Black Widow escrita por Cassey Monstrance


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Evelynn e Fate realmente já tiveram uma relação no passado. Fate gostaria de uma relação estável, qual a natureza de Eve recusava.



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O vilarejo lentamente punha-se a dormir. Fumaça clara que antes escapava das chaminés de cabanas e estalagens cessava, e luzes iam-se a extinguir das janelas. Postes e archotes ainda iluminavam as ruas desérticas; entretanto, o vilarejo em pouco tempo cairia em negror.

O nômade não sabia em qual parte de Runeterra estava. Há muito não sabia onde estava, aonde iria, onde dormiria ou o que comeria. O nômade não se instalava estavelmente em qualquer lugar e, como um filho de ciganos, seu feitio era de não ter rumos fixos.

Observou durante toda a tarde os seres viventes do vilarejo, distante, do topo de um pequeno monte pedregoso. Ora observava, ora recostava-se em rochas para repousar os ossos. Não se afligia ou entediava com a solidão de um observador, somente desfrutava de paz.

Se sentisse fome ou sede, teleportar-se-ia até alguma taberna e roubaria, sem ser visto, bebidas e comidas que bem desejasse. Se desejasse entreter-se, passearia pelo vilarejo para conhecer de perto as atrações do lugar. E, se desejasse dinheiro e mulheres, a sorte nos cassinos estaria sempre a seu favor.

Sua lábia era seu escudo, suas cartas eram suas armas, sua beleza era o seu truque. Twisted Fate, um nato apostador.

E o nato apostador desejava espairecer. Não desejava alimentar-se, nem mesmo de mulheres. Queria apenas se isolar e ser um observador, para variar, e repousar. Se teleportou até onde sua energia vital lhe permitiu e prosseguia, sem olhar para trás, numa caminhada incessante, desde o momento em que desertou da batalha a qual foi selecionado pelo Invocador em Summoner’s Rift.

Sabia que o Instituto o puniria pela deserção. O encontrariam alguma hora; nem mesmo a sorte influenciaria nesse destino. Mas não desejava pensar nisso agora. Não... Só desejava limpar a corrosão acumulada em sua mente.

Lá estava ela, a razão de sua fuga covarde. No Campo de Justiça, dias antes, sua adversária da rota de selva. Evelynn, a assassina das Ilhas das Sombras, o observando da penumbra com olhos amarelos maldosos.

Vê-la deslizar da mata ao seu encontro congelou seus ossos naquele fatídico embate. Evelynn sorria, desdenhosa. Andava elegante e firmemente em seu par de saltos altos mas, ainda assim, leve e sutil. Não emitia ruídos, e camuflava-se ao breu. A voz da assassina, tão suave quanto seu andar, trouxe de volta ao apostador todo o seu passado onde ela estava presente. O passado que desejava esquecer.

– Fate...

A voz de Evelynn era mel e fel. Dor e prazer. Prêmio e castigo. Sobretudo, castigo.

Seu corpo estava mais belo do que se lembrava; seus olhos, mais atraentes. Suas feições... Mais indefiníveis em sua perfeição. Apaixonante feito um anjo, com a luxúria de um demônio.

A assassina não disso passava. Um demônio.

E o apostador ainda tinha sede de sua mácula das trevas. Uma sede adormecida, agora desperta como nunca antes foi.

Por um segundo, Twisted Fate desejou que sua arma não fosse a discrição de meras cartas de baralho. Gostaria de ter um machado, ou uma espada, ou uma maça; qualquer coisa que o permitisse destruir aquele vilarejo patético e repleto de paz infernal até reduzi-lo a nada. Quis destruir coisas, ferir alguém, talvez matar.

Mas que esse alguém não fosse Evelynn. Não... Ele a amava. E queria reduzir o universo a pó por isso.

Fate apertou com força o chapéu em sua cabeça, numa tentativa falha de conter a fúria e manter-se são. Fugiu da guerra feito um gato assustado. Talvez Evelynn o tenha perturbado de propósito, para afugentá-lo. Talvez ela esteja gargalhando sem dó de seus sentimentos patéticos.

“Não.” Fate trincou seus dentes, forte o bastante para as mandíbulas doerem. “Ela sem dúvidas está.”

Ele quase podia ouvi-la. Aquele riso frio, aquela voz sublime. O sutil som do rasgar do solo feito pelos espinhos que involuntariamente surgiam aos pés da mulher-demônio conforme caminhava.

Esta alucinação começava a tornar-se intensa demais. Real demais. Era como se Evelynn estivesse ali, respirando em seu pescoço, com as unhas dela levemente pressionadas em seus ombros.

E então, a assassina surgiu. Suas mãos azuis e ferventes de fato estavam ali. Estava ali o tempo inteiro, camuflada nas sombras. Deuses devem saber por quanto tempo a assassina o perseguia.

Era também uma observadora, espairecendo a seu próprio modo.

– Suma. – Fate desejava ter dito isso com autoridade, mas soou como uma súplica falsa. Um sussurro afogado em fúria.

Evelynn, com seus seios pressionados contra as costas do apostador, o abraçou por cima dos ombros. Seu aroma era doce, inebriante e mortal. Beijou suavemente atrás de sua orelha e o cumprimentou com veneno em sua voz.

– Não me destrate assim. Estou contente em te ver.

Era a última gota. Fate pereceria à mágoa, se não fosse o ódio para lhe dar sustento. Baixou a cabeça, deixando seu chapéu esconder as lágrimas que se formavam em seus olhos. Enfurecido, respondeu lentamente entre dentes.

– Vá para o diabo que te carregue.

A assassina riu em desdém, e o abraçou mais forte, com algo semelhante a carinho em seu ato. As lágrimas nos olhos embargados do apostador despencaram em correntezas, contra sua vontade. Conteve o soluço que se acumulava em sua garganta.

A mulher-demônio banqueteava-se de sua desgraça.

Ela o soltou, e mais lágrimas rolaram dos olhos de Fate quando se deu conta de que sentia falta daquela proximidade. O apostador, o homem respeitado, sucumbindo a uma mulher feito criança.

Aquela falta foi logo suprida. Evelynn sentou-se no colo de seu buffet de lamúrias. Seu rosto estava quase inocente, e seus olhos pareciam puros. A assassina passou cuidadosamente as mãos na face do apostador, o olhando nos olhos, mesmo sem retribuição. Sorveu daquele rosto as lágrimas, e tocou aqueles lábios com os seus.

Quentes mãos envolveram os cabelos de Fate, arranhando levemente sua nuca. Evelynn movia seus lábios nos dele com lentidão, gerando os sons deleitosos de um beijo.

Fate permanecia imóvel. O choque fez seus olhos secarem. Passaram-se segundos e minutos, muitos deles, e Evelynn continuava a desfrutar da situação; até o apostador sucumbir outra vez e juntar-se à assassina naquele diálogo sem palavras.

No beijo, havia amor e lembrança. Havia desejo e saudade. Fate sentiu sua falta, mas guardou este sentimento a sete chaves. A beijava sem pausas, repousando a mão em sua cintura, como se fosse sua última oportunidade para isso. Talvez de fato fosse.

Ele sabia que se arrependeria amargamente depois por render-se. Da mesma maneira como se arrependeu antes, aconteceria novamente.

Mas não se importava. Não naquele momento.

Evelynn era uma assassina, um demônio; não se importava com os caprichos humanos. Desconhecia todos eles. Os sentimentos humanos, a mulher-demônio descartava. Mas tinha certa admiração pelos pecados capitais.

Ela mordiscava delicadamente o lábio inferior do apostador. A consciência dele, as ações dele, estavam na palma de suas mãos. Fate tornou-se outra vez o seu fantoche pessoal, que obedecia ao puxar de suas cordas.

Era assim que a assassina preferia. Era assim que lhe era aprazível.

Ela fez as testas se tocarem, dando fim à conexão dos lábios. Manteve o olhar fixo no dele, com olhos semicerrados. Fate a olhava com paixão. A boca dele mantinha-se semiaberta, estúpida, como quem aguarda por mais. Mas não o teria.

Ele sentia-se estúpido. Inepto. Estava amando a quem não devia. A quem não correspondia. A quem desconhecia o sentimento de amar.

Quantos corações Evelynn destruiu outrora? Quantos?

– Víbora desprezível... – Fate trouxe os lábios dela aos seus, depositando um selo demorado.

– Humano fraco e manipulável.

– Sinto que você jamais esteve tão correta quanto agora, Eve.

A dama azul riu brevemente.

– Posso até desconhecer o que vocês chamam de amor, Fate... – acariciou-o do ombro ao tórax. - Mas, em você... Não vejo qualquer diversão em torturá-lo enquanto desprendo os grilhões de sua alma. Pode ser um começo.

O apostador sentiu algo transpassar seu peito. Algo sólido, que abriu caminho até além de seu dorso. Tocou a região e encontrou suas mãos ensanguentadas, dominadas por tremores. O mundo ao seu redor tornava-se frio, e a assassina que penetrou seu peito com um enorme espinho o olhava sem esboçar arrependimentos. Um fino fio de sangue escorreu pela lateral dos lábios.

– Fui paga para isso, Fate. Dever é dever.

Trêmulo, o apostador sorria fracamente. Eram as forças que o restavam.

– Sinto muito, Fate... – em seu tom de voz suave, havia quês de sarcasmo. A assassina pousou a mão em seu pescoço. – Incomoda-se se eu tiver uma lembrança para mim?

Espinhos rápidos, e o corpo decapitado do apostador deitou-se. Pediram-no morto... Não inteiro.

***


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