O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 58
Capítulo 58 - Um choque de realidade


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão?
Boa leitura a todos.



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Certa vez, Luana já se viu no mesmo lugar. Era a estranha sensação de como se já tivesse vivido aquele momento. O famoso Dejá Vu.

Era manhã, e lá estava ela, sentada em um dos bancos daquele jardim. Poucos hospitais em São Paulo tinham áreas como esta, mas ela teve essa chance.

Ao seu lado, estava um senhor que aparentava os seus 70 e poucos anos. Ele tinha uma foto nas mãos. Mostrava a imagem borrada de uma mulher com provavelmente a mesma idade. O homem, calado, apenas chorava em silêncio. Por certo, havia a perdido. E não havia mais volta.

Depois de um certo tempo, ele levantou-se e saiu andando, Luana não sabia para onde. A ruiva por fim estava sozinha. E ela pensava que bem poderia estar sofrendo a mesma dor que aquele senhor agora. A dor da perda. Mas não por acaso, o destino não permitiu. Onde estava Daniel? Naquele mesmo hospital. Talvez por isso ela sofria. Sofria por não poder estar ao seu lado. Sofria por sua mente que pensava barbaridades. Sofria por ele.

Vez ou outra, seus olhos mareados não suportavam a capacidade de tantas lágrimas e deixavam-nas cair, escorrendo por sua pele clara. A brisa que soprava a abraçava. Era como se o vento brando quisesse consola-la.

Então, ao longe, Luana avistou alguém. Quando a viu, ele parou na entrada do jardim, e caminhou ligeiramente até ela. Anderson.

— Lua?

— Andy. – Ele estendeu sua mão, ajudando-a a se levantar e a envolveu em seus braços. Ambos receberam um ao outro como refúgio de amparo, num longo e consolável abraço. – Que bom que veio.

— Eu deveria. – Ele desprendeu-se dela e sentou-se ao seu lado. Passou a fitá-la, esperando alguma reação. Luana tão pouco sabia como agir. Afinal, o que ele era agora? Um ídolo de tantos anos? Um amigo? Um ombro para chorar? Não tinha a menor ideia. Achou melhor os instintos agirem por ela.

— Desculpe.

— Desculpar? Pelo que?

— Pela ligação. Tenho certeza que te deixei preocupado. – Ela baixou a cabeça, lamentando-se.

— Não há por que pedir desculpas. Você teria que me dizer de uma forma ou de outra.

— Ah Anderson... eu fiquei com tanto medo... aliás, estou até agora.

— Eu sei, e eu também, mas não vamos nos preocupar tanto. O pior já passou. – O barbixa afagava seus longos fios ruivos, que o vento insistia em bagunçar.

— É que não sai da minha cabeça. Não sai.

— O que?

— As cenas. A expressão de dor que ele tinha, a sua voz pedindo socorro, a mão no seu peito que sangrava sem parar, a sua pele tão... tão... pálida. – Ao ouvir esses dizeres, Anderson engoliu em seco. Só imaginar lhe causava uma sensação negativa. E se ouvir isso já era pesaroso, imagine para ela que presenciou tudo.

— Não fique lembrando. Só vai piorar as coisas. Você tem que se distrair.

— É quase impossível pensar em outra coisa.

— E onde ele está agora? Como ele está?

— Tudo o que sei é que ele está numa cirurgia. Não sei de nada além disso. – Anderson respirou fundo. Passou a mão pelo rosto.

— Tenho que avisar os pais dele. – Disse levantando-se.

— O-os pais? – Luana quase travou com as palavras.

— Sim, afinal eles precisam saber o que aconteceu com o filho deles, não?

— Claro.

Os pais. Luana ainda não conhecia seus pais. Daniel nunca havia lhes apresentado e ela não achava que esse fosse um bom momento. Não queria conhecê-los dessa forma, pois era como se fosse forçadamente. Esperaria pelo dia em que o próprio barbixa quisesse apresentá-los, fosse quando fosse. Ela logo levantou-se e disse-lhe com a voz solene:

— Ellen deve estar preocupada. Tenho que ir agora, mas volto o quanto antes.

— Tudo bem. Vá. – Anderson acenou com a cabeça. Ela fez o mesmo e por fim saiu. O barbixa digitou os números que sabia de cor e salteado, e esperou que alguém atendesse. Três toques depois, ouviu uma voz feminina. Voz essa que conhecia bem. – Alô? Tia? – Ele e sua mania de chamar as mães de seus amigos de tia.

— Oi, Andy?

— Sim.

— Olha só que surpresa boa. – Mal sabia ela. – Há quanto tempo você não liga. Nunca mais apareceu por aqui também.

— Pois é. Ando muito ocupado.

— E por que ligou a essa hora da manhã, querido?

— Bem... é que... – Ele procurava a melhor forma de falar, mas até mesmo para um bom improvisador faltam palavras. – ...é sobre o Dani.

— O Daniel? Aconteceu alguma coisa? – Pela voz, ela já demonstrava preocupação.

— Aconteceu. Eu ainda não sei muito, mas parece que ele estava saindo de um restaurante, foi assaltado, e... acabou levando um tiro. – Anderson não ouviu mais nada. E estava claro o porquê. Imaginou-a em choque, com os olhos fechados, a respiração falha. – Tia?

— Onde, Anderson? Onde?!

— No peito. Mas não se preocupe, ele vai ficar bem.

— Como não me preocupar, Anderson?! Espere, onde ele está?

Ele lhe informou o endereço e a ala. Do outro lado da linha, a mão da senhora praticamente tremia enquanto anotava tudo.

— Eu chego aí em meia hora, está bem? Meia hora e não passará disso. Eu juro. E deixa que eu mesma ligo pro pai e pros irmãos. 

— Certo. Eu vou desligar. Tchau e... desculpe por isso. Eu sinto muito. – Ele ouviu sua respiração travar, e somente depois de longos segundos, ouviu-a dizer mais uma vez.

— Até, querido.

A ligação se deu por encerrada. Tinha a certeza de que havia deixado-a em péssimo estado, mas era necessário. Logo digitou uma mensagem para Elídio, anunciando o ocorrido. E não ligaria ou enviaria mensagens para mais ninguém. Já não lhe restavam condições para isso. Além de tudo, os mais próximos já haviam sido avisados. Pôs o celular no bolso da bermuda e voltou a sentar.

— Que situação.

De fato, era uma situação nada boa. E agora um de seus melhores amigos estava em alguma mesa cirúrgica enquanto médicos e mais médicos trabalhavam na remoção de um projétil, que havia sido disparado contra ele de forma tão covarde.

Sempre achamos que barbaridades acontecem apenas com as outras pessoas e nunca conosco, mas infelizmente, algum dia talvez há de acontecer.

...

Ela abriu a porta do apartamento. Rondou o olhar por ele todo e não viu ninguém. Foi em cada cômodo, mas ainda assim só encontrou o vazio e o silêncio. Estava sozinha novamente. O único motivo de ter ido até lá, era apenas informar Ellen do ocorrido, dizer que ela estava bem. Além disso, precisava dela naquele instante, olhar em seus olhos e ouvir o que a morena tinha a dizer. Se soubesse que não havia ninguém em casa, não tinha sequer arredado os pés daquele hospital.

— Perda de tempo inútil! – Com raiva, ela chutou a cama. Se arrependeu. Logo sentiu a dor infernal em seu dedo, fato esse que só serviu para lhe trazer mais ira. Porém esta logo se transformou em tristeza. Um desânimo de repente.

Se jogou sobre a cama e sem querer bateu a cabeça na cabeceira, com força. Sentiu outra dor intensa.

— Mas que droga! – Levou uma das mãos ao rosto e a outra à cabeça.

A mágoa era tanta que sentia um aperto no peito. Enfiou o rosto no travesseiro enquanto soluçava, num choro abafado. Os motivos eram muitos, mas era exatamente disso que ela precisava: de um choque de realidade.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem.
Ah, até a próxima.



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