Aqui estou eu correndo com os Audaciosos, fazendo parte dos Audaciosas. Correndo em direção a minha nova vida, aos meus novos desafios na Audácia. E esse era o momento que eu me senti mais livre em toda a minha vida, livre como o vento.

Essa sou eu!

Na verdade eu não estou literalmente correndo para a minha nova vida, na verdade estou correndo para onde o trem passa, obviamente. Quando se trata da Audácia todos sabemos que pular de trens em movimento e em trens em movimento é uma coisa básica, é como a primeira regra a ser aprendida.

Bem, chegamos até uma especie de ponto, os trilhos estão lá em cima e todo mundo estava escalando, e eu fui junto é claro. Subir não foi um grande desafio já que eu estava acostumada a subir no teto da minha casa, mas exige concentração, é uma altura considerável.

Eu fui uma das últimas a chegar lá em cima, mas cheguei. Todos estávamos eufóricos esperando o trem. Eu já podia sentir a vibração de quando o trem está chegando. E mais ainda, eu podia ouvir o trem se aproximando. Quanto mais o trem chegava mais minha adrenalina subia.

O trem passou por mim numa velocidade média, mas ainda sim fez as minhas roupas da Abnegação voarem, e se eu não estivesse preparada talvez tivesse me desequilibrado. Estou fascinada olhando o trem passar quando escuto alguém gritar.

Vem.

Olho para o lado e todos estão correndo junto com o trem, alguns se jogando para dentro. Eu começo a minha corrida, corro o mais rápido que consigo. O trem está acabando, estou ficando para trás, minha última esperança é o último vagão que se aproxima. Eu me prepara e agarro a alça e me iço para dentro.

Tentando sair da borda rapidamente eu esbarro em alguém. Uma garota da Franqueza.

– Desculpe. - Eu digo.

– Tudo bem. À propósito, eu me chamo Christina.

– Beatrice.

Passei o resto da viagem de trem sentada ao lado de Christina, foi confortável.

Depois de um tempo ouve um pequeno tumulto, eu levantei e olhei para fora.

– O que houve? - Pergunta Christina.

– Estão pulando! - Eu digo.

– O que? - Ela diz e se levanta para olhar também.

– E se não pularmos? - Um garoto diz em algum lugar do vagão.

– O que você acha? Vira um sem facção. - Um garoto da Franqueza disse.

E as pessoas continuavam pulando em cima do teto de um prédio, o trem não estava lento como quando entramos, estava mais rápido. As pessoas do nosso vagão começaram a pular, e chegou o momento que só sobraram eu e Christina.

– Juntas? - Ela perguntou e eu assenti. Demos as mãos e fomos para trás para pegar impulso. - No três. 1,2,3.

E pulamos, soltamos as mãos em algum momento no ar, e caímos rolando no teto do prédio. Pelo menos conseguimos chegar ao teto, teve uma menina que caiu no vão. Tem outra chorando toda desesperada, mas não consigo prestar atenção nisso por muito tempo.

– Atenção. - Diz um cara do outro lado do teto, ele parece ser bem jovem. Uns dois anos mais velhos que eu no máximo, mas pelo que sei idade não conta muito para a Audácia. - Eu sou Eric, um dos líderes da Audácia.

Ele esperou todos se reunirem perto da borda do prédio onde ele estava de pé com uma cara de impaciência, parece que ele não é um cara legal. Não sei se foram as várias tatuagens ou os diversos piercing distribuídos pelo seu rosto que me deram essa impressão, mas parece ser alguém difícil.

– Vocês terão que pular daqui para entrar na Audácia.

– Acabamos de pular e já querem que pulemos de novo? - Ouvi a voz de Christina em meio aos burburinhos que se formaram.

– Você sabe se tem água no fundo? - O mesmo garoto do trem perguntou.

– Você vai ter que pular para descobrir. - E novamente um burburinho se formou.

– Então? Quem vai ser o primeiro? - Eric perguntou fazendo todos se calarem.

Um tempo se passou e ninguém queria ser o primeiro a pular.

– Eu. - Eu não consigo diferenciar o momento em que falei e o momento em que decidi fazer isso.

– Uma careta, vamos lá então. - Ele disse e desceu do muro na borda do prédio.

Todo mundo estava me olhando, eu andei até a borda e olhei, era alto e tinha um buraco no fim, não dava para ver nada além disso.

Comecei a tirar a minha blusa para ter mais liberdade.

– Isso careta, tira tudo. - Disse o mesmo cada da Franqueza do trem

Assim que terminei de tirar joguei num canto.

– Coloca de volta. - Comentou o garoto sem graça e já odiado da Franqueza.

Sinceramente, quanta infantilidade. Mas voltei a me focar no que tinha que fazer. Subi no muro com muito cuidado, e me equilibrei de pé. O vento, meu companheiro novamente estava lá, açoitando meu rosto e me provando que aquilo era real.

– É para hoje inicianta. - Disse Eric me apressando.

Sinceramente não prestei muita atenção nisso, só me concentrei em estar pronta para pular, e quando eu estava pronta eu pulei. De braços abertos e sentindo o vento e a liberdade bater contra o meu corpo. Eu não gritei como achei que faria, só cai.

Bati numa rede assim que passei pelo buraco, olhei para o imenso céu azul que dava para ver e sorri. Não durou muito pois a rede foi puxada e eu rodei para a ponta, foi muito rápido, em um momento eu estava deitada olhando para o céu e no outro alguém me ajudava a descer da rede, assim que fiquei firme no chão olhei para agradecer quem me ajudou, mas travei E só um nome me vinha a mente.

Tobias.

– Você foi empurrada? - Ele perguntou e simplesmente ignorou o fato de estarmos nos reencontrando. Estou muito confusa, mas mesmo assim respondo.

– Não. - E aqui está ela, a tão famosa e ridícula dor, eu não estava sentindo falta dela, ela podia ficar bem escondidinha onde ela estava. Claro que não deixei transparecer nada, não quero ser fraca.

– Qual o seu nome? - Ele perguntou.

Como assim? Ele sabe o meu nome!

– Bea...- - Comecei e parei. Não consegui terminar.

– É um nome difícil? Se quiser pode mudar, só tem essa chance para isso.

– Tá… - Eu disse e pensei.

Eu quero ser diferente, não quero ser a garota da Abnegação e essa garota é a Beatrice então nada melhor do que mudar meu nome.

– Tris. - Eu digo, sem nem ao menos pestanejar.

Ele vira para o lado onde estão várias pessoas não prestando atenção na gente e grita

– Tris, primeira a pular!

– Tobias. - Eu sussurro.

– Seja bem-vinda a Audácia. - Ele diz seco. - E eu não sou Tobias.

Dito isso ele vai pro outro lado e as pessoas que não estavam prestando atenção agora me levam para o canto, logo mais alguém cai na rede e Tobias está lá os ajudando.

Não, não o Tobias. Esse desconhecido que eu estou vendo não é o Tobias. Um dia com certeza já foi, ele está diferente, mas eu reconheceria o Tobias com qualquer mudança, mesmo que ele ficasse cheio de piercing e tatuagem como Eric, ainda assim eu o reconheceria.

Eu não sabia que ele tinha vindo para a Audácia, eu nunca soube para onde ele foi. E olha só que merda de destino, brincando de esmagar o meu coração de novo. Eu vim parar logo junto do Tobias.

Quando todos já tinham pulado uma moça, que inclusive era a moça que aplicou o meu teste falou:

– Nascidos na Audácia venham comigo, acho que vocês não precisam de um tour do lugar. - E assim os nascidos na Audácia foram juntos dela e sobraram apenas os transferidos e o Tobias. Ele estava na frente do grupo e começou a falar.

– Olá, meu nome é Quatro e eu serei o instrutor de vocês.

– Quatro? Como o número? - Eu perguntei debochando dele. O que será que ele vai fazer? Ele olhou para mim com cara de poucos amigos, mas isso não me assusta. Não tem como o Tobias me assustar.

– Exatamente como o número. - Ele disse com um sorrisinho para mim.

– O que aconteceu? o 1,2 e 3 já estavam escolhidos? - Dessa vez foi a Christina que perguntou.

– Qual é o seu nome? - Ele chegou bem perto de Christina para perguntar isso, e a cara dele estava de dar medo, até em mim. E foi aí que eu me toquei que esse não era mais o Tobias, nem um pouquinho que seja, esse era o Quatro, um integrante da Audácia. Meu amigo Tobias parece estar morto.

– Christina.

– A primeira coisa que você vai aprender comigo é como manter a sua boca fechada!