Helena já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha lido aquela carta. Estava desnorteada, aquela era uma informação difícil de ser assimilada. Teria ligado para Peter, mas não queria estragar a comemoração, e quanto a Steve, bem não havia a menor possibilidade disso.

Foi para cozinha e colocou meio litro de água para esquentar. Não sabia definir exatamente o que sentia, mas estranhamente não estava triste, talvez estivesse até... aliviada. Sua mente praticamente já aceitava aquilo, mas pressionaria o pai depois para que ele confirmasse a verdade.

Despertou de seus pensamentos quando ouviu o barulho da chaleira. Adicionou mel e limão e depois colocou o chá em uma garrafa térmica. Retornou para o quarto, vestiu um robe, calçou pantufas e jogou um cobertor sobre os ombros. Voltou para a cozinha, pegou a garrafa térmica e uma caneca, e saiu do apartamento em seguida. Andou até o elevador, e quando as portas abriram, deu de cara com Steve.

—Helena? Ele falou confuso.

—Oi. Ela disse timidamente.

—O que você...

—Estou indo para o terraço.  Disse entrando no elevador. –Ocorreu tudo bem com aquela sua emergência? Não precisa falar o que era.

—Sim. Ele disse ainda tentando entender.

—Desculpe não dei nenhuma explicação, eu sei que isso parece loucura, mas eu não vou mais conseguir dormir mesmo, então vou ficar por lá até amanhecer.

—Então irei ficar com você...

—Não precisa, sério. Não quero te prejudicar. Eu sei o quanto deve estar cansado.

Você não me prejudica em nada Helena. Pensou quando tocou o botão para o terraço.

—Steve!

—Me falaram que o nascer o do sol lá encima é maravilhoso. Deu um sorriso de lado...    -E também não vou conseguir dormir, imaginando que eu poderia ter perdido esse momento com você.

Helena não protestou mais, no fundo ela queria Steve perto dela, mesmo se sentindo culpada, ele era tudo o que ela precisava naquele momento. Sentaram em um colchão que provavelmente o sindico havia deixado por ali, já que muitas pessoas constantemente visitavam aquele lugar para observar estrelas. Steve colocou o cobertor em seus ombros e ficou atrás de Helena a envolvendo, enquanto ela estava totalmente com seu corpo encostado e apoiado em Steve.  

—Está tudo bem mesmo Helena? Rogers perguntou pela milésima vez.

Helena não conseguiria mais negar aquilo que havia lido na carta de sua avó para Steve e resolveu que seria melhor, ser sincera e contar logo a verdade, ... toda a verdade.

—Steve...bem, digamos que ainda não tenho uma resposta para sua pergunta. Lembra que eu te contei que no dia em que conheci Peter, ele tinha deixado uma carta da minha avó?

—Lembro...

—Pois... eu a li justamente depois que você saiu. Peter havia deixado um bilhete em minha cama para que eu lembrasse da carta, ele sabia que eu ainda não tinha lido porque vó Lena tinha deixado algumas caixas com ele para que me entregasse caso eu pedisse, e bem... eu até hoje não havia pedido a ele. Ela respirou fundo e virou um pouco o corpo para que pudesse observar Steve que ainda mantinha os braços a envolvendo. –Marie é minha tia, e a minha verdadeira mãe morreu quando eu tinha uns seis meses de vida.

—Tem certeza disso Helena?

—Não totalmente. Mas minha avó não mentiria para min, ainda mais em seu leito de morte. E... faz sentido. Meu pai ficou sem saber o que fazer sendo viúvo e com a responsabilidade de me criar sozinho, Marie deve ter se oferecido para ajuda-lo e acabou se envolvendo romanticamente com ele, me assumindo como filha, e ah, ela é estéril, isso só reforça mais a história. Vó Lena ainda revelou que fizeram ela prometer guardar este segredo, e que Marie usava isso para controlar o meu pai. O estranho é que não me sinto tão abalada com isso, sei lá... acho que agora eu realmente me sinto...Livre.

—O que pretende fazer, agora que sabe disso?

—Acho que... dar meu apoio ao meu pai. Não quero acabar com o casamento dele, mas não quero que ele seja mais manipulado por minha causa.

—Entendo...

—E não para por aí... Luther visitava Sarah quando eu não estava em casa.

—Espere, esse não é...

—O avô dela? Sim. Helena falou completando. Segundo ela, o senhor Allen acabou sendo bem insistente e Vó Lena não teve mais como impedi-lo, além disso, parece que ele criou uma conta para Sarah. Ainda não tinha realmente decidido se contaria a verdade para ela, mas agora sei como as mentiras podem atrapalhar nossas vidas, e quando ela for mais velha irei revelar sobre John, e se quiser conhece-lo... não serei contra, darei apoio a ela, mas devo pedir ajuda ao Luther antes, já que ele parece gostar dela. Em relação a conta...quando ela tiver a maior idade, poderá decidir o que fará com o dinheiro.

—Helena, pode contar comigo também.... Disse e deu um rápido selinho.

Ficaram agarradinhos até o amanhecer. Realmente, o nascer do sol observado daquele ponto era maravilhoso.

Desceram quase cinco minutos depois, e sentindo um pouco de sonolência, resolveram dormir um pouco, aproveitando que ainda era domingo.