Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 10
Capítulo 10 - Sumido




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Por volta das três da tarde, alguns minutos depois do acontecido, havia dois carros em frente à casa de Mason. O primeiro era uma viatura da polícia, com as luzes vermelhas e azuis ligadas, mas sem muita intensidade, já que ainda estava claro. O segundo, era uma ambulância, cujas luzes também estavam ligadas.

Max estava sentado no meio fio, com os olhar fixo no asfalto e a cena do suicídio do homem voltando à sua mente e o deixando enjoado.

Henry estava sentado ao seu lado.

— Você deveria ter visto — disse Max, com os olhos sem foco. — Ele só pegou a arma e atirou, de repente.

— Eu nem consigo imaginar.

— Foi horrível.

— Mas o que você estava fazendo na casa dele?

Max olhou para ele.

— É sério que você está preocupado com isso?

— Só fiquei curioso.

— Eu não estava te traindo, se é isso que você quer saber.

— Não foi o que eu quis dizer.

— Mas foi o que pensou, provavelmente.

Ele esfregou o rosto com as mãos.

— Eu fui procurar respostas.

— E achou?

Max olhou para trás, certificando-se de que ninguém estava ouvindo.

— Os moradores antigos dessa casa desapareceram sem deixar vestígios — disse ele. — E não foram só eles, isso aconteceu mais vezes, sempre nessa rua... O filho da sra. Shields é realmente o garoto das fotografias, ela tinha uma relação forte com ele... Muito conveniente a família ter desaparecido, não é?

— Ele disse isso?

— Sim, bem antes de se matar... Ele falou que não podia mais fazer parte disso. Disso o que, Henry?

— Ele também está envolvido?

— Eu não sei — respondeu Max. — Até onde eu sei, todo mundo nessa vizinhança está envolvido... Pixie, Mason, Sophia... Todos eles escondem um segredo, e este segredo pode estar diretamente relacionado a nós.

— Como assim?

— Nós precisamos ir embora daqui.

— O quê? E para onde vamos?

— Eu não sei, eu só não quero ficar aqui. — Ele abaixou a cabeça e esfregou as têmporas. — Eu estou com medo.

Henry virou-se e viu os paramédicos levando o corpo de Mason, coberto por um saco preto, em uma maca.

— As coisas estão ficando feias.

***

Quando Pixie atendeu a porta e viu Max, parecia preocupada.

— Oi, Max — disse ela, sem a animação contagiante de sempre. — Eu soube do Mason, que coisa horrível.

Ele entrou na casa e fechou a porta.

— Aposto que você está arrasada mesmo! — disse ele, furioso.

— Eu realmente estou, eu juro.

— Então comece a me contar tudo o que você sabe, eu estou te dando uma chance para te poupar da cadeia.

— Você não entende, não é? A polícia não vai te ajudar, Max, a única pessoa que pode ajudar é você mesmo, parando de procurar respostas como um detetive maluco.

— Eu não estou procurando respostas, eu já achei.

— Como assim?

— Mason me contou tudo, Pixie.

Ela ficou assustada.

— Então não foi um suicídio?

— Por que não seria?

— Foi um suicídio ou não, Max?

— Sim, foi, mas por que isso importa?

— Filho da mãe — disse ela, para si mesma.

— Você vai me contar o que está acontecendo ou não?

— Eu não posso me arriscar por você, desculpa.

— Então você está sendo ameaçada?

— Não, isso é simplesmente o que acontece com quem quebra as regras... Morte.

Ele a encarou por alguns instantes, fazendo uma cara feia. Depois se dirigiu até a porta.

— Você vai se foder junto com eles.

— Max, espere! — disse ela.

— O quê? — ele perguntou.

— Desculpa, de verdade.

— Foda-se, Pixie.

Max saiu, fechando a porta.

Caminhou pela rua se sentindo furioso. Olhou para a direita e viu Virginia na porta da casa, fumando um cigarro e o observando com um pequeno sorriso irônico no rosto. Evelyn estava com ela, mas não sorria. Ela o olhava com raiva.

Max apressou os passos. Ele precisava sair daquele lugar. Se mudar para aquela casa tinha sido uma má ideia, uma grande má ideia. Aquelas pessoas eram loucas.

Entrou em casa e deparou-se com uma bagunça. Abajures jogados no chão, almofadas fora do lugar e retratos quebrados, além de uma mancha de sangue no chão e em um dos abajures.

Ele ficou assustado.

— Henry? — chamou, enquanto subia as escadas.

Entrou no quarto e não encontrou ninguém.

— Henry? — chamou mais uma vez, descendo as escadas.

Olhou na cozinha, na garagem e nos banheiros. Nada.

Max saiu de casa e pegou o celular. Foi até a calçada e olhou ao redor, enquanto ligava para ele.

Virginia e Evelyn sorriam ao observá-lo.

Ele atravessou a rua e caminhou até elas.

— O que vocês fizeram? — perguntou ele, furioso.

— Eu não sei do que você está falando, sr. Walker — respondeu Virginia, ironicamente.

— Onde está seu marido, Henry? — perguntou Evelyn, provocante, dando uma tragada no cigarro de Virginia.

— O que vocês fizeram com ele?

Virginia riu.

— Nós? Você está delirando, sr. Walker — disse ela.

Max virou-se e saiu dali.

— Espero que ele esteja bem — falou Evelyn.

Ele se virou e a lançou um olhar de ódio. A mulher não perdeu a compostura e continuou com seu sorriso irônico e os olhos quase flamejantes de fúria e perigo.

***

A noite já havia caído e Max estava sentado no sofá, com as mãos entrelaçadas, nas quais apoiava o queixo. Esperava uma ligação ou qualquer outro sinal de que Henry estivesse bem. Talvez ele só tivesse saído para beber. E então por que deixara toda aquela bagunça? E aquele sangue? De quem era?

Max tinha certeza que era dele.

As luzes começaram a piscar, de repente, e ele olhou para cima. Fiação velha? Não, ele tinha certeza que não.

Olhou para os lados e não viu nada. Estava extremamente assustado.

Um barulho no andar de cima fez sua espinha gelar.

Ele subiu as escadas e encontrou as pegadas de sangue novamente. Elas iam até o final do corredor. Ele seguiu, virou à direita, e encontrou a escada para o sótão aberta.

As pegadas seguiam até o interior.

Ele subiu as escadas e entrou. No fim do cômodo escuro, havia uma mulher com um vestido branco. Ela estava sentada no chão, vasculhando o interior de uma caixa.

— Quem é você? — ele perguntou, assustado.

Ela tinha cabelos negros e longos, como a mulher da foto, mas seu rosto estava escondido.

Max se aproximou, com o coração batendo cada vez mais rápido.

Ao perceber que ela estava olhando o álbum de fotografias, na foto do filho, ele perguntou:

— Você é a mãe dele?

Ela não respondeu, era como se nem soubesse que ele estava ali.

Max agora estava mais perto da mulher, quase encostando nela. O cheiro de enxofre que impregnou suas narinas foi quase insuportável.

Quando a mulher segurou seu pé com força, ele se assustou e deu um passo para trás, caindo no chão e batendo a cabeça na madeira.

Ela se virou e começou a engatinhar até ele, com o barulho dos seus ossos rangendo. Max se encostou em uma viga de madeira e seu coração acelerou.

A mulher se aproximou mais, tocando o seu corpo com força, como se quisesse machucá-lo.

Quando ela ergueu a cabeça, ele pôde ver seu rosto. Era pálido como o de um cadáver. Além disso seus olhos negros eram avermelhados. Sua boca estava costurada com pontos mal feitos e ensanguentados.

Ela tinha os olhos arregalados e emitia um grunhido, como se quisesse falar.

— O que houve com você? — perguntou Max, nervoso.

A mulher começou a abrir a boca e tirar os pontos, deixando uma grande quantidade de sangue cair sobre ele. No entanto, ela parecia não sentir dor.

— Me ajude — disse ela, com uma voz fraca e fantasmagórica.

Os olhos suplicavam por ajuda.

Ela tocou o rosto dele com suas mãos ensanguentadas e frias. O odor de carne podre ficava cada vez mais intenso.

— Me ajude, por favor — ela repetiu. — Ela levou meu bebê.

A mulher começou a chorar, mas as lágrimas que caíam dos seus olhos não eram transparentes. Eram vermelhas.

— Me ajude!!! — ela gritou. Um grito estridente e desesperado.

As caixas de papelão caíram no chão, derramando o conteúdo no chão. A lâmpada explodiu em vários cacos de vidro.

Max fechou os olhos e quando abriu novamente, ela havia sumido.

Ele estava sozinho no sótão, sem entender o que acabara de acontecer.


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