Potens Summi escrita por Samantha


Capítulo 36
Transmissio




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Naquela manhã, Bruce Kean acordara com o coração na boca: Não porque era dia de prova em Hogwarts, mas porque tivera um pesadelo com sua falecida avó. Mais um pesadelo.

Desde o incidente na casa de Klaus, tais pensamentos eram cada vez mais constantes em sua mente: Ele estava em um espaço branco e vazio. Suas roupas eram brancas também. A voz de sua avó ecoava em sua cabeça. Possuía o timbre calmo usual da velha Sun-Hee, mas havia algo de perturbador nela.

 

Aeternum vale. Ela repetia várias e várias vezes.

Contudo, havia algo de diferente no pesadelo daquela vez. Ele se estendera mais alguns minutos, o bastante para que ele pudesse ouvir sua avó dizer:

Transmissio. Chegou a hora, Bruce.

E, repentinamente, uma espécie de névoa prateada envolvera o garoto e entrara em sua boca com agressividade. Ele sentiu uma dor horrível na parte traseira de seu corpo, como se suas costelas se rasgassem. Enquanto agonizava de dor, ouvia uma voz neutra dizer:

Transmissão, do latim Transmissio, é uma habilidade jamais manifestada em uma Potens Summi até Sun-Hee Kean. Tal poder permite que a usuária possa passar um dom aleatório para outra pessoa que partilhe do mesmo sangue através de qualquer contato corporal. Contudo, tal feito só pode ser realizado uma vez em toda a existência da feiticeira portadora.

 

Repentinamente, penas brancas e macias começaram a emergir das feridas das costelas de Bruce. Enquanto o rapaz gritava e se contorcia, a voz de Sun-Hee ecoava pelo local, lembrando-o do dia de sua morte:

Estou livre, de fato. Bruce, meu pequeno, estou tão orgulhosa do homem que você se tornou! Nunca se esqueça de suas origens e de seus valores. Viva para o bem. Na linha tênue que existe entre luz e escuridão, é muito fácil escorregar para o lado ruim... Mas você é um anjo. Agora eu sei disso...

 

Bruce Kean abriu os olhos e caiu da cama ao sentir, desta vez pra valer, aquela dor cortante nas costas. Antes que algum de seus colegas acordasse, correu até o banheiro e se trocou lá. Conteve um grito de horror ao olhar-se no espelho:

Ele tinha asas de anjo.

Aquilo era, com certeza, a coisa mais bizarra que havia lhe acontecido.

O rapaz tentou se acalmar e botar os pensamentos no lugar. Respirando fundo, tentou imaginar as tais asas voltando para dentro de seu corpo e, incrivelmente, elas o fizeram.

Ele se sentou no chão do banheiro, ofegante. Era quase como se ele soubesse exatamente como usá-las... Como se elas sempre tivessem sido uma extensão de seu corpo.

E então ele entendeu o propósito de tudo aquilo. Sun-Hee não estava lá em corpo, mas com certeza estava em alma.

Astrid precisava dele.

~x~

No primeiro dia de aplicação das provas finais – mais conhecidas como N.O.Ms e N.I.E.Ms – Astrid acordara sentindo-se mal: dores incomodavam suas têmporas e seus olhos sofriam de uma ardência estranha.

Tentando ao máximo ignorar os sintomas, arrumou-se e rumou para o Grande Salão. Encontrou as amigas e, no meio da refeição matinal, Isabelle sussurrou para as mesmas:

— Preciso mostrar uma coisa para vocês. É urgente.

— O que vai mostrar agora? Uma segunda marca negra? – rosnou Sapphire – Me poupe.

— Menos. Vamos acalmar os ânimos, não quero ter que separar nenhuma briga aqui hoje. – Rachel deu uma cotovelada na garota negra, que revirou os olhos.

— O que é? – perguntou Lupe, preocupada.

Antes de mais nada, Isabelle foi até a mesa da grifinória para chamar Jude. Quando a moça se juntou as outras, a loira finalmente tirou do bolso das vestes um pequeno espelho com moldura negra e um pedaço de pergaminho com algo escrito. Astrid puxou o bilhete e leu-o em voz baixa para que apenas as outras garotas ouvissem:

Veja como eu vejo.

K.

 

— O que o filho da puta tá inventando agora? – perguntou Jude, franzindo o cenho.

— Não sei, mas coisa boa não deve ser. – Rachel cruzou os braços, tentando pensar em alguma explicação plausível.

— Chegou hoje de manhã. Eu havia deixado a janela aberta ontem e, quando acordei, o pacote estava em cima da minha cama. – disse Lawrence.

— Isso só me faz ter maus pressentimentos... Espero que eu esteja enganada. – suspirou Astrid.

— E espero que Isabelle não venha nos trazer mais problemas. – vociferou Sapphire, segurando seu garfo com força.

— Escuta aqui garota: Eu estou cansada de ouvir você falando merda. Eu não pedi por isso, ok? – disse Isabelle, cerrando os dentes – Eu sei o que eu fiz e eu não preciso ficar recebendo seus sermões ou seus olhares de reprovação. Já não basta a porra da culpa que me assombra todos os dias. Eu sei que pode demorar um pouco para vocês me perdoarem, mas não vai adiantar ficar espalhando sua raiva todo dia, caralho! Então por favor, me erra, beleza?

— Você não tem direito nenhum de reclamar. Você perdeu a porra da razão quando foi fazer merda sozinha. – resmungou Sapphire.

— Ah, me dá um tempo sua...

— Calem a boca as duas! Que merda! – Lupe bateu na mesa, fazendo Isabelle tomar um susto – A merda já tá feita, já passou, já foi! E se as duas garotinhas não têm maturidade o bastante para lidar com isso vão ter muito mais problemas do que pensam. – e se levantou da mesa, dizendo antes de sair com passos largos – Eu preciso esfriar a cabeça.

— Lupe! – disse Isabelle, apontando para Sapphire logo antes de sair correndo atrás da morena – Viu o que você fez?

Astrid guardou o espelho e o bilhete no bolso. Sapphire exibiu uma expressão culpada em seu rosto, mas antes que pudesse dizer algo Jude olhou-a com ternura e disse:

— Relaxe, logo elas voltam. Eu também tenho dificuldades em conter a língua e, se você não tivesse dito, eu teria o feito. Entendo a situação da garota, mas, sinceramente, não consigo perdoar. – ela disse em um misto de tristeza e raiva – E com certeza não consigo esquecer.

~x~

Os N.O.Ms haviam começado. Astrid olhou para o lado discretamente e viu os colegas fazendo a prova, mas não estava calma o bastante para se concentrar: Além dos olhos que ainda ardiam, não havia visto Isabelle ou Guadalupe depois da briga que havia acontecido de manhã: estariam elas tão bravas a ponto de perder os exames mais importantes do ano?

Um som estranho tirou-a de seus devaneios. Ela não conseguia descrevê-lo, até que viu um vulto do que o originara passando por trás de Umbridge (que estava sentada à frente dos alunos) com rapidez: Era rápido, dourado e... Por Merlin, era uma faísca!

Tudo se passou muito rápido. Astrid não conseguia acreditar em seus olhos.

Repentinamente, no meio dos exames, fogos de artifício começaram a explodir em toda as áreas do castelo onde haviam provas sendo aplicadas, surpreendendo os alunos e aterrorizando Dolores Umbridge. Quando o primeiro estouro surgiu, o primeiro pensamento que veio à cabeça de Astrid foi:

Fred e Jorge.

Sem muito tempo para devaneios, levantou-se com os outros estudantes que, aos berros e risos, deixavam a sala às pressas e corriam para ver a bagunça do lado de fora. Umbridge não conseguiu acalmar a multidão, pois estava muito ocupada sendo perseguida por um enorme dragão feito de fogos de artifício.

Em meio a todo o alvoroço causado pelos fogos que explodiam em cores vivas pelo salão principal, Astrid e suas amigas se espremeram na multidão, olhando em volta encantadas enquanto corriam para a parte externa do Castelo. Nem mesmo Bruce, que estava ali por perto, pôde conter um sorriso. A cara de sapo merecia tudo aquilo e muito mais.

Mais do que nunca, sentiu a necessidade agradecer aos gêmeos por darem uma lição nela. Desviando dos alunos animados que bloqueavam seu caminho, procurou Fred Weasley com o olhar. Rapidamente encontrou, no ar, duas silhuetas com cabelos ruivos. Os gêmeos estavam montados em suas vassouras: Ambos incentivavam os outros alunos a continuarem rindo e gritando, de vez em quando realizando alguns movimentos aéreos ou fazendo alguma gracinha. Fred Weasley parecia mais feliz do que nunca.

Os olhos dos dois jovens se encontraram por um instante. O rapaz voou até a moça e parou ao seu lado. Exibia um grande sorriso orgulhoso e seus olhos castanhos esbanjavam satisfação. Suas bochechas estavam levemente rubras e ele arfava.

Astrid achou-o extremamente atraente.

— O que está achando? – Fred fitou-a com excitação, esperando que dissesse algo.

— Tenho que admitir... Ninguém teria feito melhor. – a garota assobiou, fazendo-o rir.

— Aposto que será um espetáculo que ninguém irá esquecer. – Dirigiu-lhe um sorriso animado.

 Astrid escutou Jorge gritar por Fred, acenando para que este se apressasse.

— O que vai fazer, ruivo? Depois que Umbridge se recuperar do susto ela vai te dar uma detenção daquelas. Duvido que vá poder jogar Quadribol de novo. Espero que tenha um bom plano e... – Astrid disse, mas parou ao notar a expressão de Fred murchar instantaneamente.

— Lembra de quando eu te disse que iria sair de Hogwarts? – ela confirmou com a cabeça.

— Então... É agora, Trid. Fred e eu estamos fugindo.

Astrid arregalou os olhos com a surpresa, comprimindo os lábios. Não sabia como reagir à notícia.

— Mas já? – e o garoto assentiu com a cabeça. Ela vacilou, dando um passo para trás. Abriu um sorriso triste e disse – Então você estava falando sério...

— E por que não estaria? – perguntou o rapaz. – Aquela foi uma das únicas conversas sérias que já tive com alguém.

— Desculpe. Eu só... Pensei que tivéssemos mais tempo.

Ele aproximou-se e pousou no solo, pegando suas mãos e as segurando com delicadeza ao dizer:

— Sabe que essa coisa toda não é para mim. Aqui não é o meu lugar, sabe que se não fosse por você e Jorge, me sentiria um peixe fora d’água. Quero realizar meus sonhos... Vou espalhar alegria pelo mundo, Astrid. Vou botar um sorriso em cada rosto triste que encontrar em meu caminho. É para isso que eu sirvo. – e, apertando suas mãos com firmeza, completou – Quanto a nós...Temos todo o tempo do mundo, Trid. Temos a eternidade.

Ela assentiu tristemente com a cabeça. Sentiria falta de Fred nos corredores de Hogwarts: Ele era seu porto seguro, a pessoa que a fazia rir quando ninguém mais conseguia fazer. Contudo, o ruivo tinha razão: Aquilo não era o fim.

—  Fred, precisamos ir agora! A cara de sapo vai estar de volta logo! – Jorge gritou para o irmão.

— Apronte bastante por mim, Astrid Black. Não deixe que os sorrisos sumam. – e, soltando suas mãos, enlaçou-a com firmeza e deu lhe um beijo doce e apaixonado. Trid passou os braços em torno do pescoço de Fred, e os dois só se soltaram quando seu irmão o chamou aos berros, gargalhando.

Jorge mandou um beijo no ar para Astrid, que pegou-o e mandou um de volta. Dando-lhe uma última piscadela e entregando-lhe um pedaço de pergaminho, Fred Weasley subiu na vassoura e levantou vôo.

Ao abrir o bilhete, Astrid pôde ler o endereço de onde seria a tão sonhada loja dos Gêmeos Weasley.

Sabe onde nos encontrar.

F.

Enquanto todos comemoravam, Trid sentiu algo em seu bolso queimar. Assustada, tocou-o e sentiu o pequeno espelho. Com os dedos formigando, pegou-o com as mãos e, no momento que o fez, o espaço onde deveria mostrar seu reflexo mostrou imagens levemente enevoadas que, ao ganharem foco, quase a fizeram derrubar o objeto:

Guadalupe e Isabelle estavam sentadas em cadeiras de madeira, uma de frente para a outra. Ambas estavam amarradas por um feitiço e pareciam estar extremamente assustadas. Astrid pôde ver uma silhueta passando por entre as duas cadeiras e, depois dela, uma voz masculina gritando “Crucio”. Em reação a isso, Lupe contorceu-se e conteve um grito, enquanto Isabelle gritava a todos os pulmões e tentava se soltar da cadeira.

O espelho mudou de direção e apontou para um pedaço de pergaminho que mostrava o que parecia ser a localização das garotas. O objeto mudou novamente de rumo e aproximou-se com rapidez do rosto de Klaus, focando em seus olhos persuasivos. Trid pôde ouvi-lo rir quando ele disse:

A hora chegou. Que tal uma reuniãozinha informal? Tudo bem se você se atrasar... Tenho inúmeras ideias para entreter as duas primeiras convidadas!

 

Astrid deu alguns passos e puxou Jude (que era a garota mais próxima dela) pelo braço desesperadamente.

— Que foi, porra? – perguntou White, franzindo o cenho.

A loira tentou se acalmar ao máximo para poder explicar tudo o que vira para a amiga com o máximo de detalhes possível. Pediu-a para que passasse a informação adiante e que a encontrasse com as outras garotas na sala do diretor.

Ela precisava encontrar Harry Potter. No meio da multidão, viu-o com uma expressão desnorteada, caindo ao chão. A loira se aproximou com rapidez, ajudando-o a se levantar e perguntando:

— Você está bem?

Sirius...— o rapaz balbuciou com um olhar perdido, totalmente chocado – Ele está em perigo.

Contou à garota sobre sua visão com Sirius e ela, ainda mais desesperada, contou rapidamente o que acabara de ver no espelho.

— O que vamos fazer? Como vamos estar em dois lugares ao mesmo tempo? – perguntou Astrid, à beira das lágrimas.

— Deixe Sirius comigo. Eu, Hermione e Rony vamos até ele. – disse Harry com firmeza.

— Não, eu preciso ir. – a garota disse desesperadamente – Eu preciso ajudar papai, alguém precisa avisar mamãe e...

— Ei. – Harry tentou recobrar todos os sentidos para segurar a garota pelos ombros e encará-la profundamente – Precisamos manter a calma ou não vamos conseguir ajudar a todos. Se você for até Sirius, quem vai socorrer as garotas? – Astrid não conseguia mais conter as lágrimas – Vai ficar tudo bem. Eu vou ajudar Sirius, você ajuda Guadalupe e Isabelle. Te manterei informada, e quem de nós conseguir sair primeiro corre para ajudar o outro. Não se preocupe, daremos um jeito. Sempre damos. Vamos nos reunir no fim do dia e tudo vai ficar bem, Astrid.

A moça assentiu tremulamente:

— Eu estou com medo.

— Eu sei como se sente. – o moreno disse com um olhar compreensivo – Mas com medo ou não, suas amigas precisam de você mais do que nunca. Você é forte.

— Cuide bem do meu pai, Harry. – ela secou as lágrimas rapidamente, tentando se recompor.

O garoto assentiu com a cabeça e beijou-lhe a testa, lançando um olhar significativo antes de sair correndo ao encontro de Hermione, que estava próxima dali.

E então Astrid desatou a correr e só parou quando finalmente chegou perto da porta da sala do Diretor. Ao notar a presença de Bruce e Peter, a garota franziu o cenho. Antes que pudesse perguntar, Jude interrompeu-a:

— Bruce tem uma surpresa para você. Ele precisa vir com a gente... Ah, foda-se, explicamos no caminho.

— Certo... - Trid disse com uma expressão confusa.

— E eu com certeza não a deixaria ir sozinha. – disse Peter autoritariamente.

— Por que isso fica cada vez mais estranho? – assobiou Sapphire, recebendo um aceno de concordância de Rachel.

— Jude, contate Aurelia. – disse Astrid, respirando fundo – Está na hora, pessoal.


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