As celebrações na pequena cidade de Pallet eram muito famosas por serem simples, mas inesquecíveis. E como praticamente toda cidade pequena e do interior, todos os habitantes eram convidados para as festas. Dessa vez, a filha de um fazendeiro iria se casar com um rapaz das Ilhas Laranjas e decidiram fazer o casamento na beirada do lago que cortava a cidade, numa bela tarde de primavera, onde todas as flores estavam abertas e exalando seu perfume.

Na casa Ketchum, todos estavam se aprontando para irem ao local da cerimônia, empolgados, é claro, com a fartura de comida que nunca deixava a desejar nas festas da cidade. Obviamente que o estômago de Ash já estava dando “olá”.

Como um garoto de 16 anos, Ash achava essencial comer a cada cinco minutos para se tornar um Mestre Pokémon e dizia que o alimento o dava energia para ser o melhor (como se comer realmente ajudasse uma pessoa a ser um Mestre Pokémon. Ash se recusava a admitir que era simplesmente um comilão). Enquanto ajustava a gravatinha de Pikachu, o Professor Carvalho chegou com Tracey para levá-los ao local da cerimônia em seu carro.

- Já estão todos prontos? – perguntou o Professor.

- Como sempre, as mulheres estão demorando – resmungou Ash, acariciando Pikachu - Brock está no banheiro treinando cantadas no espelho. Será que ninguém tem amor ao meu estômago? Se demorarmos mais cinco minutos, toda a comida vai acabar!

- Não se preocupe, Ash – disse Tracey, rindo – Só vai ter comida depois da cerimônia.

- Acho bom mesmo – Ash deu uma última fungada.

Brock finalmente voltou do banheiro, parecendo muito confiante de si e de suas cantadas e todos, cada um usando o seu terno, se sentaram no sofá, esperando a senhora Ketchum e Misty aparecerem. Dez segundos depois, a mãe de Ash aparece com um belo vestido longo e batendo as mãos, enquanto dizia num tom bem sério:

- Muito bem, quero que todos elogiem a Misty, pois ela me disse que nunca tinha usado um vestido de festa antes e não está se sentindo muito segura. Principalmente você, Ash, nada de piadinhas.

Ash já iria argumentar, quando a senhora Ketchum chamou Misty e a garota apareceu. E, como toda garota de 16 anos, Misty já era bela por natureza, mas ninguém precisou fingir quando a viram num belíssimo vestido rosa claro florido. Mas, o fator que mais surpreendeu seus amigos, foi que seu cabelo estava solto, não no seu típico rabo de cavalo.

Misty estava tão vermelha que quase se misturava com seus cabelos ruivos, mas seu rosto ficou mais vermelho ainda quando olhou para Ash, que estava de olhos arregalados. Misty, sem querer, temeu em seu coração de que Ash a estava achando esquisita e ridícula. Ash já tinha alguma piada preparada para tirar sarro de Misty antes de ela aparecer, mas quando a viu assim, tudo o que conseguiu dizer foi... Nada. Ficou sem palavras. Nunca a vira desse jeito, e cara, ele realmente achou que ela estava linda.

Todos os elogios foram verdadeiros.

Antes de entrarem no carro, Ash e Misty foram os últimos a sair da casa. Misty chegou perto dele e sussurrou, nervosa:

- É-é engraçado usar roupas assim, não acha? Não estou acostumada a ir a festas, muito menos me arrumar toda desse jeito.

Ash não estava entendendo o que estava acontecendo dentro de seu peito. Estava achando muito estranho que ultimamente seu coração começava a disparar quando estava perto de Misty. Mas hoje parecia que estava dançando. Tentando não gaguejar, respondeu enquanto acariciava Pikachu:

- Bom...A-acho que você ficou muito linda. Na verdade, acho que é um pouco impossível você ficar feia.

O coração de Misty acelerou um pouquinho mais do que o normal e como um remédio para sua insegurança, se sentiu aliviada. Para ela, todos os outros elogios não pareceram significar nada em comparação a este.

- Oh, Ash – respondeu, ficando mais vermelha – Sabe que você também está uma gracinha neste terno, sabia?

O garoto sorriu, olhando para baixo, enquanto coçava a cabeça e por fim, não conseguiu responder.

Quando chegaram ao salão de festas, perceberam que a maioria das cadeiras já estavam ocupada, e depois de um tempo, Ash e Misty acabaram tendo que sentar no fundo. Misty notou que Ash a olhava de soslaio e ficava vermelho quando ela o pegava no flagra. Uma bela música começou a tocar e padrinhos e madrinhas começaram a andar pela passarela.

Ok, hora de a noiva entrar. A Marcha Nupcial começou a ser tocada e todos admiraram a beleza dela. Estava usando um longo e bonito vestido branco de seda, que um dia fora usado pela sua mãe, sua avó ou até mesmo bisavó.

- Oh, meu Deus! – exclamou Misty, colocando as mãos na frente da boca – Como ela está linda! Olha esse buquê! Que flores mais lindas, são daqui de Pallet, Ash?

- Sim – disse Ash, sorrindo – Minha mãe ajudou a colhê-las, sabia?

- Que lindo... – suspirou Misty, com os olhos azuis brilhando – Sabe, quando eu me casar, vou querer usar um buquê maravilhoso, cheio de lírios, orquídeas e rosas!

Ash não sabia o que responder, o que um garoto normalmente deveria dizer quando uma garota começava a falar de coisas de casamento? “Socorro?”, talvez.

Quando ele decidiu que iria responder “Eu te ajudo a escolher as flores” (o que achou uma resposta apropriada), uma certa voz muito familiar soou do banco da frente.

- Ah, sabia que conhecia essa vozinha estridente de algum lugar – disse Gary Carvalho, mais conhecido como o Rival de Ash (que, caso você não se lembre, também quer se tornar um Mestre Pokémon).

O garoto olhou para trás e encarou Ash e Misty, medindo os dois de alto a baixo.

- Perdeu alguma coisa, Gary? – perguntou Ash, já começando a ficar com seus nervos à flor da pele por ser interrompido.

- Sério, Misty? – disse Gary, ignorando Ash completamente – Do jeito que você é, acha que vai se casar um dia?

- Como assim?! – perguntou Misty – Por acaso tem alguma coisa em mim que não é “casável”?

- Bom... Talvez tenha sim... Talvez, TUDO? – disse Gary, dando uma gargalhada que fez com que vários convidados olhassem para trás.

Ash não entendia como uma pessoa conseguia ser tão irritante e fez muita força para não dar um soco na cara de Gary. Olhou para Misty e percebeu que aquilo tinha realmente ferido os sentimentos da amiga e gostaria de fazer alguma coisa por ela. Quando foi abrir a boca novamente para falar, Gary o interrompeu.

- Acho melhor você desistir, Misty – continuou Gary, tentando conter a risada – Você espanta qualquer pessoa que passe por perto. Nunca ninguém vai querer se casar com uma pessoa como você – terminando com essa frase, Gary virou-se e de repente, parecendo muito interessado na cerimônia que ocorria lá na frente.

Ash olhou para Misty, que estava com uma expressão horrível. Percebeu que uma lágrima caiu de seus olhos e que estava ficando vermelha, tentando segurar o choro.

- Nunca ninguém vai querer se casar com uma pessoa como... Eu? – sussurrou Misty, olhando para o chão, tremendo dos pés à cabeça.

- Misty... – começou Ash, colocando a mão em seu ombro. Até Pikachu tentou chama-la.

- Me deixa, Ash – de repente, Misty arregalou seus imensos olhos azuis e passou correndo por ele, para fora do salão de festas.

- Você é idiota?! – exclamou Ash para Gary, que se virou com uma expressão de que nada tivesse acontecido.

Ash não aguentou. Fechou seu punho direito e lhe deu um belo soco na cara. Ainda bem que estavam sentados no fundo e poucas pessoas perceberam o tumulto.

- Misty! – exclamou Ash – Pikachu, fique aqui, eu já volto!

- Pi-pikachu! – respondeu o amigo, preocupado.

Ash correu em direção para onde Misty tinha corrido, enquanto chamava por seu nome, deixando Gary sangrando. Ver a cara de idiota de Gary deixou Ash completamente satisfeito.

- MISTY! – agora Ash gritava, em desespero – Onde você está?!

Não demorou muito tempo para ele ouvir um pequeno choro vindo do fundo de trás do salão. Quando avistou Misty, seu coração não aguentou. Sua melhor amiga estava sentada no chão, com as mãos no rosto, chorando baixinho.

- Oh, Misty – Ash se abaixou e colocou as mãos nos ombros dela – Por favor, não ligue para o que Gary disse. Ele gosta de zombar das pessoas, aquele idiota!

A garota conseguiu recuperar o fôlego e levantou a cabeça, revelando seus olhos vermelhos. Ela enxugou as lágrimas, mas soluçava um pouco.

- Não estou triste pelo Gary ter me dito aquilo, não me importo com ele – disse Misty, agora ajoelhada, enquanto olhava profundamente para os olhos de Ash – Fiquei triste com o que ele falou, de que nunca irei me casar.

- Não se importe com isso – disse Ash, colocando sua mão no queixo de Misty – É claro que você vai se casar um dia. Por favor, não fique assim...

- M-mas – gaguejou Misty – E se ele estiver certo? E se eu sou uma pessoa tão horrível que ninguém nunca irá querer se casar comigo? E se, e se eu ficar sozinha para sempre? Enquanto todos têm alguém para amar pelo resto da vida? – Misty não aguentou o pensamento e desabou a chorar.

- Não, Misty! – exclamou Ash, levantando a cabeça da amiga e chegando mais perto – Isso não vai acontecer, eu tenho a maior certeza do mundo de que um dia alguém vai querer se casar com você, SIM!

- Mas quem, Ash?! - gritou Misty, desesperada - Quem vai querer se casar comigo?!

Ash pareceu tomar fôlego e coragem o suficiente para dizer o que sentia e o que, no fundo, queria:

- Eu.

Misty arregalou ainda mais seus imensos olhos azuis, totalmente atônita com a resposta súbita e totalmente inesperada do amigo que havia conhecido há tanto tempo.

- Você? Vai se... Casar comigo? Como assim? - Sua voz estava falha.

- Sim, Misty, eu vou! - Ash nunca pareceu estar tão certo em toda a sua vida.

- Mas...

- Sem mas, Misty - Ele entrelaçou suas mãos nas dela - Nós vamos crescer um dia e vamos nos casar, sim. Não ligue para o que o Gary disse, estou falando sério. Ele só disse aquilo para te machucar.

- Oh, Ash, sério mesmo? - A garota parecia não acreditar naquelas palavras que há tanto tempo queria ouvir, mesmo que não soubesse ou suspeitasse desse desejo profundo de seu coração.

- Sim, e iremos mostrar para o babaca do Gary de que nós podemos ser incríveis juntos!

- Puxa, Ash... Nunca imaginei que alguém faria isso por mim um dia... - Misty não conseguiu se segurar e abraçou o amigo com uma força que nunca tinha sentido - Muito obrigada!

- Não se preocupe, Misty - Ash devolvia o abraço apertado - Você nunca irá ficar sozinha, Misty... Eu prometo.

- Você também, Ash... Eu prometo, também.

E após essas palavras, Misty não conseguiu conter as lágrimas.

Só que, desta vez, eram de felicidade.