O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana
Notas iniciais do capítulo
Olá leitores, como vão?
Boa leitura a todos!
Era manhã, e Daniel estava no seu ambiente de trabalho com os companheiros. Ele digitava algo, cabisbaixo, enquanto os demais conversavam entre si.
— Daniel? – Perguntou Elídio.
— Hum? – Ele levantou a cabeça para dar-lhe atenção, e fitou-o, indiferente.
— Você já finalizou o roteiro de ontem?
— Ah. Sim. Está aqui. – O barbixa pegou uma fina pasta de sua mochila, de onde tirou alguns papeis impressos. Levantou-se e andou poucos passos até chegar nele. Voltou ao seu devido lugar e tomou mais um gole de café em sua xícara.
Anderson, que observava tudo de longe, já notara a muito que ele parecia mais desligado dos assuntos. Elídio olhou para Anderson rapidamente, este que expressava intolerância enquanto gesticulava como quem dizia: “Faz alguma coisa”.
— Quer almoçar comigo hoje, Dani? – Perguntou Elídio depois da “alfinetada”.
— Pode ser. – Respondeu o outro enquanto voltava a concentrar-se na tela do notebook. Anderson acenou positivamente para Sanna, e só então voltou ao que estava fazendo.
...
Ambos já estavam no restaurante, na mesa em que sentavam habitualmente. Ambos almoçavam em silêncio, cercados por dezenas de pessoas, barulhentas e inquietas. Elídio sabia bem qual era o propósito daquele almoço a dois e do que queria tratar: a infeliz perda que o amigo teve há poucos dias.
— Então, Dani... – O outro olhou-o, esperando que prosseguisse. – ...eu fiquei sabendo do que houve. O Andy disse.
— Hum... – Daniel voltou a comer, como se desse de ombros para o assunto que se iniciara.
— E não finge que está tudo bem, porque não está.
— E o que quer que eu faça?
— Quero que supere. – Respondeu ele em tom óbvio.
— Vamos ser menos sentimentais. Eu agradeço e meu estômago também.
— Falou o cara que dias atrás estava caindo aos prantos.
— Ficar lembrando só piora as coisas.
— Minha intenção era ajudar.
— Eu sei. Você é gente fina. Se preocupa com os outros e eu entendo.
— Outras oportunidades vão vir, Dan. Não fica assim.
— Eu não quero. Não quero outras oportunidades, e a que eu tive já se foi.
— Mas...
— Ah, não. – Daniel o interrompeu, pondo a mão na testa. – De novo não.
— O que foi?
— Já viu quem está na outra mesa?
— Quem? – Elídio perguntou erguendo-se e rondando os olhos por todo o restaurante.
— Para com isso! Disfarça.
— Dá pra dizer logo quem é?
— O Lucas. Ali. – Rapidamente, ele apontou para o lado.
— Aquele que brigou com você naquele tempo?
— Ele mesmo.
— Ah, esquece isso, Dani.
— É que não dá mais pra olhar pra ele com os mesmos olhos. Não dá.
— Quem sabe ele até nem liga mais pra você.
— Isso não. Não é típico dele.
— Para de encarar o cara!
— Tem razão. Desculpa. – Daniel respirou fundo e voltou a comer. De cabeça baixa, disse: – Está tudo dando errado.
— Tudo o que?
— Isso da Luana e encontrar esse cara aqui... fora que meu desempenho em praticamente tudo está de mal a pior.
— Procura descansar ou se distrair, que dá tudo certo.
— Ele me viu. – Disse o barbixa ao perceber que Lucas o fitava. – Vamos embora daqui. – Daniel logo levantou-se da mesa, seguido pelo amigo.
— Me espera aqui. Vou pagar a conta no caixa, é mais rápido.
— Está bem.
Em silêncio, na porta do restaurante, ele esperou que o amigo voltasse. Sem que esperasse, Lucas também levantou-se de sua mesa e andou a curtos passos até ele. Daniel sentia o sangue “ferver” em suas veias. Não sabia de onde vinha tanta raiva por aquele homem.
— Saudade de mim? – Disse Lucas com um sorriso sarcástico.
— Deveria? – O outro tentou responder com normalidade.
— Não sei... mas seria mais prudente que eu lhe perguntasse: Então, deveria?
— Não, não deveria. Pra meu alívio. – Lucas riu ironicamente com seus dizeres.
— Não começa...
— Não começa o que?
— A ficar nervosinho.
— Pois vou ficar ainda mais nervosinho é se você não sair da minha frente agora.
— Calma, Daniel. Você anda muito estressado, hein? – Ele falava com deboche, como se realmente quisesse irritá-lo.
— Você mal me conhece para vir me dizer se estou estressado ou não. Faça-me o favor.
— Eu era teu fã, lhe admirava muito, e isso significa que sim, eu sei tudo e mais um pouco sobre você. A propósito, como está a Lua?
— Hum... sabe que eu não sei? – Daniel respondeu no mesmo tom, com ironia.
— Você gosta muito de desafiar o perigo não é, Daniel Nascimento?
— Que?
— Para de ser tão gozador e responde logo o que eu te perguntei.
— Olha, se veio até aqui só pra zombar da minha cara, me fazer raiva e perguntar como ela está, pode ir embora. A vida dela não te interessa mais. E nem a minha.
— Deixa de ser Zé Mané. Só te fiz uma pergunta.
— Bem idiota por sinal.
— Por que? Por que é idiota?! Hein? – Lucas começou a se exaltar. Não estava gostando nada do tratamento que estava recebendo. O mesmo podia ser dito de Daniel.
— Porque você sabe muito bem que eu não vou lhe responder. Não te devo satisfações.
— Acha mesmo que pode falar assim comigo?
— Acho. Tchauzinho pra você. – Daniel disse-lhe, dando as costas, mesmo sem Elídio ter chegado ainda, pois aquele clima estava começando a ficar meio teso. Muito tenso, melhor dizendo.
— Não me dê as costas! Eu ainda não terminei!
— Vai se fuder! – Definitivamente, aquilo não soou bem. Lucas imediatamente puxou-o pelo ombro, virando-o de frente para si, e deu-lhe um soco no rosto. Um soco forte, barulhento e doloroso. Daniel quase chegou a cair por cima de uma das mesas, e quase deixou cair as louças que estavam sobre ela. Aquilo chamou a atenção de todos, e consequentemente, a de Elídio, que ainda estava no caixa. O barbixa rapidamente foi até o amigo, ajudando-o a se erguer.
— Dani! O que aconteceu contigo?
— Preciso responder? – Daniel disse enquanto endireitava o óculos no rosto. Então pôs a mão sobre o canto da boca: sangue. Sua vontade era esgana-lo, batê-lo até dizer “chega”.
— Vamos, vamos embora daqui. Desculpem pessoal, podem voltar a almoçar. – Elídio disse a todos que tinham o olhar voltado pra eles, retirando-se de lá, ao lado do amigo. Os rivais fitavam-se como pudessem matar um ao outro apenas com o olhar.
Daniel e Elídio entraram no carro, e seguiram caminho, às pressas.
— O que foi que deu em você?! Te deixo sozinho por cinco minutos e quando volto dá nisso!
— Ele que começou.
— Tá! Chega! Para de agir feito um adolescente que entra em briga por causa da namoradinha, e esquece isso de vez! Ok?
— Quer que eu desconte minha raiva em você? Se quiser é só continuar falando desse jeito comigo.
— Está bem. Parei. Mas é que assim fica difícil, realmente. Olha só pra você. Está sangrando.
— E te garanto, gosto de sangue na boca não é bom.
— Eu te deixo em casa e você se lava. Quer ajuda?
— Não, não preciso.
— Um remédio? Alguma coisa?
— Não, realmente não precisa. Foi só um corte.
— Pelo jeito, parece que a surra foi forte.
— Acredite, está doendo até agora. – Daniel disse enquanto passava a mão pelo queixo, na tentativa de aliviar a dor.
— Toma isso. – Disse o outro estendendo-lhe uma pequena toalha. – Pra ajudar a conter o sangramento.
— Você sempre anda com toalhas na mochila?
— É bom se precaver.
— Acho que vou adotar essa ideia.
Sem mais dizer mais nada, e pouco tempo depois, eles chegam em frente a casa do barbixa.
— Está entregue.
— Obrigado pela carona. E pela ajuda.
— Não precisa agradecer. Se cuida.
Logo que entrou, Daniel se deparou com Silvia. A empregada pareceu um tanto assustada quando se deparou com o patrão daquele jeito.
— Daniel? O que aconteceu?! Você caiu?
— Não, eu só... levei um soco muito bem dado na cara.
— Ah Daniel... quem foi que bateu no senhor?
— Lembra do Lucas?
— Não acredito. Ele lhe bateu?
— Bem, praticamente.
— Quer que eu lhe ajude com esse machucado?
— Não precisa, já está tudo bem. Mas obrigado mesmo assim.
Ele foi até o banheiro, onde trancou-se. Foi então que pôde perceber seu estado. Sua boca se cortara por dentro, por isso tanto sangue. O lado da face em que levou o soco estava visivelmente avermelhado e arranhado. Lavou-se e enxugou-se com cuidado. Então, parou por um segundo. Começou a olhar-se no espelho. Espelho insensível, que com um simples reflexo, mostra até mesmo as verdades mais obscuras de quem aproxima-se.
— Olha só o que tá acontecendo contigo. – Ele falara sozinho. – Pensando bem, crescer não é tão legal assim como eu pensava. É trabalho, relacionamentos, problemas, surras na cara... – Riu de si mesmo. – ...responsabilidades pra dar e vender, e... mais trabalho.
Daniel lembrou-se de quando era mais jovem, de quando os únicos problemas eram os trabalhos do colégio, as provas do ano letivo e as “namoradinhas” como sua mãe costumava dizer. Agora, tudo mudara. Parecia que cada dia que se passava, tudo ficava ainda mais difícil. Mas cada dia é um dia e uns são melhores que outros. Esse era só mais um dia ruim. Ou quem sabe, um dia de reflexão.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Filosofia, meus caros. Filosofia.
Obrigada por lerem e até a próxima!