Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Caminho desanimadamente pelo imenso jardim que circunda todo o casarão. Era o mais bonito que eu já vira, a primavera enchendo todo o verde de cores alegres. Havia bancos de madeira por todo lado, uma grande fonte no centro jorrava agua cristalina que reluzia sob o sol forte. Estava um dia esplêndido, mas não para mim. Eu nunca seria feliz ali.

Agarro uma tulipa entre meus dedos e a pressiono contra o nariz, aspirando seu cheiro, desejando que estar em meio a tanta beleza modificasse meu humor. Como aconteceria se eu estivesse aqui em circunstancias felizes. Se estivesse com o Hugo.

Havia tido um sonho deveras desagradável na noite anterior. Nele Hugo e eu estávamos finalmente juntos e felizes, quando de repente tudo fica escuro e sem cor, e alguém nos separa. E esse alguém era o senhor Herman.

É estranho pensa-lo como senhor, ele é tão novo.

Como num chamado, ao pensar em seu nome o noto surgir pelo grande portão da frente em seu cavalo. Continuo com a flor próxima ao meu nariz, fingindo sentir seu cheiro quando na verdade meus olhos não abandonam Alexandre. O observo parar em frente ao casarão e descer de seu cavalo com tamanha elegância que me deixa encantada.

– Apreciando a visão de seu futuro marido? – arregalo os olhos, envergonhada ao notar que fui pega o encarando por Margaret.

Desvio meu olhar.

– Não, apenas curiosa. – falo ao me sentar em um banco de madeira próximo a onde Margaret podava algumas flores.

– Curiosa?

– Não sei muito sobre ele. – na verdade, não sei nada sobre ele.

Ela sorri, como se soubesse o motivo. Alexandre havia contado para todos o que realmente fizera?

– Ele é um bom homem. – sinto vontade de perguntar se ela tem certeza disso, mas me contenho. – Apenas um pouco esquentado às vezes.

Às vezes, rio irônico em minha mente. Olho para a longa saia do meu vestido azul escuro e meus pensamentos voltam para Hugo, para o orfanato.

– Preciso de sua ajuda, Margaret.

Ela para o que está fazendo e me olha com interesse.

– Ajuda em quê, minha senhora? – me sinto incomodada pelo jeito que ela me chama. Com certeza não ficarei aqui para ser a sua senhora.

– Preciso de papel para uma carta e o endereço desta localidade. Que Rua de Londres é esta onde estamos? – seu rosto torce em confusão, evidenciando ainda mais suas marcas da idade avançada.

– Não estamos em Londres, minha senhora.

O que? – Como assim? Onde então?

– Estamos em York. – Margaret larga sua tesoura de podar no chão e se aproxima de mim, seu olhar preocupado. – O que aconteceu com você, Rosie?

Sinto meus olhos marejarem no mesmo segundo. Ele me trouxera para mais longe do que eu imaginava.

Balanço a cabeça, tentando afastar as lágrimas não derramadas. – Me ajude, por favor, Margaret. Preciso ir. Tem alguém lá fora que me espera.

– Posso me meter em encrenca, minha senhora. Senhor Herman me colocará na rua.

– Não, ele não descobrirá. Eu prometo.

Margaret continua a me olhar, a indecisão cravada em seu rosto. Por fim, para minha felicidade, ela cede. – Tudo bem. Trarei-te papel e o endereço. Quando acabar sua carta, entregue a Clement. Pedirei que ele seja discreto para que o senhor não saiba.

Não consigo me conter e acabo por me lançar sobre Margaret, lhe apertando em um abraço. Antes que ela reaja, saio correndo, com a tulipa em mãos.

*

Termino de escrever a carta para Hugo. Nela informo onde estou, quais são os futuros planos do senhor Herman e lhe peço que me tire daqui. O mais rápido possível. Reservo uma linha especial para lhe dizer que estou com saudades. Quando saio do quarto, na minha busca por Clement, me sinto mais esperançosa. Sim, ele virá. Hugo me salvará.

O encontro no grande portão de entrada. Ele sorri assim que me nota caminhar em sua direção com minha carta à mão.

– É sempre um prazer me deparar com sua beleza. – não sei o que dizer diante disso, apenas coro. Ele é deveras abusado, mas de alguma forma não consigo o achar uma má pessoa. Diferente dele...

– A carta. – falo, a estendendo para ele, que o pega com um sorriso. – Muito obrigada, Clement.

– Disponha, minha senhora.

Mais tarde, a senhora Bauer me dá lições de etiqueta no grande salão de jantar. Escuto cada palavra atenta, e me surpreendo ao perceber que estou interessada em aprender.

– Mantenha sempre uma postura ereta, firme. Jamais demonstre estar desinteressada e entediada diante das conversas alheias que participar. Abra a boca apenas para pronunciamentos interessantes e inteligentes. Do contrário, o silêncio é a melhor opção.

Ouço a porta ser rompida com força e me viro, para encontrar um Alexandre furioso entrar no salão. Fico alarmada ao perceber que ele vem em minha direção. Olho para sua mão, notando um papel sendo esmagado pela mesma. Por favor, que não seja o que estou pensando.

Ele agarra meu braço com brutalidade, me obrigando a ficar de pé.

– Com licença, senhora Bauer. Preciso ter uma conversa com minha noiva.

E me arrasta escadaria acima, me fazendo tropeçar diversas vezes. Estou assustada com o tamanho de sua fúria e não consigo reagir. Abrindo a porta do meu quarto, me lança para dentro, quase me fazendo ir de encontro ao chão.

– Que porcaria é essa? – vocifera para mim. Encolho-me contra a parede, o observando explodir. – Quem você pensa que é para novamente desacatar minhas ordens? Entenda de uma vez, você não sairá daqui. Nunca. Aquele incompetente do Clement estará na rua.

Apresso-me até ele, e agarrando seu braço, suplico. – Não. Não faça isso com ele. Eu imploro. A culpa foi minha.

Ele me encara, o rosto bonito torcido em raiva, seus olhos agora de um azul escuro. Quando percebe que não falarei mais nada, continua.

– Por que tens que ser tão ingrata? Não vê que estou te fazendo um favor te mantendo aqui? Salvando sua vida?

Solto uma risada sem humor, a raiva se colocando a frente do medo. Largo seu braço e me afasto.

– Favor? O senhor me faria um favor se me deixasse ir. Deixasse-me voltar para o meu amor.

Alexandre apenas me olha, com agora uma expressão que não consigo decifrar. Depois de segundos que pareceram infinitos, ele vira-se e se vai.

Oh, como eu queria ter o afetado agora. Mas duvido que ele tenha algum tipo de sensibilidade. Está louco como o inferno porque o desobedeci, apenas isso.

Sento-me à minha cama, me sentindo derrotada. Minha carta jamais chegará à Hugo. Tento evitar o pensamento, porém não obtenho sucesso. Será que também jamais sairei daqui? Afundo-me nos lençóis macios da cama. Fechando os olhos, a imagem de Alexandre me vem à mente. Tão bravo. Por que ele insiste em achar que está fazendo o bem me deixando presa aqui?

*

Acordo de supetão ao sentir algo mexer em mim. O quarto está banhado na escuridão e não faço ideia de que horas são. Viro-me para encontrar Alexandre remexendo nos cordões de meu espartilho. Minha primeira reação foi – claramente – saltar para longe dele.

Ele quase sorri diante da minha ação exagerada.

– Acorde para comer. – não é um pedido, nem um chamado. É uma ordem. Continuo imóvel o encarando. Então ele grita. – Agora, Rosie!

Quando ele sai, depois da minha promessa de que estou a caminho, sinto que meu espartilho está folgado em meu corpo. Por Deus, ele estava o abrindo? Além de louco, maníaco, ele é um pervertido. E ainda tem a ousadia de dizer que estou segura com ele. Bufo.

Na mesa de jantar, o silencio é insuportável. Alexandre se mantem carrancudo para mim, não me olha em momento algum. Os criados percebem a tensão à mesa e os olhares que mandam para nós começam a me incomodar.

– O que está te aborrecendo? – solto, antes de conseguir impedir isto. Não acredito que estou puxando assunto com esse ogro.

Ele olha pra mim, uma sobrancelha erguida, como se dissesse “está mesmo falando comigo?”.

– Você. – diz somente.

– Então por que não me deixa ir?

Um sorriso presunçoso surge em seus lábios.

– Sem chances.

Remexo-me em meu assento e sustento seu olhar para mim. Ele observa cada movimento meu e isso está me inervando.

– Queria entender por que está fazendo isso.

Alexandre assume um semblante sério levemente preocupado, acredito. – Acho que você está debilitada demais no momento para ouvir as verdades que tenho a dizer. A única coisa que precisa ter em mente agora é que estou te protegendo. E claro, plantando minha vingança àquele Fretcher.

Sinto um aperto no peito ao ouvir seu nome.

– Morrerei infeliz aqui.

– Com ele morrerá de qualquer jeito.

– Isso não é verdade. Hugo me protegeria de tudo e de todos.

Ele novamente solta aquela risada, como se eu fosse a mais tola das tolas.

– A única pessoa de quem você precisa ser protegida é dele. E acredite querida, ele não fará isso.

Desvio meu olhar para minhas mãos, incapaz de continuar olhando-o. Vejo quando sua mão cobre a minha e a aperta. Tento não demonstrar o quanto isso me pega de surpresa.

– Sinto muitíssimo que esteja passando por tudo isso. Mas não deixarei você ir. Pela sua segurança e para satisfazer minhas vontades, é claro.

O olho incrédula, tirando minha mão da dele com grosseria. E lá está aquele sorriso presunçoso outra vez. Noto Clement atravessar o salão, que a me ver dirige-me um sorriso sem jeito, e sei que está pedindo desculpas. Olho interrogativamente para Alexandre. Ele não iria coloca-lo para fora?

– Você disse que o queria aqui. – diz simplesmente, respondendo à minha pergunta não dita, momentos depois de se levantar à mesa.

Deus, esse homem é um mistério para mim.

Antes de sair, se volta em minha direção. – A proposito, nos casaremos em duas semanas.


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