Hinata continuou na cama durante mais de uma semana, com ordem para não abrir os olhos. Hanabi servia-a todos os dias e ajudava a irmã em tudo o que ela precisasse. Tal como prometido, Naruto não deixou a casa dos Hyuuga até Hinata estar completamente bem, o que irritava o seu pai de uma maneira incrível. O que também deixava Naruto satisfeito, por alguma razão. No entanto, Naruto recusava-se a entrar no quarto de Hinata. Mesmo quando Hanabi pedia ou quando Hinata pedia para lhe agradecer. Porque sabia que ela ia pedir-lhe para se ir embora e se ela lhe pedisse, ele iria e, de alguma maneira, Naruto sentia que se isso acontecesse, iria acabar tudo ali.

Por isso, quando Hanabi saiu do quarto da irmã com um sorriso na cara, o sorriso de Naruto desapareceu.

—A Nee-sama já pode abrir os olhos. – disse Hanabi, extremamente contente.

—Tens a certeza? – perguntou Naruto.

Hanabi anuiu com a cabeça e começou a arrastar Naruto para dentro do quarto. Ele ia recuar mas, mal entrou no quarto, Hinata, que estava sentada na cama, levantou a cabeça, olhou para ele e sorriu.

—Já posso voltar a treinar. – disse Hinata, compreendendo porque é que Hanabi o tinha arrastado até ali.

—Não vais voltar a treinar. – disse Naruto veementemente.

Hinata franziu as sobrancelhas e a expressão que ela mostrava agora não era de felicidade.

—Achas que sou fraca, Naruto-kun? – perguntou Hinata, deixando Naruto de boca aberta – Achas que não vale a pena treinar?

Naruto aproximou-se e sentou-se na cama, ao lado dela, fazendo-a afastar-se um bocado.

—Acho que devias treinar a tua habilidade de visão. – disse Naruto – Porque é que não vamos dar um passeio. Se conseguires andar sozinha durante trinta minutos, podes continuar a treinar.

Hinata ficou em silêncio durante alguns segundos. Quando anuiu com a cabeça, Hanabi e Naruto suspiraram ao mesmo tempo.

—Eu acompanho-te. – disse Naruto, esticando-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.

No entanto, com um pouco de esforço, Hinata ignorou a mão de Naruto e levantou-se. Era verdade que estava a ver muito melhor, mas o seu senso de equilíbrio estava um bocado danificado por ter ficado tanto tempo na cama, com os olhos fechados. Mesmo assim, ia provar que conseguia andar trinta minutos pela cidade. Seria vergonhoso se não conseguisse.

Percorrer a casa até à saída foi o mais fácil, pensou ela. Alguns minutos depois de saírem, começou a ficar difícil, mas ela não desistiu.

—Tu disseste que querias ir cortar o cabelo. – lembrou Naruto, lembrando-se que ela tinha de subir escadas para chegar lá – Podemos ir agora.

—Está bem. – concordou Hinata, com o orgulho à face da pele.

Tal como Naruto previra, quando chegaram às escadas, ela começou a andar mais devagar e colocou uma mão na parede para ter a certeza de que não caia. Já tinham passado quase trinta minutos.

No entanto, quando estava a chegar ao último degrau, tropeçou nos próprios pés em reação automática, para não cair outra vez, virou-se e agarrou-se a Naruto.

—Perdeste? – perguntou Naruto, afagando o cabelo de Hinata, enquanto ela continuava agarrada ao casaco dele, chocada – Isso quer dizer que ainda não podes voltar a treinar.

—Naruto-sempai! – exclamou uma das suas fãs, que estava a vir do salão – Vamos comer alguma coisa hoje à noite?

—Ah, eu… - Naruto interrompeu-se quando Hinata se recompôs e, para sua surpresa, começou a correr pelas escadas abaixo – Hinata!

—O que é que se passa, Naruto-sempai? – perguntou a rapariga confusa.

—Eu tenho um encontro. – mentiu Naruto – Com a Hinata.

Antes de a rapariga ter tempo de perguntar mais alguma coisa, Naruto começou a correr para casa dos Hyuuga.

…

—O teste correu bem. – mentiu Hinata ao pai – Já posso voltar a treinar.

—Muito bem. – disse o pai com orgulho da determinação da filha – Podes começar imediatamente.

Hinata anuiu com a cabeça, enquanto Hanabi olhava-a de longe, com os dedos entrelaçados de preocupação.

—Espero que não faças mais nada para interferir. – disse o pai, passando por Hanabi – As escolhas são da tua irmã.

Hanabi limitou-se a voltar as costas e a correr para o seu quarto.

Com um pouco de dificuldade, Hinata pôs-se na posição inicial e começou a treinar, enquanto era arduamente disciplinada pelo pai quando perdia o equilíbrio e caía.

—Quando é que vais usar o Byakugan? – perguntou o pai, por ela estar a hesitar um bocado – Foi por isso que não conseguiste fazer nada na lua a não ser dar chacra ao Naruto! Ele acabou por fazer tudo sozinho! Outra vez! Estás a arrastar o nome dos Hyuuga pela lama!

Por fim, Hinata decidiu por usar o Byakugan e começar com Juuken Ryuu, mudando de posições rapidamente. Cansada de ouvir o pai reclamar, ela começou a mover os braços rapidamente, formando um Shugo Hakke Hyakunijuuhachi Shou. À medida que ela aumentava a velocidade, a esfera de chacra ia crescendo, até o pai ter de dar um passo atrás.

—Hinata! – gritou o pai, alertando Hanabi que, quando abriu a janela, foi assolada com o vento que provinha do ataque.

No entanto, Hinata continuou a acelerar até começar a formar um Hakkeshou Gutten. Quando ouviu a irmã a gritar por ela, parou antes do ataque estar completo e olhou para cima. Depois desmaiou.

…

—Ela devia estar a descansar. – ouviu Hinata, enquanto abria os olhos, lentamente – Por enquanto, restabeleci o chacra dela, mas se a Hanabi não tivesse intervindo, não sei o que lhe teria acontecido.

—Bastava dar-lhe algum chacra, come me fizeste a mim. – com os olhos meio desfocados, Hinata reconheceu a voz de Naruto.

—Não. – aquela era Sakura, pensou Hinata – Ela não tem o chacra extra de uma raposa dentro dela. Se ela ficasse completamente sem chacra, não sei o que aconteceria. Por enquanto, o Kakashi-sensei proibiu o pai dela de a ver, mas o problema não é só ele. Foi a Hinata que disse ao pai que estava pronta para voltar a treinar, segundo a Hanabi.

Hinata piscou os olhos e apercebeu-se de que estava no hospital. Sakura ainda estava a repor o chacra que ela tinha perdido e Naruto estava ao lado dela. Preocupado com ela, percebeu Hinata sentindo-se culpada.

Quando se apercebeu que ela já tinha acordado, Naruto olhou para ela e sorriu.

—Vai ficar tudo bem. – garantiu Sakura, enquanto acabava o tratamento – Mas não sei se as tuas mãos vão-se curar completamente.

Ela levantou o braço lentamente e olhou para as mãos, envolvidas em ligaduras. Os olhos encheram-se de lágrimas.

—Eu sou tão estúpida. – murmurou ela.

No entanto, quando ia baixar a mão, Naruto pegou nela gentilmente, fazendo com que Sakura se afastasse.

—Eu venho ver como é que estás daqui a pouco. – disse Sakura, para os deixar a sós – Vou dizer à tua irmã como estás. Ela deve estar preocupada.

Quando ficaram sozinhos, Naruto sentou-se na cama e cobriu a mão dela completamente, com as suas mãos.

—O que é que eu vou fazer agora? – perguntou Hinata, quando uma lágrima escorregou pela cara.

—Vais viver como uma pessoa normal. – respondeu Naruto, largando-lhe a mão – E daqui a um mês ou dois, quando as tuas mãos estiverem completamente curadas, eu vou ajudar-te a treinar. Devagar.

—Mas a Sakura-san disse que…

—Tu és uma Hyuuga. – interrompeu Naruto, limpando uma segunda lágrima que tinha escapado – Uma Hyuuga não desiste tão facilmente. A tua irmã e o Neji são provas disso.

Engolindo um soluço, Hinata anuiu com a cabeça e franziu as sobrancelhas quando viu o saco que ele trazia.

—Lã. – respondeu Naruto quando reparou que ela estava a olhar para o saco – A Sakura-chan disse que não podes mover as mãos durante alguns dias. Como reabilitação, podias tricotar-me um cachecol. Afinal, o que fizeste na lua está completamente destruído.

Hinata riu-se e anuiu com a cabeça.

—Quanto tempo é que a Sakura-san disse que eu tinha de ficar aqui? – perguntou Hinata.

—Podes ir já hoje, depois de ela ter a certeza que tens o chacra restaurado. – respondeu Naruto – Mas é melhor não ires para casa. O Kakashi-sensei proibiu o teu pai de te ver.

—Porquê? – perguntou Hinata, confusa.

—Porque ele pôs em risco a vida da futura chefe do clã Hyuuga. – disse Naruto – E porque a Sakura-chan pediu-lhe, depois da Hanabi lhe explicar a situação em que estavas.

—Então, para onde é que vou? – perguntou Hinata.

—O Kakashi-sensei disse que podes ficar com aquela casa vazia perto dos aposentos do Hokage. – disse Naruto – Não é nada comparado com a tua casa, mas tem uma boa vista para a montanha dos Hokages. A tua irmã também se vai mudar contigo, por enquanto.

—Isso é demasiado. – murmurou Hinata, virando a cabeça.

—A casa estava vazia de qualquer maneira. O Kakashi-sensei estava a guardá-la se o Sasuke resolvesse ficar na Aldeia de vez. Mas ele anda sempre a entrar e a sair. – disse Naruto – Ah! E não cortes o cabelo. Esse era só um esquema que eu e a Hanabi criamos para te fazer sair de casa.

—Sim. – Hinata sorriu outra vez – Eu percebi.

—A sério|? – perguntou Naruto chocado.

—Não foi muito difícil depois de te ver à porta de minha casa, à minha eespera.

…

Hinata e Hanabi voltaram a casa acompanhadas por dois guardas que interrompiam o pai delas sempre que este tentava falar. As duas irmãs pegaram nalguma roupa e coisas essências e saíram de casa, em direção ao seu novo apartamento.

A casa de dois andares tinha três quartos vazios, uma casa de banho, uma varanda com vista para o monte dos Hokages e…mais nada. A não ser duas camas, um armário para porem as coisas que tinham trazido e um pequeno sofá na sala de estar, só tinham a mobília da cozinha.

—O Hokage devia estar com ideias para o Sasuke. – comentou Hanabi, passando pelo quarto da irmã.

Não era só o Kakashi-sensei que tinha ideias para o Sasuke-kun. Hinata pensou em Sakura e ficou triste.

Nos dias seguintes, Naruto fora visitá-las várias vezes, trazendo sempre alguma coisa com ele. Uma televisão, mais um sofá, mais um armário para o quarto de Hanabi. Até fazia reparações, quando era necessário. Enquanto Hinata não conseguia mexer as mãos, ele ajudou Hanabi com as limpezas da casa poeirenta. Sentindo-se culpada, Hinata deu uma cópia das chaves da casa a Naruto para que ele pudesse entrar quando quisesse para descontrair.

Um dia, quando chegou a casa de Hinata e a viu a tricotar lentamente, sorriu. Ela olhou para ele também e sorriu.

—A Sakura-chan disse que eu já podia mexer as mãos. – disse Hinata, enquanto Naruto tirava os sapatos à entrada e tirava uns chinelos do armário (que ele tinha construído).

—Como é que te sentes? – perguntou Naruto, sentando-se ao lado dela.

—A Sakura-chan avisou-me que, se sentisse algum tipo de dor ou desconforto, devia ir lá. – disse Hinata – Mas estou bem.

—Eu disse que começar devagar era boa ideia. – disse Naruto, um bocado orgulhoso por ter dado a ideia – Como é que vai o cachecol?

—Ainda agora comecei. – respondeu Hinata, virando-se para ele.

O silêncio instalou-se. Naruto pegou numa mecha do cabelo dela e inclinou-se. E Hanabi entrou, fazendo Naruto endireitar-se.

—Estou a interromper? – perguntou Hanabi, estreitanto os olhos quando viu os dois com as faces vermelhas.

—Não! – exclamou Naruto, levantando-se imediatamente – Só vinha ver como é a tua irmã estava!

—Hum-mm. – foi a resposta de Hanabi.

—Eu volto amanhã. – disse Naruto, calçando os sapatos antes de sair à pressa.

—Ele nunca põe os chinelos de volta no armário. – suspirou Hanabi, enquanto o fazia – Vais ter de te habituar a isto.

—O quê? – perguntou Hinata, chocada.

—Bem, não tencionas casar-te com ele? – perguntou Hanabi, vendo a irmã de boca aberta – O Sasuke-kun está de volta à Aldeia. Tu, o Naruto, o Sasuke e a Sakura deviam sair juntos.

—Como é que o Naruto-kun ainda não sabia que ele estava na Aldeia? – perguntou Hinata, levantando-se.

—Estava ocupado com outra pessoa. – disse Hanabi, referindo-se à irmã.

—E a Sakura-chan? – perguntou Hinata.

—Não sei. – Hanabi encolheu os ombros – Mas acho que o Sasuke-kun não ficar aqui muito tempo.

Hinata levantou-se, calçou-se e saiu também, deixando a irmã sozinha a abanar a cabeça.