Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 4
Capítulo 04 - A Feira




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A manhã estava ensolarada e a rua estava cheia com várias mesas e coisas velhas em cima. Não havia muita gente, mas quase todos os moradores estavam ali.

Max e Henry estavam na calçada, observando.

Virginia os viu e veio ao encontro dos dois.

— Ah, que bom que vieram — disse ela. — Quer dizer, a casa de vocês é bem aqui, mas... Enfim, vocês entenderam... Vocês não têm nada que querem se livrar?

— Na verdade, acho que não — respondeu Max, olhando para Henry.

— Eu tenho um relógio horrível, mas infelizmente é herança de família, então eu estou preso com aquela coisa horrorosa.

Virginia riu.

— Hoje é um ótimo dia para conhecer o resto dos vizinhos, se enturmar de vez — falou ela.

— Oh, sim, definitivamente — disse Max.

— Bem, eu vou indo, fiquem à vontade.

— Pode deixar.

Ela voltou para sua casa, cuja porta estava aberta. Havia um garoto em uma cadeira de rodas em frente à mesa. Era um jovem bonito, deveria ter uns 18 anos. Provavelmente era o filho dela, Hoyt.

Max sorriu ao ver Pixie se aproximando e acenou.

— Oi, gente — ela disse, sorridente, como sempre. — Ah, acho que não nos conhecemos. — Ela estendeu a mão para Henry. — Eu sou Pixie.

— Henry — falou ele, apertando a mão dela.

— Você não vai participar disso? — perguntou Max.

— Não, para mim isso é patético, mas gosto de ficar olhando.

Henry cutucou Max e apontou para uma mulher ruiva a alguns metros dali. Usava um vestido branco até a altura das canelas e seus cabelos estavam um pouco desgrenhados. Ela parecia doente, muito pálida. E nunca dava um sorriso.

— É ela? — perguntou Max e ele assentiu com a cabeça.

— O que tem ela? — disse Pixie, curiosa.

— Ela não me pareceu a pessoa mais simpática daqui — respondeu Henry.

— Eu já esperava isso... Aquela é a sra. Shields, ela é uma velha chata e rabugenta... Ela vive trancada dentro de casa, mas às vezes sai para fofocar sobre as vidas dos outros moradores.

— Já não gosto dela — disse Max.

— Ninguém gosta... Quer dizer, só a invejosa da sra. Campbell, elas duas vivem de conversinhas para lá e para cá. Acho que nem o filho gosta dela. — Ela sorriu, observando a mulher.

— Ela tem filhos? — Max pareceu curioso.

— Só um — respondeu ela. — Noah, é um garotinho, ele me assusta às vezes, mas também, com uma mãe dessas, eu também seria estranho daquele jeito.

A porta da casa ao lado se abriu e um homem saiu de dentro. Quase um metro e noventa, corpo musculoso e rosto másculo. Usava uma camiseta regata branca e uma calça surrada. Ele sorriu ao ver Max, deixando-o nervoso.

— Bom dia — disse ele, para todos os três, mas olhou somente para Max.

Quando ele passou, Henry olhou para trás.

— Uau — disse ele, e Max lhe deu um tapinha no ombro.

— Pois é — falou Pixie, olhando de relance para trás. — Eu já tentei algumas coisas, mas acho que ele joga pro outro time.

— Isso pode ser um problema.

— Ei! — Max deu-lhe outro tapa no ombro.

— Calma, querido, tô brincando... Você é muito mais bonito, e eu tenho certeza que ele não sabe fazer tão bem aquilo com a...

— Henry!

— Tá, parei... Que bicho te mordeu?

— Nada — ele respondeu. — Só não achei graça.

— Desculpa, então. — Henry o abraçou.

— Vocês formam um belo casal — disse Pixie.

— Tá vendo? — falou ele.

Max arregalou os olhos e pareceu ficar assustado.

— O que houve? — perguntou Henry, acompanhando o trajeto do olhar dele. Era um garotinho, ao lado da senhora ruiva. Ele estava quieto, enquanto a mãe conversava com outra mulher do outro lado da mesa cheia de tralhas.

— Aquele é o garoto que eu vi — ele respondeu.

— O quê? Sério?

— Sim.

Pera aí, que garoto?

— Aquele garoto entrou na nossa casa hoje, e também há algumas noites.

— Eu não me surpreendo — disse Pixie. — Aquele garoto é uma peste.

— Você nem sabe se foi ele, amor — falou Henry.

— É claro que foi, eu não sou louco.

— Você vai falar com a mãe dele? — perguntou Pixie.

— Eu preciso, né?

— Eu não iria conversar com aquela doida, é capaz de ela querer nos queimar em praça pública — disse Henry.

— Aquele garoto entrou na nossa casa, Henry!

— Ele já entrou na minha casa uma vez — falou Pixie. — Eu não sei como, mas quando eu acordei, ele estava na minha cozinha, comendo cereais... Tipo... O quê?! Acho que ele tem algum problema mental ou algo assim.

— Tá vendo? Eu vou lá falar com ela. — Max saiu andando.

— Max! — chamou Henry.

— Você não precisa vir.

Quando Evelyn o viu se aproximar, fez uma cara de mau humor ainda mais intensa que a habitual. O garoto começou a rir e saiu correndo para dentro de casa.

— Deseja alguma coisa? — perguntou ela, claramente incomodada em ter que falar com ele.

— Sim, eu desejo — respondeu ele. — O seu filho entrou na minha casa hoje.

Ela assentiu com a cabeça.

— E?

— Isso não é o suficiente?

— Você tem como provar que foi o seu filho?

— Como diabos eu vou provar?

— Eu não sei, mas você está acusando meu precioso anjinho de invadir a sua casa, isso parece um pouco sério para mim, não acha?

Max ficou em silêncio por alguns segundos, quase explodindo de raiva. A mulher colocou um pequeno sorriso irônico no rosto, esperando a resposta.

— Eu espero que isso não aconteça de novo... Ensine boas maneiras ao seu filho, senhora — ele falou, virando-se para ir embora.

— Pode deixar, sr. Walker, eu vou fazer isso.

Ele caminhou pela rua, furioso.

— Filha de uma puta — disse ele, passando por Henry e Pixie, em direção à sua casa. Os dois o seguiram.

— O que ela disse? — perguntou Pixie.

— Nada — ele respondeu.

— Você se irrita muito fácil, amor — disse Henry.

— Você quer que eu me irrite com você?

— Não.

— Então fique na porra do meu lado pelo menos uma vez.

Ele deu de ombros olhando para Pixie.

— TPM — disse ele, baixinho, fazendo ela rir discretamente.

***

No meio da noite, Max acordou com o som de alguém derrubando panelas na cozinha. Pegou o celular e olhou a hora. Duas e vinte da manhã. Logo pensou em Henry, mas quando se virou para ver, ele estava lá, todo enrolado e imóvel como uma pedra, como sempre.

— Henry — disse ele, cutucando-o. — Acho que tem alguém lá embaixo.

Ele não responde, estava dormindo como um bebê.

— Henry! — Max falou mais alto, cutucando mais forte.

Ao ouvir mais barulhos de panelas caindo, ele se levantou. Saiu do quarto e caminhou lentamente pelo corredor. Talvez fosse aquele maldito garoto de novo. Deveria ser.

Max desceu as escadas e foi até a cozinha, onde já podia ver a luz alaranjada da geladeira iluminando o cômodo.

Ele caminhou até lá e viu a silhueta. Não era um garoto, era um homem alto e forte. Henry.

Quando ele viu que havia sido pego, se assustou.

— Ai que susto — disse ele. — Desculpa por te acordar.

Ele viu que Max estava paralisada, com os olhos arregalados e a boca semiaberta.

— Max? — Henry caminhou até ele. — O que houve?

— Tem alguém no nosso quarto — ele respondeu, correndo para as escadas.

— O quê? — Henry foi atrás dele.

Quando os dois chegaram ao quarto, não havia nada ou ninguém. A cama estava vazia.

— Tinha alguém na cama — disse ele. — Eu achei que fosse você!

— Max, você está me assustando.

— Eu não tô brincando, juro.

— Seja o que for, não está mais aqui.

Ele suspirou. Henry não acreditava. Nem ele sabia se acreditava, na verdade.

— É melhor voltarmos a dormir — sugeriu Henry.

— Tudo bem. — Ele cedeu.

Max se deitou de um lado e Henry do outro, cada um virado para um lado. Max demorou para conseguir dormir.


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