Suburbia escrita por Eduardo Mauricio
Quando Henry chegou na sua rua, logo ficou assustado ao ver as luzes vermelhas e azuis da viatura da polícia parada em frente à sua casa.
Ele estacionou o carro em frente à garagem e correu até Max, que estava parado na calçada, olhando para a casa.
— O que houve? — perguntou Henry, assustado.
Max o abraçou por alguns segundos.
— Ainda bem que você chegou — disse ele.
— Max, o que aconteceu?
— Tinha alguém na casa.
— Mas não era o...
— Não — ele interrompeu. — Não era o garoto, Henry, era uma mulher, e ela estava com um vestido ensanguentado, deixou pegadas pela casa.
Neste momento, um oficial saiu pela porta da frente. Deveria ter pouco mais de um metro e setenta e tinha um bigode fino.
— A casa está limpa — disse ele. — Nós vamos vasculhar o perímetro em busca da invasora.
— Ela estava sangrando — falou Max. — Não deve ir muito longe se está machucada... Deixou pegada por toda a casa.
— Sim, as pegadas terminam no sótão, o que é estranho.
— Então ela ainda pode estar na casa?
— Não, a casa está limpa, procuramos em cada centímetro.
— As pegadas estão lá? — perguntou Henry, surpreso.
— Eu não estou ficando louco, se é que você pensa — falou Max.
— Eu não acredito — disse ele, boquiaberto.
— Então vá ver.
— E você estava sozinho... Quem sabe o que poderia ter acontecido?
— Ela não me atacou e também não levou nada, eu não entendo.
— Talvez ela quisesse ajuda — disse Henry. — Você disse que ela estava sangrando, ela pode ter sido vítima de tentativa de homicídio e estava procurando ajuda.
Ele olhou ao redor. Quase todos os moradores estavam observando. Virginia estava na porta, vestindo um vestido longo que deveria usar como camisola. Os braços cruzados e os olhos curiosos na casa de Henry e Max.
Alguns saíram nas calçadas, outros olhavam pela janela mesmo. Todos os olhos da vizinhança no casal.
Max viu Pixie correndo até eles, preocupada.
— Oh meu deus, o que houve? — ela perguntou, assustada.
— Havia alguém na casa — respondeu Henry.
— Era o filho da doida de pedra?
— Não, era uma mulher — disse Max.
— Quem?
— Eu não sei, ela sumiu, simplesmente desapareceu... Tenho medo de que ela ainda possa estar lá dentro.
— Os policiais daqui são um bando de comedores de rosquinhas, mas não são incompetentes. Não se preocupem, eles vão dar um jeito.
— Eu espero — falou Max, abraçando Henry pela cintura.
***
Um pouco mais tarde, Henry e Max estavam na cama, em silêncio. Henry estava sentado, mexendo em seu celular, enquanto Max jazia deitado e virado de costas, com os olhos fixos na parede e pensando mil coisas.
— Max? — perguntou ele, colocando o celular no criado-mudo.
— Oi — Max respondeu, com uma voz baixa.
— Você está bem?
Ele demorou um pouco para responder.
— Por que a pergunta?
— Me pareceu certo perguntar isso.
Ele suspirou e se virou, olhando Henry nos olhos.
— Eu estou apavorado — respondeu.
Henry passou as mãos pelos cabelos dele e sorriu de leve, como se aquilo fosse acalmá-lo. Na verdade, aquilo realmente acalmava.
— Não fique — disse ele.
— Você não estava aqui, Henry, você não viu o que eu vi.
— Eu queria estar, mas...
— Não, não foi o que eu quis dizer.
Ele ficou em silêncio.
— Aquilo não parecia real — disse ele. — Foi como um pesadelo ou uma alucinação, mas alucinações não deixam pegadas de sangue pela casa... Você viu o sangue!
— Eu não consigo entender o que essa mulher fazia aqui.
— A pergunta não é o que ela fazia aqui, mas sim o que ela fez antes? Por que desapareceu? Por que não disse nada? Eu não consigo parar de pensar sobre isso. E para me deixar ainda mais paranoico, a polícia não teve nem sinais dela. Como ninguém viu essa mulher? Pelo amor de Deus, ela estava sangrando!
— Vai ver era uma criminosa, não queria chamar atenção... Isso explica por que ela invadiu nossa casa.
— Talvez.
— Você precisa se acalmar.
— Provavelmente sim, não fazer nada está me deixando paranoico.
— Ninguém da redação entrou em contato ainda?
— Não.
— Eles vão ligar em breve, relaxe um pouco.
***
Por volta das oito horas do domingo, a campainha tocou. Henry, que estava sentado no sofá, assistindo à reprise de uma partida de beisebol, levantou-se e foi atender. Não olhou pelo olho mágico, abriu a porta e deparou-se com uma bela mulher negra. Possuía cabelos pretos e curtos e usava um vestido preto justo, combinando com um sapato de saltos enormes. Tinha por volta dos 50 anos, mas era uma mulher muito atraente.
Ela tirou os óculos escuros e olhou ao redor, como se analisasse a casa.
— Pois não — disse Henry.
— Sotaque britânico — falou ela, sorrindo levemente. — Sexy.
Ele sorriu de volta, ainda esperando saber o que ela queria. A mulher percebeu o estranhamente impresso no rosto dele e pareceu ficar surpresa.
— Você não me reconhece? — ela perguntou.
— Eu deveria? — disse ele.
— Norma Swanson, a estrela de cinema, eu moro no fim da rua.
Definitivamente, ele não a conhecia.
— Não faz mal, você provavelmente era uma criança inocente nos meus tempos de glória, agora diga-me, docinho, Max Walker está por aqui?
— Eu posso perguntar do que se trata?
— Eu preciso de um favor, ele é escritor, não é?
— Sim.
— Eu preciso que ele analise um roteiro.
— Um roteiro?
— Sim, um roteiro.
— Mas ele é escritor.
— Dá no mesmo, querido.
— Se você diz... Eu vou chamá-lo, por favor, entre.
Ela entrou e ficou parada em pé, olhando ao redor, dissecando cada objeto da casa com uma curiosidade no mínimo curiosa.
— Max — Henry chamou do pé da escada.
Ele desceu segundos depois, surpreendendo-se quando viu a mulher.
— Ah, aí está você — disse ela, abrindo a bolsa e tirando um anexo de papeis. — Eu estava pensando se você poderia revisar esse roteiro para mim, você poderia?
— Eu não sei se posso fazer isso, na verdade, eu não sei se sei — ele respondeu.
Ela fez uma cara de decepção. Depois começou a chorar e se sentou no sofá.
— Eu já estou acostumada com isso — disse ela. — Ninguém quer ajudar uma estrela decadente!
Os dois se entreolharam com olhares de surpresa e estranheza.
Max se sentou ao lado dela, sem saber o que dizer.
— Hm... Eu... Eu acho que posso tentar.
— Não, não, esqueça. — Ela tirou um lenço pequeno da bolsa e enxugou as lágrimas. — Posso ver seu sótão? — perguntou, logo depois.
— Como é? — disse Henry, estranhando a pergunta.
— Seu sótão, eu poderia vê-lo? — Ela não estava mais chorando, agora parecia curiosa, muito curiosa, como se já soubesse o que iria encontrar.
— Por que você iria querer ver nosso sótão?
Ela o encarou por alguns segundos, em silêncio, chegando a assustá-lo.
— Nada — ela falou, por fim, levantando-se. — Eu preciso ir.
Norma caminhou até a porta, abriu e foi embora, sem falar nada.
— O que diabos acabou de acontecer aqui? — disse Henry.
Max caminhou até a janela e olhou discretamente. A mulher estava parada na calçada, olhando para cima, provavelmente encarando a janela do sótão. Ao perceber que estava sendo observada, Norma o encarou com um pouco de raiva e começou a caminhar.
— Tem algo errado com essa vizinhança, Henry — disse ele, correndo os olhos pelas casas padronizadas e bonitinhas, com jardins bem cuidados e caixas de correio na frente. — Muito errado.
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