Dupla Face escrita por Sango Soryu


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Gabriel de Souza Mota.

Copie, eu conto pra ele e vocês morrem è-é



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     Eu jamais imaginei que nos caminhos de minha vida o destino pregar-me-ia uma peça.Físicos e estudiosos espalhados por toda imensidão e infinito numa bola misteriosa chamada Terra afirmam que o tempo pode ser regressado.Mas enquanto eles enchem nossas cabeças de "lorotas" e contos de fadas nada sai do mesmo patamar de ilusões que é a vida.Mas agora não há nada a fazer.Aliás, o que faria uma velha esmagada numa cama de hospital após passar por um acidente que a própria vida arrumou de realizar?Se foi castigo acho merecedor, o que faz aqui na Terra há de ser pago na mesma Terra.Maldita hora que cheguei em casa com um filho nos braços sem rumos de minha vida, sem qualquer planejamento para o futuro que acabara naquele momento.Momento de segundos, os quais arrasto-os até a eternidade, se é que exista.Para dar continuidade ao inferno em que vivo meu filho nasceu cego, completamente cego.Nesse instante pensei que mesmo eu que sou dotada de uma visão perfeita não consegui enxergar a minh\' alma esse ogro que acabara de nascer iria ter a capacidade de distinguir o bem do mal.Claro que não.E o pior é que eu teria que usar minhas próprias forças que são insuficientes para mim e carregar um cego.Acho que só faltava, para piorar a história, eu chegar numa cama de hospital por causa dessa desgraça.Pois não é que aqui me encontro.Não.Nem me encontrar já não suporto mais.As forças que me restavam foram extraídas do além, que nem mais já encontro.Era muito jovem; queria é só festar.Deixar de ir a uma balada e encher a cara e trocar para ficar em casa e cuidar de um filho?Não.Caía na rotina, a qual não me satisfazia.Não demorou em voltar a vida de jovem que é tão banal.Deixava meu filho na cama e num quarto trancafiado a sete chaves dizendo: "Filhinho a mamãe vai a padaria e já volta. Mas se sair dessa cama irá arrepender-se".Foi numa dessas saídas, de tantas que dei, o motivo que me trouxe até aqui.Aqueles "pentelhos" e fofoqueiros dos meus vizinhos chamaram a polícia.O filho é meu, não deveriam intrometer-se.Se fui eu que botei essa desgraça cega que não vê um palmo a sua frente eu mesma que teria que pagar as conseqüências e mais ninguém.Mas foi quando cheguei em casa, tragando um cigarro de maconha, que a tão simples brincadeirinha de chamar a polícia desmascarou os seus segredos.Não demorou no conselho tutelar levar o Satanás de minha vida.Aí é a parte boa.Após muitos anos, vivi em tribunais de justiça me declarando e chorando aos pés de juízes e os chamados "defensores das leis".Mas todos sabemos que a justiça foi um dom de Deus racionizado pelo homem.Pois não é que a justiça conseguiu tirar centavo por centavo de que me restava?Na meia idade ainda, lá estava na favela da vida real e não as que vemos em telenovelas e seriados americanos.Fiquei até melhor quando foi a primeira vez que um motoqueiro mascarado entregar-me uma cesta básica.Finalmente achei que aqueles discursos infinitos no horário de propaganda eleitoral obrigatório foi posto em prática.Suspeitei que fosse um novo projeto do governo brasileiro uma nova bolsa que criaram.Aquele motoqueiro mascarado era misterioso mesmo.Indagava-o todas as vezes que ia quem era que por caridade concedia-me as cestas básicas, única fonte de meu sustento.Apenas dizia soando aquela voz grave: "É um empresário muito bem sucedido da alta classe que é muito caridoso".Então não era nenhuma ladainha dos governantes.Achava muito bom para ser verdade.Mas quem seria o tal empresário?Após muitas insistências resolvi seguir o motoqueiro mascarado a fim de agradecer-me, sem nenhum sentimento ruim.O destino foi um consultório, não médico, de um verdadeiro empresário.A recepcionista olhou-me com uma cara de desprezo e nem sequer me atendeu.Tive que invadir a sala.Não gosto de fazer sacanagens com as pessoas, mas foi a única saída.Quando entrei na sala através de uma porta toda trabalhada em madeira maciça, contida de uma maçaneta toda requintada, debato-me com uma figura que não me é estranha: meu próprio filho.Aquele que tanto maltratei e fiz o diabo a quatro com sua vida.Simplesmente perdoou-me, mas disse claramente: "Espero nunca mais vê-la, pois não farei nunca, nem com um mendigo jogado na rua, o que a senhora me fez".Foi a gota d\' água.Caí numa depressão e nunca mais me levantei.Agora, digo para a enfermeira: "Desligue os aparelhos. Último pedido que lhe faço".Num estante, os aparelhos foram desligados, mesmo sem vida, sei que logo após a minha viagem recebi uma carta.Esta dizia:

          "A vida é uma sucessiva sucessão que sucede sucessivamente".

No envelope estava escrito: "Do seu filho que você nunca amou".


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