Linha Tênue escrita por Lady Allen


Capítulo 1
Capítulo I - Linha Tênue


Notas iniciais do capítulo

Heey amores! Estou me arriscando a postar a história, tenho que admitir o medo de flopar.
Hoje teremos um capítulo simples, mas espero que esteja do agrado de vocês. Capítulo ainda sem betar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/655174/chapter/1

Fevereiro de 1991

Alice estava sentada na janela de seu quarto, o sol ameaçava se pôr, ela estava abraçada a seus joelhos, seus olhos castanhos intensos mirando a rua cheia de crianças pedalando, os pais sentados nas calçadas conversando uns com os outros.

Sua mente voou até pousar em seu passado um tanto recente, Alice e Pedro pedalavam na mesma rua, ele a ensinava pacientemente, enquanto ela sempre caía, nunca havia tido equilíbrio para nada, e ficava pior quando estava perto do garoto de olhos amendoados, dono de um sorriso serelepe.

“Ali tá tudo bem, segure-se em mim”

Ele ofereceu a mão, a pele macia de Alice tocou-o, naquele instante a sensação fora diferente, Alice nunca havia o enxergado daquela maneira, nem intendido o real significado de seu nervosismo extremo perto dele. Sempre havia o visto como um irmão, confidenciava a ele todas as brigas constantes que presenciava dos pais, ele contava a ela sobre seus sonhos, ambos sabiam suas músicas favoritas e imaginavam desenhos nas nuvens.

Quando Pedro se mudara para a rua dela, Alice tinha cerca de cinco anos e desde então se apegaram tanto que jamais conseguiram se largar.

Ao menos até aquele dia.

Pedro abriu devagar a porta que rangeu suavemente, ele entrou meio desconfiado, coçou a nuca, estava confuso, não sabia como contar a ela sobre sua partida, mas ela já sabia o que ele tinha a dizer, minutos atrás Emma, a mãe dele, havia contado a Sara, a mãe dela, sobre o filho estar aprontando as malas para partir, aventurar-se no desconhecido, lutar guerras que indiretamente também eram suas.

— Ali — sua voz soou vacilante, ela não respondeu, nem virou para olha-lo — Precisamos conversar — engoliu a seco.

Andou alguns passos e ficou parado no meio do quarto, em pé no tapete roxo de veludo, perto o suficiente da porta para correr se ela surtasse e atirasse coisas nele, perto o suficiente dela para abraça-la se ela chorasse.

— Sente-se — a adolescente apontou para a poltrona lilás perto da janela.

— Eu tenho uma coisa muito importante para contar — sentou-se e ficou encarando os pés.

— Boa tarde para você também Pedro, perdeu os modos? — sorriu educadamente.

Pedro sorriu cortês de volta para ela, ele sabia o que ela estava fazendo, tentando mudar de assunto, fugindo do problema, Ali havia feito isso por toda a sua vida, fugir das coisas sempre havia sido sua maior especialidade, ela já tinha dezoito, mas nunca havia largado a mania feia que tanto o irritava.

— Eu tenho uma coisa importante para contar — insistiu um tanto impaciente.

Alice olhou educadamente e assentiu com a cabeça para que ele continuasse, Pedro mirou os olhos no papel de parede no notebook, rosas vermelhas, estranhou, pois Alice odiava rosas.

Agora era ele quem estava tentando mudar o pensamento, fugir do problema, ele sem coragem para dizer, ela não tinha coragem para perguntar. Estavam presos na linha tênue entre o medo de perder e a culpa de partir.

— Talvez se você falar bem rápido seja menos difícil — aconselhou.

— Eu vou para o Exército — fechou os olhos e apertou o gatilho, as palavras saíram como balas que acertaram seu alvo.

— Eu preciso te pedir uma coisa, não me odeie — ela se ajeitou na janela colocando as pernas para dentro.

— Não faça isso, não peça — quase implorou.

— Não vá — os olhos ardendo.

— Você sabe que é meu sonho — desviou o olhar.

— Você prometeu que sempre seria eu e você — os olhos lacrimejando — Não me diga que você também vai me deixar, só não me diga isso, você não.

Duas semanas atrás o pai da garota havia saído de casa, Bento era um homem difícil, bebia muito e preferiu se afastar para não prejudicar ainda mais a vida da esposa e da filha.

— Ali a gente vai se ver em breve, nada vai mudar — voltou a encara-la — Sempre será eu e você, eu te prometi e vou cumprir.

— Você vai pro outro lado do mundo Montgomery — chamou-o pelo sobrenome, ela estava irada, agora ele tinha certeza — Não diga que será a mesma coisa e que nada vai mudar, sabe que é mentira.

— Eu preciso tentar te confortar de alguma maneira — passou a mão nos fios castanhos escuros e meio encaracolados.

— Eu desisti de uma bolsa de estudos em uma das melhores universidades de medicina para ficar ao seu lado, porque você é meu melhor amigo, porque você me pediu para ficar, porque disse que sentiria minha falta.

— Pode parecer egoísta, eu sei que sou, mas preciso tentar, é minha vida, minha chance.

— Você tem uma escolha para fazer Pedro — segurou a mão do rapaz — Ou você me escolhe ou você escolhe o exército e tudo o que temos estará perdido.

— Tudo o que? Amizade? Nenhuma amizade dura para sempre — foi duro.

— Você sabe que não existe só amizade.

— Eu preciso tentar.

— Então saía — pediu — apontou para porta — E nunca mais volte.

O moreno abaixou a cabeça, ela havia levantado a voz, Alice era paciente, jamais levantava a voz para ninguém.

— Eu não quero te perder — Pedro segurou a mão dela novamente.

— Se você partir amanhã já terá me perdido, faça sua escolha e lembre-se que suas escolhas mudam o seu destino, se você for não me terá de volta.

— Vá ao menos, se despedir de mim no aeroporto — pediu, ela então já descobriu a escolha dele.

— Não espere por isso — puxou a mão — Agora vá.

Pedro depositou um beijo no topo da cabeça dela e saiu devagar se perguntando “o que havia realmente feito para perder sua melhor amiga?”.

*

Pedro balançava o passaporte e a passagem, suas pernas inquietas, ele olhava em vão a procura dela. Ela realmente não viria. Se desesperou, queria chorar, desabar, mas era um homem agora, não podia chorar. Não por ela.

— Querido, ela está magoada — Emma colocou a mão no ombro do filho — Ela não queria te perder.

— E nem a ela.

— Foi sua escolha, respeite as consequências.

Passageiros do voo para Nova York já podem embarcar.

Ele olhou ao redor, última chance, mas ninguém estava lá.

— Mamãe te ama — Emma deu um beijo no rosto do filho.

— Eu também te amo mãe — abraçou-a levantando-a do chão.

— Boa sorte — o pai do garoto apertou sua mão.

— Sentiremos sua falta — Jake, o irmão mais velho de Pedro, abraçou-o — Eu vou fazê-la feliz.

— Cuide dela.

Jake também era apaixonado pela baixinha apaixonada por balé, desde que ela completara os dezesseis anos começou a chamar a atenção dos rapazes ao seu redor, inclusive os irmãos Montgomery, que por tantas vezes haviam quase saído na mão por ela.

— Vá, não pode se atrasar — Emma sorriu entre lágrimas.

Pedro foi andando a passos lentos, o coração apertado dentro do peito dolorido, ele mal conseguia respirar.

— Dinho — a voz suave ecoou no meio da multidão agitada.

Ele olhou para trás e lá vinha ela vestido suas roupas folgadas no melhor estilo hippie, os cachos castanhos revoltos espalhavam-se enquanto ela corria até ele.

— Vou sentir sua falta — agarrou-se a ele.

— Eu também vou sentir sua falta leãozinho.

Ele a chamava assim desde os quatorze anos quando ele entrou no quarto dela e a garota havia acabado de acordar e estava com os cabelos bagunçados como a juba de um leão.

— Hora de ir — sorriu para ela — Ainda dá tempo de desistir e ficar comigo.

— Não posso.

As mãos foram separando, o toque se acabando, o coração partindo, a voz falhando, as lágrimas caindo.

Era o final de um romance que nunca havia realmente começado. Pedro sumiu do corredor que levava ao embarque, Alice caiu aos prantos.

— Você devia ter dito que o amava — Dinah sua melhor amiga abraçou-a — Ele vai voltar, sempre volta.

— Não dessa vez, estou sentindo uma coisa ruim como se jamais fosse voltar a vê-lo.

— O destino sabe de tudo, se for para acontecer, Ali, vai acontecer, na hora certa.

— Você e sua esperança desenxabida.

— Eu gosto do Jake, ele gosta de você, você gosta de Pedro que ama o sonho de ser soldado, ao menos não existe mulher no meio — sorriu docemente — Esse negócio de Maria ama João que ama Celeste que Vicente, é chato.

— Jake me vê como uma irmã mais nova Dinah, não viaja.

— Eu sei o que eu vejo — abaixou a cabeça.

— Eu nunca o verei como mais nada que um amigo.

Jake ouviu o que ela disse e saiu sem ser notado, ele a amava verdadeiramente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí o que acharam do primeiro capítulo? Espero que tenham gostado, por favor, comentem. Preciso saber o que acharam, deem uma chance para história, tenho muita coisa para escrever a apresentar ainda. Beijos & até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Linha Tênue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.