Maison d'Os escrita por Dama de vermelho


Capítulo 5
Eu chorava...


Notas iniciais do capítulo

☠ Sugestão de música: Photograpy - Ed.



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16 de Setembro

— Bom dia, senhora dorminhoca.

Era minha mãe. Ela estava fazendo o café da manhã quando eu desci as escadas e fui em direção ao banheiro para tomar banho para ir à escola. Parei em frente ao espelho do banheiro e me olhei. Meu cabelo era longo e cacheado que combinava perfeitamente com a minha pele negra. “Droga, uma espinha”, pensei comigo mesma enquanto deixava de lado o meu cabelo e começava a analisar o meu rosto. Eu tinha um nariz afilado e pequeno, ao contrário da minha boca que era enorme e do meus grandes olhos castanhos. Eles ficavam lindos no sol. Eu era o que se podia chamar de “garota normal”, tinha 1,60 de altura, era bonita, dois braços e duas pernas, mas mesmo assim eu não me sentia confortável com meu corpo, vivia procurando defeitos em mim mesma.

— Anna! Já são 6:50 e eu ainda não ouvi esse chuveiro ligado.

Como se despertasse de uma hipnose eu saí da frente do espelho. Tomei um banho rápido naquela água gelada, como era de costume naquela época do ano, e fui me vestir no quarto. Aquele sobe e desce de escadas ainda ia me matar.

Quando voltei à cozinha minha mãe estava cantarolando algo indecifrável.

— O.k., mãe, já pode parar.

— Por que? Sabia que eu já sonhei em ser cantora?

— Sério mãe? – Disse fingindo estar interessada, mas ela pareceu não notar o meu tom de ironia e continuou, mas eu ignorei. Quando ela acabou a sua versão pessoal de Ritmo Quente eu falei:

— Tenho um trabalho depois da aula. Tudo bem se eu dormir na casa da Lisa?

— Se você prometer me ligar quando chegar, o.k.

— Tá, mãe.

Terminei de tomar meu café, me despedi de minha mãe e saí.

Da porta pude ver Carlos carregando um saco de lixo preto pra fora. Não pareceu surpreso em me ver, na verdade era como se já me esperasse.

— Oi, Anna.

— Oi, Carlos. O que tinha naquele saco?

— Vamos com calma. Bom dia para você também.

— Bom dia, e me desculpe, eu só fiquei curiosa. Não precisa responder se não quiser.

— Tudo bem. E aquilo eram só algumas velharias. Acordou cedo hoje?

— Ah, pois é. Tenho que ir agora, só parei pra dar um oi.

— O.k.

Disse isso e entrou sem olhar pra trás. Eu segui para o ponto e esperei 15 minutos pelo meu ônibus, quando ele finalmente chegou.

Apesar da escola estar vazia, já que algumas pessoas costumavam adiantar as férias, foi difícil encontrar a Lisa. Procurei em um milhão de corredores e não a encontrei, até que esbarrei com o Felipe, mas dessa vez fui eu quem reclamou:

— Olha por onde anda!

— Oh meu Deus, me desculpe, Anna, eu não te vi.

— Pudera, correndo desse jeito. Aconteceu alguma coisa? – Ele parecia assustado, como se tivesse visto um fantasma.

— O-o quê? E-eu? Não aconteceu nada. Não há nada para ver aqui.

— Se você diz. Aliás, você viu a Lis? É que eu combinei de..

Ele me interrompeu como se fosse uma afronta à ele.

— Lis? Por que pergunta isso? Eu não sei dela.

— Tá, Lipe. Vou procurar por ela sozinha.

“O que será que deixou o Lipe tão perturbado?”, pensei comigo mesma enquanto segui pelo corredor atrás da Lis. A encontrei olhando pro nada rindo feito uma psicopata.

— Terra chamando Lisa, oi?

— Oi, Anna. Está tudo bem? Porque pra mim está ótimo.

— Acho que estou bem. O que diabos aconteceu com vocês hoje? Primeiro o Lipe passa por mim todo assustado e agora você rindo como uma maníaca.

Ela riu mais alto ainda, aquilo era realmente assustador.

— Ai, ai. Eu não sei o que houve com o Lipe, eu estou tendo um dia maravilhoso. Só isso.

— Você finge que me engana e eu finjo que acredito. Eu vou dormir na sua casa hoje, né?

— Claro. Agora vamos logo pra aula.

Assistimos às aulas e ficamos esperando na calçada a mãe da Lisa vir nos buscar de carro. A casa delas era bem próxima da escola, mas a mãe dela era protetora demais pra deixar ela ir sozinha.

No carro, a mãe da Lis começou um dos seus discursos sobre violência:

— Vocês ficaram sabendo da garota que está desaparecida? A família e a polícia acham que ela foi sequestrada, mas ninguém entrou em contato ainda.

Ela me passou uma foto da garota, parecia ter em torno de 8 anos, loira dos olhos azuis, uma boneca. A Lis me olhou com uma cara estranha. Não soube decifrar se ela estava com pena da garota ou se se sentia indiferente.

— Não fiquei sabendo não, Dona Lena.

— Pois é. Esse mundo tá perdido.

— Aham.

Quando chegamos eu lembrei o porquê de eu querer morar na casa da Lis. A casa em si era praticamente igual a minha – parecia que toda a cidade adotara o modelo 2 andares – só que a casa dela era mais bem decorada do que a minha, com luminárias combinando com o papel de parede e coisas do tipo. Sem falar na comida maravilhosa que a mãe dela fazia. Quando chegamos a mãe da Lis tratou de dar as ordens:

— Anna, ligue logo pra sua mãe antes que ela fique preocupada. Tomem um banho e depois desçam pra jantar. Não se esqueçam de ligar o aquecedor.

— O.k. Dona Lena.

Antes que ela pudesse nos mandar fazer mais alguma coisa, Lis me puxou pelo braço e disse:

— Vamos, Anna, antes que minha mãe implante a sua própria ditatura.

A mãe da Lis nos olhou com cara feia enquanto subíamos e depois pôs-se a rir.

Quando chegamos no quarto Lisa ficou andando de um lado para o outro, apreensiva, como se tomasse coragem pra falar algo.

— Diz logo Lisa, deixa de enrolação.

— Como você.. Ah, não importa. Se você, hipoteticamente falando, ficasse com um cara e, de forma hipotética, gostasse dele e quisesse dizer, esse sentimento hipotético, quanto tempo esperaria pra fazê-lo?

Eu cerrei os olhos e fiquei esperando algum sinal que entregasse o jogo dela. Lentamente eu comecei a me lembrar da tarde daquele dia e quase dei um pulo da cama quando finalmente entendi.

— Você ficou com o Felipe?! Como? Quando? E por que não me contou?

— Shii! Minha mãe vai ouvir!

— Então é verdade! Ai meu Deus, eu não consigo nem imaginar vocês dois.

Ela saltou na cama animada e disposta a contar tudo aquilo que eu quisesse saber.

— Foi hoje, antes da aula. A gente estava conversando e nos beijamos. Ele ficou todo vermelho e saiu correndo.

Demorei um tempo pra processar a torrente de informações.

— E-eu, eu não sei o que dizer.

— Não diga nada, só me prometa que vai guardar segredo, principalmente da Ju.

— Tá, mas me diz, como foi?

— Ah, foi bom e...

Eu não conseguia me concentrar na voz da Lis. Eu não sei se todos aqueles anos sendo adorada pelo Felipe me impossibilitaram de imaginar ele com outra pessoa. Depois do discurso – que eu não ouvi – sobre o melhor beijo da vida da Lis e da melhor comida da cidade, nós fomos dormir.

Dormi maravilhosamente bem pra quem ficou com um colchão no chão, mas pela manhã acordei com um grito assustado da Lis. Desci as escadas correndo e a encontrei sentada no chão da cozinha aos prantos com o celular numa das mãos ainda conectado à uma chamada.

— O que aconteceu, Lisa?

Ela parecia em total estado de choque, incapaz de me responder.

— F-fe.. – ela chorava e soluçava sem conseguir completar uma frase inteira – O Felipe, e-ele..

— Ele o quê, Lisa?!

— Alguém matou o Felipe, Anna!


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Notas finais do capítulo

☠ Perdoem-me pela demora;
☠ Capítulo dedicado à Liz Setorio;
☠ ÚLTIMO CAPÍTULO POSTADO, HISTÓRIA EM HIATUS.