ATUALMENTE
Seattle, 17h p.m, 07/02

Eu não consegui largar aquela tal foto por muito tempo, fiquei encarando a minha mãe cantar em frente a igreja.

—Talvez eu possa ir à igreja hoje, —pensei —sim, é exatamente isso que irei fazer.

Depois de uma hora, meu pai entra no meu quarto quando já estou arrumado.

—Vai pra onde, filhão?

—Eu pensei em visitar a igreja da mamãe... Sabe, não acho que eu precise ter raiva de Deus —falei, sentando na cama.

—É claro que não, Tyler. Deus ama a sua mãe, assim como ama a você, e a mim também. —falou, tentando parecer compreensível.

—Ainda bem, tive medo que o senhor não deixasse.

—Eu não faria isso. Agora eu tenho trabalho. Mas volto a tempo de fazer o jantar da madrugada.

—Tudo bem.

Então eu fui caminhando até a igreja. Ela estava cheia, como sempre, um frio na barriga tomou conta de mim, então resolvi que ficaria do lado de fora.
Sentei-me na calçada, e escutei o que o pastor dizia.

—Acho que todos aqui, já tiveram muitos problemas, passaram por inúmeras tentações, e ainda irão passar. Mas Jesus disse: “No mundo tereis aflição, mas tende bom animo, pois Eu venci o mundo”.

—O que faz aqui? —uma voz feminina me dissera, eu olho para trás e me deparo com uma miragem.

—Lily, não sabia que morava por aqui —cochichei.

—E não moro, minha tia que mora ali em frente —ela apontou para um casebre amarelo —tudo bem?

Ela estava com um vestido curto vermelho, e sapatilha preta, cabelos soltos, e claro, seu sorriso à vista.

—Sim —respondi —agora venha, sente-se, e fale baixo.

—Por que não entra? —ela pergunta, após se sentar.

—Não... Pare de falar, Lily. —eu ri, me divertindo com a situação.

Ao fim da pregação, nós nos levantamos antes de todos, e eu me preparei para me despedir de Lily.

—Foi bom estar com você —ela disse.

—Igualmente.

Ela sorriu, e cada um seguiu o seu caminho.

No dia seguinte, na escola, Lily fez questão de sentar do meu lado na aula de química. A companhia dela era tão boa que eu mal conseguia ficar triste. Não como antes.

A minha mãe gostaria muito dela. Diria que era a garota perfeita. E eu concordaria.

— Tyler, meus pais vão dar um jantar de ação de graças amanhã a noite, você gostaria de ir? — ela me pergunta, no refeitório.

Eu pensei um pouco. Não sei se encontraria a roupa adequada para esse tipo de coisa. Muito menos se saberia me comportar na frente de tantas pessoas. Quer dizer, desde que minha mãe morreu, eu venho sido muito isolado do mundo, e pra falar a verdade, essa seria a primeira vez que sairia de casa, concretamente.

— Sim. Adoraria — aceitei o convite e vejo novamente o sorriso de Lily se acender em seu rosto.

Ela era a garota mais encantadora que já tivera visto na vida. O que me desperta uma curiosidade:

— Lily, qual o seu defeito?

A garota se engasga, e sorri. Bebe mais um pouco de suco, e finalmente, me responde:

— Vários. Eu não sou perfeita, Tyler. Possuo defeitos como todo mundo. Sou teimosa, meio preguiçosa, às vezes...

Eu ergo uma sobrancelha e percebo a pele da menina ficar mais rosa. Acredito que ela esteja com vergonha.

— Me desculpa, eu não quis mesmo te deixar envergonhada — eu disse, e dei uma mordida no sanduíche.

— Tá tudo bem — ela afirmou.

Eu mal podia esperar para o jantar!