois depois da morte da minha mãe. Mas hoje, enquanto arrumava minha mala contra minha própria vontade, bufando a todo instante, eu estava com muita raiva dele. Tanta raiva, mais tanta raiva que eu nem conseguia olhar para ele sem xinga-lo mentalmente inúmeras vezes.

Meu pai, o traidor do meu pai, estava me mandando para um acampamento de férias com a pessoa que eu mais odeio na minha vida. O filho da nova namorada do meu pai.

Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos com câncer no útero que ela descobriu tarde demais. Quando ela morreu eu era muito pequena, então quase não tenho lembranças dela a não ser as que meu pai conta para matar minha curiosidade. Assim é fácil não sentir tanta falta dela, pois eu não tive muito tempo para conhece-la. Mas pelo pouco que meu pai me contava, ela parecia ser incrível.

Eu queria que meu pai fosse feliz de novo. Apesar de ele me garantir que era, por minha causa. Mas eu sabia que ele só falava aquilo por falar. Pois no fundo ele se sentia muito injustiçado e solitário. E eu sabia também que uma hora ou outra ele encontraria uma pessoa, mas eu não pensei que fosse acontecer tão rápido.

Quando eu tinha dez anos meu pai conheceu uma mulher. Ele namorou com ela por dois anos sem me dizer uma só quer palavra. E eu nem suspeitava. Aí quando eu fiz doze anos ele achou que eu já era grandinha o bastante para entender as coisas e foi quando ele resolveu me apresenta-la.

Ela não era má como eu esperava que fosse. Na verdade, ela era incrível. Tão incrível que eu a odiei. Pois temia que meu pai acabasse amando ela mais do que um dia já amou a minha mãe. Mas foi difícil odiá-la por muito tempo, já que ela era muito boazinha comigo. Me tratava bem, era carinhosa, me elogiava, era gentil e sorridente.

E depois de alguns dias convivendo com ela, eu reconheci que estava tudo bem. Meu pai tinha o direto de ser feliz, ainda mais com uma pessoa tão boa quanto ela. Mas então, houve um dia, em que eles me chamaram para conversar na cozinha e disseram que queriam me apresentar uma pessoa muito especial. Não gostei nada da história de imediato e de cara fiquei com um pé atrás.

No outro dia fomos almoçar fora e foi quando eu conheci o filho da namorada do meu pai. Eu já não esperava boa coisa e quando eu o vi eu tive certeza que ele não era nada legal. Ou talvez eu tivesse sendo precipitada. Mas a carinha dele não me enganava e assim como eu, ele também não foi a minha cara e nós passamos a nos odiar desde então.

Nossos pais tentaram a todo custo fazer a gente ter um relacionamento descente. Mas eles só pioravam a situação. A verdade é que eu estava preparada para ter uma nova mãe, mas não estava preparada para ter um irmão. Só de pensar na possiblidade meu corpo se contorcia de raiva.

Então, nossos pais se cansaram das inúmeras tentativas falhas. Eles nos obrigaram a ir a esse tal acampamento juntos. Foi cruel, foi injusto. Eu não merecia isso. Por mim tudo bem ela ter um filho, eu disse ao meu pai. Desde que ele ficasse bem longe de mim. Mas não era o bastante para o meu pai. Ele queria que fôssemos amigos. Coisa que não ia acontecer.

Eu bem que tentei avisar a ele, mas meu pai é muito cabeça dura quando quer.

Fomos em carros separados para evitar que nós saíssemos no tapa no banco de trás e acabássemos jogando um ao outro pela janela do carro em movimento.

O tal acampamento era muito bonito e distante. Muito verde e tinha um lago. Poderia ser um lugar proveitoso, se eu não tivesse sendo obrigada a passar quinze dias ao lado de um garoto insuportável que me com uma olhava com uma cara feia que nada me assustava.

Não deu em outra. Assim que fomos apresentados as outras crianças e aos monitores, eu fui direto para o chalé onde me denominaram e fiquei lá pelo resto do dia. Esperando o tempo passar para eu voltar logo para casa.

A monitora responsável por meu chalé até que foi bem compreensiva comigo quando eu disse a ela que precisava de um tempo sozinha e quem sabe depois eu saísse para dar uma volta e conhecer o lugar. Quando enfim ela foi embora, eu corri até a minha mala e peguei meu caderno de desenho, voltei para minha pequena cama e comecei a desenhar.

Esse era meu pequeno segredinho.

Sempre que uma garota entrava no quarto para pegar uma coisa, trocar de roupa ou usar o banheiro eu rapidamente escondia meu caderno em baixo do travesseiro. Não queria que ninguém visse, não queria que ninguém soubesse. E quando elas saiam, eu não deixava de perceber que me olhavam torto como se eu fosse a pessoa mais esquisita do mundo. Mas tudo bem. Quem disse eu me importava?

Eu só queria ficar sozinha e desenhar.

O resto dos dias foram iguais. Pouca coisa mudou. Eu só saia do quarto para comer algo no refeitório quando a fome batia ou para esticar as pernas e dar uma volta. Eram nesses momentos que eu via o filhinho da namorada do meu pai se dando bem com todo mundo, brincando, conversando, socializando. Ele parecia feliz e a vontade.

Tive ainda mais ódio dele, porque eu não estava nem um pouco feliz ali. Eu queria a privacidade do meu quarto de novo e a comida do meu pai que era tão gostosa.

Não sei por qual razão acabei criando inimizades com as garotas do quarto. Eu nem falava com elas! Não entendo porque elas passaram a ser tão cruéis e maldosas comigo, quando eu só ficava quieta no meu canto.

A pior delas chamava-se Paula e todas as outras a chamavam de Paulinha. Eca. Eu a tinha visto algumas vezes lá fora, pelas janelas, junto com o filho da namorada do meu pai. Os dois pareciam bem próximos. Talvez ela pensasse que éramos irmãos, namorados, ou coisa assim. E talvez ela tivesse ciúmes de mim apesar de eu nunca estar por perto. Bom, eu não sabia qual era o problema daquela garota. Mas sempre que ela entrava no quarto ela zombava de mim fazendo todas as outras rirem.

No sábado, fiquei sabendo que eles estavam organizando uma festinha. Mas então choveu o dia todo. E tudo ficou melecado. As garotas ficaram todas no quarto, evitando se molharem ou sujarem os tênis. Eu comecei a ficar sufocada e entediada em meio a elas. Então esperei a chuva amenizar e saí do quarto para pegar algo para comer.

Peguei uma goiaba e estava deliciosa. Fiquei sentada por ali sozinha, encolhida no meu moletom, quando vi que o tal filho da namorada do meu pai estava do outro lado do refeitório com alguns amigos que ele tinha feito. Eles olhavam para mim, trocavam olhares e soltavam risadinhas.

Aquilo me irritou muito. Eu me levantei e saí dali. Voltei para o quarto. Disposta a tirar um cochilo e ignorar a tudo isso. Mas quando entrei no quarto foi que veio a surpresa. Paulinha havia encontrado meu caderno de desenhos e estava rindo dele junto com as outras meninas.

Meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante.

A chuva lá fora aumentou e ela começou a me provocar, dizendo coisas terríveis a meu respeito e a respeito dos desenhos. E eu só conseguia ficar de cabeça baixa, me sentindo estupida e envergonhada.

Elas começaram a disputar entre si para olhar o meu caderno, jogando-o de um lado para o outro. Mas Paulinha se cansou daquilo. Porque ela era a comandante ali. E como se isso já não fosse o bastante, ela decidiu que iria mostrar os desenhos para os meninos, para eles também rirem de mim. Com o caderno em mãos ela saiu do chalé e sabe-se lá como o caderno voou direto na lama em meio a chuva.

Aquilo foi terrível para mim. Eu não pude ficar ali parada, simplesmente ver tudo se arruinar até virar nada. Saí de baixo da chuva e fui atrás do meu caderno. Mas no meio do caminho eu escorreguei na lama e cai de bunda do chão.

Todos riram. Meninas e meninos.

Um monitor veio correndo até mim e tentou me pegar pelo braço para me ajudar, mas eu fui grossa com ele e tentei afasta-lo. Ele me olhou sem entender e se afastou. Outra pessoa se aproximou. Nem olhei para ver quem era. Estava cansada de todo mundo. Mas quando ele se abaixou na minha frente eu vi que não era qualquer pessoa.

Era o filho da namorada meu pai.

Lucas.

− Deixa eu ajudar você? – Ele perguntou baixinho, já todo molhado pela chuva.

Mas minha situação era bem pior.

Naquele instante, enquanto ele olhava para mim e eu olhava para ele, eu quis gritar. Perguntar porque ele queria me ajudar quando estava claro para mim que ele me odiava tanto quanto eu o odiava. Será que ele queria bancar o herói na frente de todo mundo? Porque se fosse isso, eu não iria facilitar. Eu não precisava da ajuda de ninguém!

Tentei me levantar, mas acabei caindo de novo e vieram mais risos. Eu estava morta de vergonha. Cansada de chorar. Queria desistir. Mas eu não podia. Não ali.

Lucas se esticou e alcançou meu caderno de desenho já todo sujo de lama. Estava arruinado. Ele passou o braço de seu moletom azul na capa para tentar limpar, mas só acabou sujando a sua roupa toda. Quando ele voltou a me olhar era como se pedisse desculpas por não poder fazer nada pelo meu precioso caderno.

− Vamos. Precisamos sair daqui. – Ele passou seu braço pelas minhas costas e me ajudou a levantar.

Com ele de apoio foi muito mais fácil para mim.

Fomos para o refeitório e todos se aglomeraram em volta para saber o que realmente tinha acontecido. Os monitores estavam preocupados comigo. Faziam mil perguntas. Mas eu não respondi nenhuma dela. Ainda estava de cabeça baixa, morta de vergonha. Torcendo para que aquilo fosse apenas um pesadelo. Eu soube que não era quando o Lucas segurou a minha mão, me fazendo olhar para ele.

Seus lábios se entortaram em um meio sorriso.

Mais uma vez senti como se ele quisesse me dizer algo, como se tivéssemos o poder de telepatia. Ele queria me dizer que estava ali por mim. Ou será que era coisa da minha cabeça?

Voltei para o quarto, agora vazio e a monitora me ajudou com as roupas sujas e um banho quente. Depois fui para a minha cama de roupa limpa e fiquei ali escondida de baixo dos lençóis torcendo para desaparecer a qualquer momento.

Já era escuro e a chuva enfim tinha parado quando o Lucas entrou no quarto com uma sacola em mãos.

− Eu pensei que meninos fossem proibidos aqui. – Foi tudo que consegui dizer.

− E são. – Ele sorriu. – Mas eu dei um jeito. Precisava saber se você estava bem e te trouxe isso.

Ele me estendeu a sacola antes de sentar na minha cama. Dentro da sacola estava meu caderno, todo sujo. Irrecuperável. Anos e anos jogados fora.

− Eu não sabia que você desenhava. – Ele comentou, primeiro olhando para as unhas ruídas e depois para mim.

− Você não sabe nada sobre mim. – Rebati. Tentei não ser rude, mas acho que não funcionou muito bem.

− Eu também desenho. – Ele confessou, não olhando diretamente nos meus olhos. Ele parecia tímido e acanhado. – E de profissional para profissional, acho que você desenha muito bem pelo pouco que pude ver.

Não pude deixar de não rir ao pensar que ele me considerava profissional sem nunca nem ter visto todos os meus desenhos. Porque ninguém viu. Nem mesmo meu pai. Era um segredo só meu.

− Então você também espiou o meu caderno?

− Pois é. – ele riu. – Não pude evitar.

Eu consegui sorrir.

− Não tem problema. Todo mundo viu mesmo.

− É, mas ninguém os apreciou tanto quanto eu.

Olhei para ele surpresa e juntos trocamos um sorriso.

− Sinto muito pelo estrago irrecuperável.

− Tudo bem. Eu os refaço quando puder.

− E por favor, me mostre quando terminar.

Isso era mesmo real? Até poucas horas atrás éramos inimigos. Odiávamos um ao outro. E agora ele estava aqui sendo fofo e amigável. Não dava para acreditar.

Ou será que tudo não passou de imaginação? Afinal, mal nos conhecíamos. Como poderíamos nos odiar?

Lucas ficou ali comigo pelo resto da noite enquanto a festa acontecia do lado de fora. Pela primeira vez tivemos uma conversa descente. Sobre desenhos. O que parecia ser um dos tantos aspectos que tínhamos em comum.

Os restos dos dias foram bem tranquilo. Mais do que esperei. Lucas ficou o tempo todo ao meu lado. Como se quisesse se certificar que eu ficaria bem, que eu ficaria protegida. E realmente eu me sentia assim ao seu lado.

− Porque? – Eu perguntei uma noite. Estávamos sentados perto do lago rodeados de grilos cantantes.

− Porque o quê? – Perguntou ele confuso.

− Porquê de repente você parece gostar tanto de mim?

− Eu nunca disse que não gostava. – Ele admitiu com um sorriso. – E não só parece que gosto de você. Eu realmente gosto de você. E vou estar ao seu lado sempre que precisar. Você pode contar comigo, Manu.

Foi aí então que nos tornamos amigos inseparáveis. Como carne e unha. Quando voltamos para casa, dias depois, isso ficou muito evidente para nossos pais. Que acabaram se casando algum tempo depois e fomos todos morar juntos.

Eu que até então tinha detestado a ideia de ter um irmão, acabei aceitando o Lucas na minha vida mais fácil do que eu esperava.

De um dia para o outro não éramos só bons amigos, éramos muito mais que isso. Éramos como irmãos de sangue.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Comentem, por favor. É importante.
Desde já peço desculpas caso encontrem erros ortográficos.