It Comes Back to You escrita por Swimmer, Izzy


Capítulo 2
Prólogo - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas.
Como vocês vão perceber assim que começarem a ler, a fanfic terá dois pontos de vista.
Bom, esperamos que gostem, boa leitura.



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Helena

Great Falls, Montana

Quando o sinal da saída da escola tocou naquele dia, lembro de ter ficado feliz, jogado as coisas na mochila e corrido pra fora da sala.

Era sexta-feira, dia de ir com meu pai ao trabalho. Era uma empresa pequena, que fazia contabilidade para outras maiores, mas quando se tem doze anos, poder ficar o dia todo jogando no computador é como o paraíso.

Mas quando cheguei em casa meu pai não veio me buscar. Quando voltou para casa à noite tentei perguntar o que tinha acontecido. Ele me jogou contra a parede e gritou comigo.

Aquilo me assustou, corri pro quarto e fiquei lá encarando uma folha de papel enquanto ouvia meus pais discutirem.

–Sabe por que papai e mamãe estão gritando? - sussurrou Will abrindo a porta. Will era uma versão menor do meu pai, com mesmo cabelos e olhos claros.

–Não. Mas espero que ela atire um prato nele, como da última vez - falei irritada.

Will revirou os olhos e fechou a porta. Ele era um ano mais novo que eu, meu outro irmão, Travis, tinha 15. Travis e eu havíamos herdado a aparência da nossa mãe, cabelos ondulados e tão castanhos quanto os olhos.

Minha mãe costumava dizer que se deixasse nós três no mesmo cômodo por mais de cinco minutos teria que comprar todos os móveis novamente.

Nos dias que se passaram meu pai só piorou. Só voltava pra casa para dormir e em todas as vezes que fazia isso podíamos ouvir a gritaria de longe. Depois que um dos vizinhos chamou a polícia mamãe expulsou ele de casa.

Eu pedi para que ele me levasse com ele. A pior decisão que já tomei.

Minha mãe não queria me deixar ir. Mandou que eu subisse pro quarto, mas antes que eu pudesse chegar às escadas meu pai me tomou pelo pulso e me empurrou para o carro. Gritei com a pressão que ele fez no meu braço mas ele não parecia ouvir. Conforme o carro se distanciava da casa os gritos de mamãe ficavam mais baixos.

Nos hospedamos num hotel, nono andar. Meu pai não dizia nada e eu tampouco insistia, tinha decidido mostra minha total indignação ficando sentada na cama sem falar com ele.

Vi a noite chegar e observei a sacada por horas até pegar no sono. Fui acordada pelo barulho de uma porta se abrindo.

Meu pai estava indo até a sacada. Me sentei mas quando percebi o que ele iria fazer era tarde demais.

–Papai! - gritei.

A sacada era pouco iluminada, mas quando ele se virou eu poderia jurar que os olhos estavam completamente pretos.

Ele era loiro e tinha os olhos azuis, aquilo não era possível.

Ele riu de um jeito estranho, não como meu pai ria de suas próprias piadas sem graça. Então ele pulou.

Eu devo ter gritado muito alto, pois alguns minutos depois pessoas chegaram. Eu não poderia descrever seus rostos ou quem eram. Tudo que eu olhava era o borrão nove andares abaixo, caído no meio do concreto. Meu pai estava morto, eu sabia.

Mais pessoas entraram no quarto, não sei quantas, sei que chamaram a polícia e um dos policiais, depois de me interrogar, me levou pra casa.

Por dois dias não falei nada, me dividia entre encarar o nada, chorar e ficar deitada no colo da minha mãe. Meus irmãos estavam tão mal quando eu, mas não tinham presenciado a cena. Eles até tentaram me animar.

Eu não podia acreditar que o cara que me levava pra escola e me dava sorvete escondido havia se matado.

Mas não acaba por aí.

No dia do enterro, mamãe e meus irmãos foram no nosso carro e eu fui com minha tia Jessy. Porém na volta eles não estavam lá. Minha tia me levou pra casa e ligou milhares de vezes pra minha mãe, mas ela nunca atendeu.

Nem no dia seguinte, nem na semana seguinte, nem durante o resto do mês. Passei a "visitar" a casa de todos os parentes e amigos dos meus pais.

Seis meses. Foi o tempo necessário pra encontrarem os corpos de mamãe e Will, quilômetros longe um do outro. Seguindo a rota só havia o mar, então a polícia desistiu de procurar por Travis.

Ninguém nunca me disse o que tinha acontecido exatamente, sempre desviavam do assunto. A verdade é que nem mesmo a polícia sabia. Ninguém sabia.

Depois da morte dos meus pais - ou a confirmação dela - minha tia Jessy ficou com a minha guarda. Não foi tão ruim nos primeiros, hum... cinco dias. Depois disso ela se trancou no quarto por meses. Ela caiu numa depressão.

Liguei pra um médico que era amigo dos meus pais e ele passou uns remédios. Ajudou um pouco, mas nada que a tirasse do quarto.

O que sobrou pra mim foi cuidar da casa, da comida e ainda ir pra escola. Detalhe: eu tinha doze anos.

Aquilo não durou muito, todos na escola me olhavam com pena, "a garota que perdeu a família e tem uma tia louca". Um mês depois de fazer quatorze anos fugi. Foi até bastante tempo, desde pequena eu não tolerava nada que fosse injusto pra mim por muito tempo.

Antes de me mudar pra casa da minha tia eu tinha ido na minha antiga casa pegar minhas coisas. Eu queria algo pra me lembrar da minha família, para olhar quando tivesse vontade de desistir. Mas não tive coragem de entrar em nenhum dos quartos. Ao olhar para as portas fechadas a imagem de nossas discussões idiotas pelo controle da TV ou o computador ficava marcada nos meus olhos.

Depois de fugir voltei pra lá decidida a pegar aquilo antes de sumir do mapa. A chave reserva ainda ficava debaixo da estátua de fada.

Eu entrei no quarto dos meus pais chorando feito um bebê, só que sem o barulho irritante. A caixa de joias estava no mesmo lugar de sempre, sobre a penteadeira, com uma camada de poeira. Abri e peguei de dentro um colar que minha mãe dizia ser uma parte dela. Era um daqueles colares com fotos dentro do pingente. De um lado estava meu pai com um Travis bebê no colo, do outro, nós cinco, jogados no sofá.

Fechei o pingente e coloquei o colar no pescoço.

Andei até o outro lado do quarto e puxei o quadro da parede. Uma vez meu pai tinha me dito que aquilo era para casos de emergência, como se extraterrestres raptassem os dois.

Por mais que eu ainda sentisse raiva dele, era minha última opção. Bom, isso era um caso de emergência. Abri o cofre e tirei tudo de dentro. Tinha dinheiro o suficiente para não passar fome - desde que eu não fosse roubada - e um colar velho. Era uma coisa enferrujada que Will tinha escolhido numa feira de antiguidades, tinha enjoado depois de cinco minutos e por algum motivo meu pai guardara ali. Coloquei o dinheiro na mochila e encarei o colar por um tempo antes de colocá-lo no pescoço.

Fechei a porta e ia sair da casa quando fui até o porta-casacos e peguei a jaqueta de Travis. Era de couro preto e quente. Foi assim que entrei no primeiro ônibus que avistei.

Meses depois eu já tinha fugido de assaltantes, da polícia, donas de pensões que tentaram chamar a polícia... Esse tipo de coisa. Com mais uns meses cheguei em Illinois, eu já não tinha mais cara de criança, então consegui um trabalho num bar. Era bem... Horrível. Mas melhor que nada.

Numa noite, depois que o bar fechou (e isso é muito tarde mesmo) eu estava levando um saco de lixo pros fundos quando uma garota se aproximou correndo e esbarrou em mim. O cabelo loiro estava molhado de suor na cara. Ela sorriu maliciosamente e me encarou. Dessa vez eu tinha certeza, os olhos dela ficaram completamente pretos. Ela puxou minha mão, tentei puxar de volta mas ela era extremamente forte pra uma garota com cara de líder de torcida.

Uma fumaça preta começou a sair da boca dela... Tá isso foi muito estranho, mas eu não conseguia gritar. Aparentemente algo tinha dado errado. A fumaça voltou pra dentro da garota que me encarou com espanto e raiva.

Em seguida tudo aconteceu muito rápido. Um cara apareceu do nada e amarrou a menina loira, então começou a recitar algo numa língua entranha, latim, talvez.

Quando ele terminou a fumaça preta voltou a sair da garota, mas dessa vez sumiu e a garota caiu desacordada.

–Tá. O que foi isso? Quem é você? - murmurei depois de uns dois minutos encarando a cena.

–Policial Burnnes - ele falou.

–Não, você não é um policial. Um policial iria perguntar porque uma garota estava saindo de um bar. Por que os olhos dela estavam pretos? - gritei - O que você fez? Por que ela apertou meu braço e por que caralhos aquela fumaça preta saiu de dentro dela?

–Garota, você é louca. Quer que eu ligue pro hospital? - ele se virou para ir embora.

–Para! Você vai me explicar o que aconteceu aqui. E não pode deixar essa garota aí, já que ela é perigosa.

–Posso sim, já que você vai cuidar dela. Além do mais ela não é mais perigo para ninguém, a não ser pra poupança dos pais.

Eu ri.

–Espera sentado - peguei o saco de lixo do chão e joguei no canto antes de entrar.

O cara revirou os olhos e murmurou algo como "crianças" antes de sair. Olhei em volta, para a bagunça do bar. Eu havia descartado a possibilidade de o que tinha visto na noite em que meu pai se matou ser real há anos. Mas agora eu tinha certeza, eu não era louca.

Peguei uma faca debaixo do balcão e escondi na bota antes de correr atrás do homem.

Eu o segui por duas ruas sem movimento nenhum. Nada impressionante, eram quatro da manhã.

–Se vai realmente me seguir, pode ser um pouco menos óbvia, garota? - ele disse parando e olhando na minha direção.

Saí de trás da do poste– que pelo visto era um lugar horrível para se esconder - e caminhei até o cara. Talvez ele fosse um assassino, mas e daí?

Ele devia ter uns quarenta anos, cabelos pretos e olhos castanho-claros. Forte e com uma barba descuidada.

–Posso, se contar o que... - parei de falar quando ele jogou água na minha cara. Simpático... - Qual é o seu problema?

–Não está possuída. - ele guardou uma faca que eu não tinha notado até então no cinto - Eu é que pergunto. Como?

Então ele olhou pro meu pescoço e sorriu. Fiquei realmente tentada a puxar a faca da bota e correr.

–Isso explica tudo - ele fez menção de puxar a corrente mas eu parei sua mão no meio do caminho. - Movimento rápido. Onde conseguiu isso?

Ele estava apontando para a corrente velha que Will tinha comprado.

–Era do meu irmão - murmurei.

–Garoto esperto. Quer realmente saber o que aconteceu lá? Isso pode acabar com a sua vida, garota.

–Eu já não tenho uma mesmo - dei de ombros. - E pare de me chamar de garota.

E sem falar nada o maluco começou a andar. Ou eu ia e podia descobrir (e ser morta) ou podia voltar pra minha vidinha patética.

Sem pensar duas vezes segui o cara. Imprudente, eu sei. Ele podia ser um maníaco.

Ele parou num carro e começou a abrir o porta-malas. Ótima hora pra correr. Mas eu continuei ali.

–Acredite, a outra opção é pior. Aquela garota, que aliás deve estar acordando agora, estava possuída por um demônio. E o desgraçado só não possuiu você por causa disso - ele apontou meu pescoço.

Eu queria não acreditar, não mesmo, mas eu tinha tido experiências ruins demais pra conseguir. Agora fazia sentido. A bruta mudança de personalidade do meu pai, a risada estranha, tudo.

–Está me dizendo que se meu pai estivesse usando essa droga ele estaria vivo? - falei tentando não gritar muito.

–É. Não sei o que aconteceu com seu pai, mas se estava possuído, sim. Esse é um amuleto antigo.

–E que toda essa baboseira dos filmes de terror existe?

–Uhum - ele se encostou no carro e voltou a mexer na fechadura do porta-malas.

–Fantasmas?

–Mais do que você imagina.

–Vampiros?

–Sim.

–Zumbis?

–O que? - ele terminou de abrir e me encarou - O meu trabalho é caçar essas coisas, e claro, tentar não ser morto. Sou um caçador.

Eu fiquei olhando paralisada. Tinha pelo menos dez tipos de armas diferentes lá dentro, facas, bolsas de cheias com algo e muitas coisas que eu nem sabia o que eram.

–Isso é... Incrível... - falei.

–Sou Charlles - falou e estendeu a mão.

–Helena - murmurei. - Ahn... Então, Charlles, duvido que mostre isso - apontei o porta malas - pra toda pessoa que te segue por aí.

–Na verdade, normalmente não deixo as pessoas me seguirem. Digamos que fui com a sua cara.

–Por que?

–Você tem potencial, garota...

–Helena!

–Que seja. Não deveria desperdiçar isso naquele bar. Conheci o dono uns anos atrás, um idiota.

Pode parecer estranho mas no dia seguinte convenci Charlles a me levar com ele. Ele tinha dito que só tinha me contado sobre, bem, tudo, pra eu poder me proteger (sempre a mesma desculpa), a cidade não era aquilo que parecia.

–Nem pensar, garota. - ele tinha pego essa mania irritante. Acho que só porque eu odiava. - Não tem como caçar alguma coisa com uma criança no meu pé.

Suspirei, pensando bem no que ia dizer.

–Por favor? - essa era uma das minhas palavras apenas para emergências. Digamos que eu não dizia por favor com frequência.

Mas depois de muito insistir e prometer que eu ficaria na minha, sem mexer um músculo, ele concordou.

Então lá estava eu. Uma garota - como Charlles adorava frisar - de quinze anos, órfã, viajando por aí com um cara que conhecia há menos de 48 horas.

Acabou sendo a decisão certa, o passo seguinte. Charlles se tornou algo próximo a um pai pra mim. Me ensinou tudo que sabia, de espíritos a como clonar um cartão de crédito.

Caçamos juntos por três anos, não tanto tempo quanto eu gostaria, caçar com Charlles era algo que me fazia sentir viva. Ele descobriu que tinha uma doença rara, então ele estava indo para uma cidade em Minnesota para fazer o tratamento. Ele não queria ir, mas eu o obriguei.

Não que isso tenha me impedido de chorar o rio East.

–Ei, Lynn. Desde que te conheço, essa é a quarta vez em que te vejo chorar. Duas delas foram no período em seus pais morreram, a outra quando tentou correr depois de torcer o tornozelo. E mesmo assim continua achando que vou morrer, garota...

Estávamos no aeroporto, pessoas corriam de um lado pro outro, garotas se despediam de seus namorados.

–Sabe, Charlie, tenho esse péssimo habito de perder todos que amo, então não posso perder mais ninguém - eu o abracei.

–Não vai, prometo. Se cuida - ele sorriu e foi para a fila do portão de embarque. - E se sumir vou mandar uns amigos que me devem um favor atrás de você. E eles não são legais.

Uma sensação de vazio me preencheu. Eu tinha certeza que nunca mais encontraria ninguém como ele, alguém em quem eu confiaria minha vida.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou um pouco grande mas tá valendo...
Comentar não dói, não machuca e ainda deixo vocês favoritarem!
Brincadeiras à parte, vejo vocês no próximo capítulo



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