Linha Tênue escrita por Lady Allen
Notas iniciais do capítulo
Heey amores! Estou me arriscando a postar a história, tenho que admitir o medo de flopar.
Hoje teremos um capítulo simples, mas espero que esteja do agrado de vocês. Capítulo ainda sem betar.
Fevereiro de 1991
Alice estava sentada na janela de seu quarto, o sol ameaçava se pôr, ela estava abraçada a seus joelhos, seus olhos castanhos intensos mirando a rua cheia de crianças pedalando, os pais sentados nas calçadas conversando uns com os outros.
Sua mente voou até pousar em seu passado um tanto recente, Alice e Pedro pedalavam na mesma rua, ele a ensinava pacientemente, enquanto ela sempre caía, nunca havia tido equilíbrio para nada, e ficava pior quando estava perto do garoto de olhos amendoados, dono de um sorriso serelepe.
“Ali tá tudo bem, segure-se em mim”
Ele ofereceu a mão, a pele macia de Alice tocou-o, naquele instante a sensação fora diferente, Alice nunca havia o enxergado daquela maneira, nem intendido o real significado de seu nervosismo extremo perto dele. Sempre havia o visto como um irmão, confidenciava a ele todas as brigas constantes que presenciava dos pais, ele contava a ela sobre seus sonhos, ambos sabiam suas músicas favoritas e imaginavam desenhos nas nuvens.
Quando Pedro se mudara para a rua dela, Alice tinha cerca de cinco anos e desde então se apegaram tanto que jamais conseguiram se largar.
Ao menos até aquele dia.
Pedro abriu devagar a porta que rangeu suavemente, ele entrou meio desconfiado, coçou a nuca, estava confuso, não sabia como contar a ela sobre sua partida, mas ela já sabia o que ele tinha a dizer, minutos atrás Emma, a mãe dele, havia contado a Sara, a mãe dela, sobre o filho estar aprontando as malas para partir, aventurar-se no desconhecido, lutar guerras que indiretamente também eram suas.
— Ali — sua voz soou vacilante, ela não respondeu, nem virou para olha-lo — Precisamos conversar — engoliu a seco.
Andou alguns passos e ficou parado no meio do quarto, em pé no tapete roxo de veludo, perto o suficiente da porta para correr se ela surtasse e atirasse coisas nele, perto o suficiente dela para abraça-la se ela chorasse.
— Sente-se — a adolescente apontou para a poltrona lilás perto da janela.
— Eu tenho uma coisa muito importante para contar — sentou-se e ficou encarando os pés.
— Boa tarde para você também Pedro, perdeu os modos? — sorriu educadamente.
Pedro sorriu cortês de volta para ela, ele sabia o que ela estava fazendo, tentando mudar de assunto, fugindo do problema, Ali havia feito isso por toda a sua vida, fugir das coisas sempre havia sido sua maior especialidade, ela já tinha dezoito, mas nunca havia largado a mania feia que tanto o irritava.
— Eu tenho uma coisa importante para contar — insistiu um tanto impaciente.
Alice olhou educadamente e assentiu com a cabeça para que ele continuasse, Pedro mirou os olhos no papel de parede no notebook, rosas vermelhas, estranhou, pois Alice odiava rosas.
Agora era ele quem estava tentando mudar o pensamento, fugir do problema, ele sem coragem para dizer, ela não tinha coragem para perguntar. Estavam presos na linha tênue entre o medo de perder e a culpa de partir.
— Talvez se você falar bem rápido seja menos difícil — aconselhou.
— Eu vou para o Exército — fechou os olhos e apertou o gatilho, as palavras saíram como balas que acertaram seu alvo.
— Eu preciso te pedir uma coisa, não me odeie — ela se ajeitou na janela colocando as pernas para dentro.
— Não faça isso, não peça — quase implorou.
— Não vá — os olhos ardendo.
— Você sabe que é meu sonho — desviou o olhar.
— Você prometeu que sempre seria eu e você — os olhos lacrimejando — Não me diga que você também vai me deixar, só não me diga isso, você não.
Duas semanas atrás o pai da garota havia saído de casa, Bento era um homem difícil, bebia muito e preferiu se afastar para não prejudicar ainda mais a vida da esposa e da filha.
— Ali a gente vai se ver em breve, nada vai mudar — voltou a encara-la — Sempre será eu e você, eu te prometi e vou cumprir.
— Você vai pro outro lado do mundo Montgomery — chamou-o pelo sobrenome, ela estava irada, agora ele tinha certeza — Não diga que será a mesma coisa e que nada vai mudar, sabe que é mentira.
— Eu preciso tentar te confortar de alguma maneira — passou a mão nos fios castanhos escuros e meio encaracolados.
— Eu desisti de uma bolsa de estudos em uma das melhores universidades de medicina para ficar ao seu lado, porque você é meu melhor amigo, porque você me pediu para ficar, porque disse que sentiria minha falta.
— Pode parecer egoísta, eu sei que sou, mas preciso tentar, é minha vida, minha chance.
— Você tem uma escolha para fazer Pedro — segurou a mão do rapaz — Ou você me escolhe ou você escolhe o exército e tudo o que temos estará perdido.
— Tudo o que? Amizade? Nenhuma amizade dura para sempre — foi duro.
— Você sabe que não existe só amizade.
— Eu preciso tentar.
— Então saía — pediu — apontou para porta — E nunca mais volte.
O moreno abaixou a cabeça, ela havia levantado a voz, Alice era paciente, jamais levantava a voz para ninguém.
— Eu não quero te perder — Pedro segurou a mão dela novamente.
— Se você partir amanhã já terá me perdido, faça sua escolha e lembre-se que suas escolhas mudam o seu destino, se você for não me terá de volta.
— Vá ao menos, se despedir de mim no aeroporto — pediu, ela então já descobriu a escolha dele.
— Não espere por isso — puxou a mão — Agora vá.
Pedro depositou um beijo no topo da cabeça dela e saiu devagar se perguntando “o que havia realmente feito para perder sua melhor amiga?”.
*
Pedro balançava o passaporte e a passagem, suas pernas inquietas, ele olhava em vão a procura dela. Ela realmente não viria. Se desesperou, queria chorar, desabar, mas era um homem agora, não podia chorar. Não por ela.
— Querido, ela está magoada — Emma colocou a mão no ombro do filho — Ela não queria te perder.
— E nem a ela.
— Foi sua escolha, respeite as consequências.
Passageiros do voo para Nova York já podem embarcar.
Ele olhou ao redor, última chance, mas ninguém estava lá.
— Mamãe te ama — Emma deu um beijo no rosto do filho.
— Eu também te amo mãe — abraçou-a levantando-a do chão.
— Boa sorte — o pai do garoto apertou sua mão.
— Sentiremos sua falta — Jake, o irmão mais velho de Pedro, abraçou-o — Eu vou fazê-la feliz.
— Cuide dela.
Jake também era apaixonado pela baixinha apaixonada por balé, desde que ela completara os dezesseis anos começou a chamar a atenção dos rapazes ao seu redor, inclusive os irmãos Montgomery, que por tantas vezes haviam quase saído na mão por ela.
— Vá, não pode se atrasar — Emma sorriu entre lágrimas.
Pedro foi andando a passos lentos, o coração apertado dentro do peito dolorido, ele mal conseguia respirar.
— Dinho — a voz suave ecoou no meio da multidão agitada.
Ele olhou para trás e lá vinha ela vestido suas roupas folgadas no melhor estilo hippie, os cachos castanhos revoltos espalhavam-se enquanto ela corria até ele.
— Vou sentir sua falta — agarrou-se a ele.
— Eu também vou sentir sua falta leãozinho.
Ele a chamava assim desde os quatorze anos quando ele entrou no quarto dela e a garota havia acabado de acordar e estava com os cabelos bagunçados como a juba de um leão.
— Hora de ir — sorriu para ela — Ainda dá tempo de desistir e ficar comigo.
— Não posso.
As mãos foram separando, o toque se acabando, o coração partindo, a voz falhando, as lágrimas caindo.
Era o final de um romance que nunca havia realmente começado. Pedro sumiu do corredor que levava ao embarque, Alice caiu aos prantos.
— Você devia ter dito que o amava — Dinah sua melhor amiga abraçou-a — Ele vai voltar, sempre volta.
— Não dessa vez, estou sentindo uma coisa ruim como se jamais fosse voltar a vê-lo.
— O destino sabe de tudo, se for para acontecer, Ali, vai acontecer, na hora certa.
— Você e sua esperança desenxabida.
— Eu gosto do Jake, ele gosta de você, você gosta de Pedro que ama o sonho de ser soldado, ao menos não existe mulher no meio — sorriu docemente — Esse negócio de Maria ama João que ama Celeste que Vicente, é chato.
— Jake me vê como uma irmã mais nova Dinah, não viaja.
— Eu sei o que eu vejo — abaixou a cabeça.
— Eu nunca o verei como mais nada que um amigo.
Jake ouviu o que ela disse e saiu sem ser notado, ele a amava verdadeiramente.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E aí o que acharam do primeiro capítulo? Espero que tenham gostado, por favor, comentem. Preciso saber o que acharam, deem uma chance para história, tenho muita coisa para escrever a apresentar ainda. Beijos & até a próxima.