O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana
Notas iniciais do capítulo
Olá meus caros. Como vão?
Eu vou bem.
E vamos direto ao assunto: o capítulo de hoje trás algumas coisas... digamos assim... deprimentes.
Mas, sem mais spoilers, descubram.
Boa leitura.
— Lua! O que está acontecendo? – Daniel era insistente ao tentar abrir a porta do banheiro, em vão. Estava trancada. Luana ainda clamava por ajuda, em meio aos gemidos e gritos agoniantes.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? – Perguntou Ellen assustada, vindo de seu quarto.
— A Lua está trancada no banheiro! Aconteceu alguma coisa!
— O que? O que houve?
— Eu não sei!
— Lua! – Ellen batia na porta. – Abre isso!
— Eu não consigo. – Respondeu ela de dentro, com a voz rouca e abafada.
— Meu Deus! Arrombe logo essa porta, Daniel! – Pediu Ellen, aflita. Sem pensar mais, ele o fez. Começou a dar chutes na porta e força-la com o peso do próprio corpo, até que ela arrombasse. Quando enfim se abriu, entrou de imediato e encontrou Luana no chão. Nua e ensopada pela água que ainda caía do chuveiro, com a expressão de pura dor.
— O que houve, Lua? Me diz logo o que está acontecendo! – Daniel agachou-se, ficando bem próximo a ela.
— Eu não sei, mas está doendo muito!
— Onde?
— Aqui. – Ela pôs as mãos sobre o ventre.
— Espere, aguente firme. Ellen, escute, deve ser algo relacionado ao bebê. A gente tem que levar ela pro hospital agora. Vai buscar os documentos dela e me encontra no carro. Entendido? – A morena balançou a cabeça freneticamente, indo fazer o que lhe foi ordenado. O barbixa então rondou os olhos por todo o banheiro, em busca de algo que pudesse cobri-la, quando enfim avistou um roupão em um dos cabides. Pegou-o imediatamente, vestindo-a e pegando-a no colo.
Ambos foram para o elevador, e desceram os nove andares. Nove andares esses que pareciam não ter mais fim. Daniel sentiu algo escorrer por seus braços enquanto a segurava. Um líquido quente e viscoso. Era sangue. Isso tornava tudo ainda mais preocupante. Mesmo assim, ele procurou se acalmar, até mesmo para tranquiliza-la. Mas quem disse que podia? Sua angústia era aparente, e jamais conseguiria se manter calmo diante de tal situação.
Chegaram em baixo, indo diretamente onde se encontrava o carro do barbixa. Em pouco tempo, Ellen apareceu.
— Anda! Dá logo partida nesse carro! – Pediu ela. A morena sentou-se no banco de trás, pondo a amiga em seu colo, enquanto a mesma gemia e contorcia-se de tamanha dor, clamando para que aquilo tivesse fim.
No caminho, a ansiedade mais parecia uma tortura.
— Daniel, ela está tremendo. Acho que está tendo calafrios.
— Aguenta só mais um pouquinho, Lua.
Quando finalmente chegaram ao hospital, ele pegou-a novamente nos braços, levando-a para dentro. Lá fizeram seu cadastro e logo a recepcionista chamou por dois enfermeiros que vieram atendê-la. Todavia, Ellen e Daniel não tiveram permissão para acompanha-la. Só lhes restava esperar por alguma notícia na sala de espera.
— Procura se acalmar, Dan. – Pediu a morena, sentada ao seu lado em uma das poltronas. Ele forçou um sorriso irônico.
— Não tem como se acalmar, Ellen. Não tem.
— Espere aqui, eu vou buscar uma água pra você. – Disse ao levantar-se.
Daniel se sentia mal. Não se conformava pelo fato de não poder sequer acompanha-la durante o procedimento, que nem mesmo ele sabia qual seria. O que estaria acontecendo de fato afinal?
Só em determinado instante foi que reparou em algo o qual odiava: o tão familiar cheiro de hospital. Sentia agonia só por estar ali. Não curtia tal ambiente, quanto menos ter que ficar ali por sabe-se lá quanto tempo a espera de notícias. Mais alguns minutos depois, e Ellen voltou com um copo de água em mãos.
— Obrigado.
— Não há de que.
— Quanto tempo será que isso vai demorar?
— Não sei. Ninguém nunca sabe.
— Estou preocupado.
— Eu também. Mas vamos ter pensamentos positivos. Quem sabe não foi só um susto grande, não é mesmo?
— Nunca quis que você estivesse tão certa.
Quase uma hora já se passava, e nada. Ellen decidiu ir até a recepção.
— Onde você vai? – Perguntou o barbixa.
— Vou atrás de alguma informação, alguma notícia, qualquer coisa. – Respondeu enquanto já caminhava até o balcão.
Daniel observava tudo de longe. A atendente lhe parecia uma pessoa simpática, embora não demonstrasse tanto isso quando Ellen se aproximou. Logo mais, a morena voltara com desânimo. Provavelmente não recebera a resposta que esperava ter.
— E então?
— Ainda não tem notícia nenhuma.
— Que demora desgraçada! Caramba! – Ele exaltou-se.
— Shiii! Isso aqui é um hospital. - Cansado, Daniel expirou profundamente todo o ar de seus pulmões.
— Tem razão, desculpe.
— Olhe, aquele é o doutor Alexandre, não é? – Ela forçou a vista, tentando enxergar o nome que estava bordado no jaleco. – Sim, é ele mesmo!
— E o que tem?
— Ele é quem está atendendo a Lua. A recepcionista disse.
— Ora, então vamos falar com ele. – Ambos levantaram-se, indo até o homem, alto, de pele escura e cabelos crespos. – Desculpe incomodar, mas o senhor pode dizer como está a Luana?
— Vocês são os acompanhantes dela?
— Somos.
— Então venham comigo. Eu estava mesmo precisando falar com vocês. – Ellen e Daniel acompanharam-no até uma das salas. – Vocês são o que dela?
— Eu sou amiga dela, e ele é o namorado. – Respondeu Ellen enquanto todos acomodavam-se em suas respectivas poltronas. O doutor então apoiou-se na mesa que os separava, e checou alguns papeis.
Lhes mostrou alguns exames já feitos, questionou-os sobre alguns fatos, e segundo ele, já havia chegado a uma conclusão.
— Luana está bem agora, mas ao que tudo indica, ela acabou sofrendo um aborto espontâneo.
— U-um aborto? – Ele quase engasgou-se. Sua garganta pareceu fechar de repente.
— Sim. Eu sinto muito. – Confirmou Alexandre. As poucas palavras que foram ditas para Daniel, tiveram a infeliz capacidade de arruinar seu dia. O dia que para ele deveria ter sido feliz. Entretanto, o barbixa conteve-se. Manteve-se frio e imóvel, até que o médico finalizasse suas palavras. – Todos os dias temos casos de abortos espontâneos aqui. É mais comum do que parece. Pelos exames, eu notei que ela tem uma ótima saúde. Então é bem provável que tenha acontecido por conta de problemas na formação do feto. Não é certo, nem aconselhável, que os pais se culpem por isso. Pelo contrário. Se ainda quiserem, e estiverem dispostos a isso, poderão tentar novamente. Só não percam as esperanças. A Luana vai ter que ficar em observação por um tempo aqui no hospital. Provavelmente ela receberá alta agora a noite ou amanhã bem cedo. Agora, se me derem licença, tenho que consultar outros pacientes. Mais uma vez, sinto muito. – Disse enquanto levantava-se e retirava-se da sala, deixando apenas os dois sozinhos. O silêncio se formou ali.
— Dani... – Ele não deixou que ela prosseguisse. Levantou-se da poltrona na mesma hora e saiu da sala, sem dizer uma palavra. Por menor que fosse. E por certo, Ellen compreendeu que ele não estaria em bom estado para ter qualquer conversa. O melhor seria deixa-lo sozinho. Foi o que fez.
Muito tempo depois de pensar e repensar sobre tudo, ainda em choque, Daniel pegou seu celular e discou um número. Depois de três toques, alguém atendeu.
— Alô?
— Andy?
— Fala, Dani.
— Não vou pro Tuca hoje.
— Oras. Por que não vai?
— Eu só... não vou. Coloca alguém no meu lugar.
— Por que está com essa voz?
— Que voz?
— Estranha. Ela denuncia muita coisa, meu caro. Está chorando?
— Não, não estou.
— Você como mentiroso é um ótimo humorista, Daniel. O que aconteceu. – Anderson ouviu um suspiro travado.
— Vem aqui, por favor.
— Onde você está?
— No hospital.
— Hospital?! Você sofreu algum acidente?
— Não, eu estou bem.
— Então...?
— Aconteceu uma coisa com a Lua.
— O que houve?
— Vem aqui. Te explico melhor quando chegar. – Daniel passou o endereço do hospital e encerrou a ligação.
No fundo, Daniel não havia ligado para informar sua ausência no espetáculo, mas sim para pedir ajuda. Era só mais uma forma de pedir amparo sem parecer sensível. E Anderson, de uma forma ou outra, entenderia o que o amigo estava querendo dizer.
Em pouco mais de meia hora, ele chegou. Encontrou-o sentado em uma das poltronas da sala de espera, com o corpo inclinado para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e as mãos entrelaçadas sustentando sua cabeça.
— Dan. – Logo que ouviu o chamado, Daniel levantou-se. Andou pouco mais que três passos, e lhe deu um abraço apertado. Abraço que queria ter recebido desde que teve aquela infeliz notícia. – Tem certeza que o que aconteceu foi com a Lua e não com você? Está com as roupas sujas de sangue.
— O sangue não é meu. É dela.
— Cara, me diz logo o que aconteceu. Pra você estar chorando só pode ter sido coisa séria. – De fato, seus olhos estavam vermelhos e lacrimejantes, e sua expressão desolada.
— Já disse que não estou chorando.
— Não. Está só suando pelos olhos.
— A Lua, Andy... A Lua... Ela perdeu o bebê. Foi um aborto espontâneo. Um mísero e infeliz aborto espontâneo.
— Da-dani... eu sinto muito mesmo. – Não sabia bem o que dizer. Afinal, consolo não era uma de suas principais especialidades.O outro firmou com a cabeça.
— Justo hoje que ela ia fazer o primeiro ultrassom. – Daniel forçou um sorriso irônico. Anderson ia dizer algo, talvez mais alguma palavra de apoio, porém o outro interrompeu. – Deixa. Acontece.
— E como ela está?
— Está bem. Logo vai poder voltar pra casa.
— Você está certo por não ir hoje. Afinal, não conseguiria fazer nada desse jeito.
— Avisa aos caras o que aconteceu. Não quero levar sermão por ter faltado.
— Não se preocupa. Afinal, você é da chefia, e com certeza eles vão entender. Mas tu precisa se distrair, porque sinceramente, não suporto te ver assim.
— Não quero me distrair. Prefiro "curtir” minha melancolia. - Ele sinalizou aspas com os dedos.
— Desse jeito fica difícil eu te ajudar.
— Não preciso que ninguém me ajude. – Mentiu.
— Precisa, sim. Não é pra isso que servem os amigos?
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Para aqueles que não queriam que isso acontecesse, peço desculpas. De verdade.
Obrigada por lerem mais uma vez e até a próxima.