Suburbia escrita por Eduardo Mauricio
A manhã estava ensolarada e a rua estava cheia com várias mesas e coisas velhas em cima. Não havia muita gente, mas quase todos os moradores estavam ali.
Max e Henry estavam na calçada, observando.
Virginia os viu e veio ao encontro dos dois.
— Ah, que bom que vieram — disse ela. — Quer dizer, a casa de vocês é bem aqui, mas... Enfim, vocês entenderam... Vocês não têm nada que querem se livrar?
— Na verdade, acho que não — respondeu Max, olhando para Henry.
— Eu tenho um relógio horrível, mas infelizmente é herança de família, então eu estou preso com aquela coisa horrorosa.
Virginia riu.
— Hoje é um ótimo dia para conhecer o resto dos vizinhos, se enturmar de vez — falou ela.
— Oh, sim, definitivamente — disse Max.
— Bem, eu vou indo, fiquem à vontade.
— Pode deixar.
Ela voltou para sua casa, cuja porta estava aberta. Havia um garoto em uma cadeira de rodas em frente à mesa. Era um jovem bonito, deveria ter uns 18 anos. Provavelmente era o filho dela, Hoyt.
Max sorriu ao ver Pixie se aproximando e acenou.
— Oi, gente — ela disse, sorridente, como sempre. — Ah, acho que não nos conhecemos. — Ela estendeu a mão para Henry. — Eu sou Pixie.
— Henry — falou ele, apertando a mão dela.
— Você não vai participar disso? — perguntou Max.
— Não, para mim isso é patético, mas gosto de ficar olhando.
Henry cutucou Max e apontou para uma mulher ruiva a alguns metros dali. Usava um vestido branco até a altura das canelas e seus cabelos estavam um pouco desgrenhados. Ela parecia doente, muito pálida. E nunca dava um sorriso.
— É ela? — perguntou Max e ele assentiu com a cabeça.
— O que tem ela? — disse Pixie, curiosa.
— Ela não me pareceu a pessoa mais simpática daqui — respondeu Henry.
— Eu já esperava isso... Aquela é a sra. Shields, ela é uma velha chata e rabugenta... Ela vive trancada dentro de casa, mas às vezes sai para fofocar sobre as vidas dos outros moradores.
— Já não gosto dela — disse Max.
— Ninguém gosta... Quer dizer, só a invejosa da sra. Campbell, elas duas vivem de conversinhas para lá e para cá. Acho que nem o filho gosta dela. — Ela sorriu, observando a mulher.
— Ela tem filhos? — Max pareceu curioso.
— Só um — respondeu ela. — Noah, é um garotinho, ele me assusta às vezes, mas também, com uma mãe dessas, eu também seria estranho daquele jeito.
A porta da casa ao lado se abriu e um homem saiu de dentro. Quase um metro e noventa, corpo musculoso e rosto másculo. Usava uma camiseta regata branca e uma calça surrada. Ele sorriu ao ver Max, deixando-o nervoso.
— Bom dia — disse ele, para todos os três, mas olhou somente para Max.
Quando ele passou, Henry olhou para trás.
— Uau — disse ele, e Max lhe deu um tapinha no ombro.
— Pois é — falou Pixie, olhando de relance para trás. — Eu já tentei algumas coisas, mas acho que ele joga pro outro time.
— Isso pode ser um problema.
— Ei! — Max deu-lhe outro tapa no ombro.
— Calma, querido, tô brincando... Você é muito mais bonito, e eu tenho certeza que ele não sabe fazer tão bem aquilo com a...
— Henry!
— Tá, parei... Que bicho te mordeu?
— Nada — ele respondeu. — Só não achei graça.
— Desculpa, então. — Henry o abraçou.
— Vocês formam um belo casal — disse Pixie.
— Tá vendo? — falou ele.
Max arregalou os olhos e pareceu ficar assustado.
— O que houve? — perguntou Henry, acompanhando o trajeto do olhar dele. Era um garotinho, ao lado da senhora ruiva. Ele estava quieto, enquanto a mãe conversava com outra mulher do outro lado da mesa cheia de tralhas.
— Aquele é o garoto que eu vi — ele respondeu.
— O quê? Sério?
— Sim.
— Pera aí, que garoto?
— Aquele garoto entrou na nossa casa hoje, e também há algumas noites.
— Eu não me surpreendo — disse Pixie. — Aquele garoto é uma peste.
— Você nem sabe se foi ele, amor — falou Henry.
— É claro que foi, eu não sou louco.
— Você vai falar com a mãe dele? — perguntou Pixie.
— Eu preciso, né?
— Eu não iria conversar com aquela doida, é capaz de ela querer nos queimar em praça pública — disse Henry.
— Aquele garoto entrou na nossa casa, Henry!
— Ele já entrou na minha casa uma vez — falou Pixie. — Eu não sei como, mas quando eu acordei, ele estava na minha cozinha, comendo cereais... Tipo... O quê?! Acho que ele tem algum problema mental ou algo assim.
— Tá vendo? Eu vou lá falar com ela. — Max saiu andando.
— Max! — chamou Henry.
— Você não precisa vir.
Quando Evelyn o viu se aproximar, fez uma cara de mau humor ainda mais intensa que a habitual. O garoto começou a rir e saiu correndo para dentro de casa.
— Deseja alguma coisa? — perguntou ela, claramente incomodada em ter que falar com ele.
— Sim, eu desejo — respondeu ele. — O seu filho entrou na minha casa hoje.
Ela assentiu com a cabeça.
— E?
— Isso não é o suficiente?
— Você tem como provar que foi o seu filho?
— Como diabos eu vou provar?
— Eu não sei, mas você está acusando meu precioso anjinho de invadir a sua casa, isso parece um pouco sério para mim, não acha?
Max ficou em silêncio por alguns segundos, quase explodindo de raiva. A mulher colocou um pequeno sorriso irônico no rosto, esperando a resposta.
— Eu espero que isso não aconteça de novo... Ensine boas maneiras ao seu filho, senhora — ele falou, virando-se para ir embora.
— Pode deixar, sr. Walker, eu vou fazer isso.
Ele caminhou pela rua, furioso.
— Filha de uma puta — disse ele, passando por Henry e Pixie, em direção à sua casa. Os dois o seguiram.
— O que ela disse? — perguntou Pixie.
— Nada — ele respondeu.
— Você se irrita muito fácil, amor — disse Henry.
— Você quer que eu me irrite com você?
— Não.
— Então fique na porra do meu lado pelo menos uma vez.
Ele deu de ombros olhando para Pixie.
— TPM — disse ele, baixinho, fazendo ela rir discretamente.
***
No meio da noite, Max acordou com o som de alguém derrubando panelas na cozinha. Pegou o celular e olhou a hora. Duas e vinte da manhã. Logo pensou em Henry, mas quando se virou para ver, ele estava lá, todo enrolado e imóvel como uma pedra, como sempre.
— Henry — disse ele, cutucando-o. — Acho que tem alguém lá embaixo.
Ele não responde, estava dormindo como um bebê.
— Henry! — Max falou mais alto, cutucando mais forte.
Ao ouvir mais barulhos de panelas caindo, ele se levantou. Saiu do quarto e caminhou lentamente pelo corredor. Talvez fosse aquele maldito garoto de novo. Deveria ser.
Max desceu as escadas e foi até a cozinha, onde já podia ver a luz alaranjada da geladeira iluminando o cômodo.
Ele caminhou até lá e viu a silhueta. Não era um garoto, era um homem alto e forte. Henry.
Quando ele viu que havia sido pego, se assustou.
— Ai que susto — disse ele. — Desculpa por te acordar.
Ele viu que Max estava paralisada, com os olhos arregalados e a boca semiaberta.
— Max? — Henry caminhou até ele. — O que houve?
— Tem alguém no nosso quarto — ele respondeu, correndo para as escadas.
— O quê? — Henry foi atrás dele.
Quando os dois chegaram ao quarto, não havia nada ou ninguém. A cama estava vazia.
— Tinha alguém na cama — disse ele. — Eu achei que fosse você!
— Max, você está me assustando.
— Eu não tô brincando, juro.
— Seja o que for, não está mais aqui.
Ele suspirou. Henry não acreditava. Nem ele sabia se acreditava, na verdade.
— É melhor voltarmos a dormir — sugeriu Henry.
— Tudo bem. — Ele cedeu.
Max se deitou de um lado e Henry do outro, cada um virado para um lado. Max demorou para conseguir dormir.
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