Espadas do Destino escrita por DewDrop-chan


Capítulo 11
Capítulo 10 – Vida e Veneno




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Yoh interrompera a corrida, estacando na copa da árvore alta e sentindo o vento ameno balançar-lhe os cabelos. Aino alcançou-a poucos segundos depois, se sentando sobre o galho e recobrando o fôlego que perdera com a pressa. O céu da tarde lentamente começava a mudar de cor, uns tímidos rasgos rosados aparecendo cá e acolá. E mais adiante, no limiar onde a vista alcançava, a brisa trazia o som do choque entre espadas.

— Mais uma noite...

Sim, uma noite mais e retornaria à forma normal; por enquanto só lhe cabia assistir. Não que pudesse ser considerada uma humana fraca, mas havia limites que aquele corpo precisava obedecer. Até que o sangue de hanyou voltasse a circular em suas veias, Yoh seria forçada a restringir-se ao papel de platéia. Inuyasha estava com um problema sério... e também devia ter algum problema mental, afinal, depois de tanto tempo enfrentando oponentes que mais pareciam lixo, agora foi a pior hora para ele querer mudar de ares; aliás, o ar estava verde mais à frente. A vegetação secava e o solo escurecia aos poucos em contato com a bruma cor-de-limão.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!!— grito raivoso lá longe – PREPARE-SE, SEU IDIOTA! LÁ VOU EEEU!!!

— Nya, até que o Inu-baka tá melhor do que eu achava, se tem fôlego pra berrar assim. – Aino resmungou, suspirando e fazendo uma cara de tédio – Só espero que ele agüente as horas que faltam...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!!

— ...Nya, ok, ele vai morrer.

 

Inuyasha saltava sobre as árvores, pulando para não imergir na nuvem ácida abaixo. Vez ou outra a vista saía de foco, resultado do esforço desmedido, mas nos segundos em que isso acontecia, piscava os olhos, a visão voltava ao normal e ele ignorava o ocorrido.

— DAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!!

Hunf.

Sesshoumaru bloqueou o golpe de espada com a Toukijin, e repeliu a Tessaiga deslizando uma lâmina contra a outra. O mais jovem deu outro daqueles grunhidos irritantes por deixar a Tessaiga escapar de das mãos (e cair no chão fora de seu alcance) e arreganhou as garras. Teria ignorado Inuyasha e seguindo em frente, se não fosse por dois motivos: primeiro, porque a burrice do meio-irmão espantou Kagura, e com ela a pista para encontrar o esconderijo do Naraku; e segundo, porque se aquele hanyou ridículo partiu para cima dele com a espada em punho, estava pedindo oficialmente para ser morto.

Saia do meu caminho.

— SAI VOCÊ, IDIOTA!!

 

***

— Droga...

Ele resmungou, fitando as marcas das próprias garras no tronco à frente. Garras Retalhadoras era o golpe mais básico que havia e qualquer inuyoukai podia cortar uma árvore daquele jeito. Não era isso o que queria fazer.

— Quer ajuda?

— Não.

Tentou de novo. Dessa vez um fino rasgo colorido projetou-se no ar, mas sumiu antes que alcançasse a planta. Virou-se para a garota que o acompanhava. Yoh continuava apenas observando-o, sem menção de fazer nada. Devia ter dito que queria ajuda, estava mesmo precisando.

— Por que eu não consigo?

Ela sorriu.

— É questão de pulso, tente deixar os movimentos mais soltos.

— Assim?

— Não.

Esfregou as têmporas com a ponta dos dedos, tenso. Precisava se concentrar; ficar estressado não ajudaria em nada.

— Relaxe. Deixe que os gestos fluam, e seu próprio corpo vai lhe guiar.

Entrelaçou os dedos nos dele e o ouviu fazer um barulhinho que lembrava um “ah”. Yoh fitou a face levemente corada do youkai e prendeu um risinho; ele ficava uma graça quando estava envergonhado.

Sentindo a palma macia encobrindo o dorso da própria mão, moveu-a pelo ar, desenhando uma curva. E paralela à curva incolor, uma fita luminosa, de tom silvestre e primaveril. Indo longe do tronco da planta à frente, a linha de luz subiu até a copa e alcançou algumas folhas, que caíram picotadas como pequenos confetes.

— Funcionou...?

— Agora basta treinar a pontaria...

Ia continuar a frase, mas parou ao ver-se abraçada com firmeza, uma mão apoiando-lhe as costas e a outra enlaçada em torno da sua cintura.

— Obrigado, Yoh.

— Eu não fiz nada.

— Fez sim. – acariciou de leve a cabeça da garota, sentindo a fineza da pele da nuca e dos cabelos negro-esmeralda – Obrigado, Yoh... minha gota de arrebol.

Ela imitou-lhe o gesto, examinando os fios sedosos que escorriam como uma cortina prateada. Algo estranho em meio a eles. Textura de tecido... A faixa amarela que o rapaz usava atada na testa. Brincando com o nó, acabou por desatá-lo. A faixa afrouxou e recaiu-lhe sobre os olhos, instante no qual Yoh se apossou do acessório, brincando com ele entre os dedos.

O que estão fazendo?

— Yukimaru?

Ambos olharam para a direção de onde veio a voz, e ele fez uma careta irritada pela falta de privacidade. De pé sobre o galho de uma árvore não muito distante estava um outro youkai, aparentando por volta dos dezoito a dezenove anos (e sua compleição física de quinze o fez sentir-se infantil perto do observador). Os olhos eram de um tom violeta cristalino e profundo e o cabelo, comprido e da mesma cor, estava preso num rabo-de-cavalo baixo; as roupas eram negras, exceto pela faixa na cintura e pelas botas brancas. Shinirin Yukimaru. Era um dos melhores sentinelas de Hayashi e o informante pessoal de Tayo. Se estava ali, devia haver um bom motivo.

— O que você está fazendo?

— Trabalho de rotina. A vigilância das orlas fronteiriças cabe a mim por hoje. – a expressão dele era de quem acabou de dizer algo estupidamente óbvio – Já sabe, para cuidar de invasores e relatar qualquer atividade suspeita ou não-autorizada.

— E viu alguma coisa? – retrucou, irônico.

— Talvez. – idem.

— Yuki, pode fazer o que quiser, mas não me agrada que vigie minha vida particular. – ela disse, interrompendo a discussão dissimulada dos dois – Não vou aceitar que faça relatórios desse porte.

— As intimidades da senhoria não me dizem respeito – disse em tom constrangido – então não vi nada.

— Eu agradeço. – ela respirou fundo – E sobre...

— Perdão, senhoria Yoh, mas sobre essas ‘aulas’ eu terei que contar. Seu pai pode não gostar de saber que a senhorita está ensinando esse garoto, mas gostaria menos ainda de não saber. – ele suspirou; parecia estar cansado – Senhoria, se isso não for se repetir, talvez eu possa...

— Quer que eu minta, Yuki?

— Não, não, só se fosse verdade. – se impulsionou sobre o galho e saiu saltando pela copa das árvores até sumir de vista.

— Um dia ainda mato esse intrometido...

— Concentre-se, Maru. – ela riu – Acerte a mira antes de acertar as contas.

— Se é preciso...

 

***

Inuyasha resmungou alguma coisa incompreensível enquanto pensava num meio de recuperar a espada; estava difícil acompanhar os movimentos do irmão. Mover-se rápido também não era fácil. Os músculos pesados por conta dos lacres se recusavam a lhe obedecer em tempo e os sentidos estavam começando a falhar... a audição indicava sons estranhos que nunca ouvira antes e provavelmente não deviam ser reais, a visão turva, tato e olfato misturados numa sinestesia entorpecente. Ele derrapou sobre o galho e perdeu o equilíbrio.

— Você é patético, Inuyasha. Continua lerdo como sempre.

— GAH!

Não soube dizer se a questão de mal se agüentar em pé ali foi sorte; o fato é que, quando sentiu as forças se esgotarem e os pés ultrapassaram o galho, acabou por esquivar-se daquele último golpe, ganhando apenas um arranhão leve. Mas a sorte teve seu preço: sem tempo de pensar em mais nada, o hanyou desmaiou enquanto afundava na névoa verde abaixo.

...

 

[“Lerdo como sempre”?]

Yoh fixou bem o olhar no duelo à frente. A menina ao seu lado continuava sentada, balançando as pernas como que para espantar o tédio.

— Aino.

— Aqui!

— Libere os selos dele.

— Nya, tá bem!

Se o garoto já conseguia manter a agilidade de antes mesmo com aquelas restrições, era o suficiente. Foi aprovado naquela parte do treinamento.

...

 

Inuyasha levantou as pálpebras devagar e sentou-se, esperando a vista entrar em foco. Considerando que a nuca ainda doía por ter caído de cabeça no chão, perdera a consciência por um ou dois minutos, no máximo. Tampou o nariz com a manga do haori. A terra coberta de grama podre impregnara-se nele com um visco amarronzado e repulsivo. Agora sim a expressão “hanyou sujo” faria algum sentido.

— Maldição...

Não tinha energia o bastante para levantar. Mas... Estranho, os olhos nem estavam ardendo. Piscou algumas vezes, abaixou o braço devagar e se atreveu a respirar fundo. Nada. Nem mesmo um acesso de tosse. De repente, ele teve uma tremenda vontade de rir.

— Haha! Parece que ter passado mal a tarde toda vai valer a pena!

Nya, só vai valer mesmo se não acabar morto.

Levou um susto ao ouvir a voz abafada de Aino. A menina estava bem ao lado dele, usando uma máscara parecida com aquelas de cirurgião e, o mais surpreendente, com uma venda nos olhos (o motivo ele demorou a entender: se ficasse com a vista exposta àquela névoa venenosa, ela iria acabar cega).

— Estica os braços. – repetiu.

— Pra quê?

— Nya, só estica e pronto! Eu tenho que sair daqui logo.

Inuyasha obedeceu, e ela arrancou os braceletes azuis dos pulsos do hanyou.

— Ai! – doeu.

— Nya, dramalhão. – Aino resmungou e saiu correndo, como se pudesse enxergar mesmo estando de olhos vendados.

Ele massageou os pulsos e ficou de pé quase num pulo. Livrando-se daquelas coisas incômodas, seu corpo agora parecia leve como uma pena e um fluxo intenso de energia corria por suas veias. Sentiu que se quisesse seria capaz de dar um salto alto o bastante para sair do planeta. Sensação de poder, de poder mais do que podia antes. Adorou aquilo.

[Hahe, agora estamos falando a minha língua!]

 

— Onde está, Inuyasha? Apareça e lute. – Sesshoumaru fitou a nuvem esverdeada que ele próprio produzira – Ou será que já está morto?

— FEH! ISSO NÃO FUNCIONA MAIS, IDIOTA!!

Uma chuva de lâminas vinda de baixo. Mira inexata, fáceis de desviar. Mas não tinham a mesma cor dourada de sempre. Eram lâminas brancas. Uma passou a uns três centímetros de seu rosto, e mesmo assim lhe fez um corte. Dentre todas as batalhas que já enfrentara, só havia visto aquele tipo de lâmina uma vez, [Hissori?... maldito...] vindas das mãos de alguém mais odiado que o próprio irmão caçula.

Calculando a área provável de onde vieram aquelas Garras Retalhadoras, mergulhou veloz na nuvem abaixo.

[Nya! Delatou sua posição, inu-brro retardado!] Aino concluiu, dando um tapa na própria testa. Já estava num morrinho distante e sem a venda e, enquanto fitava de longe o hanyou (por trás da névoa verde) lançando golpes a esmo, começou a listar mentalmente todos os insultos que podia dirigir a ele.

Inuyasha emitiu um “Ghhh” ao ser agarrado pelo pescoço. Foi muito fácil achá-lo; em meio a um cenário pintado numa monocromia esverdeada, o meio-youkai era um gritante alvo vermelho que agora esperneava suspenso a meio metro do chão.

— Alguma última palavra?

— Você... vai... ver...!!

— Péssima escolha. – firmou melhor os dedos, fazendo o irmão gemer com o aperto na traquéia; mas mesmo liberando mais veneno, não apareceu nem mesmo uma mísera queimadura – ... [Como?... Não está derretendo...]

— Feh! Entendeu *ugh* agora, seu maldito?! – abriu um sorrisinho amarelo – Essa fumacinha verde não funciona mais em mim!

— Hunf.

Sesshoumaru curvou-se e, erguendo mais o braço para ganhar impulso, prensou-o contra o chão. [GAAHH!!] Grito de Inuyasha ao ter o crânio comprimido contra as pedras e o solo podre abaixo. Se ácido não bastava, iria usar um método mais primitivo.

Isso funciona?

Inuyasha não respondeu, estava ocupado demais sentindo dor. Mais um grama de força e teria quebrado a coluna. Assim que sentiu a mão libertar seu pescoço findando aquela pressão estrangulante, tentou se sentar e respirar melhor, mas não teve tempo para isso. Levou um chute no estômago que o arremessou pelo ar até chocar-se contra um tronco de árvore seco. Escorregou sobre o caule da planta até cair de joelhos no chão. Alguma coisa lhe dizia que acabara de quebrar uma costela – e essa ‘coisa’ era uma farpa afiada e invisível perfurando-lhe o pulmão. De reflexo, pôs as mãos no tórax, como se isso adiantasse.

— Seu... Desgraçado... AGH! – conseguiu exclamar ao ser posto de pé à força, dessa vez agarrado pela franja.

*SOC*

Foi solto, apenas para ser acertado na cara antes mesmo que a gravidade o puxasse para baixo. Tombou para o lado, na direção de onde veio o próximo soco. E mais outro e mais outro e mais outros tantos abrindo uma seqüência que era impossível contabilizar.

...

— Nya, isso é mal... – resmungou para si mesma, e o viu ser arremessado novamente contra outra árvore – Ui, essa doeu até em mim.

Aino virou-se e desceu a pequena colina (pelo lado oposto ao que subira). A escuridão da noite lentamente era vencida por pequenos rasgos róseos que se estendiam no céu, anunciando a manhã próxima, e um vento frio vinha do norte e se espalhava, arrastando o ar venenoso para longe. Assim, a menina pôde enfim atravessar o campo aberto de volta ao pé da árvore onde Yoh estava.

E então?

— Nya, o inu-burro virou saco de pancadas – fitou a moça no galho acima e suspirou; devia ter trazido novidades, mas a desgraça do hanyou podia ser vista dali mesmo – se isso continuar ele morre de tanto apanhar.

— E Karen?

— Nya, deixei ela na Kirara antes de vir; deve chegar com os outros daqui a pouco.

Ao término dessa frase, Yoh saltou do galho e se dirigiu a onde estava Inuyasha.

— Srta. Yoh, não vai esperar a aurora?... Srta. Yoh! Srta. Yoh!!!

Aino ainda gritou algumas vezes enquanto Yoh ganhava distância, mas foi ignorada.

 

— Igh-*pract*-AAAAAII!!!!

Aquela era a terceira vez que fôra arremessado contra uma planta. Era um carvalho velho e seco, e algumas farpas ficaram presas nele, mas com tantas outras sensações mais dolorosas Inuyasha praticamente não as sentiu. *cof*cof-cof-cof* Tossiu, cuspindo algumas gotas de sangue. Mas por algum motivo, não conseguia parar de sorrir. Havia mais sangue pingando de seus dedos, e esse sangue não era o dele. [Feh! Acertei...] Mas isso não queria dizer que fizera muito estrago.

Sesshoumaru passou a mão pela face, limpando o excesso de líquido rubro. Também havia um corte raso na base do antebraço, sem muita importância. Ah, mas aquele hanyou ia pagar caro por arranhar seu rosto...

Inuyasha fitou as faíscas que preenchiam o ar. O meio-irmão se aproximara sem pressa empunhando a Toukijin, e a arma brilhava, como sempre acontecia quando estava prestes a soltar aquela rajada de pressão que chamava de Souryuuha. [Ghhhn...] O hanyou gemeu, tentando sair da posição em que permanecia semi-sentado. Uma contração estranha. E dor, muita dor. Estava todo quebrado, não ia conseguir se desviar.

— Merda... – murmurou.

Que porcaria. Ia mesmo morrer daquele jeito?

Fique atrás.

— Que?

*SDRASH*

*Fiuuuuussshh*

Primeiro, o som do impacto pesado. Depois, o vento ruidoso e a terra erguida sendo repelidos numa onda de choque. Por último, o silêncio... Inuyasha ergueu o rosto, surpreso por estar vivo, por não ter sido atingido e mais ainda pelo cenário que os olhos captavam:

Alguém interrompera o percurso do ataque, simplesmente pondo a espada na frente. O golpe bloqueado se bifurcara para as laterais, formando um Y. E a pessoa de pé na frente dele...

— FICOU DOIDA? SE FICAR AQUI NESSE ESTADO VOCÊ VAI... – cortou a frase ao ver os olhos da moça, o tom escarlate como o arrebol – Feh! Por que demorou tanto?

— Cale a boca. – bateu na cabeça dele de leve com a bainha da Tentetsu.

— Itai! – ainda doeu – Por que você fez isso?!

Yoh ignorou a pergunta – achou que ele já havia sido socado o bastante por um dia, embora talvez ele preferisse ter levando o croqui de sempre – e ao invés de responder, limitou-se a balançar Tentetsu levemente, espantando a fumacinha transparente que provinha da lâmina (como a do cano de uma pistola após o tiro).

Você é pior do que esperava, Inuyasha. Se escondendo atrás de uma fêmea.

— É um desafio? – ela retrucou no mesmo tom, antes que Inuyasha tivesse chance de abrir a boca.

 

Miroku parou de correr e se escorou numa árvore morta (onde Aino e Inuyasha estavam encostados), tentando limpar o suor que escorria no rosto. O amigo estava sentado com os braços apoiados nos joelhos e a cabeça baixa; a menina parecia distraída observando o céu.

— Nya, vocês demoraram, hein...

Sango saltou da Kirara e ajudou Karen a descer. Kagome parou a bicicleta. A vegetação corroída e a terra ressecada eram lentamente tingidas pelo arrebol suave e rosado. Algo estranho no cenário: ainda havia estrelas no céu. Duas estrelas cadentes, ao que parecia, que riscavam o ar sem sumir, vez ou outra chocando-se e repelindo-se numa corrida aérea.

— Feh! Aquela maldita exibida... – resmungou.

— O que é aquilo?!

Kagome exclamou ao ver melhor uma das ‘coisas’; era luminoso, mas muito grande para ser uma estrela cadente. Devia ter o tamanho de uma pessoa.

— Nya, senta e assiste que você descobre. Mas cuidado com as fitas coloridas.

— Que fitas coloridas?

*SDRAASSSHHH*

Um par de linhas de luz desprendeu-se do alto. Os alvos eram de uma a outra ‘estrela’, mas se chocaram no caminho e pela distorção de curso rasparam o chão, semi-entrelaçadas. Uma anil. Uma verde. Cada uma com a grossura de uma corda de pular e um comprimento impossível de medir, por um instante sumiram, para serem refeitas mais acima. A parte do solo atingida desintegrara-se se tornando uma vala aberta.

— Essas fitas coloridas.

— Aaaahh...

— Aaaahh!!!

Shippou gritou só de olhar bem para a cara dele (e apontou o dedo como se estivesse mostrando uma atração turística). O hanyou estava com um olho roxo e o rosto inchado (um olhar mais minucioso deixaria perceber que ele perdera pelo menos dois dentes), isso sem falar dos hematomas espalhados pelo corpo todo.

— Inuyasha, o que houve com você?!

— Feh! Não ta tão ruim assim... – ele fez um bico, fitando a face horrorizada da colegial.

— Nya, o que parece? Claro que o inu-baka levou uma surra...

— Não levei nada! – careta que não convence ninguém – ...Tá, levei, mas não foi tanto. – murmurou emburrado.

— A srta. Yoh precisou trocar de lugar com ele, não foi? – Karen concluiu, observando a corrida de luzes acima.

— Aham... mas acho que ela só fez isso porque quis. – Aino suspirou – Teria sido mais fácil quebrar as pernas do inu-baka pra ele parar de correr pra cima do perigo e carregar ele pra qualquer lugar.

— ...

Segundo de silêncio pela frase chocantemente insensível da menina. Inuyasha a olhou como se estivesse vendo o próprio irmão no lugar dela.

— ...mas acho que o Pompom lá em cima foi irritante demais pra deixar passar. Nya, se bem que – as fitas desceram de novo, e dessa vez passaram perigosamente perto dali – já faz bastante tempo que eu não via a srta. Yoh lutar pra valer desse jeito. Aquele cara é tão forte assim?

— Eeeeeehh? Mas a srta.Yoh não vai se machucar, né, Aino? Quando ela cansar de lutar vai descer aqui e bater na cabeça do senhor Inuyasha como sempre, não vai? – Karen agarrou o braço de Aino, apavorada de preocupação.

— Ninguém vai me bater! – Inuyasha foi ignorado.

— Nya, Karen! Ela não ta só brincando lá em cima, é um duelo! DUELO, entendeu?! – bradou, mas controlou-se ao ver o rostinho choroso da outra – Nya, mas pode ficar tranqüila, a srta. Yoh não vai perder, ela também é muito forte, você sabe.

— O ruim é que não dá pra ver quem está ganhando. – Sango ergueu o olhar; aqueles dois eram tão rápidos que não podia acompanhar, e tudo o que se via eram riscos de luz no alto – Não sei nem quem é quem, parecem até...

— ...estrelas cadentes, é mesmo. Nya, acho que vou fazer um pedido... ‘desejo que essa luta acabe logo e a gente possa voltar pra a casa do Natsuhi’.

— Mas Aino, se você diz o pedido em voz alta ele não se realiza...

— Nya, ops...

 

—--20 minutos depois---

 

*PEIM*

*peim*telem-tim*

*tleim*

Nem mesmo brilho, agora só o que chegava até ali era o som metálico das espadas.

[Mas que diabos está acontecendo lá?! Maldição!]

Inuyasha mantinha os olhos vidrados na paisagem à sua frente, e se se desse o trabalho de olhar para o lado, veria que todos os demais faziam o mesmo. Houvera há poucos segundos um choque visivelmente mais potente entre os fachos de luz, e ambos desceram rumo ao solo, quase na forma de um só, como um míssil que fez o chão tremer. Após isso a luz deles proveniente desaparecera e, devido à longa distância a que se encontrava deles e a presença constante dos troncos de árvores ressequidas, ele não conseguia ver nada do que estava havendo no momento. Uma gota de suor lhe escorreu pela testa. Por um momento pensou que não faria diferença ir lá ou não; a tensão o estava quase matando de qualquer forma.

Karen não conseguiu mais esperar. Sendo impedida por Aino de sair correndo a pé, as duas saíram montadas na Kirara.

 

Sesshoumaru concentrou a frieza que tinha disponível tentando pensar numa solução. Seu problema era sério: sequer tinha tempo de defender um ataque e o próximo já vinha logo em seguida, e tinha que utilizar cada grama de velocidade que o corpo permitia para escapar dos ataques da Tentetsu. Toukijin continuava vibrando em sua mão, como se estivesse revoltada por receber todo aquele impacto. Aquela mulher não tinha tanta força física quanto ele, mas essa desvantagem era compensada com mérito na agilidade; os golpes eram consecutivos e perigosamente certeiros. Estavam perto demais um do outro para que ele pudesse usar o chicote de ácido, e uma simples rajada venenosa não adiantaria contra ela. Tinha de pensar em alguma coisa. Não poderia apenas se defender para sempre. Mas também não iria passar pela humilhação de ser derrotado por uma mulher, ainda por cima uma com cheiro de hanyou.

O excesso de proximidade também prejudicava a disponibilidade dos golpes de Yoh, mas ela sabia que se simplesmente se afastasse ele perceberia a manobra. Por isso continuava utilizando a Tentetsu do modo mais notório que conhecia, uma luta de espadachins, até que seu adversário por alguma razão se visse forçado a recuar pelo menos alguns metros. Já conhecia a tática de luta que ele estava usando, a melhor defesa era um bom ataque, e naquele momento ela não dava nenhuma brecha que permitisse a ele atacar; por hora, só lhe restava manter o ritmo e procurar causar o maior dano possível.

Srta. Yoh, consegue me ouvír? Não ta machucada? Srta. Yoh!

[Karen?...]

— Não se distraia.

*pleim*tlank*

*track*

— ...Ugh!

Foi muito rápido. No instante em que pensou ter ouvido a voz de Karen e olhou para o lado, sentiu a espada grossa descer em seu ombro. Um esguicho de sangue. Yoh dobrou-se sobre si mesma e reapanhou a Tentetsu (que soltara sem querer) com a outra mão, e por questão de poucos centímetros conseguiu aparar o próximo golpe antes que atingisse sua cabeça.

— Seu adversário sou eu. Não tem que olhar pra mais nada.

[Droga...]

Pra quê dizer aquilo? Não tinha graça mata-la se fosse por um deslize?

Uma lâmina raspando na outra, e a fricção fazia o metal estalar. O sangue não parava de escorrer. Tentou mover os dedos; nada: a mão direita estava sem sinal de vida, o braço inerte ao lado do corpo. Não era uma fratura tão grave, mas precisaria de um pouco de tempo até estar curada por completo. Cada nova tentativa de movimento lhe provocava pontadas doloridas nas articulações e contrações involuntárias nos músculos. Mas não importava o desconforto, precisava erguê-lo de modo a auxiliar o outro braço, que começava a ceder à força imposta sobre a espada. Não queria, simplesmente precisava. Precisava agora. Precisava mais que tudo.

*PEIN*

A lâmina de Tentetsu escorregou sob a da Toukijin, e Yoh sentiu a dor lancinante percorrer seu corpo desde a ponta dos dedos como uma descarga elétrica. Mais sangue tingindo o chão de vermelho.

Nya!! Senhorita Yoh!!!!— Aino assistiu a cena junto à Karen, e sua voz ecoou do alto num grito rouco.


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