Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, foi feito com bastante carinho!



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Primavera em Londres, Inglaterra.

É fim de tarde. Sinto mais uma jorrada de vento balançar meu vestido e eriçar os pelinhos do meu braço. O sol forte aquece meu rosto enquanto eu aprecio estar deitada sobre a grama do parque.

Algo se posta a minha frente, escondendo meu rosto do sol. Sorrio muito antes de abrir os olhos, pois sei quem é. Reconheceria seu cheiro mesmo em meio a muitos, mesmo longe. Abro os olhos para encontrar Hugo inclinado sobre mim, sorrindo estupefato.

- Você demorou. – digo, com falso aborrecimento. Não aguentava ficar longe dele, por menos tempo que fosse. Desde que nos esbarramos há alguns meses quando eu comprava frutas na feira do centro, meus olhos não saíram mais dele. Nem meu coração. Estava perdidamente apaixonada por Hugo Fretcher. Acredito que nenhuma das moças dos livros que leio chegou perto de tal sentimento que sinto.

- Precisei resolver algumas coisas antes. – ergo minha mão até seu rosto, deslizando a mesma até seu emaranhado de cabelos escuros, o apertando em meus dedos. Sou distraída por uma nuvem escura que passa por cima de nós.

- Acho que vai chover. – minha voz soa desanimada, pois é como fico ao constatar que teremos que sair dali.

Hugo segura minhas mãos, me ajudando a levantar. Por conta da força que ele colocou ali, meu rosto vai parar perto do seu, nossas bocas a centímetros uma da outra. Então um momento perdido no tempo. Meu olhar azul perdido no seu olhar escuro. Encaro seus olhos astutos para mim, não conseguindo decifrar o que há neles. Mas, oh, por favor, que seja amor...

Quando ele se inclina para juntar nossos lábios, grossas gotas de chuva caem sobre nós com fúria, atrapalhando o momento precioso. Naquele ritmo, em poucos minutos estaríamos encharcados. Hugo sorri quando eu solto uma risada, tentando disfarçar meu descontentamento.

Me afasto e começo a correr para longe. Hugo corre atrás de mim, enquanto eu giro e giro, sentindo a chuva lavar minha alma, permitindo me sentir feliz. Apesar dos acontecimentos infelizes de minha vida.

Aos 19 anos, eu era órfã, morava em um quartinho escondido no orfanato em que fora abandonada quando recém nascida e crescera, onde agora trabalhava em troca de ter um teto sobre minha cabeça e algo para comer. Sem família, sem amigos. Só Hugo.

Olho para trás e o encontro me seguindo, a chuva borrando minha visão.

- Rosie, me espera. – ele grita.

Paro somente quando chego à rua do orfanato. Me escondo na esquina, para não correr o risco das irmãs me verem com Hugo. Segundos depois, ele me alcança.

- Você corre hein?! – ele está sem folego, eu rio. Estamos encharcados. Me aproximo dele, agarrando a gola de sua camisa e o puxando para mim.

- Não preciso ir agora. – sussurro. – Já acabei meu trabalho, posso pegar mais algumas horas de folga.

Não estava muito certa disso, mas preferia arriscar.

- É melhor. Está chovendo muito, não encontraremos um lugar seco e seguro dos olhares alheios.

Torço a boca. No momento em que me afasto dele, uma carruagem escura para a nosso lado. Sinto meu coração pular pelo susto. Não pela carruagem, mas pelos homens enormes que saltam dela e agarram ambos meus braços.

- Ei, me soltem! – protesto, me debatendo, mas eles não mexiam um musculo.

- O que é isso? Soltem-na. – Hugo tenta me livrar dos homens, mas outro surge, o empurrando com tal força que é jogado no chão.

Meu coração dispara mais ainda, minha mente confusa não consegue processar o que está acontecendo. Quero gritar, pedir ajuda, mas nada sai da minha boca. Apenas lágrimas dos meus olhos, que se confundem com as gotas de chuva em meu rosto.

Outro homem sai da carruagem, esse agora não tão ogro e parecendo bem mais novo que os demais. Há um sorriso irônico em seus lábios. Vejo Hugo arregalar os olhos ao vê-lo. Ele o conhece?

- Eu disse que você tinha que pagar. Dei-te um prazo, Fretcher. – o homem diz, se aproximando.

- Já disse que não vou te dar nada. – Hugo continua prostrado no chão. Por que ele não se mexe? Faça algo, por favor.

- É uma pena, porque terei que tirar a força então. – ele olha para mim, seu dedo percorre a lateral do meu rosto. Viro o rosto, com medo e repulsa.

- Tire suas mãos dela. – Hugo rosna, tentando avançar sobre o homem que me tocara, mas o outro grandalhão lhe transfere um soco no rosto, o fazendo cair. Quando está feito, ele o chuta na altura das costelas, fazendo Hugo gemer.

- Hugo! – grito. Desesperada, começo a me debater novamente.

Sou arrastada pelos dois homens em direção à carruagem. Tento de toda forma dificultar isso, mas não tenho chances contra eles, não tenho forças.

- Me soltem. Deixem-me ir. Hugo! Hugo! – continuo gritando e me debatendo. Hugo apenas continua deitado, me olhando ir. Em sinal de raiva, ele soca o chão. Mas não faz nada. Por que você não faz nada? Hugo!

Os homens me jogam no banco de trás, e no mesmo segundo a carruagem ganha movimento, correndo para longe dali. Quero fugir, mas sou impedida por um dos homens que leva um pano ao meu rosto, o apertando contra meu nariz.

Em poucos segundos fico zonza, minha visão embaçada.

E mergulho na escuridão.

*

Acordo desorientada. Estou em um quarto escuro, sobre uma cama extremamente macia. Aos poucos os acontecimentos recentes voltam a minha memoria e me encontro desesperada novamente. Procuro sinais em mim, mas não estou presa nem amordaçada. Luto contra o lençol sobre mim e salto da cama, em busca da porta. Quando a encontro, a decepção. Está trancada.

Começo a bater descontroladamente contra ela, gritando por socorro. Peço ajuda, imploro para me tirarem dali. Lágrimas incessantes correm por meu rosto. Nada acontece.

Quando desisto, encosto minha testa na porta e choro mais. Ouço a porta ser destrancada e salto para longe dela, assustada. A porta se abre, revelando o homem que vira mais cedo – o que conversara com Hugo.

Hugo!

Onde você está?

- Você é bastante escandalosa. – à medida que ele adentra o quarto eu dou passos para trás, para longe dele. Pareço um animal assustado e ele apenas sorri. Mexe em algo, trazendo claridade para o quarto. – Está tudo bem. Não vou te machucar, muito pelo contrário.

Ergo uma sobrancelha, sem entender o que ele queria dizer. Ele se aproxima mais de mim e eu recuo, até encostar em um móvel e não ter mais pra onde ir. Agarro as bordas do que parece ser uma mesa atrás de mim, alarmada.

- Você é muito bonita. – ele continua me analisando da cabeça aos pés. – Vai servir.

Arregalo os olhos, os piores tipos de pensamentos me surgindo. – Servir para o que?

Meu fiapo de voz sai rouco e sussurrado.

- Para ser minha esposa.

O que?

Não consigo impedir que um riso irônico saia da minha boca. O rosto do homem se transforma em uma carranca, parecendo nada satisfeito com minha atitude.

- Você enlouqueceu. – falo, me colocando na defensiva. – Não vou casar com você.

- Ah, você vai sim. Não tem escolha.

Ele começa a caminhar pelo quarto, passando o dedo pelos moveis. Meus olhos jamais o deixando. Só então um pensamento importuno me ocorre: ele é bastante bonito. Não parece muito mais velho que eu. Seu cabelo escuro, levemente dourado. Seus olhos de um azul tão azul quanto o meu. Uma barba por fazer no rosto. Está vestido em um terno e, com meu vestido simples, me sinto uma empregadinha diante de tal elegância. Não consigo impedir a comparação com um gato. Digo, um felino de verdade. Ele parece um.

- Sabe, seu namoradinho é um babaca. – ele joga todo escarnio possível ao falar “namoradinho”. Tem seus punhos fechados, e olha pra mim, o rosto torcido em fúria. – Ele me causou muito mal. Então tinha que pagar. O queria na miséria, morto se possível.

Um arrepio me corre a espinha. Antes que eu pense em algo para falar, ele continua.

- Mas por algum motivo estupido ele acha que não me deve nada. Então eu pensei: “bom, hora de agir”. E aqui está você.

- Me tirou do Hugo para que ele pagasse sofrendo pela minha falta? – ao me ouvir, ele solta uma risada alta e ogra. Tento recuar mais, mas bato novamente contra a mesa.

O homem olha para mim, e, acho que ao perceber meus olhos marejados, cessa sua risada. Mantem uma feição séria, sem tirar seus olhos dos meus.

- Aquele verme vai sofrer sim com a sua falta, mas não é por amor. Ele não te ama, acredite em mim. Não tinha nada a te oferecer. Você ficará bem melhor aqui.

Nego com a cabeça, enjoada com as coisas que acabo de ouvir.

- Você é um louco, psicopata! – vocifero. Tento correr até a porta, mas ele é mais rápido e mais forte, a barrando.

- Nem pense nisso, Rosie. – paro de lutar ao ver que ele sabe meu nome. – Sim, eu sei seu nome. Sei tudo sobre você. Tenho homens por toda cidade, tente fugir e você não voltará viva para receber meu sermão.

Me afasto dele com medo. Ele continua segurando a porta, mas acho que agora, para sair.

- Você estará bem e segura se estiver aqui, comigo. Vou te moldar e te preparar. Será uma esposa perfeita. Acredite, pode não ser feliz aqui – o que não me importa nem um pouco –, mas nada te acontecera. Você terá muito mais aqui do que jamais teria naquele orfanato de merda ou nos braços daquele verme. Acredite Rosie, estou salvando a sua vida. – ele sorri, satisfeito consigo mesmo, como se estivesse me fazendo um favor.

Faço uma careta, enojada, e sussurro. – Eu te odeio. Me deixe ir.

Ele sorri mais, um sorriso lascivo e cheio de segundas intenções, enquanto seu olhar me percorre por inteira, me causando arrepios.

- Você pode me chamar de Alexandre, seu futuro marido.


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