Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Voltei!! Desculpem a demora, tô desanimada pra escrever:(
Boa leitura!



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Meu coração descompassa uma batida.

A verdade. Estou pronta para saber a verdade?

Era tudo que eu queria desde que Alexandre levou-me para longe, tirando-me de minha vida e colocando-me na sua. Mas agora, diante da realidade dos acontecimentos, temo a gravidade dessa verdade. Permaneço quieta, parecendo um animal assustado. Seja lá o que Margaret pôs em meu ferimento, começa a queimar.

Alexandre move-se desconfortável em seu lugar. Parece procurar uma posição, e as palavras certas.

– Quando eu era mais novo, cerca de uns 10 anos, meu pai me contou uma história. Ele tinha um melhor amigo, chamado Harry Meyer. Nossa família e a família Meyer eram demasiado unidas. Mas havia um homem. Oliver Fretcher. A família Meyer era extremamente rica, dona de uma riqueza inestimável, e Oliver Fretcher sempre esteve de olho nessa riqueza. A família Meyer tinha status e poder, a família Fretcher não, e isso enfurecia e deixava Oliver repleto de cega inveja.

Alexandre suspira, seu olhar perdido, parece mergulhado em lembranças. Mantenho-me encolhida contra os travesseiros, meu coração vertiginoso desde a primeira vez que o ouvi falar “Fretcher”. Estendo minha mão e capturo a sua, tentando tranquiliza-lo. Ele me olha, mas não consigo distinguir o emaranhado de emoções que vejo em seu rosto e em seus olhos.

– Então Oliver Fretcher decidiu que iria tomar essa riqueza, a qualquer custo, mesmo que isso custasse a vida de todos os Meyer. Entretanto, alguém descobriu seus planos e retirou a recém-nascida Meyer da casa na noite em que Oliver pôs em ação seu atentado. Oliver Fretcher acabou morrendo nesta noite, e os Meyer nunca mais foram vistos. Hugo Fretcher tinha apenas 6 anos quanto isso aconteceu, e cresceu alimentando uma raiva contra os Meyer e os Herman, culpando-os pelo que aconteceu a seu pai. Eu nunca havia entendido o porquê do meu pai me contar essa história, até o encontrar morto em seu escritório e meses depois descobrir que Hugo Fretcher foi o culpado disso.

Minha mão cai estupidamente sobre a cama, assim como as lagrimas dos meus olhos. Balanço a cabeça em negativa, compulsivamente. Hugo matou o pai do Alexandre? Não!

– Isso não pode ser verdade.

– Mas é, Rosie. Seu amado Hugo matou o meu pai. Foi alguma espécie de vingança estupida. Fiquei louco como o inferno, o perseguindo e tentando descobrir tudo que podia sobre ele. E esse caminho me levou até você. Quando descobri quem ele era e que estava com você, tudo se encaixou. Hugo cresceu com o ódio e a inveja do pai, e continua utilizando a raiva por sua morte como alimento de sua própria ira. Ele estava tentando seduzi-la, porque acredita que você pode o levar até a riqueza da sua família. Ele nunca te amou, Rosie. Estava apenas te usando. E, pra ser sincero, não acredito que você sairia viva disso tudo. Então decidi que iria te livrar desta, te salvar, como forma de vingança ao Hugo e de te proteger, em honra às nossas famílias.

Estou mortificada. Não acredito que haja ar em meus pulmões, pois cada parte do meu corpo parece ter entrado em estado de inercia. Apenas encaro Alexandre, que tem seu olhar preocupado sobre mim, tentando avaliar minha reação, enquanto o derramamento de agua em seus olhos acontece involuntariamente.

– Diga algo. – ele pede num sussurro.

Mas não sei o que dizer. É demais para processar, e não consigo encontrar um ponto de partida.

– Meus pais morreram?

– Eu não sei. Nunca os encontraram. Minha família acredita que estão, inclusive você.

– Eles não sabem sobre mim?

– Não, sou o único que sei de toda essa historia, e não contei a mais ninguém. Não quero mais envolvimentos.

Alexandre inclina-se até alcançar meu rosto, seu polegar afastando as lagrimas de meu rosto. Encaro seu rosto bonito, até que sinto um frisson de medo ao lembrar-me dos papeis que encontrei na biblioteca.

– Você ainda está atrás do Hugo? – ele remexe-se desconfortável em seu lugar, mas nada diz. – Pare, Alexandre. Por favor. Tudo isso piorou por conta de vinganças.

– Minha vingança seria afasta-la dele, pois você é o que ele mais quer agora. Mas ele está cercando-me, provocando-me. Eu sabia que ele ficaria louco atrás de você, mas agora acredito que também esteja fazendo isso em raiva a mim, por ter estragado seus planos. Está em todos os lugares, ganhando aliados e protegendo-se com isso. Não vou ficar parado apenas assistindo sua façanha, Rosie. Não enquanto você e minha família estiverem em jogo.

– E se algo acontecer com você? – tremo só de imaginar.

Alexandre arrasta-se sobre a cama, até estar com seus joelhos junto aos meus. Tenho minha cabeça entre suas mãos, seus olhos nos meus.

– Eu nunca imaginei que chegaria a sentir algo por você. Não vou permitir que nada te aconteça, Rosie. Pois se acontecer, será a minha morte.

Nem um segundo mais tarde, lanço-me sobre ele, ignorando o protesto do meu braço. Finalmente choro ruidosamente em seu pescoço, meu corpo em seus braços, enquanto Alexandre afaga-me as costas. Permaneço assim por imensuráveis minutos, até meu choro cessar, gradativamente.

– Eu estou aqui. Enquanto você estiver comigo, você estará segura. Então, por favor, Rosie, não vá para longe de mim.

– Se você prometer que deixará o Hugo. Eu também não quero que nada te aconteça.

– Não vou fugir como um covarde.

O olho, meu rosto contorcido em suplica, mas ele não cede. Desisto de tentar quando suas mãos começam a retirar meu vestido, determinando que é hora de repousar.

Naquela noite, não consigo dormir. Quando vejo que Alexandre adormeceu, enrolo-me em uma manta e sigo para janela, empoleirando-me lá. Olho para o vazio da escuridão lá fora, as palavras de Alexandre indo e vindo em minha cabeça. Não consigo afastar a ideia de fugirmos dessa bagunça, e começo a imaginar uma vida longe daqui, no sul da França talvez, com o calor do sol sobre nossas peles e o mar em nossos pés, como nos livros que li. E então eu finalmente render-me-ia a esse amor que tento resguardar, mas que luta contra minhas tentativas. Mas ele não me ama.

Meus pensamentos tomam um rumo diferente, e nesse devaneio estou melancólica e devastada pela possibilidade de algum mal que possa acontecer a Alexandre.

E quando finalmente derivo ao sono, tenho como ultimo pensamento o fato de que preciso dele, mais do que jamais imaginei precisar de alguém.

*

Na tarde seguinte, estou sentada no jardim, em frente à fonte, observando o metódico movimento da agua. Finalmente descobri quem sou, e sinto-me atropelada pela bagagem que veio junto. Nunca realmente havia parado para pensar o que poderia ter ocorrido a minha família, com medo do rumo que meus pensamentos fossem tomar. Agora descubro que há a grande possibilidade de não estarem mais vivos. Cresci alimentando a ideia de que nunca tive pais, exatamente para evitar que este pensamento permanecesse em minha cabeça.

Custa-me acreditar em tudo isso. Custa-me acreditar que Hugo foi capaz de tantas coisas. Sempre fora tão doce comigo, chegando a fazer-me acreditar que era o amor da minha vida. Como pude ser tão tola? Fere-me o quão perverso o ser humano pode ser, por motivos tão banais.

Ergo o olhar e noto Alexandre aproximar-se em minha direção. Em seu habitual terno, seu macio cabelo brilha contra a luz do sol, e estou, por um momento, hipnotizada. Ele senta-se ao meu lado.

– Preferia que estivesse no quarto. – ele faz menção ao meu ferimento. – Como você está?

Sorrio tristemente, voltando a olhar para agua. – Não sei dizer.

Alexandre apodera-se da minha mão, sem nada dizer. Encosto minha cabeça a seu ombro, e permanecemos assim, de mãos dadas, ambos fitando a agua. Mantemo-nos assim até que um de seus homens surge e faz algum tipo de sinal para Alexandre, desaparecendo de nossa vista em seguida. Para minha infelicidade, Alexandre solta minha mão, levantando-se.

– Preciso resolver algumas coisas.

Tenho vontade de perguntar se tem algo a ver com Hugo, mas contenho-me e apenas assinto. Ele transfere um beijo no topo de minha cabeça, em meus cabelos, e se vai. Nem um minuto mais tarde, Margaret surge de algum lugar e senta-se onde Alexandre ocupava momentos antes. Ela aprece aflita e preocupada.

– Menina, o que está havendo?

– Tantas coisas, Marggie.

– Tudo tem estado tão estranho ultimamente. Sinto a tensão do senhor Herman mesmo de longe, seus homens não marcham tanto pela casa desde muito tempo, você é machucada assim, e agora Clement está mais invulgar que nunca.

– O que há com Clement?

– Está quieto e irritado, ignora todas as minhas tentativas de conversa. Pedi-lhe para levar no quarto seu café esta manhã e ele se recusou. Acredito que a bronca do patrão o afetou mais do que imaginávamos.

Franzo o cenho em estupefação às atitudes de Clement, sem tanta certeza de que tem a ver com Alexandre. Margaret levanta-se, levando minha mão consigo.

– Venha, vou preparar o chá que tanto gosta. Sei que irá sentir-se melhor.

Não hesito, e o carinho em sua voz quase me faz desabar.

Depois de apreciar meu chá à cozinha com Margaret, resisto à vontade de ir à procura de Alexandre, e atravesso o grande salão em direção à escada. Antes que consiga alcança-la, um dos homens que trabalham na casa irrompe pela porta e anuncia a chegada de alguém.

– A senhorita Doyle, senhora.

Franzo o cenho. Doyle? Não me parece estranho, mas não consigo lembrar-me deste nome. E, acredite, preferia continuar na ignorância.

Lydia surge na minha visão, provocante em seu vestido preto e cabelos artisticamente arrumados. Sei que há saltos poderosos por baixo dos panos, pois o barulho deles contra o piso ecoa pelo salão. Em meu vestido simples preto e branco, sinto-me como uma adolescente mal arrumada perto dela, e não acredito que nossa diferença de idade seja tanta. Como Alexandre poderia não interessar-se por ela? Tirando o fato de Lydia ser a criatura mais desagradável que já conheci na vida.

– Surpresa em me ver, senhora Herman? – há tanto escarnio em sua frase que preciso lutar contra a vontade de retira-la da casa a puxões de cabelo. – Fiquei sabendo do horrível incidente e vim ver como você estava.

Permaneço de braços cruzados, e apenas ergo uma sobrancelha, demostrando que não acredito em uma única palavra dela. Lydia desata a rir, um riso estrondoso e carregado de maldade.

– Até parece que eu me preocupo com você, não é mesmo? Tome cuidado, querida Rosie. Parece que não sou apenas eu que te odeio e quero tirar-te do meu caminho. – ela sorri, parecendo vitoriosa por acreditar que está me afetando. – A proposito, onde está Alexandre?

Prossigo calada, apenas a observando. Lydia bufa e revira os olhos.

– Não precisa dizer, eu mesma procuro. Conheço esta casa como a palma da mão.

Ela passa por mim, fazendo questão de esbarrar seu ombro no meu. Viro-me, e agarrando seu braço com rudeza, a impeço de seguir o caminho.

– Onde você pensa que vai?

– Solte-me, sua estupida. – Lydia tenta desatar meu aperto, mas eu não cedo.

– Vou te colocar no seu devido lugar, querida Lydia. Longe daqui, longe da minha vida e do meu marido.

Utilizo toda a força que posso para tentar arrasta-la em direção a porta, e ela utiliza igual força para tentar livrar-se de mim, e assim entramos em alguma espécie estranha de batalha. Até que uma porta se rompe, e Alexandre está na sala.

– O que está acontecendo aqui? – sua voz autoritária faz-me afrouxar o aperto no braço de Lydia, que corre para o lado dele.

– Essa selvagem estava tentando me machucar, Alexandre. Ela me odeia e sente inveja de mim, por isso não suporta minha presença e queria tirar-me a força de sua casa.

Assisto perplexa seu teatro. Ela realmente esforça-se para parecer assustada e machucada, a todo o momento esfregando seu braço. Balanço minha cabeça em negativa, sem conseguir acreditar em sua dissimulação.

– É uma ignorante selvagem, Alexandre. Como pôde se casar com ela? Admira-me que sua família aprove isso. É uma vergonha um homem como você estar casado com uma sem modos como ela.

– Cale-se, Lydia. – Alexandre grita, mas o estrago em mim já foi feito.

– Não se preocupe, Alexandre, vou retirar-me. Pode continuar com ela. Acredito que a presença dela seja mais adequada que a minha.

Praticamente corro para as escadas, não dando tempo de reação de Alexandre. Meus olhos queimam pelas lágrimas que reprimo, pois não darei o prazer a Lydia de me ver chorar. E saio, deixando Lydia com um sorriso vitorioso nos lábios, e sabendo que, se eu entrar nessa briga, tenho grandes chances de ser a mais machucada.


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