Scream 2016 escrita por S Nostromo


Capítulo 7
Quarteto do pânico


Notas iniciais do capítulo

Acho incrível meu dom de nunca terminar o que escrevo. Quase abandonei essa fanfic, mas respirei fundo e decidi continuar. Então bora!



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Eu me guiava pelos passos pesados de Victor. Tratei de segui-lo de perto. Merda, que grande merda. Eu não podia deixar que ele chegasse até Emily, Carmen e Ross, ele ia contar tudo o que viu, ia contar suas próprias conclusões sem sequer saber a real verdade. Entramos em um corredor reto que daria na sala. Era minha chance. Acelerei o passo e agarrei Victor por trás. Coloquei a faca em seu pescoço para ter certeza de que não ia escapar. Sua primeira reação foi gritar por ajuda. Bati com o cabo em sua cabeça.

– Cala a boca seu babaca!

– Pode me matar, mas elas vão descobrir quem você é primeiro. Vão descobrir que foi você quem matou Marco!

– Eu não sou o assassino!

– Ah é? Então quem matou Marco e agora está segurando uma faca no meu pescoço?

Respirei fundo e o soltei. Ele se afastou de mim, mas dessa vez não fugiu sem dar ouvidos ao que eu dizia.

– Satisfeito? – questionei.

– Isso não ajuda em nada sua situação.

– Eu não sabia que era ele – expliquei. – Vi os vultos indo e um lado para o outro. Eu tinha a faca e não ia ficar parado esperando alguém espalhar minhas vísceras pelo chão. Pensei que fosse o assassino.

– Não sabia que era o Marco? Isso é ridículo.

– Eu sei – concordei. – Não tive culpa. Eu não pensei direito. Eu liguei uma coisa à outra e fiz!

– E por culpa da sua insanidade meu amigo está morto!

– Eu. Não. Sabia! – falei pausadamente. – Que droga Victor.

Cocei a cabeça com uma das mãos, frustrado com tudo que acontecia.

– E para o seu governo – continuei. – Marco me atacou pelas costas.

Victor começou a rir.

– Vai querer se fazer de vitima agora? Mais uma vez?

– Mais uma vez? O que?

– Não duvido nada que você tenha colocado a culpa em César.

– Vai se foder! – respondi. – Quem é você para julgar alguma coisa aqui?

– Sei que você fez da vida dele um inferno e que talvez tenha se aproveitado disso para culpá-lo dos assassinatos. Uma alma inocente.

– O cara me esfaqueou dentro dessa casa, no segundo andar! – gritei, apontando para cima com a faca. – Se bobear deve ter sangue meu pelo chão ainda, vai lá comparar amostras de DNA, já que você gosta de bancar a Gale Weathers investigativa. E por que raios eu mataria todo mundo?!

– Você é um assassino maluco!

– E você é um burro desinformado que eu não devia ter colocado dentro dessa casa! Devia ter deixado o furacão lá fora triturar vocês.

Victor riu por alguns segundos, dando uma pausa em toda a discussão.

– Não adianta, nada do que você diz vai mudar o que vi. Você, acertando essa faca no peito de Marco várias vezes. Eu vi tudo. Tudo isso é culpa sua. Real Woodsboro, os assassinatos no posto de gasolina e agora isso. Tudo é culpa sua. Sua e da Emily, que deve ter sido uma tremenda vadia.

– Olha como fala – alertei, apontando a faca em sua direção como aviso.

– Sei bem como é ser humilhado no colegial. Sei como funcionam as brincadeiras. Eu vivi isso. Imagino que César deva ter passado coisas bem piores do que passei. É isso que aquela desgraçada é, uma puta. Aliás, puta deve ser elogio não é mesmo?

Aquela versão mal feita de Indiano me deixou a ponto de tomar uma talvez imprevista atitude. O vento zumbia intensamente lá fora. Galhos e pedaços de pedras rolavam pelo asfalto. E dentro da república, eu ignorei tudo que acontecia e fui para cima de Victor com uma faca nas mãos. Ele conseguiu desviar do meu golpe, revidando com uma joelhada em meu estômago. Cai de joelhos, mas rapidamente enterrei a faca em sua coxa. Ele gritou por um segundo, e usando as paredes como apoio, começou a mancar as pressas até o final do corredor. Recuperei-me, segui as pressas e me joguei em cima de seu corpo. Rolamos. A faca eu simplesmente atirei para um lado qualquer, e entramos em uma briga de socos, tapas e arranhões. Subitamente me senti puxado para longe de Victor. Era Ross e Carmen. Emily arrastou Victor para o lado oposto.

– O que deu em vocês? – começou Carmen.

– Ele é o assassino! – gritou Victor.

– Vai se foder! É mentira! – respondi.

– Você matou o Marco!

– O que? – Emily disse.

– Meu irmão morreu? – questionou Carmen. A moça levou as mãos à boca. Mantinha os olhos fixos em mim, enquanto lágrimas escorriam pesadamente.

– Você matou Marco? – perguntou Ross que segurava um gravador. De onde tinha saído aquela merda? Puxei o aparelho de sua mão e o atirei contra a parede.

– Por que você não enfia suas reportagens no...

– Você matou mesmo Marco? – insistiu Emily.

– Eu não sabia que era ele – respondi de uma vez.

– Mentiroso! – exclamou Victor. Ameacei ir para cima dele, mas Ross tornou a me segurar.

– Eu devia ter matado você seu babaca! É você quem deveria estar estirado no chão neste exato momento!

Emily passou no meio de toda a bagunça, agarrou em minhas roupas e me puxou para a cozinha. Ross nos seguiu de perto.

– Por que você matou o Marco? – ela perguntou. Seus olhos ameaçaram lacrimejar. – Meus pais morreram e agora tudo isso parece estar ligado. Eu só quero saber a verdade.

– Eu estava na garagem e ouvi um barulho naquele quarto onde guardávamos coisas velhas e tudo mais. Aí... Droga... Marco... Alguém surgiu atrás dele e eu nos tranquei no quarto. Marco disse umas coisas estranhas, sei lá...

– Que tipo de coisas? – retrucou Emily.

– Eu disse que tinha visto o assassino atrás dele e ele começou a dizer para relaxar e que era impossível. Depois do que nós vimos, eu só achei meio suspeito. Sério, não sei...

Afastei-me dos dois e virei de costas, ameaçando chorar com toda a bagunça.

– Continua – insistiu Ross.

– Eu desmaiei. Não sei se foi Marco me batendo por trás ou sei lá o que. Quando acordei havia alguém por perto, andando pelos corredores. Eu estava com a faca no bolso de trás... Só agi meio que sem pensar. Victor apareceu com a lanterna e só então vi quem eu tinha matado! Para mim aquela sombra misteriosa e Marco eram pessoas diferentes. Ou a mesma pessoa...

– E qual seria o sentido de Marco ser o assassino? – perguntou Ross.

– E Victor? O que deu em vocês para se matarem em um momento desses? – continuou Emily com suas perguntas.

– Pensei que você estivesse cursando arquitetura e não direito para ficar me interrogando dessa forma – respondi com grosseria, cansado de tantas possíveis acusações.

– Explique porque você e Victor estavam brigando – pressionou Ross.

– Porque o idiota estava me acusando e insultando Emily. Eu fiquei puto da vida e quis dar na cara daquele Indiano imbecil e se continuar se intrometendo no que não é da sua conta eu arrebento você também seu repórter de merda.

– Devia tomar cuidado com o que diz, você não tem muitas provas a seu favor aqui.

– Olha quem fala, o repórter que surgiu misteriosamente em uma futura cena de crime.

– Acalmem-se – disse Emily.

– Por que eu seria o assassino? – retrucou Ross.

– Não é óbvio? Todos morrem e o único sobrevivente é o cara desesperado pela atualidade em um caso totalmente debatido e atual. Que grande coincidência não é?

– Vamos parar com iss...

A nossa discussão foi cortada. Ouvimos um grito muito sutil de Carmen, em seguida alguma coisa caindo no chão, junto com algo metálico. Voltamos para a sala, Emily, Ross e eu. Carmen estava caída de lado, uma poça de sangue ia ser formando junto de seu corpo. Já estava morta. Victor estava ajoelhado ao seu lado juntamente com a faca depositada no assoalho. Levantou-se e se afastou do corpo de Carmen quando nos viu.

– Ela se matou – começou a falar. – Eu juro. Eu não fiz nada!

A república começou a estalar em locais indecifráveis. A ventania urrava do lado de fora, atirando pedaços de galhos e pedras contra as paredes do lado de fora.

– Para o porão! – alertei a todos. – Antes que essa merda de furacão nos engula!

Victor, o último a entrar, parou ao pé da escada.

– E Carmen e Marco?

– O que tem eles? – perguntou Emily.

– Vamos deixá-los serem triturados pelo furacão?

– Sinto muito, mas minha vida e meu documentário para um Real Woodsboro II não podem ser perdidos – respondeu Ross.

– Fica a vontade para buscar o corpo deles querido assassino cheio de compaixão – eu disse. – E se for, espero que você seja sugado junto. Não vou conta a sua cara mesmo.

Continuamos descendo as escadas para o porão.

– Merda! – reclamou Victor, que escolheu nos seguir.

Passamos por uma segunda porta e a trancamos. O local estava empoeirado e cheio de porcarias. Retiraram praticamente todas as coisas da república dos antigos moradores, mas se esqueceram do porão. Havia pilhas e pilhas de coisas inúteis. Revistas, cadernos, papelão... Victor era o único com uma lanterna. O idiota foi procurar por Marco e eu um tempo atrás e esqueceu-se de pegar o restante das lanternas. Os celulares já estavam sem bateria.

– Se ainda houver algum ghostface entre nós, pelo menos ainda temos a chance de sobreviver, diferente de um furacão gigante – ironizei.

– Isso mais parece aquele filme em que o protagonista prevê a morte dos amigos – disse Ross.

– Final Destination? – chutou Emily.

– Sim! Esses mesmo. Tem pessoas morrendo aqui, uma a uma, e sequer ainda vimos a cara desse assassino. Nem mesmo usando aquele roupão preto e a máscara.

– Espero não ver aquela máscara de novo – falei.

– Se você for o assassino, provavelmente não verá – disse Victor.

– Porque insiste em me acusar?

– Eu vi você matando Marco. E a qualquer momento vai nos atacar aqui dentro. Tenho certeza.

– E porque não fugiu seu idiota?

– Para onde? – retrucou Victor. – Com um furacão aqui perto. Não tinha para onde ir! Droga, eu apenas queria sair vivo disso tudo...

– Eu o vi – confirmou Emily. – Na minha festa e depois no posto de gasolina. Nessa última vez ele matou inclusive meus pais. E eu vou sobreviver dessa vez, custe o que custar. E sabem por quê?

– Por que? – perguntou Victor, mas sequer parecia prestar atenção. Devia estar chocado com tudo. E eu não tirava seus motivos. Entrou na república para se refugiar e todos os seus amigos estavam mortos...

– Porque eu tenho um plano – respondeu Emily.

Ela puxou a faca do bolso da calça, apontando para Victor e eu que estávamos próximos. A abençoada faca. Aquela que matou a todos no posto de gasolina, e que eu encontrei jogada e quase matei Emily. Depois eu a trouxe para a república e usei para matar Marco. Em seguida Carmen usou para se matar, ou Victor a matou. Agora a faca estava ali, nas mãos de Emily. Ela provavelmente a pegou enquanto assistíamos o corpo morto de Carmen.

– O que deu em você? – perguntei.

– Para o canto, os dois!

Começamos a nos afastar, enquanto ela nos seguia com a faca empunhada. Ross a seguia de perto.

– Você é o assassino? – questionou Victor.

– Eu mandei ir para o canto!

Os dois nos amarraram em um dos pilares que sustentava o teto. Ross tomou a lanterna da mão de Victor, mantendo apontada para nós. Emily a tomou da mão de Ross e apontou a faca pele ele desta vez.

– Ei, não era esse o combinado – reclamou Ross.

– Afaste-se de mim! – rebateu Emily.

Ross obedeceu.

– Victor matou a Carmen. Abel matou o Marco. E Ross é um repórter misterioso que surgiu de qualquer lugar. Alguém aqui é o assassino e não sou eu. Manterei o olho em vocês até o amanhecer. Mais ninguém irá morrer aqui.

– Emily! – eu disse. – Você não vai fazer isso comigo, vai? Depois de tudo que passamos juntos. Não vai confiar em mim?

Olhamos um para o outro, nossos olhos brilharam em lágrimas. Ela levou a mão à boca, a mesma mão que segurava a faca, em uma tentativa de segurar o choro.

– Eu também assisti Scream, Abel. Não faça se não pode confiar. Eu sinto muito Abel, não posso fazer isso – respondeu Emily.

– Eu só quero ir para casa – disse Victor.

Recostei a cabeça contra o pilar ao som do choro descontrolado de Victor e os soluços silenciosos de Emily. Ross sentou no chão, segurando um novo gravador nas mãos, observando a nós três, a espera de algo diferente.

Devia ter se passado uma hora e pouco. Ninguém havia dormido, ninguém havia saído do lugar. Emily tinha os olhos vermelhos, o olhar fixo no chão. Ross havia abraçado as pernas, esperando o próximo ataque para o seu documentário idiota. Victor chorava em silencio, sentia que estava cabisbaixo. Eu mantinha o olhar fixo no teto, tentando pensar em algo para ajudar. A luz da lanterna que Emily portava começou a falhar. Ela bateu o objeto contra o pulso, tentando fazer funcionar, como todo mundo sempre tentava fazer. Então veio o breu, a escuridão total. A bateria morreu, como todos estavam morrendo.

– Merda! – berrou Emily.

Caixas e outras coisas começaram a cair e se remexer. Comecei a mexer os pulsos para tentar afrouxar o nó da corda.

– Victor dá uma ajuda – sussurrei.

Juntos, tentamos nos livrar. O Indiano ainda chorava, mas mais contidamente agora.

– Eu não quero morrer – disse Victor em sua voz chorosa.

– Você não é o único – respondi.

A corda cortou meus pulsos, mas o sacrifício foi valido. Levantei-me e segui para qualquer lado. Não consegui pensar em nada para ajudar. Não tinha para onde ir, não tinha o que fazer. Vez ou outra alguém esbarrava em alguma coisa. Emily, Ross, Victor e as vezes eu mesmo. Subitamente algo acertou minha perna. Conhecendo muito bem aquela dor eu sabia que se tratava de uma facada. Acertei um chute as cegas e corri, tropeçando em tudo. Atirei objetos para os lados para acobertar os barulhos que meus passos faziam. Caminhei com cuidado até encontrar a parede. Encurralei-me no canto e sentei no chão. Todos os ruídos pararam, e tudo que se ouvia era a chuva e o vento lá fora. Eu havia saído da mira de seja lá quem fosse. Ainda teríamos uma longa madrugada pela frente, e era óbvio que inevitavelmente algo ia acontecer. Sendo mais direto, mais cabeças iam rolar.


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