O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 69
Capítulo 69 - Cabelinho de fogo


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão?
Estoy aquí para traer un nuevo capítulo para usted!
Mas tirando esse meu espanhol fajuto, desejo a todos uma boa leitura.



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Nesse instante, Daniel estava concentrado num ponto qualquer que havia na cerâmica, por mais que seu celular estivesse firme em suas mãos, pronto para ser usado. Era como se sua mente estivesse parada. Dado branco.

— Ei. – Elídio disse alto e em bom tom, chamando sua atenção.

— Que?

— Levanta daí.

— Por quê?

— Quero que pegue um pedaço daquele bolo que você tem na geladeira. Pra agora.

— E por que VOCÊ não vai?

— Porque não quero levantar daqui. Além do mais, a casa é sua.

— Só que eu não vou. Se quiser vá lá e pegue.

— Estressadinho você, não?

— Sim. Estressadinho, sim. E se me estressar mais, o clima não vai ser bom.

— Também não precisa de tudo isso só por causa de um pedaço de bolo. – Sanna enfim levantou da poltrona da sala e foi até a cozinha. Voltou poucos minutos depois com o tão desejado bolo de chocolate. Calados, eles mesmos acabaram criando uma situação um tanto desagradável, até que o mais novo decidiu quebrar o silêncio. – Ainda está assim por causa da briga que teve com a Lua, não é? – O outro começou a fitá-lo, mas logo desviou o olhar e respirou profundamente.

— Não sei. Talvez.

— Pois já eu tenho certeza. Você anda muito desligado. Muito sozinho.

— Ela não me quer mais, Lico. – Daniel disse repentinamente, sentindo a imensa necessidade de desabafar. E o outro, entendendo o que queria, gesticulou para que prosseguisse. – Foi uma desgraça total. Ela gritou comigo e eu com ela, nos xingamos e de quebra ainda levei um tapa na cara. Se bem que, em toda discussão que me meto, levo surra. Acho que vim nessa vida pra apanhar. – Ele riu pra não chorar, como diz a velha expressão que às vezes parece tão útil e incontestável.   

— Relaxa um pouco. Vocês vão ficar juntos de novo, que nem na primeira vez em que brigaram. Lembra?

— Aquilo teve jeito. Eu pensei que ela tivesse me traído, mas não traiu. Agora a coisa é outra, é culpa minha.

— Se continuar pessimista assim, é bem capaz de tudo se desgraçar ainda mais. Tem que ter um pouco mais de ânimo.

— Come teu bolo aí, vai. – Daniel baixou a cabeça, ligou o celular que estava em suas mãos e começou a mexê-lo. O outro, vendo que o companheiro não queria mais conversa, fez o que lhe foi dito.

Sanna conhecia muito bem o amigo que tinha. Quando queria, Daniel podia ser hiper sociável e comunicativo, assim como também podia ser a pessoa mais fechada do mundo. Era como se isolasse numa bolha só dele, e ai de quem ousasse em invadir sua zona de privacidade.

Justamente por isso, decidiu deixar o assunto pra lá. Às vezes, o silêncio traz mais paz que qualquer conversa.

                                                           ...      

Do outro lado da cidade, uma certa ruiva estava deitada na cama de seu quarto, com a porta fechada. Ela tinha os fones nos ouvidos e o corpo estirado no colchão, repleto de lençóis desarrumados. Olhando para o teto, acompanhava o ritmo da música com os dedos e cantava em um tom ameno.


       “How can you see into my eyes

like open doors

leading you down into my core

where I've become so numb?

Without a soul

my spirit's sleeping somewhere cold

until you find it there and lead it back home

 

(Wake me up)

Wake me up inside

(I can't wake up)

Wake me up inside

(Save me)

Call my name and save me from the dark

(Wake me up)

Bid my blood to run

(I can't wake up)

Before I come undone

(Save me)

Save me from the nothing I've become”

 

Ao relacionar uma coisa com a outra, tornou-se difícil para ela conter as lágrimas que lutavam para escapar pelo canto de seus olhos. Depois de algum tempo, suas pálpebras começaram a pesar. Luana acabou adormecendo, e para seu desprezo, seus pesadelos a assombraram dessa vez.

                                                          ...   

Mais uma vez, era verão. E mais uma vez, ela estava ali, no mesmo lugar em que quase se afogou um dia.

Ela sentia algo, um pressentimento, como se tivesse que ir para o mar a sua frente, como se fosse seu destino. E estranhamente, sabia que tudo ia acontecer de novo. Mesmo assim, foi.

Levantou-se da areia fofa e caminhou a curtos passos até a orla. A água tocava seus pés descalços e o vento soprava em seu rosto sereno.

Agora, Luana estava ali novamente. Cercada pelo mar e suas ondas fortes, que a levavam para lá e para cá.

Luana não parava de sentir aquela sensação por nenhum instante, que a cada segundo se intensificava. Sim, ela sabia o que estava para acontecer. E aconteceu.

Assim como na primeira vez, a ruiva foi se distanciando cada vez mais da praia até ficar em pânico. O ar lhe faltava novamente, o cansaço a dominava e suas esperanças de voltar à orla já eram mínimas.

— Daniel! Socorro! – Gritava em desespero para que ele viesse logo, como era para acontecer. Porém, ninguém veio, e Luana somente ouvia o silêncio a possuí-la, e via o breu que tudo passava a se tornar.

                                                 ...

Acordou assustada. Sentou-se abruptamente. Enxugou o suor que escorria por sua face, e tirou os fones que ainda estavam em seus ouvidos.

— Quanto tempo eu dormi? – Falou sozinha ao consultar seu celular. Eram 14:55. Provavelmente se passaram pouco mais que vinte minutos. Lamentou e levou a mão à testa. Ela se sentia mal por ter tido um pesadelo daqueles justamente com Daniel. Se bem que, ele não apareceu, embora Luana pensasse nele durante todo o sonho. Até queria esquecê-lo, mas ele estava em todo lugar. Até em seus piores devaneios. Foi então que começou a raciocinar um pouco. E foi aí que uma feliz, ou infeliz ideia veio em sua mente. Pegou o celular novamente e procurou um dos números que haviam em sua lista telefônica. Depois de dois toques, alguém atendeu. – Alô?

— Lua?

— A própria.

— Lua! Quanto tempo, não? Nunca mais ligou pra mim, nem passou por aqui pra fazer uma visita.

— Posso dizer o mesmo. – Ela sorriu fraco.

— Como você está?

— Vou levando. E você?

— Muito bem. Então, no que posso ser útil?

— Sabe, Fer, você é amigo do Lucas a muito tempo, certo?

— Claro.

— E ainda se falam?

— Sempre que possível. Mas porque quer saber dele? Pensei que vocês nem fossem amigos mais.

— É... realmente. Mas eu quero uma informação sua.

— Pois não?

— Sabe onde ele está morando agora?

— Saber, eu sei. Quer que eu te passe o endereço?

— Exatamente.

— Ok, então pega um papel e uma caneta. – Luana esticou-se até alcançar o bloco de notas no criado mudo, e anotou tudo o que lhe foi passado. Fernando de fato era amigo das antigas. E sem dúvidas, a ajudaria no que fosse preciso.

— Entendi. Bom, sendo assim, muito obrigada.

— Eu que agradeço, dona.

— Pelo que?

— Pela magnífica oportunidade de falar com você de novo. – Ela ouviu um riso do outro lado da linha.

— Está bem, seu besta. Agora, tenho que ir. Até breve.

— Até, cabelinho de fogo. – Ela revirou os olhos. Bendita mania que ele tinha de lhe chamar assim.

Luana levantou-se e procurou vestir algo melhor. Em pouco tempo já estava devidamente arrumada e perfumada. Antes de sair, deixou um bilhete sobre o rack para que Ellen visse quando chegasse do trabalho.

Saí e não sei que horas volto. Por favor, sem interrogatórios ou sermões quando eu chegar. A louça é todinha sua. Beijo da ruiva

Enfim saiu. Procurou por tal endereço, e em pouco tempo chegou a um prédio, não muito alto da cidade. O lugar tinha as paredes pintadas de bege, e algumas janelas de vidro se encontravam abertas. Era no mesmo bairro, ou seja, Lucas havia se mudado para um local não muito longe desde o ocorrido. Havia um síndico na portaria. Um homem de uns quarenta e poucos anos, que logo a cumprimentou com um sorriso que ela mesma não sabia se era falso ou verdadeiro, de tão duvidoso.

— Boa tarde, jovem. Posso ajudar em alguma coisa?

— Boa tarde. Eu queria subir até o apartamento do Lucas.

— Ah, sim, o Lucas. Só um momento, vou avisar ele. – Enquanto o senhor falava ao telefone com o homem que provavelmente seria Lucas, Luana sentiu seus batimentos acelerarem. Ela estava um tanto nervosa. Não sabia se a decisão de visitá-lo era mesmo boa ou ruim, só sabia que ela estava lá. – Ele disse que pode subir.

— Tudo bem, obrigada. – Luana subiu três andares, e enquanto subia, se perguntava qual teria sido a primeira reação dele ao saber que ela estava lá. E o mais importante de tudo: qual seria sua reação ao vê-la ali, na sua frente, ao vivo e em cores?

Ela chegou em frente a porta daquele que seria seu possível apartamento e apertou a campainha. Poucos segundos depois, alguém abriu a porta. Era o próprio, parado diante dela.

— Luana Bell... – Disse com um ar duvidoso, sem esconder a expressão radiante que se formou em sua face.


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Notas finais do capítulo

Música: Bring me to life - Evanescence
A música é das antigas, mas é daquelas que nunca sai de moda. E que aliás, tem muito a ver com o capítulo de hoje, hein? Sugiro que ouçam-na.
Enfim, muito obrigada por lerem e até a próxima.



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