Meu doce Rogers escrita por Aquarius


Capítulo 10
O começo de tudo (continuação)


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas. Espero que estejam curtindo a fic. :D, e falando nela, esse capítulo será um pouco grandinho, então se não estiverem achando legal os capítulos um pouco extensos, manda um toquezinho para que eu possa dar uma dividida em pelo menos dois capítulos. :D



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O dia começava a clarear e sem rumo caminhei até chegar na pracinha que ficava perto do hospital da cidade. Sentei em um dos banquinhos que haviam ali e fiquei observando o parquinho que estava logo a frente.

–É bebê, daqui a pouco você estará aqui, correndo e pulando em um parquinho como esse. Falei alisando minha barriga que tinha um mínimo volume, quase imperceptível.

Voltei a olhar o local em que eu estava e nesse momento meu estômago começou a roncar. Ótimo, pensei. Talvez o melhor seja sair daquele local e recomecei minha caminhada sem destino. Andava lentamente, já que além de estar morrendo de fome, a mochila parecia estar ganhando peso a cada passo que eu dava.

Coloquei minha mão no bolso para amenizar um pouco do frio que ainda fazia e senti que havia algumas moedas por ali. Tirei-as rapidamente e comecei a conta-las. Um pequeno alívio tomou conta de meu corpo, aquele dinheiro daria pelo menos para um pacotinho de biscoitos. Fui até mercado mais próximo e logo achei a sessão que procurava.

– O que você está fazendo aqui? Ouvi uma voz grave atrás de min.

Me virei e ao ver que era John senti uma pontada no peito, mas logo o ignorei e voltei a olhar para os biscoitos.

Ele então pegou bruscamente em meu braço e me fez encara-lo.

– Não tenho que te dar a mínima satisfação do que faço ou deixo de fazer. Falei enquanto tentava me soltar.

–Ah é mesmo? Você só veio fazer umas comprinhas e nada mais. Começou a apertar mais o meu braço –Preste atenção, você não conseguirá nada de min, aceite isto logo, e não tente fazer qualquer escândalo ou se arrependerá amargamente.

– Além de canalha, vai virar um assassino agora? Ele recebeu aquilo como um tapa, mas logo voltou a sua expressão de raiva.

–Lembre-se que eu te avisei. Falou largando o meu braço e saindo dali apressadamente.

Acabei indo embora. Aquela conversa havia me dando um mal-estar. Olhei novamente para as moedas, aquele dinheiro daria para comprar um bilhete de trem para Fênix, onde havia um abrigo e com sorte poderia encontrar algum grupo de ajuda para mães solteiras. Mas, ainda tinha o problema de que eu não havia comido nada fazia um bom tempo. Então lembrei que vó Lena morava afastada da cidade, mas não longe e que talvez eu pudesse ir lá, comer algo e ir andando até uma estação que ficava a uns trinta minutos a pé.

Andei por não sei quanto tempo, e ao chegar no local, parei em frente à casa dela, esperei normalizar a respiração e secar um pouco do suor que pingava do meu rosto. Caminhei lentamente e apertei a campainha. Ela abriu a porta, e ao ver que era eu, abriu um largo sorriso.

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–Helena, minha menina, que bom te ver. Falou enquanto me envolvia em um abraço e beijava minha bochecha. Venha, entre. A que devo a sua visita.

– Bem, eu vou ficar fora por uns tempos e passei aqui para me despedir da senhora e aproveitar para comer algo antes de pegar a estrada. Falei um pouco envergonhada.

–Certo. Você pode fazer o dejejum comigo, enquanto me atualiza um pouco sobre sua vida.

–Tudo bem.

–Me fala daquele seu namoradinho. Falou enquanto puxava uma cadeira e sentava -Vocês estão a quase três anos juntos. Já estão pensando em marcar noivado?

–Na verdade vó, terminamos recentemente.

–Eu sinto muito. É uma pena, sempre achei que vocês um dia casariam e que você seria muito feliz. Falo isso porque via o quanto ele te adorava, fazendo de tudo para te ver sempre sorrindo.

–Eu também pensava assim, mas estava enganada no final. Falei baixando um pouco a cabeça.

– Mas a vida é assim mesmo, minha menina, uma hora erramos, aprendemos com nossos erros e depois fazemos o certo. E não se preocupe, você é linda em todos os sentidos e logo estará com um novo amor por aí. Falou me dando um sorriso doce.

–Obrigada. Falei passando um pouco de manteiga no pão – Mas e a senhora? Soube por aí que foi vista acompanhada no baile da terceira idade.

–E muito bem acompanhada. Senhor Davis, lembra dele? Falou abrindo um enorme sorriso.

–Ah, claro que sim. Falei admirada.

–Estamos saindo a três meses.

–Hum pelo visto quem está com um novo amor é a senhora. Está feliz?

–Ah, querida, estou muito feliz, mas cansada, aquele velho tá achando que é um garotão de vinte anos. Toda hora quer fazer...

–Vó! Falei rindo muito.

– Querida eu ia falar caminhada. Ai, ai essa sua cabecinha. Falou soltando uma gargalhada –Ele quer participar de uma pequena disputa de dança para terceira idade e acha que as caminhadas irão ajudar na parte do condicionamento físico. Mas se bem que, se deixar, ele quer ficar namorando todos os dias.

–Vó, a senhora não tem jeito mesmo. Falei pegando em sua mão.

–Graças a Deus! Imagina se eu fosse que nem as outras mulheres da minha idade? Vê se pode uma coisa dessa.

O telefone começa a tocar.

–Deixa vó que vou atender para a senhora. Falei enquanto colocava a comida de volta no prato.

–Não precisa. Como sua refeição tranquilamente. Falou levantando-se antes que eu respondesse algo.

Aproveitei e comi alguns biscoitos caseiros e um pouco da salada de fruta. Já satisfeita, recolhi os pratos sujos e fui lava-los. Terminei a limpeza e comecei a estranhar, já que vó Lena estava demorando muito no telefone. Então enxuguei minhas mãos e fui procura-la, mas antes que saísse do cômodo, ela retornava com uma expressão um pouco séria.

–Helena, tem alguma coisa que queria me contar?

–Não Vó. Desconversei já pressentindo o que teria sido aquele telefonema. Acho melhor eu ir antes que eu não consiga chegar a tempo no meu destino.

–Helena. Falou ela pedindo minha atenção – Era seu pai no telefone, ele está preocupado com você.

–Preocupado? Falei tristemente –Ele não parecia estar quando mamãe disse que eu deveria ir embora –Vó, não quero partir brigada com a senhora, eu sei que deve estar decepcionada comigo, mas mamãe já me falou o suficiente para que eu me sentisse um lixo, então, adeus. Falei sem olha-la enquanto pegava minha mochila apressadamente e ia até a porta.

–Helena! Largue agora mesmo a droga dessa mochila. Parei de frente para a porta e obedeci. Para onde você irá? Como vai se virar por aí no seu estado?

–Eu não sei vó, mas ficarei bem. Falei com a voz um pouco alterado pelo choro que começava -Tenho que ficar bem, não tenho outra opção. Falei abrindo a porta.

–Quem te disse que não tem outra opção? Minha querida... minha casa é sua, e você é bem-vinda, por favor, por tudo que é mais sagrado não vá embora e desapareça no mundo, eu te amo muito minha menininha e não suportaria ver você partir. Fiquei parada sem acreditar no que eu estava ouvindo e depois Corri em sua direção e envolvi os meus braços nela. Ficamos um tempo abraçadas, chorando baixinho.

–Quer disser que... Falei com certa dúvida.

–Sim, você pode ficar aqui e farei o possível para te ajudar, minha querida. Falou ela limpando o meu rosto.

Depois daquele dia eu consegui um emprego com um amigo do senhor Davis na cidade, trabalharia durante o dia e de noite iria para meu curso de administração que além de ser bolsista, tinha conseguido transferir para a noite. Era uma rotina que deixaria qualquer um louco, mas eu aguentava, pelo menos nunca mais tinha visto John, Luther ou meus pais, apesar de que no final eu tinha ficado com toda a carga, recebendo quase todos os dias olhares e piadinhas das pessoas locais, afinal em cidade pequena quase todos se conhecem e fazem questão de tomar conta da vida dos outros.

Até que um dia quase perdi a cabeça, mas não devido aquela louca rotina. No meu sexto mês, tinha resolvido tentar que John reconhecesse o bebê, mas aquilo infelizmente não deu certo. Em um domingo qualquer, vó Lena havia saído para comprar umas frutas que costumávamos comer durante as sobremesas nos fins de semana, estava sozinha em casa quando ouvi a campainha e fui atender. Era Luther e ele estava com um cara nada feliz, nem ao menos esperou que o convidasse para entrar e já foi logo passando.

–Você deve ter uma ideia do motivo da minha vinda até aqui. Falou sério.

–Sim.

–Então sabe que, pedirei que reconsidere essa sua... insanidade.

–Insanidade? Falei aumentando o tom da minha voz. O senhor bem sabe que... Não terminei de falar porque ele logo agarrou o meu pescoço com uma mão.

–Insanidade, sim. Falou com uma voz grave e ameaçadora - Você está querendo arrastar o nome da minha família pela lama e eu não vou permitir que isso aconteça, custe o que custar. Falou soltando meu pescoço.

Comecei a puxar o ar com um pouco de desespero enquanto ele continuava falando.

–Seria triste que algo acontecesse com você ou sua avó. Imagine as seguintes manchetes: “Curto circuito provoca incêndio que faz duas vítimas enquanto estavam dormindo, ou “Gravida é esfaqueada em assalto”, ou...

–Tudo bem. Falei com a mão massageando o pescoço - Não farei nada. E agora que já deu seu recado, por favor vá embora.

Mas tarde falei com vó Lena sobre o ocorrido sem falar os detalhes e seguimos nossas vidas sem incidentes. Meu bebê nasceu três meses depois por meio de um parto natural, um lindo joelhinho, como chamava vó Lena, de peso e tamanho normal, que chegará ao mundo no finalzinho de uma semana estressante de provas do meu sexto semestre. Poderia ser clichê, mas minha menina era a bebê mais linda do mundo.

Fiquei cerca de dois meses de licença e quando as aulas retornaram, deixei minha filha sob os cuidados de Vó Lena. Aproveitava o máximo o tempo dos fins de semana para ficar e curtir minha filhota, até mesmo durante as compras dos mantimentos que eu geralmente fazia durante os fins de semana. Quando ela estava com cincos meses algo desagradável aconteceu em uma dessas idas.

Sarah estava dormindo na minha bolsa canguru , era um daqueles dias que vou fazer compras. Estava terminando de pegar os últimos itens quando sinto uma mão tocando levemente meu braço.

–Oi Helena. A quanto tempo nos não...

–Não sei que diabos você faz aqui, mas pode confirmar com qualquer um dos funcionários que eu venho sempre fazer as compras do mês neste lugar, antes que você comece a me ameaçar e disser que estou te perseguindo ou qualquer coisa do tipo. Já desisti de você faz tempo e agradeço aos céus por meu bebê não carregar o nome maldito da sua família, se é que pode ser chamada de uma. Então me dê licença antes que seu pai me considere uma ameaça novamente e queira resolver do modo dele custando o que custar. Falei rapidamente, saindo em seguida sem olhar para trás.

Depois daquele dia encontrei ele algumas vezes, mas estava sempre longe. Soube depois por Alice que ele já havia se formado e que estava na Europa, retornando a poucas semanas.

O tempo pareceu ter corrido, pois logo minha bebê estava com dois anos e eu já tinha conseguido me formar naquela época, iniciando um período de experiência em uma filial das industrias Stark, mas infelizmente, aqueles anos não haviam sido muito generosos com vó Lena, ela passou a visitar cada vez mais médicos devido a uma série de pequenos problemas que iam aparecendo, até que em um momento, ela ficou internada por quase três semanas, foi quando eu recebi uma péssima notícia.

–Ela não sofreu. Disse o médico do modo mais amável possível- Estava dormindo e seu coração parou de bater.

Agradeci ao médico pelas informações e fui para casa. No caminho encontrei John e antes que sua boca emitisse algum som, pedi o mais suplicante possível, Agora não! Por favor! Continuei andando antes que John resolvesse tentar falar. Olhava os lugares da minha infância que Vó Lena costumava me levar, via nossas imagens como hologramas, ela me empurrando no balanço, ou me dando sorvete. Não queria acreditar que minha querida Lena tinha morrido. Ela era toda a minha família, era meu mundo, e agora estaria sozinha.

Assim que cheguei em casa meu telefone começou a tocar. Não queria atender mas imaginei que fosse Alice querendo notícias e atendi logo.

–Lica, tá tudo bem? Alguma novidade?

Respirei fundo duas vezes- Ela morreu, mas pelo que o médico falou não sofreu nada, estava dormindo no momento.

–Sinto muito Liquinha. Se precisar de algo é só falar.

–Obrigada. Eeeu, fechei os olhos e respirei fundo, gostaria de te pedir só mais uma coisinha.

–O que quiser.

–Poderia ficar mais um tempinho com a Sarah? Preciso ficar um tempo só e depois irei organizar o enterro.

–Tudo bem... mas sua mãe não iria querer estar nesse planejamento também?

–Acho que não. Ela não fez contato nem foi visitar vó Lena quando ela estava internada. Apenas falou que eu deveria ficar ciente que a casa seria dela caso Lena viesse a falecer.

–Entendo. Sei que não é hora de falar nisso, mas minhas portas estão abertas, você e Sarah são bem-vindas aqui. Não se preocupe caso ela queria a casa.

–Obrigada mais uma vez. Dá um beijo na minha princesinha por min.

– Não tem o que agradecer, e não se preocupe quanto a ela também, estou cuidando como se fosse minha própria filha.

Desliguei o telefone e fui tomar um banho, ficando um bom tempo na banheira. Minha mente fugiu de min e fiquei ali sentindo minha dor, tudo parecia estar em câmera lenta, as gotas de água caindo da torneira e as pequenas ondas formadas por elas que vinham preguiçosamente em minha direção. Voltei a realidade com o barulho insistente da campainha. Gritei o mais alto possível que já estava indo, vesti uma calcinha e sutiã e coloquei um roupão de banho por cima.

Abro a porta e dou de cara com minha mãe. Ela nem espera que eu a convide para entrar e já vai passando com um homem que sem graça pede licença.

–O que acha Fabrício?

– É... bem, não é uma casa muito grande, mas pode dar um bom dinheiro, já que essa é uma região de terras férteis, além da estrutura aparentar estar bem conservada. Tenho que fazer uma avaliação minuciosa para te dar um valor real.

Fiquei paralisada. Não estava e nem queria acreditar que aquilo estava acontecendo bem na minha frente. Mas logo a raiva começou a crescer dentro de min.

–Não me olhe assim Helena! Você sabia que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Eu te avisei sobre isso, você sabe que tenho mais direito a essa casa do que você!

–Sei! Tenho total conhecimento disso! Comecei a aumentar o volume da minha voz, enquanto as lágrimas começavam a sair contra a minha vontade – Você fez questão de deixar isso bem claro, quando Vó Lena AINDA estava hospitalizada, e agora vem aqui com um corretor quando nem o corpo dela ao menos saiu do hospital ainda! Ela acabou de morrer e você vem com a droga de um corretor avaliar a casa! Que tipo de monstro é você?

Fabrício estava visivelmente constrangido e aquele ser que um dia chamei de mãe parecia estar reunindo forças para brigar, mas ela parou e respirou fundo.

–Duas semanas. Falou pausadamente- Quero você fora daqui em duas semanas.

Desabei no sofá. Começando a limpar as lágrimas com a costa da mão . Ela e o corretor foram até a saída e antes de passar pela porta parou, ficando de costas.

–E não tente atrapalhar a avaliação. Você vai deixar Fabrício entrar a qualquer hora que ele vier.

E foi embora.

Passados dois dias depois do enterro, resolvi tentar sair um pouco do luto e fui procurar emprego em classificados online já que Fénix é muito longe e não daria para continuar na filial, afinal também iria ficar eternamente morando na casa da Alice, que apesar dela repetir milhares de vezes que não seria nenhum incomodo, queria arrumar minha vida o mais rápido possível.

Separei algumas propostas e fui para meu trabalho na filial Stark.

Sarah continuou na casa de Alice a qual insistiu em continuar cuidando dela, e eu acabei deixando já que ela estava de férias. Na outra semana, ao sair de casa, me deparo com um homem com a mão levantada para bater na porta.

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–Em que posso ajudar? Falo educadamente

–Bom dia. Estou à procura da senhorita Helena Ocean.

–Sou eu mesma.

–Você teria alguma disponibilidade para conversar agora.

–Bem, estava justamente indo para o trabalho, mas estarei livre as 19 horas se não for ruim para você, é ... qual é mesmo seu nome.

–Desculpe, acho que não me apresentei. Peter Davis. Posso te encontrar na lanchonete perto do posto de gasolina?

–Sim.

Me despedi dele e fui pegar o trem para a cidade vizinha onde trabalhava. Naquele dia tinha recebido um e-mail falando de uma vaga para um trabalho permanente na Matriz Stark, mas ignorei aquilo, resolvendo não me candidatar, não teria como fazer qualquer mudança para assumir aquele cargo na situação em eu estava.

Cumpri minhas obrigações para aquele dia e cheguei em Lágrimas da Sereia por volta das 18:30 e fui direto para a lanchonete onde havia marcado com o Peter. Infelizmente John estava por lá também e flertava descaradamente com uma garçonete. Andei um pouco e me sentei em uma mesa o mais distante possível dele, entretanto ele se levantou e parecia estar vindo na minha direção, mas ao ver Peter sentando na minha mesa, parou e deu meia volta.

– Um pouco adiantado não?

– Sou britânico e as vezes extrapolo essa coisa de “pontualidade”. Falou dando uma piscadinha.

Dei uma rápida risadinha colocando a mão na boca –Então, o que gostaria de conversar comigo senhor Davis? Falei me ajeitando em uma postura um pouco séria.

–Gostaria falar de sua Vó Lena. Meus pêsames. Eu amava aquela mulher e me sentiria muito honrado em ter sido seu neto.

–Ela cativava a todos mesmo. Falei um pouco triste e ele colocou a sua mão na minha.

–Sim. Mas o que tenho a te falar talvez te anime um pouco. Você lembra do namorado dela?

–Sim, senhor Dav... Você é algum parente dele? Perguntei um pouco confusa.

– Sou seu neto. Falou pegando minha mão e colocando entre as deles – Mas vamos ao assunto que venho tratar com você. Sua vó me pediu algo logo quando foi internada. Ela estava muito preocupada com você e sua filha e solicitou que eu fizesse um testamente o mais rápido possível. Ele parou e olhou bem nos meus olhos para que eu prestasse bem atenção- Ela queria que você ficasse com a casa, as terras e qualquer outra coisa que estivesse no nome dela.

Aquilo cai em peso e eu comecei a me permitir a ter um pouco de esperança. – Mas e minha mãe?

–O testamento é bem claro quanto a isso. Ela não terá direito a nada e nem terá como tentar tomar nada de você. Eu fiz questão de ter a assinatura do médico dela e de um psicólogo do hospital para atestar que o problema de saúde dela não estava afetando a sua capacidade mental e que ela estava plenamente consciente dessa decisão. Falou enquanto passava a mão pelo meu rosto para limpar uma lágrima solitária.

–Obrigada. Não sei nem como agradecer.

– Na verdade você tem como agradecer sim. Lute por sua felicidade Lena. Recomece sua vida, faça o que for necessário, só não fique triste porque pelo que eu lembro dela, era isso que ela desejaria.

–Obrigada mais uma vez. Falei pegando em sua mão quando a garçonete que John estava flertando apareceu.

–Vocês vão querer alguma coisa? Falou lançando um sorriso para Peter.

–Torta de morango com chocolate para minha querida Lena. Falou tocando meio queixo –E um cappuccino BEM QUENTE para min. Falou dando uma piscadinha para ela.

Ela anotou o pedido e saiu dali. Mas antes que a visse desaparecer do meu campo de visão, a observei cochichando algo no ouvido de John. Foda-se pensei. Virei para Peter com um leve sorriso.

–Como sabia da torta?

–Sua vó me contou. As vezes conversávamos quando eu aparecia para visitar o meu avô, e ela sempre falava bastante de você.

–Ah.

Ficamos conversando por bastante tempo e acabamos pedindo várias xícaras de café depois durante.

– Se quiser posso te dar uma carona Helena. Não será nenhum problema.

–Não precisa. Sério. E eu ainda tenho que passar no mercado para comprar umas besteirinhas que estão faltando.

–Ok. Só não vou insistir porque sua vó me falou também o quanto você pode ser teimosa. Ah e antes que eu esqueça, ela deixou uma carta para você. Falou tirando um envelope dobrado do bolso.

–Obrigada. E nos despedimos com um abraço.

As ruas já estavam com pouco movimento naquele horário, 21h. Caminhei apressadamente, mas comecei a sentir uma presença atrás de min, quando me viro vejo John olhando furiosamente para min. Ele agarra violentamente meu braço e me arrasta para um local pouco iluminado.

–Que diabos você pensa que estava fazendo? Agora resolveu sair por aí se esfregando em homens em público, ainda mais quando sua avó malmente esfriou no caixão.

– Eu que te faço essa pergunta e solta meu braço logo que você está me machucando.

–Não vou soltar até me dar uma explicação. Falou apertando mais um pouco.

– Pois eu não te devo nenhuma. Minha VIDA não é da sua conta a muito tempo. Falei furiosamente enquanto me balançava tentando me livrar de sua mão.

– Não me provoque Helena. Falou ele ameaçadoramente.

–Quer saber? Que saber mesmo? Ele é meu namorado. Já estamos juntos a MESES e estou finalmente FELIZ porque tenho um homem de verdade. Aquilo foi um tapa certeiro na cara do John, ele ficou um tempo sem reação, mas logo levantou o outro braço para me bater. Parou antes que me acertasse e me soltou bruscamente de modo que acabei caindo no chão.

–Faça bom aproveito. Falou com uma voz transformada pela raiva e saiu sem olhar para trás.

Fiquei com um pouco de dor no braço por um tempo, mas logo passou. Minha mãe apareceu furiosa no final daquela semana tentando me expulsar da casa, mas Peter que felizmente estava no momento não deixou que isso acontecesse.

Tudo começava a ficar tranquilo, mas eu não conseguia seguir o conselho que Peter havia me dado. Como poderia ser feliz naquele lugar onde só fiz sofrer a maior parte do tempo? Os encontros com John, as piadinhas e olhares das pessoas, e minha filha a inocente dessa história que iria crescer suportando tudo isso.

Então, em um sábado, estava em casa fazendo uma pequena arrumação quando ouço a campainha e vou atender a porta. Era uma jovem família. Um casal e seus três filhinhos pequenos.

–Olá. Posso ajudar você com alguma coisa?

–Oi. Falou a mulher –Somos os Rivers viemos dar uma olhadinha na casa. Ela está à venda, não é?

–Bem. Não está mais. Minha mãe achava que essa casa seria herdada por ela, mas esta acabou sendo passada para min mesmo.

–Ah. Falou decepcionada – É uma pena, esta foi a casa que estávamos mais animados para olhar. Mas enfim. Obrigada. E foram embora.

Entrei em casa e um pensamento me ocorreu. Essa poderia ser a chance de recomeçar que esperava. Eles parecem querer isso também e aqui pode ser o lugar perfeito para aquela família. Sem pensar mais, corri apressadamente na tentativa de alcança-los, gritando loucamente e abro um sorriso quando vejo o carro deles parando no final do caminho.

Na outra semana, a última para se candidatar para a vaga na Matriz das Industrias Stark, assim que cheguei no trabalho, procurei o supervisor.

– Olá. Falei timidamente - Quero saber se a vaga para o emprego na filial ainda está disponível.

–Para sua sorte sim. E ainda bem que veio me procurar, o prazo para se candidatar termina essa semana. Helena, sei que sua vida é bem complicada, mas nunca mais deixe uma oportunidade assim passar. Confesso que... você tem grandes chances para este cargo e será uma feliz e triste despedida quando você for nos deixar.

E foi assim, vendi a casa e as terras para aquela família, consegui o emprego que havia me candidatado e três semanas depois estou aqui tomando esse chocolate quente com você.

Pov John (Extra pós capítulo)

No dia seguinte sai em uma viagem de negócios. Helena estava me evitando desde que eu tinha retornado da Europa, e agora sabia o motivo. Eu sei que fui um perfeito babaca com ela, mas mesmo assim, queria ver como estava quando soube que a avó dela não estava em um bom estado de saúde já havia um tempo, e ainda mais quando ela veio a falecer. Nossa, desejei muito poder conforta-la. Quando estávamos juntos vivia fazendo coisas para que pudesse agrada-la, não gostava que ela ficasse triste nem por um segundo. Mas agora isso não seria possível.

Peguei um pouco de Vodka e comecei a beber lentamente para afastar a raiva que começava a querer tomar conta de meu corpo, as imagens daquele homem acariciando Helena bombardeavam em minha mente. “Parece que gostosão ali se deu bem, ou eu posso disser que ela se deu? ” Vinha a voz da garçonete, seguida pela da Helena “Homem de verdade”, “Já desisti de você faz tempo e agradeço aos céus por meu bebê não carregar o nome maldito da sua família, se é que pode ser chamada de uma”. Aquilo estava me acabando, senti como se aquele idiota estivesse tomando algo que fosse meu. “Ele vai ficar com sua mulher e com seu filho, e você vai se arrepender amargamente depois. Fica aí mesmo idiota, morrendo de ciúmes sem fazer nada” falou uma voz desconhecida na minha cabeça.

Era óbvio que eu NÃO estava morrendo de ciúmes, só não esperava que ela fosse ficar com outro, tanto tempo sem notícias e quando volto... Deixa para lá, é claro que aquilo seria uma surpresa para min.

Passei não sei quanto tempo fora e no retorno, decide parar em Fênix. Andei um tempo pelo centro comercial, quando uma cena chama a minha atenção. O namorado de Helena beijando a amiga Alice dela. Fiquei surpreso e estranhado aquela cena resolvi observar eles de longe por um tempo, e ir me aproximando aos poucos.

– Helena logo irá se mudar. Poderíamos marcar um jantarzinho de despedida o que acha? Falou ela enquanto beijava aquele ser.

–É uma ótima ideia. Hoje mesmo ligarei para ela marcando o dia.

– E por falar em marcar dia, sabe uma coisa engraçada que ela estava falando um dia desses?

– Não?

–Que deveríamos marcar logo nosso casamento, estamos muito melosos e que ela não quer ter uma diabetes por causa do nosso excesso de açúcar. Falou enquanto começava a beija-lo novamente.

Não esperei que ele falasse algo e fui embora dali. Liguei o carro e comecei a dirigir o mais rápido possível para Lágrimas da Sereia, dessa vez Helena teria que me dar uma explicação. Ela havia mentindo para min e estaria indo embora. Era óbvio porque deveria estar querendo fugir de min.

Cheguei na cidade depois de quase três horas e fui direto para a casa da avó dela.

–Helena! Helena! Comecei a gritar assim que cheguei lá. Em pouco tempo um homem apareceu e eu senti um calafrio.

–Senhor, eu lamento, mas Helena não mora mais aqui.


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Notas finais do capítulo

E awe? Gostaram da Vó Lena? E o Peter? :D