Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 6
Capítulo 06 - Algo Errado




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Quando Henry chegou na sua rua, logo ficou assustado ao ver as luzes vermelhas e azuis da viatura da polícia parada em frente à sua casa.

Ele estacionou o carro em frente à garagem e correu até Max, que estava parado na calçada, olhando para a casa.

— O que houve? — perguntou Henry, assustado.

Max o abraçou por alguns segundos.

— Ainda bem que você chegou — disse ele.

— Max, o que aconteceu?

— Tinha alguém na casa.

— Mas não era o...

— Não — ele interrompeu. — Não era o garoto, Henry, era uma mulher, e ela estava com um vestido ensanguentado, deixou pegadas pela casa.

Neste momento, um oficial saiu pela porta da frente. Deveria ter pouco mais de um metro e setenta e tinha um bigode fino.

— A casa está limpa — disse ele. — Nós vamos vasculhar o perímetro em busca da invasora.

— Ela estava sangrando — falou Max. — Não deve ir muito longe se está machucada... Deixou pegada por toda a casa.

— Sim, as pegadas terminam no sótão, o que é estranho.

— Então ela ainda pode estar na casa?

— Não, a casa está limpa, procuramos em cada centímetro.

— As pegadas estão lá? — perguntou Henry, surpreso.

— Eu não estou ficando louco, se é que você pensa — falou Max.

— Eu não acredito — disse ele, boquiaberto.

— Então vá ver.

— E você estava sozinho... Quem sabe o que poderia ter acontecido?

— Ela não me atacou e também não levou nada, eu não entendo.

— Talvez ela quisesse ajuda — disse Henry. — Você disse que ela estava sangrando, ela pode ter sido vítima de tentativa de homicídio e estava procurando ajuda.

Ele olhou ao redor. Quase todos os moradores estavam observando. Virginia estava na porta, vestindo um vestido longo que deveria usar como camisola. Os braços cruzados e os olhos curiosos na casa de Henry e Max.

Alguns saíram nas calçadas, outros olhavam pela janela mesmo. Todos os olhos da vizinhança no casal.

Max viu Pixie correndo até eles, preocupada.

— Oh meu deus, o que houve? — ela perguntou, assustada.

— Havia alguém na casa — respondeu Henry.

— Era o filho da doida de pedra?

— Não, era uma mulher — disse Max.

— Quem?

— Eu não sei, ela sumiu, simplesmente desapareceu... Tenho medo de que ela ainda possa estar lá dentro.

— Os policiais daqui são um bando de comedores de rosquinhas, mas não são incompetentes. Não se preocupem, eles vão dar um jeito.

— Eu espero — falou Max, abraçando Henry pela cintura.

***

Um pouco mais tarde, Henry e Max estavam na cama, em silêncio. Henry estava sentado, mexendo em seu celular, enquanto Max jazia deitado e virado de costas, com os olhos fixos na parede e pensando mil coisas.

— Max? — perguntou ele, colocando o celular no criado-mudo.

— Oi — Max respondeu, com uma voz baixa.

— Você está bem?

Ele demorou um pouco para responder.

— Por que a pergunta?

— Me pareceu certo perguntar isso.

Ele suspirou e se virou, olhando Henry nos olhos.

— Eu estou apavorado — respondeu.

Henry passou as mãos pelos cabelos dele e sorriu de leve, como se aquilo fosse acalmá-lo. Na verdade, aquilo realmente acalmava.

— Não fique — disse ele.

— Você não estava aqui, Henry, você não viu o que eu vi.

— Eu queria estar, mas...

— Não, não foi o que eu quis dizer.

Ele ficou em silêncio.

— Aquilo não parecia real — disse ele. — Foi como um pesadelo ou uma alucinação, mas alucinações não deixam pegadas de sangue pela casa... Você viu o sangue!

— Eu não consigo entender o que essa mulher fazia aqui.

— A pergunta não é o que ela fazia aqui, mas sim o que ela fez antes? Por que desapareceu? Por que não disse nada? Eu não consigo parar de pensar sobre isso. E para me deixar ainda mais paranoico, a polícia não teve nem sinais dela. Como ninguém viu essa mulher? Pelo amor de Deus, ela estava sangrando!

— Vai ver era uma criminosa, não queria chamar atenção... Isso explica por que ela invadiu nossa casa.

— Talvez.

— Você precisa se acalmar.

— Provavelmente sim, não fazer nada está me deixando paranoico.

— Ninguém da redação entrou em contato ainda?

— Não.

— Eles vão ligar em breve, relaxe um pouco.

***

Por volta das oito horas do domingo, a campainha tocou. Henry, que estava sentado no sofá, assistindo à reprise de uma partida de beisebol, levantou-se e foi atender. Não olhou pelo olho mágico, abriu a porta e deparou-se com uma bela mulher negra. Possuía cabelos pretos e curtos e usava um vestido preto justo, combinando com um sapato de saltos enormes. Tinha por volta dos 50 anos, mas era uma mulher muito atraente.

Ela tirou os óculos escuros e olhou ao redor, como se analisasse a casa.

— Pois não — disse Henry.

— Sotaque britânico — falou ela, sorrindo levemente. — Sexy.

Ele sorriu de volta, ainda esperando saber o que ela queria. A mulher percebeu o estranhamente impresso no rosto dele e pareceu ficar surpresa.

— Você não me reconhece? — ela perguntou.

— Eu deveria? — disse ele.

— Norma Swanson, a estrela de cinema, eu moro no fim da rua.

Definitivamente, ele não a conhecia.

— Não faz mal, você provavelmente era uma criança inocente nos meus tempos de glória, agora diga-me, docinho, Max Walker está por aqui?

— Eu posso perguntar do que se trata?

— Eu preciso de um favor, ele é escritor, não é?

— Sim.

— Eu preciso que ele analise um roteiro.

— Um roteiro?

— Sim, um roteiro.

— Mas ele é escritor.

— Dá no mesmo, querido.

— Se você diz... Eu vou chamá-lo, por favor, entre.

Ela entrou e ficou parada em pé, olhando ao redor, dissecando cada objeto da casa com uma curiosidade no mínimo curiosa.

— Max — Henry chamou do pé da escada.

Ele desceu segundos depois, surpreendendo-se quando viu a mulher.

— Ah, aí está você — disse ela, abrindo a bolsa e tirando um anexo de papeis. — Eu estava pensando se você poderia revisar esse roteiro para mim, você poderia?

— Eu não sei se posso fazer isso, na verdade, eu não sei se sei — ele respondeu.

Ela fez uma cara de decepção. Depois começou a chorar e se sentou no sofá.

— Eu já estou acostumada com isso — disse ela. — Ninguém quer ajudar uma estrela decadente!

Os dois se entreolharam com olhares de surpresa e estranheza.

Max se sentou ao lado dela, sem saber o que dizer.

— Hm... Eu... Eu acho que posso tentar.

— Não, não, esqueça. — Ela tirou um lenço pequeno da bolsa e enxugou as lágrimas. — Posso ver seu sótão? — perguntou, logo depois.

— Como é? — disse Henry, estranhando a pergunta.

— Seu sótão, eu poderia vê-lo? — Ela não estava mais chorando, agora parecia curiosa, muito curiosa, como se já soubesse o que iria encontrar.

— Por que você iria querer ver nosso sótão?

Ela o encarou por alguns segundos, em silêncio, chegando a assustá-lo.

— Nada — ela falou, por fim, levantando-se. — Eu preciso ir.

Norma caminhou até a porta, abriu e foi embora, sem falar nada.

— O que diabos acabou de acontecer aqui? — disse Henry.

Max caminhou até a janela e olhou discretamente. A mulher estava parada na calçada, olhando para cima, provavelmente encarando a janela do sótão. Ao perceber que estava sendo observada, Norma o encarou com um pouco de raiva e começou a caminhar.

— Tem algo errado com essa vizinhança, Henry — disse ele, correndo os olhos pelas casas padronizadas e bonitinhas, com jardins bem cuidados e caixas de correio na frente. — Muito errado.


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