Espadas do Destino escrita por DewDrop-chan


Capítulo 9
Capítulo 8 – Contrato e Rebeldia


Notas iniciais do capítulo

nota: já existiam cidades no Japão Feudal, embora fossem poucas; eram centros nascidos nas rotas de comércio, formados por agrupamentos de pousadas, feiras, mercados e restaurantes e as casas dos comerciantes locais.



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Inuyasha estava quase morto de cansado. Os pulsos estavam dormentes e os tornozelos mais ainda, e ainda por cima...

— Ahahihihahahihahahuahuhahihiaha!!!!

Aino simplesmente desistira de tentar parar de rir, embora o estômago já doesse por conta das gargalhadas. Para ela era como assistir a um show de circo, mas especificamente a apresentação dos palhaços, e estava vendo um vestindo uma roupa toda vermelha e pulando feito um macaco.

— Pára de rir, pirralha do inferno!

— Nya, ...hahahia... não dá! Ahuhiahihihahuhihahuaha!!!!

= Ô, coitado... – suspiraram Sango e Miroku em coro.

Kagome voltou a pé, ao lado da bicicleta que estava empurrando. Um pneu furara. Ia ter que levá-la consigo na próxima vez que fosse até em casa e trocar.

— E aí? Como foi com o Kouga, Kagome? – Shippou pulou para o colo dela.

— Ah, o de sempre: ele pegou na minha mão, disse que me ama e que eu esperasse por ele e foi embora. Estranho só foi o Inuyasha não ter ido lá pra brigar... – ela observou o que o hanyou estava fazendo – Ele ainda não conseguiu?

= Não.

— Nya, o Inu-baka voa como uma galinha! Hahihihahi!

— Aino, não devia rir desse jeito. No começo você também era assim... – Karen disse, passando geléia nas mini-torradinhas que fizera – Prontinho, terminei de arrumar. Quem vem tomar café? [^^]

= Eu! – coro de Miroku, Sango, Kagome, Shippou e Aino.

— Demorou! – exclamação de Inuyasha.

— Nananinanão, Inuyasha. Você não. – Miroku deteve o hanyou, que parara de pular e se dirigia para a toalha de piquenique – Só vai comer depois de dar um salto decente.

— Quem disse?!

— A Yoh disse – até aí a frase foi normal, mas o que veio a seguir foi um sussurro – ...e também disse que vai me castrar se eu te apoiar fugindo do treino, então obedece! Obedece pelo amor de Buda! – falou sacudindo o hanyou histericamente.

— Cara, relaxa. Ela nem tá aqui, vou pegar só um bolinho...

NÃO!

— T-tá bem... – a careta homicida de Miroku deu medo.

— Itadakimasu! – frase de uma Kagome apaixonada pela geléia.

O hanyou ficou só assistindo enquanto os demais avançavam sobre o café-da-manhã.

...

 

Vento. Água. A correnteza despejava com força a essência líquida da cachoeira, criando pequenas nuvens de vapor úmido à medida que se aproximava do chão, batendo contra seu corpo e dando continuidade ao rio. Uma brisa suave percorria o local. Estava frio... mas Yoh não se importava. Precisava daquele banho. E, de certa forma, era um alívio sentir a água lavando o suor e as impurezas da pele e (quem sabe) um pouco das máculas da alma...

Mas eu to com fome... Só um bolinho, salada de frutas, três torradas e uma jarra de suco!

= Não.

— Kagome...

— Não.

— Sango...

— Já dissemos que não.

— Shippou... – implorando.

— A parte do Inuyasha é minha!

— AH, MALDIÇÃO!!

Ela podia ouvi-los dali, o som da água não abafava coisa alguma. Curioso como pareciam sempre tão animados. Tinha que admitir, talvez tivesse um pouco de inveja... não, a palavra não era inveja... era nostalgia. Saldades de sua infância e início da adolescência, dias que o tempo levara embora. Mas a vida que levava agora não permitia tempo para sentir saudades. Apanhou a toalha e as roupas deixadas sobre a pedra lisa na margem. Precisava sair da água e vestir-se antes que fosse tentada a se afogar.

...

 

— Ô Inuyasha... – o monge suspirou – Acho que ficar aí parado não vai te ajudar muito... desse jeito você acaba ficando de jejum até anoitecer.

— Aino, pode ajudar ele? – Karen fitou, compadecida, o hanyou com uma cascata de baba escorrendo – To com pena...

— Nya, tá bom, tá bom. Só pra não dizerem que eu sou mesquinha.

Ela resmungou, levantando-se e andando até onde estava o hanyou.

— Dá mais um salto aí pra eu ver o que tem que acertar, e a gente acaba logo com isso.

— Tá brincando! Eu mal consigo sair do chão usando essas coisas malditas! – ele apontou para os pesos presos nos pulsos.

— Nya, não precisa ser alto, mas eu tenho que olhar. É isso ou você não come.

Dito isso e ele saltou. Rosnando e murmurando palavrões, mas saltou.

— E aí? – disse ao voltar ao solo.

— Nya, foi bem... bem mal. – resmungou – Os movimentos são muito brutos, o corpo tá todo duro, você tá lutando contra o ar e gasta energia demais fazendo coisa nenhuma.

— E o que eu devia fazer?

— Seguir as instruções seria uma boa, inu-baka.

— Feh! Não vou dançar feito mulherzinha nem morto!

— Nya, não é pra dançar, é voar! V-O-A-R! Um pouco de leveza faria bem pra você.

— “Nyaaaa, um poco di leveja falhia bem pla vochê, nya-nya”! – ele arremedou – Eu tenho cara de quê?! De borboleta?!

— Tá mais pra filhote de cachorro cruzado com macaco.

— TÁ QUERENDO MORRER, EH?!

— TÁ QUERENDO APANHAR DE NOVO, EH?

— FEDELHA!

— FILHOTE!

— FEDELHA!

— FILHOTE!

— FEDELHA!

— FILHOTE!

Calem-se.

A moça passou andando devagar, ergueu Aino carregando-a debaixo do braço como um saco de batatas e a largou sobre a toalha de piquenique onde estava o café da manhã.

Vocês são muito barulhentos.

= D-desculpa, srta. Yoh. – disse Aino (e Karen também, sabe-se lá por quê).

— Feh! Ficaria silêncio se a Aino fechasse a matraca! É uma pirralha exibida que só reclama!

— Como você. – ela disse, passando a toalha que segurava nos cabelos úmidos.

— VAI VER SE EU TO NA ESQUINA!

*soc*

Ele caiu de cara no chão, igual a se levasse um Senta.

— Se... Senhorita Yoh, pensa mesmo isso de mim? – a menina falou para si mesma, sentada no chão – Nyaaaaaaaaaaaaaaaaaahh... [TT°TT]

[Ugh...] Inuyasha gemeu, erguendo a cabeça cheia de terra. Estava difícil se mexer por causa dos pesos, e ainda mais por causa da fome. *ROOOOOOOOOOOOOOOOONK* Complicado dizer se aquilo foi um ronco do seu estômago ou o rugido de uma fera pré-histórica. [Megera maldita!!]

— Volte aos treinos, I-chigo.

— Só sabe dizer isso, eh???!!

— Não.

— Grrrrrrrrrrrrrrrr... – ele quase morria de ódio quando ela respondia assim.

— Você quer morrer?

— Feh! Nem adianta ameaçar, eu sei que você não vai me...

— Não serei eu a lhe matar.

— Hein?!

— Você teve a sorte de crescer longe do inferno em que nasceu. Mas isso não muda o que você é, nem tira o peso de sua linhagem. – ele não estava muito a fim de prestar atenção, mas foi obrigado quando ela segurou seu rosto – Quando se foi, seu pai deixou desafetos neste mundo. Inimigos que você herdou com seu nome e ainda não conhece. Meu trabalho é lutar em seu lugar: ser sua espada e seu escudo. Mas... quando eu não estiver aqui, vai abrir mão de sua vida?

— ...

— É bom que não.

 

— Caraca... eu não ouvi direito, mas ela falou mais do que no mês inteiro, né não? – Miroku observou Yoh se afastar e sentar na sombra de uma árvore qualquer – Inuyasha, pára de tremer! Você tá azul!

— Não foi o que ela disse, foi o jeito que ela disse... – o hanyou sussurrou batendo os dentes.

— Tá, tá... Aino, dá uma mãozinha aqui pra ele voltar ao normal!

Nyaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh... [TT°TT]

Era impossível atender àquele pedido; ela estava deprimida demais para sair de cima da toalha de piquenique.

...

A menina de cabelos brancos caminhou pelo corredor sombrio, a face pálida e os olhos opacos sendo iluminados pelos archotes. Enfim chegou ao alçapão no fim do caminho. Aberto, ele revelava um cheiro nauseante de mofo e carne podre e a longa escadaria em espiral que desaparecia pelos subterrâneos do castelo. Ela ainda olhou de relance para trás, receando ter sido seguida, mas voltou se para frente e alçou os primeiros degraus imergindo na escuridão profunda.

*pec*pec*pec* Descendo...

Antepenúltimo degrau. Barulho de correntes tilintando; ao ouvir o som de seus passos, a pessoa retida aos fundos da masmorra remexeu-se, num esforço inútil para se livrar das algemas. Penúltimo degrau. Um gemido mesclado de dor e ódio; ela podia sentir a agonia da prisioneira... sede de água e vingança, vontade de fugir... e de matar. Último degrau. “MALDITO! ME TIRE DAQUI!” Um grito, mistura de súplica e exigência. De alguma forma, uma luminescência espectral, doentia, era emitida do chão. A menina aproximou-se devagar, deixando que a luz enfim alcançasse suas roupas alvas.

— Kanna...

Kagura murmurou, ao distinguir a face sem expressão da pequena visitante.

— Por que o Naraku te mandou aqui? Só pra me castigar mais? Te obrigar a ver esse meu estado?!

— Naraku... não me mandou...

— K... Kanna!

— Ele está... ocupado... vou te soltar...

— Não! – Kagura exclamou ao ver a menina estender a mão para tocar as algemas – Vai embora, Kanna! Vai embora!!

— Mas...

— Ele vai te prender também! Não entendeu ainda?! Já basta eu aqui!

Escute sua irmãzinha, Kanna. Ela disse algo que preste pra variar.

— Hakudoushi...

Kagura mirou o olhar no pé da escadaria, onde um menino empunhando uma foice (ou lança, ela nunca soube bem o que era aquela coisa cortante) lhe dirigia um sorrisinho sádico e irritante.

— Naraku tem um trabalho pra você... não, você não, Kagura. Ele decidiu te dar uma folga. – ele disse ao vê-la repuxar as correntes – Mas nem se preocupe, é trabalho simples, ele só precisa ver uma coisa no seu espelho.

— O... que é?...

— Alguma coisa sobre aquele tal de Inuyasha de novo. É só pra conferir, Naraku teve um pressentimento ruim.

— E quando vai... soltar ela?... – a menina referiu-se à Kagura.

— Não faço idéia, pergunte a ele quando subir. ...Se você conseguir, claro.

— ...

Kanna fitou o chão, de modo que a franja encobriu seus olhos.

— Tá chorando? Huh... Isso é bem estranho, considerando que você não tem...

— CALADO, TAMPINHA INFELIZ!

— Ora, Kagura, xingar os outros é feio. – ele encarou a youkai dos ventos, mas logo se virou para Kanna outra vez – Afinal, eu não ia dizer nenhuma mentira.

Hakudoushi sorriu, observando as lágrimas silenciosas que escorriam pelo rosto da menina de cabelos brancos. Ela apenas enxugou os olhos mareados e abraçou o espelho contra o peito, subindo a escadaria sem dizer uma única palavra.

Kagura fitou a irmã, que subia resignada e lentamente os degraus. [Agüente, Kanna... Um dia, um dia eu vou ser livre... e quando esse dia chegar, vou libertar você também!]

...

 

Continua bruto.

Feh! Eu tento de novo!

 

— Não to acreditando... [°____°]

— No quê, senhor monge?

— Que ele tá fazendo isso por vontade própria! – Miroku apontou para Inuyasha.

— A srta. Yoh sabe convencer as pessoas. – Karen sorriu.

— Mas por que ela fez ele usar aqueles pesos? – Sango falou, reparando nos braceletes azuis presos nos pulsos do hanyou. – O Inuyasha já é forte o bastante, não é?

— Nya, aquilo são selos de lacre. Não é pesado, tecnicamente, só dificulta pra ele se mexer.

— Por que isso?

— Nya, porque não adianta ser um brutamontes sem cérebro, que só sabe berrar e bater. O Inu-baka tem força, mas é só isso. – Aino bocejou – Vai demoraaaar...

— Demorar o quê? E no que aquelas coisas vão ajudar?

— Quando ele conseguir se mexer normalmente mesmo usando aquilo, vai estar bem mais ágil. Se bem que a burrice dele não tem cura...

— Aino, isso foi muito cruel... – Karen reclamou.

— Nya, pois é, às vezes a verdade é cruel. [U_U]

— UAU! ELE CONSEGUIU! – Kagome deu um berro – CONSEGUIU MESMO!

— O INUYASHA TÁ VOANDO! – Shippou completou.

Todos olharam.

 

Ei, até que é divertido!— disse o hanyou, que flutuava a 5 metros do chão – Mas... como eu faço pra descer?!

— Olhe para baixo e imagine... *CAPOF* ...Devagar, seu imbecil.— Yoh fitou Inuyasha, que despencara de cara no chão.

...

 

— O que está vendo, Kanna?

— ...

A menina não respondeu. Na imagem em seu espelho, ela podia ver Inuyasha rodopiando sem rumo no ar, a maior parte do tempo de ponta-cabeça; fosse qual fosse o poder estranho que adquirira, estava claro que ainda não sabia usá-lo corretamente. Naraku mirou a cria branca à sua frente, que mesmo sem expressão na face agarrava o espelho virado para si como se fosse um tesouro inestimável. Não deveria se importar com o silêncio, afinal fôra daquele modo que Kanna fôra criada: uma boneca viva, casca vazia submissa aos seus desejos, que falava apenas quando era mandada. Kanna não tinha vontade própria, ou não devia ter, porque não precisava disso.

Hakudoushi sorriu, escorado à porta. Será que havia algo que Kanna não queria que Naraku soubesse?

— O que está vendo? – o menino repetiu a pergunta.

— Inuyasha... – ela manteve o tom sem vida de sempre, mas por um segundo pareceu quase sorrir (só quase!) – ...caiu...

O semblante fechado de Naraku adquiriu um traço irritadiço. “Inuyasha caiu” ? Aquilo não significava nada. Embora rebeldia não fizesse parte do repertório de Kanna, ela às vezes dava impressão de gostar quando algo saía errado em seus planos.

Mostre.

A voz se desfizera do tom de pergunta. Agora era uma ordem. Fora de seu controle, as mãos da menina viraram o espelho ao contrário, com a parte reflexiva para fora. E Naraku viu a cena mais sem importância de todas: Inuyasha estatelado no chão como uma folha caída (uma folha caída vermelha e enorme).

Hakudoushi deixou escapar uma gargalhada.

— Hahaha! Que pateta!

— Pa... teta?... – a menina virou o espelho para seu lado outra vez e fitou a imagem.

— Naraku, sem querer ofender, sua ‘intuição ruim’ é sem pé nem cabeça... Mas que foi engraçado, ah se foi! Hahahihaha!

— ...

...

 

O hanyou levantou-se do chão, meio atordoado, e acabou se sentando de novo. *ROOOOOOOOOOOOOOOOONK* Ora, não ia ser porque levitara por uns minutos que ele se esqueceria do próprio estômago. Mas agora não adiantava sonhar com torradas, os outros já haviam acabado com o café-da-manhã e ele precisaria esperar até o almoço.

*ROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOONK*

— Nya! Eu fiquei doida ou alguém mais ouviu o som de uma montanha desmoronando?

— ... [Maldição...]

Karen, guardou o que eu pedi?

— Hai! Já vou pegar, srta. Yoh!  [^^]

Inuyasha esparramou-se na grama, soprando a franja para longe dos olhos, enquanto Karen saía saltitando feliz para buscar só-deus-sabe-o-quê. Que dia horrível... (se bem que, para ele, um minuto longe de comida era um minuto horrível). Mas ele já previra que ia ser assim, desde que Yoh dissera que ele precisava voltar a treinar: mesmo quando se saía bem, ele acabava se dando mal de algum modo. Queria saber por que ela o detestava tanto assim...

Sr. Inuyasha... — sem resposta – Sr. Inuyasha...— de novo – S-E-N-H-O-R-I-N-U-Y-A-S-H-A!!!

— IRCK! – foi isso o que ele grunhiu assustado, levantando-se num pulo; nunca pensou que Karen fosse capaz de dar um berro tão alto e tão perto do seu ouvido – Que que é?!

— É pro senhor. – ela estendeu um embrulho de pano e uma garrafinha com tampa de rolha.

— Que que é isso?

— Abre pra ver. [-^w^-]

— Tá... [-___-’] – Inuyasha assentiu co uma gota na testa; achava aquele sorrisinho de gato no rosto de Karen muito estranho.

Ele pôs a trouxinha no colo e a abriu; dentro havia cinco bolinhos de arroz e alguns doces pequenos. Retirando a rolha da garrafa, o cheiro agradavelmente adocicado da bebida ali contida escapou de dentro.

— De onde saiu isso aqui?!

— Foi a srta. Yoh quem fez.

— Aff, então tem alguma pegadinha aqui. O que é? Tem sal no chá? Pimenta? Laxante? – ele revirava os bolinhos e a garrafinha nas mãos, esfarelando e farejando tudo – Será que tá envenenado? [¬3¬]

— Nya! Dá isso aqui, Inu-baka! – Aino pegou as coisas da mão do hanyou – *chomp* chomp* chomp*gult* gult* gult* – engoliu – *BURP* – e deu um arroto na cara dele.

— Que cê pensa que tá fazendo, fedelha?!

— Lanchinho da manhã.

— VOCÊ COMEU METADE, SUA MALDITA!

— Nya, eu sei, e tava ótimo. – ela fez carinho na própria barriga e saiu andando até uma sombra de árvore, onde se sentou.

— O que é que você tem contra mim que me inferniza, pirralha infeliz!?!

— Nya, cala a boca, ô ingrato! “Tem sal no chá? Pimenta? Laxante? Será que tá envenenado?” Se tivesse, eu tava passando mal agora. Se não quiser o resto me avisa que eu como também.

Inuyasha fez um bico e começou a comer o que sobrou do lanche, sem se livrar da cara de emburrado.

— Senhor Inuyasha...

— QUE FOI AGORA?!

Ele berrou, descontando a frustração em Karen. Por sorte, ela não se importou com isso.

— Hmmm... O senhor achou mesmo que a srta. Yoh ia pôr alguma coisa na comida?

— Feh! Sei lá, nunca entendi como a cabeça daquela lá funciona.

— Hmmm... mas tá gostoso?

— Eh, eh... – vergonha de admitir – tá bonzinho...

— Viu só? Ela gosta do senhor. [^^]

— Não quero nem saber quem ela detesta. [-____-’] – ele deu um gole na garrafinha – Ei, esse treco é bom, até me lembra...

— ...Chá de ervas silvestres?

— Eh, como adivinhou?

— É que é isso que o senhor tá bebendo...

— Ptffffff!!! – ele meio que engasgou, meio que espirrou e acabou cuspindo chá pelo nariz – Cof! Cofcof! Cofcofcof!!

— O senhor tá bem? [°-°’]

— Sem chance! Nem vem me dizer que a Yoh arranjou isso aqui! É quase impossível achar as ervas, leva um dia todo pra fazer e dá um trabalhão...

— Mas era o seu favorito quando o senhor era pequeno, né?

— ... – ficou sem fala; queria saber como Karen sabia disso – ...era... MAS NÃO TEM NADA A VEEER!!! – surtou.

— NYA, NÃO BERRA, INU-BAKAAA!!

— NÃO ME ENCHE, FORMIGA FALANTE!

— SEU CABEÇUDO COM CÉREBRO DE AMENDOIM!

— Não briguem... [^^’] – Karen estava com uma gota enorme na testa.

— FEDELHA EXIBIDA!

— FILHOTE FRACOTE!

— TAGARELA IDIOTA!

— CACHORRO IMBECIL!

— PROTÓTIPO DE GENTE!

— ABERRAÇÃO DA NATUREZA!

— Não briguem, por favor... [U.U’]

— PIRRALHA FILHA DE UM MACACO!

— HANYOU FILHO DA P*******!!!!!

Urusai. – Yoh saiu puxando os dois (Aino pelo braço e Inuyasha pela orelha) e os deixou de frente para uma árvore (cada um de um lado oposto) – Vão contando.

— Nya... [T-T] Um, dois, três, quatro...

— Feh! Não vou ficar de castigo! *soc* – levou um soco na cabeça – [Maldição... Que humilhante...] Um, dois...

— Cinco, seis, sete, oito...

— Três, quatro, cinco, seis...

...

 

— Kanna, tá embaçado.

— É que... dá vergonha...

— Basta virar o espelho pra mim. – a menina obedeceu – Isso! Dá pra aproximar mais a imagem? Mais, mais... não tanto assim! Tá ótimo! – Kagura continuou falando como se a irmã fosse técnica de TV – Ai, que lindooooo!!! [>3<] – vermelha, beijando o espelho – Eu querooo! Quero ir pra essa terma também!

— ...

Hey, Kagura, tem um trabalho pra você fazer... [Não sei por que diabos Naraku soltou ela, mas pra mim tanto faz.]

— Hakudoushi! – a youkai assustou-se ao perceber que ele estava ali.

No susto, ela acabou empurrando Kanna, que arriou deitada com o espelho nas mãos.

Ora essa, como você é pervertida, Kagura! Pobre Kanna, você é má influência pra ela.

— Não sou pervertida! – ela exclamou, corada, enquanto o menino fitava a imagem no espelho.

Certo... Queria saber desde quando assistir homem tomar banho virou passatempo de mocinhas recatadas.

— Ora, seu...!!! [ÒÓ]

Anda logo, as instruções estão aqui. — ele entregou um papelzinho – E na volta me traga uma calça nova, essa aqui tá furada num ponto ‘estratégico’.

...

 

— Vinte e um mil setecentos e trinta e quatro, vinte e um mil setecentos e trinta e cinco ...nyaaa... vinte e um mil setecentos e trinta e seis, vinte e um mil setecentos e trinta e sete...

— Vinte e um mil setecentos e trinta e um, vinte e um mil setecentos e trinta e dois, vinte e um mil setecentos e... GAAAH! EU NÃO AGUENTO MAIS! MALDIÇÃAAO!!! *bonk*bonk*bonk* – Inuyasha deu três cabeçadas na árvore; pela dor recuperou um pouco do juízo e continuou a falar com o nariz encostado no tronco – ...setecentos e trinta e três...

— Vinte e um mil setecentos e trinta e oito, *roonk* vinte e um mil setecentos e trinta e nove, – Aino parecia estar dormindo em pé enquanto falava (estava de olhos fechados e até babando) – ... vinte e um mil setecentos e quarenta ...nya...

 

= Coitadinhos... – coro de Sango, Miroku e Kagome.

— Eles não ficariam de castigo se se comportassem melhor. – Karen suspirou e sentou-se no chão – Não entendo esses dois, são tão parecidos, por que não podem se dar bem?...

— Até quando eles vão continuar contando?

— Ahn... o recorde da Aino é um bilhão oitocentos e noventa e sete mil novecentos e setenta e quatro...

— Não! [>0<’] – Kagome exclamou – Eu quis dizer: quando eles vão poder parar de contar?

— A intenção era só pra dar um tempinho, esfriar a cabeça e pensar bem no que eles fizeram... mas...

— ...Esses cabeças-duras travaram na parte de “esfriar a cabeça e pensar”.  – Shippou completou.

Vinte e um mil setecentos e quarenta e sete, vinte e um mil setecentos e quarenta e oito... *puft* – Aino escorregou sobre as próprias pernas e continuou contando dormindo de joelhos – ...nya, vinte e um mil setecentos e quarenta e nove...

Vinte e um mil setecentos e trinta e... *funk-funk* Feh! Mas que cheiro maldito é esse?!— Inuyasha saiu da inércia e farejou o ar, fazendo uma careta enojada.

— Hein? – Kagome empinou o nariz e fungou – Não to sentindo nada... vocês estão?

— Eu não. – respondeu Miroku.

— Nem eu. – Sango.

— Hã-hã. – Karen fez que não com a cabeça.

Shippou tentou também e...

— CREDO!

Ele tampou o nariz com as mãos. Kirara também parecia estar sentindo, com os pêlos eriçados e fazendo uns barulhinhos estranhos.

— Que foi? Que que houve? – a colegial estava meio desorientada.

— Todo mundo quieto, – Inuyasha exclamou, desembainhando a Tetsusaiga – e vejam se conseguem escutar alguma coisa!

Trinta segundos de silêncio. Karen foi até a árvore tentar acordar Aino.

— Esquece, não to ouvindo nada de mais. Qual é o problema, Inuyasha? – Miroku bateu de leve com o bastão na cabeça do amigo.

— Cala a boca, idiota! To sentindo cheiro de sangue suficiente pra encher um rio!

— Mas de onde? Não tem nenhuma guerra nem antigo campo de batalha por perto, e tá tudo quieto por aqui.

— Aí é que tá! Cadê o barulho?! Cadê os gritos?! Não dá pra esse cheiro aparecer do nada!

Depois de várias pequenas sacudidinhas e inúmeros sussurros de “Acorda, Aino... Acorda...” de Karen, a menina bocejou e abriu um olho.

— Nya, cadê a srta. Yoh?

*sweeept*

Dito isso e uma lâmina de luz vermelha passou voando, não atingiu Kagome por um fio e passou por entre as árvores mais à frente desaparecendo. *tec* Um estalo quase inaudível, e pelo menos quatro troncos tombaram no chão.

— Que diabos foi isso?

— Garras Voadoras...nya, e do tipo bem potente! – Aino analisou, vendo os pontos em que as plantas foram cortadas.

— Inuyasha, volta aqui! – Kagome gritou ao ver o hanyou sair correndo na direção em que a lâmina veio.

— Aino, você não acha que...? – Karen cochichou.

— Nya, eh... – ela resmungou cruzando os braços – Aquela megera mandou ‘brinquedinhos’ dela de novo...

 

Inuyasha parou de correr ao chegar numa enorme clareira escondida na mata, e procurou se manter oculto atrás de uma das árvores ao redor para poder observar a cena. Não conseguia entender o que se passava. À sua frente, Yoh permanecia quase parada no centro da clareira, mexendo-se apenas para se esquivar das lâminas vermelhas que pareciam surgir do nada; um tipo de brisa esquisita que ele não sentia balançava os cabelos e as vestes da garota, e viu aparecer um arranhão na bochecha dela. Silêncio. Seria estranho ouvir Yoh berrar qualquer coisa como ele próprio fazia quando lutava, mas mesmo assim não ouvia nenhum som além do vento e algo que lembrava o choque entre coisas de metal. Para ele, era como assisti-la combater fantasmas.

Mas, passado algum tempo, Inuyasha entendeu. Quando a vista começou a se acostumar, pôde perceber vultos borrados passando de um lado para o outro. Era gente correndo! E correndo tão rápido que ele não conseguia acompanhar. Umas três... não, só duas pessoas.

Desistam.

Ele ouviu Yoh dizer, mas os desconhecidos ignoraram a ordem. Mas espera, eram mesmo pessoas? Ou bichos? Pareciam cães... do tamanho de leões! O hanyou esfregou os olhos com as mãos, para ter certeza de que não estava tendo um delírio. No chão tingido de rubro pelo sangue, a grama úmida abafava ainda mais o som dos passos, formando uma silenciosa sinfonia de morte.

Querem morrer?

Ela murmurou de novo, dessa vez ligeiramente irritada. Nessa hora Inuyasha já tinha certeza de que eram animais, mas se fosse esse o caso, por que falar com eles? Não havia sentido algum em tentar conversar com bichos.

Chega.

Um movimento de pulso, e a já conhecida fita azul cortante foi liberada das mãos de Yoh, enroscando-se no pescoço dos dois “seja-lá-o-que-fossem” como coleiras; arremessou-os contra alguns caules de árvores, depois os repuxou de encontro ao chão e ambos saíram derrapando no solo arrastando terra e fios de relva. Inuyasha começou a suar frio ao notar que o sangue espalhado com certeza era deles, e não de Yoh. [O que é que tá havendo aqui?...] ele pensou, engolindo em seco.

— O que... que são essas coisas? – ele pensou em voz alta.

Servos da Lua.

— Hã... [°_°’] – cara de tacho por ter tido uma resposta – O que isso quer dizer? – Yoh ignorou a pergunta e limpou o pouco sangue do corte (já fechado) na face – Maldição! Responda quando eu falo com você!!

— Quer dizer que passamos muito tempo aqui.

— Merda, Yoh! Fala de um jeito que eu entenda!

— Não tenho culpa se você é burro.

— O QUÊ?

— [E como grita...] – ela pensou, suspirando – Seja útil e traga ataduras.

— Você não precisa de ataduras.

Eles precisam.

Inuyasha fitou os dois garotos agonizando largados no chão. Pareciam ter a idade dele, e ambos estavam cobertos de feridas sangrentas; o mais próximo tinha cortes que trespassavam as pernas e o pescoço e mantinha as mãos em concha segurando a traquéia, lutando por respirar; o outro tinha um buraco no estômago e remexia as mãos apertando a grama entre os dedos, sem forças para mais nada. [Era gente mesmo ?!]

...

 

Kagura fitou a paisagem abaixo de si, sentindo a brisa refrescante bater em seu rosto e na pena em que voava, e resmungou uma bobagem qualquer descendo devagar. Um vilarejo deserto, completamente destruído, cheio de cadáveres mutilados e ensangüentados espalhados pelas vielas.  Sangue no chão, nas paredes, em toda parte. Ela não estava conseguindo crer que viajara tanto tempo para chegar naquele lugar porquento.

Virou uma esquina. Algumas hastes das casas em ruínas teimavam em permanecer de pé, numa resistência inútil. Passou pelo que restava da plantação de arroz, as mudas destroçadas e mais cinco ou seis corpos de lavradores.

 

***

Anda logo, as instruções estão aqui. — Hakudoushi lhe entregou um papelzinho – E na volta me traga uma calça nova, essa aqui tá furada num ponto ‘estratégico’.

***

A youkai dos ventos olhou mais uma vez o bilhete que trazia em mãos. Tinha que seguir as indicações e procurar aquela pessoa. Por que aquele estúpido do Hakudoushi a havia mandado ali ao invés de ir por conta própria? Ele não costumava hesitar em sujar as mãos...

— Harukana... [que nome estranho...]

Me chamou?

— Waaahh! *zupt*SPLASH*

Assustada pela voz desconhecida, ela escorregou no terreno enlameado e caiu sentada na plantação.

— Hahahihi! Você é engraçada!

— Isso não foi engraçado!

— Hihi, nossa, que mal-humor! Melhor tomar um chazinho.

Kagura encarou a garota atrás de si. Pálida, aparentando algo por volta dos vinte e cinco anos, usando um kimono cor-de-rosa, um xale laranja com estampa vermelha e um laço, também laranja e vermelho, no cabelo escuro e longo. O sorriso infantil era irritante, meio hipócrita, artificial. Kagura não gostou; aquela garota com rosto de manequim e vestida como uma princesa, no meio do cenário de um massacre... lhe deu calafrios.

— Quem é você e o que tá fazendo aqui?!

— Como? Foi você quem me chamou.

— Você é Harukana?

— Sou, eu estava lhe esperando, Kagura.

— P-por que? Como sabe meu nome?

— Aquele pirralhinho com um cavalo gigante falou de você, já que o idiota do Naraku não viria pessoalmente de jeito nenhum. Embora eu preferisse conhecer a garota do espelho ou o garoto com amnésia... mas não importa.

A youkai dos ventos fez uma careta. Queria ir embora logo, e ela estava falando muito.

— Só vim buscar o ‘tesouro’ ou sei lá o quê que Naraku quer. Entrega logo.

— Aaaah, assim não teria graça. – ela riu – Reclame à vontade, mas garanto que a pedra não está aqui. Eu a escondi direitinho, pra ninguém que eu não deixasse pegar acabasse achando. Só vou lhe ensinar como chegar lá.

...

 

— Nyaaa, que saco...

Aino resmungou, fitando os dois garotos cobertos de curativos sentados à sua frente.  Ambos de roupas brancas simples, aparentando a idade do Inuyasha. Um tinha olhos cor de grafite e cabelos num tom de anil ultra-claro, e o outro seria uma versão loira do Miroku com olhos laranja, se não fosse pelas orelhas pontudas e garras (característica comum àqueles dois). Estavam presos pelos pulsos com cordas e alguns selos (de cortesia do monge devasso), por isso quase não se moviam.

— São mais novos do que o costume...

— Nya, ou a megera tá ficando sem soldados, ou queria que eles morressem.

— Mas o que a gente pode fazer? A srta. Yoh já disse que não vai matar eles...

— Não sei, Karen, nem faço idéia. Mandar eles de volta é que não dá mesmo. – resmungou de novo – Aiai, que problemão!...

Alguém me explica do que elas estão falando e quem são esses aí, porque não to entendendo nada... — Miroku suspirou.

— Feh! E eu é que vou saber?

— ME SOLTEM, HUMANOS DE UMA FIGA! – berrou o youkai loiro, esperneando.

— Eu quero água... e um bolinho doce com calda de laranja! [T~T] – disse o outro.

— Nya, calem a boca, panacas! Se comportem como prisioneiros, que é o que vocês são! – Aino deu um pedala robinho na cabeça dele.

— NÃO ENCOSTA, SUA IMUNDA!

— Nyaa, não tenho que ouvir isso de quem só toma banho quando chove!

Mas qual o problema de só tomar banho quando chove?

— Inuyasha, seu porco... [¬¬'] – Kagome nem ousou terminar a frase.

— ME SOLTEEEEM!

— Nya, nem pensar!

— To com sede, to com fome, to com câimbra... – reclamação murmurada do garoto que pediu doce – Dá pra alguém coçar meu dedão do pé ou é pedir muito?

— É pedir muito, nem eu faria isso. [¬¬] – resposta do colega ao lado.

— Quero um doce... [T-T] – olhando o pacote de caramelos sortidos na mão de Karen (com cara de cachorrinho pidão).

— Cala a boca, bebezão! – se inclinou um pouco para conseguir chutar o colega.

— Se eu te der um, o senhor diz seu nome? – a menininha sorriu.

— O meu é Yusuke, e ele é o Kinko. – Karen pôs um caramelo na boca dele.

— Quantos anos vocês têm?

— Eu tenho 197, e ele tem 203. – mais um caramelo.

— Não pode se vender pro inimigo por docinhos!! – Kinko exclamou.

— Maix tchá txão gosxtosu... – deixando o caramelo derreter dentro da boca – Quero mais! Maismaismais! – carinha de criança feliz.

— VOCÊ PENSA COM O ESTÔMAGO OU O QUÊ? [¬¬]

— Nya, me lembra alguém que eu conheço...

Atchim!— Inuyasha espirrou.

— Srta. Yoh, deixa eu ficar com ele, deixa! É tão bonitinho! [*-*] – pediu Karen, olhinhos brilhando e entupindo Yusuke com caramelos.

— Não.

— Ah, por quêeeee? Eu sempre quis um cachorrinho!

— Já basta o I-chigo.

— EU/NÓS NÃO SOU/SOMOS BICHO/BICHOS! – coro de Inuyasha e Kinko.

— Shou tchodu sheu sxe me dxer maix dochi!

— Nya, que barulhentos! Esse é um dos motivos de eu detestar gin-inus! – Aino tampou os ouvidos com o dedo.

— Feh! Ô Yoh, por que não acabou com eles de vez...

— Não mato crianças.

— Têm o meu tamanho!!!

Exato.

— Grrrrrrrrrrr!!!

— Então... – Karen murmurou, meio triste – ...vamos deixar eles irem pra casa?...

— Issxu nhão! – engoliu tudo de vez – Se voltarmos, vamos morrer.

— Nya, de vergonha? Perder da srta. Yoh e continuar respirando é uma façanha, viu!

— A ordem que recebemos foi “voltar com a cabeça do bastardo numa bandeja de ouro”. – foi a primeira vez que o tom infantil do ‘eu quero doce’ desapareceu na voz dele.

— Se chegarmos lá com as mãos abanando, diremos adeus às nossas cabeças. – Kinko também parecia ter ficado um pouco mais sério.

— Nya, vêm atrás do Inu-baka e vão direto aborrecer quem não devem... Essa burrice é outro motivo de eu detestar gin-inus. [¬¬’]

— Aino, se o senhor Akisame ouvisse você dizendo essas coisas ia ficar chateado.

— Iiiiiihck! – ela fez cara de quem levou um choque elétrico – Nya, m-mas ele é uma exceção, Karen, quero dizer... eu tava falando de inus da Lua, os fantoches da Gin’yuki são todos assim, não dá pra me culpar por isso... Aaaaahhh! – pelo chilique, a desculpa não colou nem para ela mesma – Nya, esquece! Meter Akisame-danna nessa história não vai resolver nada!!

— Talvez resolva. – Yoh fitou a mochila de Kagome – Quero um papel.

Tavam atrás do Inuyasha?— Miroku estava totalmente deslocado na conversa.

Parece... E quem é Akisame?— Sango também.

O que é "gin'yuki”?— e Shippou idem.

Bem-vindos ao meu mundo, nunca me explicam nada! – Inuyasha bufou.

— Pode soltá-los.

A frase de Yoh foi uma afirmação, mas o tom era de uma ordem. Aino desamarrou as cordas e arrancou os hourikis. Kinko suspirou aliviado, massageando os pulsos, enquanto Yusuke se espreguiçava como se estivesse saindo de um cochilo.

— Hey, idiota! – o loiro rosnou se referindo à Yoh, com olhos vermelhos e as feições torcidas num tipo de ‘semi-transformação’ – Por que acha que a gente simplesmente vai embora sem te rasgar ao meio?

— Vocês não têm força pra isso. – ela respondeu indiferente, e estendeu o bilhete que acabara de escrever – Procurem por Akisame Shiro na fronteira do Leste e entreguem isto. Dará um destino aos dois.

— VAI PRO INFER...

— Obrigado. – Yusuke interrompeu o colega e entrou na frente, pegando o papel.

— Nya, ei! Não voltem mais aqui pra encher o saco, ou vão se arrepender!

— Tá bom, eu vou lembrar disso. – ele deu um impulso e saiu voando, puxando Kinko (rosnando emburrado) pelo braço.

— Aaaah... – Karen disse, manhosa, quando os dois sumiram de vista – ...mas eu queria mesmo um bichinho...

 

—-- Enquanto isso ---

— Não entendo você...

— É porque pode não parecer, mas eu tenho juízo.

— É um medroso, isso sim! Aquela guardiã que Inutaisho arranjou é boa, mas o garoto não pareceu grande coisa. Talvez a gente conseguisse...

— Kinko, eu posso não saber ler, mas conheço essa assinatura no fim da carta.

— Que que tem? – ele fitou o papel.

— “Hayashino Yoh”... Melhor ouvir e ir pra borda do Leste o mais rápido que der...

— Tá brincando! Quer dizer que aquela era...

— Eh, Gin’yuki-sama deu uma missão impossível... Azar dela, eu gosto de viver.

 

— DÁ PRA FAZER UM FAVOR E DIZER QUE DIABOS ACONTECEU AQUI?! – berro do hanyou de vermelho.

— Nya, dá pra fazer um favor e fazer menos escândalo?

— Também quero uma explicação! AGORA! – berro do Miroku.

= EH!! – apoiado por Sango, Shippou e Kagome.

— Tá, calma... [°__°’] – ela se assustou – Nya, vejamos... não entenderam o quê?

Daí veio a enxurrada de perguntas, todas quase ao mesmo tempo (espaço de três segundos):

Quem eram aqueles caras?

— Por que atacaram a gente?

— Tavam atrás do Inuyasha?

— Pra quê?

— De onde eles saíram?

— Pra onde eles foram?

O que é "gin'yuki”?

— Pra quê o bilhete?

Quem é Akisame?

— NYA, UM DE CADA VEZ, BANDO DE DOIDOS! – Aino gritou, tampando os ouvidos – Primeiro... quem eram... eles mesmos falaram os nomes.

— O que não quer dizer nada. [¬¬] – frase de uma Kagome impaciente.

— Agora, se a pergunta for “o que eles são”... São gin-inus, como o Inu-burro é, só que aquele é o ‘tipo padrão’ entre inuyoukais do clã da Lua Azul; pela roupa deviam ser de classe baixa... servos, soldados convocados ou coisa assim.

— E por que atacaram a gente?

— Nya, essa é fácil... Porque o Inu-burro tá com a gente.

— Feh! E daí?

— Nya, daí que Gin'yuki quer te ver bem mortinho, então é normal mandar gente pra fazer o trabalho sujo sempre que descobre onde você tá. Nunca perguntou o motivo de andar sem rumo por aí, sendo tão mais confortável se instalar num castelo ou coisa assim? É um jumento mesmo...

— PELA ÚLTIMA VEZ! QUEM É GIN’YUKI?!?!

Dessa vez quem respondeu foi Karen:

— É a esposa do pai do sr. Inuyasha.

= ... [O_O']

Cinco minutos de nada *cri*cri*cri* e som de grilos no fundo.

— Hãaaaaa... – o barulhinho ‘a la zumbi’ de Kagome foi o que quebrou o silêncio.

— Ô Inuyasha, eu achei que sua mãe se chamava Izayoi... – comentário do Miroku.

— E eu achei que ela tivesse morrido... – comentário da Sango.

= E eu achei que vocês tinham cérebro. [¬__¬’] – coro de Aino e Shippou (mas a continuação da frase foi apenas dela) – Nya, eu desisto... não tenho saco pra ensinar vocês. Perguntem o resto pro Velho Pulguinha.

— À vontade... – disse o mini youkai, pulando no ombro da menina – Mas gostaria que me chamasse de Myouga, O Sábio. *shuuuuuuuuck*

*PAF*

— Nya, não amola, velhote. – deu um tapa no próprio pescoço e esmagou Myouga.

— Pode ser só impressão, mas toda encrenca em que a gente tem se metido envolve o Inuyasha. – Shippou cruzou os braços, fazendo pose de intelectual – Já deu pra sacar que essa tal de Gin’yuki é mãe do Sesshoumaru, mas esse negócio de só saber fiapos da história já me encheu.

— É mesmo, e seria legal aproveitar e explicar o restante das coisas que a gente já perguntou. – Kagome suspirou.

— Eh, b-bom, vou falar o possível, m-mas... – Myouga fitou Yoh e engoliu em seco – ... é que... *glup* – sem voz pra continuar.

Conte o que quiser. – ela resmungou, sem emoção, saltando do galho de árvore onde estava – Ele já tem idade suficiente.

 

***

Já estou cansado de esperar.

— ...

A garota apenas suspirou, sentindo a brisa bater em seu rosto enquanto continuava sentada no corrimão da varanda. Inutaisho a irritava. E ele provavelmente nem fazia ideia do quanto.

Quero uma resposta.

— Resposta a que pergunta?

— Meu filho vai nascer em breve, não tenho mais tempo para as suas gracinhas. Quero saber se vai cumprir seu dever como filha de Tayo ou se vai continuar brincando de homem.

— Não posso fazer nada se o fato de eu não ser frágil lhe incomoda.

— O fato de você não agir como deve...

— Não sou sua boneca.

— Que seja. Então vou lhe fazer uma proposta: proteja o Inuyasha quando ele nascer, até que possa se cuidar sozinho. Ele e Izayoi vão ter problemas se não tiverem um guardião.

— Por que eu protegeria uma criança que nem devia existir?

— Porque se não mantiver a aliança que fiz com seu pai, teremos uma guerra. E todos os vinte e três adoráveis vilarejos que estão sob a tutela do seu clã vão se tornar alvos e ser reduzidos à ruínas chamuscadas.

— Isso é uma ameaça?

— É uma conseqüência lógica. Mas também há outra opção, Yoh. Por que não age como uma boa menina (ou ao menos como uma menina) e cede logo? Só uma noite já seria suficiente.

— Patife...

— Não, não sou. Só pretendo me manter no controle da situação. – era impossível saber se aquela expressão era irritada ou sádica – Você tem mais duas semanas para se decidir. Pense bem até lá.

Dito isso, e ele saiu andando, deixando-a sozinha.

Maldição... — Yoh murmurou, cravando as unhas no corrimão de madeira.

Myouga se encolheu, assustado, e por um momento pensou se não teria sido melhor ir embora com Inutaisho ao invés de continuar escondido entre os fios do cabelo da garota. A expressão dela era de que ia dizimar qualquer criatura viva que estivesse num raio de 3km.

— Calma, senhorita Yoh. Não fique tão nerv...

*SCRASH*

Sim... Dizimar qualquer criatura viva e a estátua de pedra do pátio (que agora fôra reduzida a pedregulhos graças à fita cortante que ela liberou da ponta dos dedos).

— Diga “calma” outra vez e você será o próximo.

Calma, Yoh.

Ela virou a face, a fim de encarar o dono da voz grave vinda de trás, e ao vê-lo pareceu relaxar um pouco. Era um homem bonito, aparentando por volta dos trinta a trinta e cinco anos, dotado de olhos rubros e cristalinos e uma trança negro-esverdeada que de tão longa lhe alcançava os tornozelos.

— I... Inuue...

— Senhor Tayo! – Myouga pulou aliviado para o ombro do youkai.

— Por que a estátua está quebrada? – ele fitou o que restava do antigo enfeite do pátio.

— Bem, é que a senhorita Yoh...

— Eu sei. – cortou a frase de Myouga – Só quero saber por quê.

— Minhas desculpas, inuue... Eu perdi o controle...

— Eis algo que eu nunca esperei ouvir de você. – Tayo suspirou, se sentando ao lado dela – Odeia Inutaisho tanto assim?

— Sim.

— ... – surpreso com a resposta direta – Você está assim desde que ele bateu no...

— Ele não tem direito de brincar com a vida dos outros, inuue! – ela murmurou, rangendo os dentes – Eu não sou uma boneca... e o Maru não é um fantoche!

— Sei disso, Yoh. Mas por que esse menino lhe importa tanto?

— ... Eu... eu...

— Você o ama?

— Un...– ela praticamente sussurrou, corada – Isso... é ruim?

— É claro que não. – Tayo afagou de leve os cabelos da filha – Você cresceu, Yoh... eu quase não percebi. E pelo visto, Inutaisho não percebeu ainda.

— Inuue... O que eu devo fazer agora?

— É melhor decidir por si mesma.

— Tenho medo de escolher mau...

— Não tenha. Eu sei que vai fazer a escolha certa.

— Como tem certeza?

Ele apenas sorriu, fitando os flocos de neve que começavam a cair.

— Porque foi assim que eu te criei.

 

Senhoria, Dikura está chamando! — exclamou Saya, à distancia – Parece que aquele infeliz sumiu de novo, nem o Yukimaru o achou dessa vez!

— Shiro está comendo todos os bolinhos!... — gemeu Anei.

E ela levantou-se e caminhou até os colegas, resmungando [Crianças...] no pensamento.

 

***

Não havia como negar, o relato de Myouga deixara todos desnorteados.

— “Só uma noite já seria suficiente”?! – o monge exclamou – E depois vocês dizem que eu é que sou tarado...

— Garanto que não é bem o que você está pensando. – Myouga afirmou.

— “Vinte e três vilarejos”? – Sango processou a informação em voz alta, meio confusa.

— Nya, os kuroinus do clã da Estrela sempre foram responsáveis pelas vilas de Hayashi e da fronteira. Hoje em dia são vinte e quatro vilarejos e duas cidades. – Aino resmungou, deitada na grama – Mas mesmo que ainda fossem vinte e três, já teria um número grande de vidas pra contar.

 

— Feh! Agora to mais confuso do que antes!

— Nya, ta bem, vou traduzir de um jeito que você entenda: seu pai era um canalha idiota que fez chantagem ameaçando a vida de centenas de pessoas pra obrigar a Srta. Yoh a cuidar de você, imbecil. ‘Sacou’ agora?

— Aino, você foi má de novo... – Karen fez uma careta de reprovação.

— Nya, não sou má, sou realista. E não tenho pena de quem não merece.

— O senhor Inuyasha não tem culpa se o pai dele era um verme purulento.

Ops, alerta vermelho, Karen acabara de xingar alguém! Só havia dois motivos plausíveis para isso: 1- era um prenúncio do apocalipse e o mundo ia acabar ou 2- essa pessoa era tão horrivelmente ruim que nem um santo perdoaria.

— Nya, é verdade, mas herdou a mania de “eu posso tudo” dele.

— Mas você também fala assim...

— Não falo não!

— Fala sim...

— Não falo não!!!

= Fala sim. – coro de Miroku, Shippou, Karen, Sango e Myouga.

— Pois fiquem na ignorância, seus insensíveis! Não vou falar mais nada! – ela sentou-se de costas, emburrada e fazendo bico.

Inuyasha, você ta bem? Inuyasha? Inuyasha!— Kagome começou a balançar o hanyou, que estava sentado paradinho como uma estátua (e com a cara de uma).

— Pára com isso, Kagome! – ele a fitou com careta que parecia até caricatura.

— D-desculpe... Pensei que você tivesse em estado de choque.

— Feh! Qual é! Eu também paro pra pensar de vez em quando!

— Você sabe pensar?! – disse Shippou, surpreso, e *soc* levou um soco.

O hanyou continuou falando enquanto a raposinha choramingava “Kagomeeee, o Inuyasha me bateu! Buáaaaaaa!!!”, mas desta vez a colegial não o fez Sentar. À essa altura, Yoh sumira de novo.

— Hey, Myouga.

— Sim?

— Se ela detesta tanto me vigiar, não tinha outro jeito de ter ficado lá de onde ela veio?

— Foi um acordo diplomático.

— Sei lá, se tivesse pedido com jeito...

— Amo Inuyasha, o senhor já devia saber que a srta. Yoh é orgulhosa. Ela nunca imploraria nada ao seu pai, até pedir “por favor” já seria bem difícil.

— Eh, deve ser... – ele se deitou na grama com as mãos atrás da cabeça; parecia exausto.

— Qual o problema, amo Inuyasha?

— Nada, só estava lembrando...

 

***

Membros decepados espalhados pelo chão. A terra encharcada de sangue e outros tantos fluidos corporais deixando um odor forte e enjoativo. Aquela cena já se tornara comum. Uns últimos gemidos agonizantes. Noventa adversários não duraram nem meio minuto. A jovem moça passou por entre os corpos inertes e encarou o último sobrevivente daquela batalha. A face suave de dezesseis anos mostrava uma frieza centenária. Ele a olhou também, na expressão de súplica de um tolo sem salvação. Ela ergueu a mão, dedos indicador e médio esticados, e a desceu num movimento de meia-lua. Seu golpe de misericórdia. Um fio de luz anil cortante e um esguicho de líquido rubro.

— Me ensina! – exclamou a criança que observava a cena.

— O que, I-chigo? – respondeu a garota com o rosto salpicado de sangue.

— Essa fita! A coisa que gira e sair cortando tudo – ele deu uma pirueta enquanto falava – que nem papel!

— Posso ensinar.

— ÊBA!!

— Mas por que quer aprender?

— Se eu aprender vou ser o mais forte! Ninguém vai me derrotar!

— Batalhas não são um jogo, I-chigo. Não é divertido.

— Mas...

— Se só tem esse motivo, esqueça. Algum outro?

— Mas Y...

— Não.

— Mas eu quero ficar mais forte, Yoh! Ser igualzinho ao meu pai!
Nesse instante, um lampejo de asco passou pela face sem emoção da garota, e o tom de voz saiu ainda mais frio que de costume:

Existem várias formas de se tornar um idiota prepotente, mas não vai ter a minha ajuda.

— Por quê?! Você nunca faz o que eu peço, mas xingue o papai!

Eu não menti.

— EU TE ODEIO, YOH! NUNCA MAIS QUERO VER A SUA CARA!

O menino disse, choroso, e disparou floresta adentro. A garota continuou ali, vendo-o correr até sumir de vista. Já era a décima vez naquele mês...

 

***

— Feh! Sempre com aquela cara de nada, é difícil saber o que ela pensa.

— Isso é verdade. Até a chamavam de “flor de gelo” antigamente. – Myouga deitou-se na franja de Inuyasha e se cobriu com uma mecha como um lençol – Agora preciso de um cochilinho... Boa noite.

— Aquela idiota me conhece melhor do que eu mesmo... E só agora eu reparei que não sei nada sobre ela.

— NYA! – Aino simplesmente pulou nele – Não chame a srta. Yoh de idiota, idiota!

— SAI DE CIMA DE MIIIIM!!

— NYA, NEM MORTA!!

— MALDIÇÃAAAO!!!

— Pode deixar, Inuyasha. Eu vou atrás dela. – riu Kagome.

— Hein?

— Atrás da Yoh, oras!

— Feh! E vai fazer o quê?

— Fica frio. – piscou o olho – Vou fazer a ‘flor de gelo’ se abrir.

Kagome murmurou um “volto já” casual, levantou-se e saiu andando. Inuyasha sequer notou, estava ocupado demais tentando desgrudar Aino de si (a menina estava ‘enganchada’ pelas próprias pernas na cintura dele).

 

—-- a uma certa distância dali ---

 

— Oi, Yoh! Até que enfim te a...

— Foi rápido. – interrompeu a frase de Kagome.

— “Rápido”?

— Disse que vinha atrás de mim.

— Ah, é... [^^’] – sorriso com gotinha na testa – Deu pra ouvir daqui?

— SAI DE CIMA DE MIM, FEDELHA!

— NA-NA-NI-NA-NÃO!

— PÁAARE!!! COSQUINHA É JOGO SUJO!!! – risada histérica— PÁAAAA-AHAHAHUAHUHUHAHA-AAAAARAA-AHIHAHIHUAHAHUHAHA-AAA!!!

— NYA, MORRE MORRE MORRE MORRE MORRE MORRE!!!! [:P]

— Preciso responder?

— Deixa pra lá... – a colegial resmungou, ouvindo os berros de Inuyasha e Aino.

Fitou a paisagem. Ali a floresta se interrompia temporariamente e um riacho corria à frente, tranqüilo e cristalino. Parecia um bom local para relaxar e descansar.

— Que lugar bonito!... – sem resposta – Mas seria melhor se desse pra conversar... – sem resposta de novo; pelo visto ia ter que puxar assunto – Ei, Yoh... O pai do Inuyasha era mesmo tão mau assim?

— Pergunta estúpida.

— Erh... não quer falar disso, né?

— Acertou.

— Então vamos falar do Inuyasha, ok? – sem resposta de novo (outra vez) – ...Deixa eu ver... O que você acha dele?

— Infantil.

— E o que acha do Miroku?

— Devasso.

— E do Kouga?

— Precisa de um banho.

— E do Shippou?... [^^’]

— Chega.

— Então, me diz. De que tipo de homem você gosta?

— Pra que quer saber?

— Ora, porque... Porque é normal garotas conversarem sobre garotos às vezes, né! – Kagome inclinou-se na frente dela, de um jeito que quase encostavam os narizes – Vai, não seja tímida... Respoooooooondeeee!

— Que importa? Decidi que não quero me apaixonar.

— Por que não?

— Porque dói.

— Você nunca gostou de ninguém?

Silêncio... Longos segundos de silêncio.

— Ei, Yoh! Tá me ouvindo?

— Já tive um noivo, mas...

— LEGAL!!!! – Kagome praticamente berrou, mais pela surpresa do que qualquer outra coisa – Ah, foi mal pelo grito... [^^’] – sorriso com gotinha de novo – E ele era bonito?

— Muito. – suspiro de resignação; pelo visto o único modo de pôr fim nas perguntas de Kagome era respondê-las – Como o bordado de ouro numa peça de seda.

[Nossa, ouvir ela elogiar alguém é muito esquisito!] a colegial pensou, meio espantada.

— E onde ele está agora?

— Não sei.

— Como não sabe?! – pensando em mil hipóteses terríveis – Meu Deus! Vai dizer que ele morreu?!

— Não.

— Então por q...

— Rompemos pouco antes do Inuyasha nascer. Aceitei esse acordo e... ele não veio atrás de mim... – a voz de Yoh adquiriu um tom distante; de repente, brincar com as fitas em seu cabelo pareceu muito interessante – Mesmo não gostando, preferi ficar a ferir meu orgulho. Que tosco... No fim, não passo de uma covarde.

— N... não...

— Que?

— Isso é... tão triste...

Yoh encarou Kagome com certo tom de curiosidade. A colegial estava com o rosto avermelhado, os olhos cheios de lágrimas e fungando no lencinho vermelho do uniforme.

— BUAAAAAAAAAAAA, TADINHA DE VOCÊ – se agarrou na meio-youkai feito uma desesperada e caiu no choro – BUAAAAAAAAAHAHAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!

— ... [Humanos são tão estranhos.] – ela pensou, mas não chegou a falar em voz alta.

 

...

 

A youkai dos ventos adentrou o castelo de Naraku com um mau-humor que, refletido numa careta, deixava sua face medonha. Desceu na pena, colocou-a de volta no cabelo e saiu andando pelos corredores sem se importar muito com onde estava indo.

— Hey, Kagura, trouxe a minha calça?

— Pegue. – ela resmungou, e arremessou a peça de roupa para o menino.

— Aaaaaaahh, marrom?! Eu queria branca! – Hakudoushi reclamou contrariado.

— Então arranje uma você mesmo!

— Calma lá, você está muito estressadinha, Kagura. Raiva faz mal pra a pele, hein! Vai ficar velha e ruguenta antes do tempo.

— Dane-se! – exclamou, enquanto ele ria e saía andando com a calça e a foice na mão – Eu... odeio... essa... vida... – ela murmurou, trincando os dentes a cada palavra.

 

***

—--vinte minutos atrás---

— Só isso?! Deixou ali, na vista de todo mundo?! – a youkai dos ventos exclamou, incrédula.

— O melhor esconderijo é bem debaixo do nariz, não acha? – ela riu – Além disso, eu não poderia honrar o meu nome se não conseguisse enganar alguém. Afinal, sou Hayashino Harukana.

— Pouco me importa o seu nome! – retrucou, enquanto se forçava a arrancar as calças de um cadáver.

— Ah, e avise ao Naraku que se ele quiser mesmo a pedra, posso guiá-lo até ela, mas ele vai ter que mexer as perninhas nojentas de hanyou e vir pessoalmente ao invés de mandar lacaios. Isso é realmente chato.

— Tá, vou ver o que dá pra fazer. – impaciente, deixou a vista vagar pela paisagem – [Argh... Esse lugar me dá náuseas...]

— Ficou bonitinho, não concorda? Quando cheguei as cores não estavam combinando, então decidi pintar de vermelho.

— Foi você que destruiu esse vilarejo?

— “Destruir”? Que palavra triste, eu só redecorei. – ela sorriu, um sorriso frio e repleto de um sadismo psicopata – Humanos são criaturas muito feias. Mas eles ficam lindos... quando estão sangrando e morrendo.

— Você é louca...

— Sou, né, Kagura? – riu de novo – Desde que Naraku, você ou qualquer outro cumpra o combinado e se livre da minha irmãzinha e daquele garoto impuro, não me importo com o que acham de mim.

— Por que não se livra deles você mesma?!

— Assim eu não sujo as mãos e não tenho trabalho. Me divirto também. E se quer saber, não ligo pra qual deles vai morrer.

Kagura fez uma careta; aquela garota lhe fazia passar mal. Tirou uma das penas do cabelo, sentou-se nela e saiu voando de volta ao castelo (levando consigo a calça marrom do defunto).

Harukana fitou a youkai dos ventos sumindo à distância, mas logo distraiu-se com outra coisa. Cheiro de ervas medicinais, misturado com sangue de youkai. Sangue de gin-inus... Procurando no céu, pôde ver dois garotos de cabelos claros cobertos de curativos voando em direção ao leste. [Ela se apiedou de novo, que vergonha!]

— Aiai, será que você escapa dessa vez, irmãzinha? – Harukana sussurrou, fitando os próprios dedos e as unhas que se prolongavam em garras pontudas; novamente aquele sorriso sádico – Mas como eu adoraria... sentir seu sangue quentinho escorrendo em minha mão.

 

***

Yoh fitou Kagome de soslaio, como de estivesse vendo um alien. Já sabia que ela era histérica, mas não imaginou que fosse tanto assim. *chuif*chuif* Mesmo depois de voltar e sentar-se ao lado de Inuyasha, a colegial continuava fungando e com os olhos mareados.

— Nya... vai desidratar de tanta lágrima, hein!

— Falou a ‘Sensibilidade em pessoa’. – o hanyou resmungou, embora concordasse com ela – Kagome, desfaz essa cara de choro, assim cê só fica mais feia!

— O quê?! – ela trocou a expressão pela de “hoje eu mato um” – SENTA!

*poft*

— Itaaii... Por que você fez isso?! – bradou, de cara no chão.

— Bem feito por me chamar de feia!

— Feh! Encare a verdade, sua bruxa!

— Senta! *poft* – ele caiu de novo – Eu sei que não sou bonita como a Kikyou, mas...

— Por que a Kikyou entrou na história?!

— Por que você nunca me elogia?!

— E eu lá tenho motivo pra te elogiar?! Bruxa feia!

— Sentasentasentasentasenta! SENTA!

*poft*poft*poft*poft*poft*POFT* Ele afundou 5 centímetros no chão, sem nem ter chances de levantar.

— Mas a senhorita Kagome não é feia... – Karen disse, pensando alto.

— O senso de beleza do Inuyasha pifou faz tempo. – Shippou deu de ombros – Ele não reconhece o que é bonito nem se esfregarem na cara dele.

— Eu já suspeitava. – Miroku fez pose de intelectual – Só assim pra usar essa roupa vermelha o tempo todo.

— Nya, verdade, é muito ridícula.

— Como é que o assunto foi parar na minha roupa?!! – Inuyasha enfim levantou o rosto do chão.

— Nya, que gentinha complicada, hein...

Mais alguma pergunta?

Eles se viraram ao ouvir Yoh falar. De todos ali, ela era a última de quem se esperaria qualquer comentário.

— Bom... – Shippou fez uma careta pensativa – Ninguém disse ainda quem é esse tal de ‘Akisame’...

Um amigo.

— VOCÊ tem AMIGOS?!?! – Inuyasha exclamou, espantado *SOC* e levou um mega soco na cabeça.


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Notas finais do capítulo

Nota:
Hayashino Harukana = traduzindo, seria algo como “Ilusão do Bosque”

Glossário:
Inuue = termo antigo, equivalente a “chichi-ue”; forma respeitosa de dizer “papai”
Itadakimasu! = "obrigada pela comida"
Urusai = significa “barulhento”, mas se usado como ordem pode ser “cale(m) a boca”



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