Raining on the Sea escrita por Ary Chases


Capítulo 1
Raining on the Sea


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEY, eu voltei com uma outra one!
Percabeth porque sim, mas não se animem! Sinceramente, eu estou desde já me mudando para a Terra de tão tão distante porque eu sei que vou receber milhões de ameaças de morte quando postar isso aqui. (Sorry)

xoxo, Ary.



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São Francisco, 29 de Setembro

"E o tempo de hoje infelizmente não será bom para os que estão querendo um banho de mar, sol, sombra e calor. A previsão é de longas e intensas tempestades por todo o Norte e Sul da Califórnia. O dia perfeito para ficar em casa, protegido do frio e..."

Ele desligou a televisão antes mesmo da mulher terminar a frase, não precisava ser muito esperto para adivinhar a previsão do tempo daquela terça feira, era só olhar ao redor. Por todo o lado, as pessoas andavam de agasalhos, toucas e luvas. Muitas delas carregavam guarda chuvas fechados e procuravam passar apenas pelos lugares que possuíssem teto ou algum tipo de cobertura que os protegesse se começasse a chover de repente.

Percy sorriu, um meio sorriso que durou alguns segundos ao se lembrar do que ela diria se estivesse ali. Ele quase conseguia vê-la debruçada na janela de seu apartamento enquanto apontava para as nuvens ainda não muito cinzas no céu.

"Eu não arriscaria dizer que vai chover agora. Olhe, consegue ver? As nuvens ainda estão se transformando em cumulus nimbus, observe a cor, precisam adquirir bastante umidade e aí sim vai chover de verdade."

Ele podia até mesmo sentir sua pequena mão o puxando mais para si com a desculpa de que a janela não era grande o suficiente para duas pessoas e aquele era o único jeito dele ver o que ela via. No fundo, Percy sabia que era só um jeitinho de ficarem mais perto e não discordava pelo simples fato de que desejava o mesmo. Quando se tratava dela, proximidade nunca era demais.

Mas ela não estava ali.

Ele fechou a persiana da janela antes que mergulhasse em mais lembranças, mas não conseguiu evitar a lágrima solitária que escorregou pela bochecha até tocar seus lábios. Uma lágrima salgada, com gosto de saudade. Saudade dela.

Percy soltou a cortina e desabou no sofá, sem chorar. Ele não podia se dar o luxo, não enquanto todos estivessem constantemente pedindo para que ele se mantesse forte. Para que continuasse sendo aquele semideus poderoso, confiante e esperançoso que era. Eles não acreditavam que aquilo fosse fazê-lo mudar tanto. Mas tinha.

Perseu Jackson nunca mais seria o mesmo depois da morte de Annabeth Chase.

Ele suspirou pesadamente e bagunçou ainda mais os fios morenos de seu cabelo, então olhou para o lado, em sua mesinha de centro. Aquele foi seu maior erro. Devia ter ouvido o conselho de Piper e se livrado daquelas coisas, ele arquejou baixinho quando suas mãos trêmulas tocaram o porta retrato.

Um casal feliz era o evidente na fotografia. O garoto envolvia os ombros da garota - que era consideravelmente baixa em relação à altura dele - em um abraço protetor enquanto as mãos dela seguravam sua cintura. Ambos possuíam grandes sorrisos nos rostos, pareciam felizes como nunca, e certamente estavam.

O casal era ele e Annabeth, a foto tinha sido tirada logo após eles terem começado a namorar, quando venceram Cronos e iria para o mural de heróis na sala de Quíron. Na verdade, seria uma de cada um mas eles preferiram tirá-la juntos, como sempre faziam.

Percy colocou-o de volta no lugar e deu um longo suspiro antes de tomar a decisão mais suicida de todas. Aquilo não era a solução mais viável para os seus problemas.

Dane-se, ele pensou enquanto vestia um casaco qualquer - não recomendável para o frio - jogado pela sala de estar, pegava a foto de antes e saía, batendo a porta de seu apartamento. E daí que estava prestes a cair uma tempestade capaz de fazer os dinossauros entrarem em extinção outra vez? Ele era Percy Jackson, filho de Poseidon e sabia muito bem que só havia um lugar onde conseguiria reorganizar seus pensamentos.

"Vou lhe dizer uma coisa, Percy Jackson. Quem vai lhe causar o maior problema será aquela que está mais próxima de você... aquela que mais me odeia."

"Annabeth?" Percy sentiu sua raiva crescer novamente. "Você nunca gostou dela. Agora a está chamando de problemática? Você não sabe nada a respeito dela. Annabeth é a pessoa em quem eu mais confiaria para cuidar de minha retaguarda.

A deusa deu um sorriso frio.

"Veremos, jovem herói..."

Percy balançou a cabeça para se livrar dos pensamentos. Hera estava errada sobre Annabeth, estava errada sobre os dois. Aquilo tinha acontecido por culpa dele, ele era o culpado de Annabeth ter morrido. O semideus parou antes que fosse atropelado.

- Olha por onde anda, maluco! - Gritou um motorista irritado enquanto o garoto de dezoito anos pulava por cima do carro e gritava uma desculpa sonora. Ele colocou as mãos nos bolsos do casaco e o capuz sobre a cabeça enquanto corria o mais rápido que podia em direção a praia, tentando evitar os flashbacks. Nico o havia alertado sobre isso, eram "recompensas" do tempo que passou no Tártaro. Antes, Percy tinha facilidade para controlá-los, agora chegava a ser impossível. Ele revivia a memória daquele dia toda hora.

"Acho que agora acabou." Disse Annabeth, sorrindo e deixando que Percy passasse os braços sobre seus ombros já que ele tinha machucado gravemente a perna durante a luta contra Gaia. Felizmente, os sete - com ajuda de Reyna, Nico, Thalia e as caçadoras, as amazonas e os campistas dos dois acampamentos juntos - tinham vencido a deusa primordial que não voltaria por pelo menos, alguns séculos, eles esperavam. "Você parece péssimo!" Ela riu, quando o deixou descansar em um banco perto do lago e depositou um beijo casto em seus lábios. Percy sentiu um déjà vu* imenso ao ouvir aquela risada.

"Você está rindo de mim!" Ele constatou, com falsa indignação.

"Não estou não!" Ela respondeu, rindo ainda mais. Ele a repreendeu com o olhar. "Tá, eu estou, mas você tinha que ver sua cara, estava tão engraçada! Vou buscar um pouco de néctar, não saia daí."

Antes que ela fosse, Percy revirou os olhos. "Como se eu pudesse sair daqui, Sabidinha!" Annabeth riu e já estava um pouco distante quando se virou para retrucar. Mas seu sorriso sarcástico foi imediatamente substituído por uma expressão de temor. As orbes cinza espelhando todo o medo que sentia. Algo que Percy nunca tinha visto.

Exceto no Tártaro, claro.

"PERCY! A-ATRÁS DE V-VOCÊ!" Ela gritou a plenos pulmões, assustando-o. Ele virou com a testa franzida até encontrar um dos últimos monstros do exército de Gaia segurando uma espada que ele já conhecia. No mesmo instante, suas mãos vasculharam os bolsos atrás da caneta, sem sucesso.

"Minha senhora pode ter falhado, Filho de Poseidon, mas pelo menos terei o prazer de ver seu pai agonizando ao saber que você morreu de forma tão trágica." Percy engoliu em seco ao ver Contracorrente nas mãos do monstro, e analisou sua situação: tinha uma perna quebrada, um braço machucado, um nariz sangrando, roupas esfarrapadas, sem condições de lutar e sem uma arma ou coisa do tipo para desarmar o inimigo. Ele suspirou, não tinha morrido pelas mãos do gigante Polibotes, por sua irmã imortal das tempestades, pelo Minotauro ou qualquer outro monstro e nem mesmo pelas de Gaia, para que seu fim chegasse daquela forma.

Que maneira mais estúpida de morrer, ele pensou. Percy encarou a lâmina de bronze celestial apontada para seu pescoço e arfou, nunca tinha percebido como Anaklusmos era assustadora de perto.

"Suas últimas palavras, filho do mar?" Perguntou, trazendo-o de volta à realidade. Ele já tinha pensado nisso.

"Eu te amo!" Disse para uma Annabeth perplexa e fechou os olhos, esperando o som da espada partindo seu coração em dois.

E ele veio, mas o semideus não sentiu nada, nem mesmo uma dorzinha. Surpreendentemente, veio acompanhado de um grito estridente. Um grito de garota.

Percy sentiu a sensação do déjà vu novamente. Diferente de antes, isso não era nada bom. Ele tinha muito medo de abrir os olhos.

"Você faria o mesmo por mim"

"ANNABETH!" Gritou ao ver o corpo da namorada totalmente imóvel. Percy se ajoelhou ao lado dela e virou-a de barriga para cima, ansiando pelo pior. "Não, não, não, não!" Ele continuou repetindo e esmurrou a grama ao seu redor ao ver o buraco imenso que a espada tinha deixado na camiseta laranja do Acampamento Meio-Sangue, de onde jorrava sangue.

Sua própria espada.

Ele ouviu Thalia, Nico, Jason e Piper se aproximarem. Ouviu Nico mandar o monstro de volta para o Tártaro, o amaldiçoando. Ouviu Thalia chorar enquanto atirava flechas e mais flechas no corpo já morto. Ouviu os campistas arquejarem mas não se mexeu, ele continuou segurando a mão dela e pedindo a todos os deuses que não levassem Annabeth. Não sem levá-lo antes.

"ALGUÉM, ALGUM CURANDEIRO, AJUDE! Qualquer cois - Percy foi interrompido quando um pequeno dedo se colocou sob seus lábios. Annabeth sorriu e o beijou apaixonada e desesperadamente, um beijo salgado pelas lágrimas de ambos. "A-Annab-beth, eu..." Ele soluçou.

"Shhh, Perce, shh." Ela pediu, fracamente. "A penúltima... linha da... profecia, você se lembra?" Percy assentiu.

"Um juramento a manter com um alento final." Piper sussurrou, chorando nos braços de Jason. "Não pode ser..."

"Lembra... da nossa primeira missão?" Ele fez que sim, sorrindo entre as lágrimas, como podia esquecer? "Eu... jurei pelo rio Estige, Percy... Jamais deixaria algo de mal te acontecer... E-eu sempre cumpro minhas promessas." Ele negou e soluçou mais alto e ela o beijou mais uma vez. "Nos v-vemos no Elísio. Eu te amo, Cabeça de Alga, nunca se esqueça disso." E com isso, Annabeth fechou seus olhos tempestuosos e não os abriu mais.

Por um instante, tudo ficou em silêncio, até que Thalia olhou na direção de Nico, totalmente esperançosa, seus olhos azuis faziam uma pergunta silenciosa. Todos os olhares se voltaram para os dois. O filho de Hades encarou a caçadora e balançou a cabeça negativamente em resposta. Era tarde demais, o destino já havia sido selado, não se podia discutir com as Parcas e o fio de Annabeth já foi cortado há muito tempo. A filha de Zeus chorou mais alto e o abraçou forte. Nico, que também chorava, permitiu que ela soluçasse sob seu ombro.

Quíron saiu do meio da multidão e sorriu tristemente. "Vamos preparar uma mortalha, uma mortalha para a filha de Atena mais corajosa que já vimos, Annabeth Chase."

Quando os pés de Percy finalmente tocaram a areia da praia, ele se sentiu aliviado o suficiente para desabar e deixar toda a dor que sentia e havia sentido nesses dois anos escapar de seu peito. A guerra de Cronos, o tempo separado de Annabeth, o reencontro, o Tártaro, o primeiro 'eu te amo' e finalmente, ela desfalecendo nos braços dele morta por sua própria espada, ele nunca mais veria seu sorriso sarcástico, nunca mais acariciaria seus cabelos loiros, nunca mais sentiria seu coração batendo forte com o brilho nos olhos dela.

As lágrimas vieram, desta vez ele não as reprimiu. A chuva tão mencionada escolheu aquele exato momento para dar o ar da graça. Annabeth adorava cheiro de chuva. Ele riu, os deuses deviam estar brincando com suas emoções outra vez.

A chuva pareceu aumentar de intensidade depois disso.

O que Percy mais adorava nos dias de chuva era sem dúvidas o jeito como as nuvens cinza tempestuosas se constratavam com o azul do mar, o que ele pessoalmente achava uma combinação perfeita e claro, o lembrava dela. Agora, porém, a única coisa que conseguia pensar era no como as gotas caindo no oceano se assemelhavam as lágrimas que escapavam como uma cachoeira de seus próprios olhos.

Ele sabia que aquela dor não ia passar, se em dois anos não tinha, não era agora que passaria. Ninguém podia negar que ele a amava mais do que sua própria vida, mas isso não chegava nem perto da importância verdadeira que a filha de Atena possuía. Ela não era apenas sua melhor amiga, sua parceira ou namorada, ela era sua alma gêmea, sua outra metade. Era a razão de todas as coisas e o que o deixava sem razão. Era o motivo pelo qual ele continuara vivo em todos esses anos. Seu rumo, seu porto seguro, seu equilíbrio.

Sem Annabeth, o que Percy ia ser?

Era como se arrancassem as asas de um pássaro sem dó e o obrigassem a voar. Ele ficaria assustado e por instinto, ignoraria a dor e ergueria suas asas na esperança de planar em segurança até descobrir que não as tinha mais e entrar então no desespero. O pássaro vê o chão chegando, ele sabe que é seu fim, não tem como escapar já que tiraram a única coisa que seria sua salvação. Cansado e sem nenhuma razão para continuar lutando, ele fecha os olhos e se entrega a morte eminente.

Era assim que o filho de Poseidon se sentia, indo em direção ao fim. E ele não suportava mais aquilo, não era e nunca seria forte como todos acreditavam. Eles tinham ao menos seguido em frente, Thalia saíra da caçada e agora dividia um apartamento com Nico em Veneza, Piper e Jason tinham se casado assim como Frank e Hazel, mas ele jamais acharia felicidade em um mundo sem Annabeth, por mais egoísta que aquilo soasse. Percy sabia que ela não aprovaria sua decisão se estivesse ali.

Mas ela não estava.

"Eu te amo, Cabeça de Alga, nunca se esqueça disso."

A voz dela ecoou por sua mente, encorajando-o a continuar. Percy tirou Contracorrente de seu bolso e a destampou, examinando sua lâmina afiada com cuidado. Ele a apontou para si mesmo e olhou para cima, deixando que a chuva ensopasse seu rosto enquanto observava as nuvens, ele jurava que tinha visto um reflexo dos olhos dela no céu. Ou talvez fosse só um jeito de mascarar a dor.

Percy soltou a espada na areia, toda coberta com seu próprio sangue, como tinha de ser. Se foi por Contracorrente que Annabeth partiu, nada mais justo do que ele partir do mesmo jeito. Ele sorriu enquanto corria em direção ao mar e ordenava as ondas que o empurrassem para o fundo. Poucos sabiam, mas um dos seus maiores medos era se afogar. Aquele momento, porém, desejou que seu corpo pesasse e que sua respiração retardasse enquanto se aproximava da parte funda do oceano. Ele pensou em tudo que passara até chegar ali, em como tinha chegado àquele ponto e no que pensariam quando descobrissem o que fez. Então ouviu uma voz familiar cantando a distância. A mesma voz que o mantivera vivo no Rio Estige.

A última coisa que ele se lembrava antes de cair na escuridão profunda era de ter adorado ainda mais se possível a combinação do Verde no Cinza e como aquilo sempre o lembraria da chuva caindo no mar.

Afinal, a chuva era o que preenchia o mar, tanto como Annabeth Chase seria sempre o que completa Percy Jackson.


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Notas finais do capítulo

Déjà vu* pra quem não sabe significa "eu já vi isso antes", sensação de estar vivendo algo que já aconteceu. Vocês devem ter entendido.

Gente, eu pessoalmente sinto muito por isso. Sei que tá triste, melancólica, mas antes de ler O Sangue do Olimpo eu fiquei pensando o que aconteceria com o Percy se Annabeth se sacrificasse por ele na Guerra de Gaia e voilá! Cá estamos nós.

Obrigada a quem leu isso aqui (e sorry se fiz vocês chorarem e tals) xoxo



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