Decidiu que seria hoje que mudaria sua vida escolar. Arrumou-se normalmente: uma blusa branca, casaco vermelho, calça jeans e sapatos roxos. Penteou o cabelo para deixar ele razoável. Então saiu da casa e entrou no Jeep indo para a escola.

Escondeu ele em algum lugar um pouco longe da escola, não gostava de como os alunos julgavam as pessoas, pois naquela escola o dinheiro importava mais que o caráter. E seria nesse cenário que se formaria e seguiria carreira.

***

– Você nunca se aproximou dela durante dois anos, por que vai fazer isso agora? – seu melhor amigo o perguntou pela décima vez naquele dia.

E ele estava cansado de responder a mesma frase.

– Scott, mais uma vez. Estamos á três meses de terminar esse ano, o ano em que nos formamos. Eu quero arriscar minhas chances, não quero ficar pensando no que poderia acontecer se eu desse pelo menos um oi para ela. Então deixe de ser medroso e se esconder atrás das minhas decisões e vá falar com a Allison de uma vez, já que fica suspirando e babando por ela a mais tempo que eu por Lydia.

– Mas você... Eu... Nós podemos levar um não. – o amigo não deixava de ser inseguro.

– Diversidades da vida. Um não hoje, um sim amanhã. E Ludmila mandou avisar que é hoje meu caro amigo. – riu ao lembrar de como conheceu tal frase... A música brasileira ás vezes chegava a ser engraçada.

– Fala isso agora, duvido ir falar com ela. – pararam perto de onde Lydia guardava seu material no armário e pegava outros livros.

– Observe.

Seguiu em frente para a moça ruiva, tentando parecer confiante no seu andar. Parou ao perceber o ex-namorado, ou enrolado dela se aproximar... Esperaria para ver o que aconteceria.

– O que quer Jackson?

– Você. – era cômico como essa palavra fazia efeito nas mulheres sendo uma simples palavra, mesmo sendo uma antiga cantada.

– Vamos Jackson, eu tenho aula. – Lydia estava impaciente com o ex que insistia em ter algo com ela.

– Eu já disse Lydia. Quando vai parar de me ignorar e ceder para mim? – ele desceu o seu dedo da bochecha dela até o pescoço e ela se remexeu desconfortável.

– Eu já disse que não o quero mais.

Stiles que observava tudo encostado a um armário próximo, paciente por sua vez se alertou quando ele segurou o braço dela após ela tentar sair da conversa.

– Qual é Lydia. Nós dois queremos a mesma coisa.

– Acho que ela disse que não, capitão.

Stiles afirmou se aproximando e recebendo a atenção dos dois e pairou ao lado da garota que tinha um olhar questionador para o novo garoto.

– E quem é você para me enfrentar? – Jackson soltou o braço dela, desafiando a coragem de Stiles.

Se ele tinha chegado tão longe, por que parar? A multidão que corria apressada mal percebia o que acontecia e isso de certa forma era bom, assim o diretor não ia até eles.

– Ah... Eu sou um aluno normal sabe? Estudo e passo de ano, acho que sou um nerd. O legal é que eu sei lutar, é mais para defesa pessoal ou caso estranho de desrespeito a moças.

– Oras... – Jackson atreveu a dar um murro de direita em Stiles, que desviou e ainda se agachou derrubando Jackson no chão com uma rasteira.

– Desculpe, precisa de ajuda para se levantar? – um tom de inocência mais um toque de sarcasmo apareceram.

– Você vai se arrepender disso, idiota! – o homem no chão se levantou e saiu furiosamente.

– Ahm... Acho melhor falar com você depois, temos aula agora e acho que você não quer faltar elas. – ele se virou para ela.

– Como sabe se defender? – ela foi direta.

– Fiz judô até os meus treze anos, sou faixa preta. Depois dos quinze quis fazer boxe chinês, é um bom esporte.

– Mas você é tão magrelo.

– Não julgue a força de alguém pela aparência.

Com uma voz suave ele a respondeu e de repente uma ideia surgiu na cabeça dela.

– Que tal me treinar um pouco? – Stiles se impressionou um pouco e ela percebeu. – Eu não quero ficar dependendo das pessoas para me proteger.

– Está bem. – ele concordou e pensou um pouco. – Na minha casa ás duas horas da tarde, pode ser?

– Sim!

Ela ficou bastante empolgada.

– Mas eu não sei onde é sua casa. – ela lembrou-o.

– Então vamos direto da escola, você vem no meu Jeep. Espero que não tenha trazido seu carro hoje.

– Ainda bem que não.

– Te vejo por aí, Lydia. – então ele saiu com um sorriso discreto no rosto e avistou o amigo com uma cara pasma, riu dele.

***

– Não acredito que isso aconteceu.

– Hoje você parece um papagaio, fica repetindo uma frase toda hora. Viu? Em um dia consegui um encontro com ela e ela agora sabe quem eu sou e onde é minha casa.

– Okay, estou convencido. Agora... – se calaram ao ver o professor entrar na sala, a conversa ficaria para depois.

***

Ao sair do portão principal da escola, Stiles viu Lydia sentada em um banco perto das árvores e ela era tão natural lá, a natureza parecia se sintonizar com ela. Stiles procurou a câmera que guardava na bolsa, ele fazia parte do jornal estudantil como fotógrafo e fazia algumas matérias como o “Invisível”. Tirou uma foto de Lydia que só percebeu que ele saiu quando ouviu o barulho de câmera.

– Tirou uma foto minha?

– Sim. Você estava muito linda nessa paisagem, merecia uma foto. – ela se levantou e foi até ele.

– Então vamos?

Ele saiu na frente e ela o seguiu.

– Estava pensando... Você não tem roupas adequadas, então eu poderia te levar para casa e esperar que você tome banho e pegava uma roupa leve, pode ser?

– Sim. – entraram no Jeep. – Acho que é raro eu ver alguém da escola dirigindo um Jeep.

– Eu sou diferente então. – deu um sorriso simpático.

***

– Eu tenho duas luvas, uma vermelha para mim e uma azul para você pode ser? – ela assentiu. – Acho que nunca imaginei treinar Lydia Martin para se defender.

– Por que nunca?

– Nunca tinha falado com você antes, durante dois anos. Acredito saber quem foi seu primeiro namorado, primeiro beijo, nome, idade, endereço, praticamente tudo de superficial sobre você.

– Como sabe de tudo isso?

– Menos papo e mais ação.

***

Devia ser duas horas quando treino acabou vencido pela fome. Os dois subiram as escadas do porão e foram para a cozinha comer.

– Desculpe a bagunça lá embaixo, eu vou me mudar.

– Sua família toda?

– Não, apenas eu. Acho que está na hora de eu ter meu lugar. Convenci minha mãe e meu pai de me comprarem um apartamento e eles quiseram logo em frente a praia, por sorte para mim é perto de você.

– Por que?

– Por que eu gosto de você. – ele não enrolaria. – Sobre a pergunta do porão, eu sei porque eu pesquisei. Eu sei quem é você superficialmente, Lydia. E mesmo assim me apaixonei por você, e nunca tive coragem de falar com você nesses dois anos.

Ela estava impressionada. Por que alguém seria tão sincero?

– E veio falar agora? – eles aprontavam os pratos.

– É. Falta três meses para o ano acabar e eu não queria ficar pensando como seria se eu te desse um oi. – sentaram nas cadeiras. - Refrigerante ou suco?

– Suco.

– Boa pedida. – Stiles adorava suco de maracujá. – Sabe qual é a verdade? É que você é meu maior desafio. – ela levantou a sobrancelha. – Eu sou invisível, e sendo assim nunca falaria com você. Então eu teria que ter coragem, e por que não seria um desafio? Um desafio de final de colégio. Você é meu desafio, é a parte que eu tenho que enfrentar de mim mesmo. Eu quero descobrir coisas sobre mim com você, eu quero penetrar de forma psicológica e física em você. Digo... Quero fazer você querer estar comigo, necessitar estar comigo. Depois quero provocar sentimentos, e reações que seu corpo sem você pensar ele vai querer algo de mim.

– Uau. – ela abriu a boca. – Não acho que conseguirá fazer isso, Stiles. Eu sou difícil sabia?

– Qual a graça de um desafio fácil? – ele colocou o jarro em cima da mesa. – Nenhum. Lydia eu sei que você tem camadas, e eu quero conhecer a mais funda delas. Eu vou entrar em cada pensamento seu, isso se eu conseguir.

– Está bem Stiles. Mas saiba que eu não facilitar para você.

– E isso será ótimo, assim descobrirei o que serei capaz de fazer por você e com você. E esse será o seu desafio: resistir a mim. Agora ao almoço.