Anna Girassol escrita por Lis, Skye Miller


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Hey anjinhos! Tudo bem? Comigo tudo ótimo. É só que bateu aquela saudade de CPH, sabe? Então cá estava eu, fazendo esse capítulo. Espero que gostem.



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Nunca consegui prender a respiração por cinco minutos, nem sequer dois. Uma vez tentei ficar debaixo d'agua por três minutos e acordei na enfermaria da escola com olhares preocupados e estranhos em minha direção. Quando era criança costumava me esconder entre os travesseiros e prender a respiração. Contava os segundos mentalmente e sempre ao chegar em quarenta e três era como se minha cabeça fosse explodir a qualquer segundo.

A primeira vez que avancei uma parte dessa dolorosa etapa de "Preciso-não-respirar-por-cinco-minutos." foi assim que entrei na equipe de atletismo. Fiquei um minuto e quinze segundos sem respirar depois de três voltas seguidas na pista, o que equivale a muito mais que um quilômetro.

Então aqui estou eu. Quase ultrapassando os tais quinze segundos. Meus olhos saltam de um lado para o outro, inquietos, observadores e diabólicos. O ônibus não para de balançar e eu tenho que repetir a mim mesma: "Respire!" Mas isso não acontece, porque eu simplesmente não consigo encher meus pulmões de ar por estar presa entre uma garota peituda e um professor de física acima do peso. Não consigo com esse ônibus sacudindo-me, arrastando-me para os lugares mais estranhos. Não consigo decidir se grito por ajuda ou continuo calada em meu árduo sofrimento.

Minha mãe, sempre otimista, disse que seria uma boa ideia ir ao "maravilhoso" passeio escolar que a escola estava programando. Tentei negar máximo possível, dizer que não iria, que estava com TPM aguda/afetiva ( É quando a tpm está tão afetada que é necessário ficar em repouso, uma síndrome que eu mesma inventei, obrigada.), que estava com febre e tudo mais. Porém nada pareceu convencer a minha mãe, que estava decidida a me jogar dentro daquele ônibus escolar fedorento com uma mochila empilhada de barrinhas nutritivas.

– Você precisa conhecer novos ares. – Foi o que ela disse enquanto assinava uma autorização que permitia minha saída da cidade. – Novas pessoas. Isso pode te inspirar a escrever.

Assim como a síndrome de TPM aguda/afetiva, uma outra síndrome foi desenvolvida. Mas, por criação da minha mãe, onde ela usava as palavras "Futuro, livros, inspiração e jornal” como um suborno. Já tentei ao máximo possível enganá-la, mas mamãe sempre fora do estilo "Não questione a minha decisão."

Um minuto e vinte segundos.

Um minuto e vinte e cinco segundos.

Um minuto e...

Fecho os olhos e ando para trás. Será que se eu desmaiar alguém vai me ajudar? Ou vão me lixar? Sou tão pequena e invisível que o mais provável seria que eles pisariam em mim por não me ver.

Quando percebo que desmaiar não uma opção, puxo o ar com força. Minha caixa torácica está apertada e uma dor preenche todo o meu quadril. A garota peituda olha para mim com uma expressão entre indiferença e nojo.

– Será que o Senhor poderia afastar um pouco mais a frente? – Consigo dizer no ouvido do meu professor e espero que ele realmente tenha escutado acima de toda essa barulheira. A partir de hoje ele não será mais o Sr. Butch, o legal. Ele será o Sr. Butch, o gordo esmagador. Estou me sentindo como Teresa Agnes, acho que vou ter um fim como ela a qualquer segundo. – Por favor.

Eu agradeço mentalmente a todos os deuses possíveis quando ele vai para o lado e eu finalmente consigo respirar. O ar está abafado, fedendo a gasolina queimada e outros resíduos químicos, mas eu realmente não me importo. Estou grata por conseguir puxar e assoprar o ar para dentro e fora do meu corpo.

Seguindo pela lógica, faltam apenas trinta minutos para chegarmos na fazenda McDonalds. Mas, pela realidade, isso só vai acontecer em uma hora, pois a estrada além de estar precária corremos o risco de ter o ônibus atolado, como aconteceu ao atravessarmos uma ponte e o pinel ficou preso. Tivemos todos que descer para ajudar, então perdi o meu glorioso lugar na primeira fila.

Agora ele está sendo ocupado por ninguém mais ninguém menos que Ethan Smith. De alguma maneira isso me incomoda; Ethan é filho do meu treinador de atletismo, Alex, e desde que entrei na Walter, quando era uma caloura na sexta série e ele me ensinou a dar duas voltas na quadra sem precisar inspirar mais do que três vezes, tenho uma queda por ele. Não é bem uma queda, minha irmã costuma dizer que é uma abismo, mas eu classifico como admiração... Qual é, sou obcecada pela possibilidade de aprender a controlar a droga da minha respiração e um cara gato de um metrô e setenta, loiro e de olhos azuis me ajuda com isso, o que você esperava que acontecesse? Que eu ficasse indiferente? O mundo não é bem assim não, ok?

De qualquer maneira, isso não importa. Ethan namora Susie Miller, a garota peituda atrás de mim. Eles começaram a namorar mês passado, mas não parece, pois Ethan não dá tanta atenção para ela como deveria. Isso parece irritá-la agora, pois ao lado de Ethan está Henry Adams, e não ela, como deveria ser. Eu rio em deboche, porque a única coisa melhor do que ver a namorada do crush sedo ignorada é ver a namorada do crush sendo ignorada por causa de um amigo, apesar de eu não saber bem qual é o nível de amizade entre Ethan e Henry.

Eu me encosto na barra fria de metal e suspiro. Eu poderia estar em casa agora, lendo algum livro realmente interessante ou colocando em dias alguma série atrasada. Poderia estar corrigindo meu jornal, ou quem sabe fazendo maratona na Netflix debaixo dos meus cobertores. Mas não, estou aqui, espremida, entre esses alunos loucos que não param de gritar e com essa girafa ao meu lado que não cansa de pressionar seus seios contra minha cabeça, como se para deixar claro que é melhor do que eu.

É claro que ela é mais bonita que eu. É alta, loira e com um corpão. E eu sou uma baixinha, ruiva que se esconde dentro da cabina de redatora da escola. Susie não precisa me lembrar disso, pois minha baixo autoestima faz isso todos os dias. Mas em compensação eu tenho cérebro e ela, ervilhas.

Meu celular começa a tocar. Sinto vontade de morrer, talvez essa seja a saída mais fácil para toda essa situação. Estico o braço e debaixo das infinitas barrinhas de cereais consigo encontrar meu celular.

– Oi.

– Por que você tá em pé ao lado da Loira Boi?

É o meu melhor amigo e companheiro de sala e cabina, Rômulo. Loira Boi é o apelido mais carinhos que Rony já colocou em Susie até agora, pois os antigos sempre vinham acompanhados de xingamento ou insultos.

– Perdi o meu lugar na primeira fila quando desci do ônibus.

Estou tentando encontrá-lo. Meus olhos vasculham todos os assentos, mas não o encontro em lugar nenhum. Normalmente, é fácil localizar Rony. Ele é o único garoto gay assumido na nossa turma que usa um topete platinado se destacando em meio aos fios negros e botas de coro com lantejoulas. Às vezes tenho a impressão de que ele vai virar uma drag queen quando menos esperarmos, mas Rom gosta da sua "masculinidade".

– Onde você está?

– Na poltrona atrás do seu boy-magia. Isso é o máximo, apesar de eu não entender nada do que ele diz com o Henry.

Nossos olhos se encontram e eu sorrio sem graça com os movimentos exagerados com as mãos que ele faz apontando para Ethan. Eu realmente espero que Susie não tenha visto isso.

– Mova sua bunda magra até aqui, se você continuar ao lado dessa falsiane desclassificada vai acabar sendo infectada com tanta idiotice.

– Como se estar com você não fosse a mesma coisa.

– Engraçadinha. Você entendeu o que eu quis dizer; vem logo.

Dura uma eternidade até que eu consiga chegar lá. Os alunos não querem abrir caminho, preferem continuar gritando, cantando músicas sem sentindo e fazendo piadinhas do que se comportarem e deixar o corredor livre para transitar. Quando finalmente sento ao lado de Rômulo percebo que passei dois minutos inteiros prendendo a respiração. Meu novo recorde. Uma nova etapa sendo avançada.

– Pelos meus cálculos, a gente tá quase chegando.

– Isso é o que o motorista vem dizendo a duas horas.

– Você é tão dramática. – Percebo que Rony não está falando com a entonação normal, ele ergue a voz sem um motivo aparente. Olho para ele sem entender, então ele ergue o queixo e praticamente grita: – Anna Palmer virou uma patricinha que não consegue ficar em pé por alguns minutos.

– Eu estava sendo espremida! Sério, igual uma laranja! E aquela desclassificada pressionou os seus seios enormes em mim a viagem inteira, como se eu fosse... – Paro de falar. Duas cabeleireiras loiras giram para trás e olhos azuis e dourados me encaram. Ethan e Henry. – Quero dizer... Bom... Rômulo, o que você achou da última cesta que os meninos fizeram no jogo passado?

– Espetacular. – Rômulo está segurando o riso, tentando parecer sério. Nesse momento acho que estou inteiramente da cor do cabelo. Ethan e Henry continuam nos encarando, os olhos sérios e ao mesmo tempo avaliativos. Por que Rômulo tinha de sentar justamente atrás deles? – Você gritou feito uma louca: "O Smith é o melhor! O melhor, seus perdedores! Vai Walter!"

Escondo o rosto com as mãos quando os três começam a rir ao mesmo tempo. Talvez ser esmagada é melhor do que passar por uma situação como essa. Estou estralando os dedos freneticamente e prendendo a respiração para conseguir me acalmar.

– Não sabia que havia ganhado uma nova fã. – E lá está ela. A voz sexy de galanteador que Ethan usa para arrancar as calcinhas sem precisar usar as mãos. Segundo Rony, Ethan é o tipo de cara que a cada passo que dá pisca para três mulheres diferentes, e a cada uma hora já conseguiu lotar sua agenda telefônica. Eu me encolho, pressionando meus pulmões com força. – Oi, Anna.

Ethan não diz meu nome com as outras pessoas. Ele diz Ah-na. Sei bem que ele nunca pisou em nenhum país da Europa, mas fala como um inglês na hora de pronunciar meu nome. Meu coração bate tum tum tum freneticamente quando isso acontece, especialmente agora.

– E aí?

Rômulo solta um risinho tosco ao meu lado e eu chuto sua canela. Henry me encara por poucos segundos antes de levantar os lábios em um ligeiro sorriso e virar para frente. Ethan gira o corpo em um ângulo de 180° até que ele fica de frente para mim, com o queixo encostado na poltrona.

– Você não foi para o treino semana passada.

– Ah, você sabe... Com todos os projetos escolares eu não pude sair da cabina. Trabalhar em um jornal tem lá suas desvantagens. – Tento falar da maneira mais normal possível. Será que ele sentiu a minha falta? Ou talvez só estivesse fazendo uma observação. Ele continua me encarando diretamente. Seus olhos azuis estão tão claros hoje que quase se confundem com cinza. – Mas vou voltar a treinar em breve.

Balança a cabeça uma, duas, três vezes antes de voltar para frente e se sentar.

Finalmente consigo soltar o ar, e quando isso acontece parece uma porca fugindo do abate. Dois minutos e meio. Fiquei sem respirar por dois minutos e meio. Estou batendo recordes sem nem perceber.

Antes que Rony faça algum comentário maldoso encosto a cabeça em seu ombro e fecho os olhos. Ele tem cheiro de tuti-fruit e canela, e isso é o suficiente para me fazer adormecer.

...

– Vocês têm três horas antes do toque de recolher. Quando isso acontecer, devem vir até aqui para voltarmos para casa. – Bocejo e coço os olhos. Saímos praticamente de madrugada da escola e o único momento que consegui ter descanso foi quando dormi encostada em Rony, mas eu tive a sensação de que mal havia fechado os olhos quando ele me chamou. – Não viemos apenas passear na fazenda, viemos também estudar. Cada professor separou duplas de acordo com suas turmas, mas em alguns casos iremos misturar. Elas já foram escolhidas, então não haverá trocas. Vocês escolherão um local da fazenda para fazerem suas pesquisas, de acordo com o que preferirem. – Nosso diretor cola uma folha no ônibus. Seguro o braço de Rony para que ele não vá até lá ver o que é e me encosto em seu casaco com os olhos fechados. – Vocês podem escolher a área que quiserem, contanto que tragam o trabalho pronto. Ás onze vamos almoçar. Ás treze voltamos para a escola.

O diretor esclarece mais algumas coisas e vai chamando cada dupla. Tenho vontade de rir e chorar ao mesmo tempo quando a dupla de Rony se revela: Susie. Ele faz uma careta e torce o rosto, claramente enjoado.

– Meu Deus, a Loira Boi tá me olhando como se fosse roubar minha alma. O que eu faço?

– Primeiramente, deve ter cuidado pra não chamar ela de Loira Boi cara-a-cara. Você não tem total certeza se o Ethan traiu ela, e ela certamente ficaria brava com isso.

– Eu adoraria ver essa ratazana brava. – Sorri sarcástico e me abraça antes de ir.

Minha dupla seria Michal Daniels, mas ele faltou, então sento-me nas escadas do ônibus esperando que façam alguma coisa em relação ao meu caso. Por fim, o diretor diz que mais um aluno sobrou. Levanto-me e arregalo os olhos quando vejo Ethan escolhendo uma área para estudarmos.

– Oi Anna. O que você acha de biologia? – Pergunta naturalmente, caminhando em minha direção e parando na minha frente com um sorriso. – Vai ser com a professora Cooper e ela vai nos levar pra estufa. Aqui diz que vamos estudar as plantas e tudo mais.

– Eu... P-por mim t-tudo bem. – Torço meus dedos com força na alça da minha mochila. Espero realmente que eu esteja ao menos parecendo uma garota normal. Quando chegar em casa, vou dizer para minha mãe o quanto a odeio e deixar claro que nunca mais irei para passeio escolar nenhum. Foda-se novos ares. Foda-se conhecer pessoas novas. –Eu gosto de biologia.

Ethan não diz nada e eu sou eternamente grata por isso. Não espero que ele seja legal comigo ou que de repente vire meu amigo; se ele ficar distante pelo resto do dia vai ser mais fácil para mim.

A fazenda não é só grande; é enorme. Meus olhos avistam dezenas de animais, pastos, grama, poços e árvores. Uma infinidade de coisa. Se não fosse pelo sol escaldante, acho que eu até poderia estar mais ou menos feliz.

Quando entramos na estufa Sra. Cooper fica realmente feliz em nos ver. A maioria dos alunos preferiu estudar os animais, então não fico surpresa quando encontro apenas outras duas duplas. Sento-me ao lado de um microscópio e Ethan atravessa até a outra extremidade, ficando de frente para mim. Sra. Cooper começa a explicar a prática que vamos fazer. Nos entrega uma caixa com cinco lâminas fora de ordem, e diz que devemos separar as lâminas de células de ponta de raiz de cebola nas fases de mitose que as representam e rotulá-las de maneira correta.

– Boa sorte a todos.

Solto um risinho sem perceber e Ethan me acompanha. Está um silêncio enigmático e eu gosto disso, faz com que eu consiga me concentrar em outra coisa além da minha queda/abismo/admiração por Ethan.

– Você começa, parceira? – Ethan pergunta. Olho para ele e o vejo dando um sorriso torto tão bonito que só o que posso fazer é ficar olhando como uma idiota. – Primeiro as damas, certo? Ou eu posso começar, se preferir. – Seu sorriso some; alguma coisa me diz que ele está duvidando da minha capacidade.

– Não. – Eu digo, me esforçando para não corar. – Eu começo.

Puxo o microscópio para perto. Já fiz essa experiência antes com Blástula de linguado, então deve ser quase a mesma coisa. Coloco a primeira lâmina e ajusto rapidamente para a objetiva de 3OX. Estudo a lâmina por uns instantes, depois mudo para 4OX.

– Intérfase. – Sorrio confiante.

– Posso olhar? – Ele pergunta quando eu começo a retirar a lâmina. Meu sorriso se desfaz; sua mão toca a minha, para me deter, quando termina de fazer a pergunta. Prendo a respiração. Seus dedos são quentes, longos e sua pele é macia. Tenho que esforçar para puxar a mão de volta. – Só para confirmar. – Murmura como um pedido de desculpas, encarando-me. Talvez se ele estivesse sentado ao meu lado poderia ser mais fácil, estou me sentindo exposta. – É, Intérfase. – Troca rapidamente a primeira lâmina pela segunda e a observa com curiosidade. – Prófase.

– Posso olhar? – Pergunto indiferente, realmente com deboche. Estou irritada pelo fato de ele não confiar na minha competência. – Só para confirmar.

Ele dá um sorriso malicioso antes de empurrar o microscópico para mim. Olho ansiosa pelo ocular e reprimo um xingamento. Ele está certo.

– Próxima lâmina? – Estendo a mão com os olhos pregados no ocular. Ele me passa a lâmina, dessa vez sem tocar em mim. – Anáfase. – Passo-lhe o microscópico sem que ele peça, mas ele nem sequer trisca nele, apenas assente e anota na folha de respostas.

Nós terminamos antes que as outras duas duplas, o que é bem chato, pois não temos mais nada para fazer além de ficarmos aqui ou no sol lá fora. Então tudo o que eu posso fazer é tentar não olhar para ele... Sem sucesso. Olho para frente, e ele está me encarando, com aquela mesma expressão de sempre; curiosa. Sorrio sem graça e ele surpreendentemente retribui.

Sra. Cooper vem até nós e nos parabeniza. Diz que já estamos livres para aproveitar o dia, mas eu apenas levanta-me e começo a andar pela estufa, parando aqui ou ali para estudar uma planta. Ethan fica atrás de mim, o que me deixa nervosa. Será que meu cabelo está bagunçado? Será que pareço uma anã? Ai meu Deus, e se minha bolsa estiver aberta revelando as infinitas barrinhas nutritivas e a necessárie rosa pink de Suzana? Quero morrer.

– Sabe, pelo que conheço do Rony, eles provavelmente já terminaram. – Comento indo para outra extremidade da estufa, onde as flores e rosas estão desabrochando. – Susie deve estar procurando por você.

– Susie tem suas amigas como companhia. – Dá uma passada longa até ficar ao meu lado. – Eu prefiro ficar aqui.

Dou de ombros, tentando parecer indiferente. Meus olhos se iluminam ao ver rosas brancas e vermelhas, todas impecáveis, lindas e naturais. Aproximo o rosto de cada uma delas e sei que estou fazendo a maior cena, mas não me importo. Sou apaixonada por flores desde que me entendo por gente.

– Oh, meu Deus. Jasmins! – Bato palmas animada e passo as mãos pela flor. Até as folhas são cheirosas e deixam minha palma com uma fragrância adorável. – Minha colônia é de Jasmim.

– Eu sei. – Ethan fala, puxando um pequeno botão e colocando no meu ombro.

– Sabe? – Levanto uma sobrancelha, surpresa.

– Você sempre é a primeira a usar as toalhas disponíveis para os atletas. Então todas as vezes que vou enxugar o rosto está perfumada, como se você tivesse derramado sua colônia ali propositalmente.

– Desculpa. – Sussurro, constrangida, minhas bochechas queimando.

– Não, eu gosto.

Uma parte de mim grita: "Hey! Ele está sendo gentil, que tal puxar assunto e ver até onde isso vai dar?" Então a outra rebate: "Ele é gentil com todo mundo. E tem uma namorada. Acorda, Palmer.” Então concordo com a segunda voz, a voz da razão e me afasto Ethan.

Tiro minha mochila e coloco-a em um canto, depois pego minha câmera e começo a tirar várias fotos de diferentes mudas. Sei que vou lotar minha memória e que meu orientador ficará irritado quando eu pedir uma nova lente e lhe explicar o motivo, mas é impossível vir aqui e ver tanta coisa bonita sem poder registrar.

As horas passam sem que eu perceba e quando eu clico pela última vez, percebo que as únicas pessoas na estufa são Ethan e eu. Ele está sentado ao lado da minha mochila, comendo tranquilamente minhas barras de cereal.

– O que você pensa que está fazendo? – Pergunto tentando parecer ofendida mas estou segurando o riso diante da sua cara de cachorro sem dono.

– Meu lanche está com Henry, mas eu não troco ficar aqui por nada nesse mundo. Está frio e tem barrinhas nutritivas.

– Tem as minhas barrinhas nutritivas, você quer dizer.

Ethan dá de ombros e eu me sento ao seu lado. Apago algumas fotos que não ficaram muito boas e prendo o cabelo em um rabo de cavalo antes de dar uma mordida no cereal que Ethan oferece.

– Não sabia que você tinha colocado aparelho. Juro que fui perceber agora.

– Não faz muito tempo. Tento não sorrir depois que coloquei, sabe? É meio bizarro a cara que as pessoas fazem quando olham para tanto ferro na minha boca.

– Eu tinha os dentes superiores tortos. Uns cinco deles. – Ethan confessa e ele sorri quando eu olho para a sua boca. Seus dentes são retos e brancos, impecáveis, e me deixam com uma expressão boba. – Aí usei aparelho por dois anos. Foi até legal, sabe? Em algumas ocasiões servia como charme.

Pisca um olho e eu desvio o olhar. Suzane diz que Ethan é galinha, Rony rebate que é galanteador e a única coisa que eu acho é que esse é o seu jeito. Ele é assim com todo mundo, até mesmo com a velhinha da biblioteca. Ele é tão legal e natural que você tem a impressão de que está fazendo alguma cantada barata, mas não é bem isso.

– Olha o que eu achei. – Tira detrás das costas um livro verde de capa dura. – Roubei da Sra. Cooper enquanto ela falava sobre raízes e você tirava foto. Tem o significado de algumas flores, quer ver?

Eu assinto e Ethan se aproxima. Agora, não estamos apenas próximos, estamos com os ombros colados. Por ser mais alto que eu, Ethan precisa escorregar um pouco até que ficamos no mesmo nível. Meu rosto está apenas a quinze centímetros do seu.

– Qual a primeira flor que vem na sua cabeça agora?

– Tulipas vermelhas.

Ele olha estranhamente para mim agora. Estranhamente mesmo. Viro um pouco para o lado e me afasto para poder encara-lo de volta.

–Não preciso abrir o livro para saber o significado; é "amor eterno".

– Como você sabe?

– Apenas sei. – Responde e abre um livro. – Que tal Lótus?

Eu assinto, e passamos o resto da manhã assim, sentados pesquisando significados de diversas plantas em seu livro roubado. Em determinado momento, lá para dez e meia, estamos deitados no chão frio. Ombros, braços e pernas encostados. Sua respiração fica batendo no meu pescoço, na minha orelha, no meu rosto, em todos os lugares, enquanto eu contínuo com a minha presa. Meu recorde aumentou para três minutos e meio.

Hoje em dia a orquídea é uma flor que está associada à sexualidade e beleza feminina. Por este motivo, as populares tatuagens de orquídeas são mais comuns em mulheres. A orquídea pode ter variadíssimos significados, amor, desejo, luxúria, perfeição, pureza espiritual, força, luxo, beleza, etc. Cores diferentes têm significados diferentes. – Leio calmamente, tomando cuidado para não falar nenhuma palavra errada. Mas sei que Ethan não está prestando muita atenção, ele apenas fica ouvindo, balançando a cabeça em concordância e inspirando fortemente. Às vezes, tenho a impressão de que seu nariz está sobre meus cabelos, mas sei que é só imaginação. – Significado das cores. Orquídea Rosa ou Lilás: Flor da sedução, ideal para conquistar seu interesse amoroso; Orquídea Vermelha: Significa desejo sexual; Orquídea Branca: Amor puro; Orquídea Amarela: Amor erótico; Orquídea Negra: símbolo de poder e autoridade absoluta, um sinal de algo pertencente à elite.

– Gostei do vermelho e amarelo. – Ele diz entre risos. – Mas seria um problema dar isso para uma garota que entende significado de flores.

– Eu ficaria extremamente ofendida. – Confesso enquanto procuro o significado de outra flor. – Orquídeas são uma das minhas três flores favoritas, tipo, eu sou apaixonada por Orquídeas, Jasmins e Violetas, aí um idiota vem tirar onda da minha cara dessa maneira? Preferia que ele me desse Rosa ou Branca, faria com que eu me sentisse ainda mais pura e com a virgindade intacta.

Quando percebo o que acabei de falar inspiro com força. Aperto o livro entre os dedos e antes que Ethan pergunte aquilo que eu sei que vai perguntar, continuo a ler. Eu jamais li tanto em voz alta na minha vida. Mas é um bom livro, apesar de tudo e eu estou aprendendo bastante. Em determinado momento Ethan se aproxima e nós aos poucos vamos deslizando para o chão, até que estamos deitados. Apesar de meus lábios e olhos se moverem, minha cabeça não está mais associando corretamente, tudo o que eu consigo pensar é em quão quentinho Ethan é.

Já está ficando muito tarde e minha voz falha algumas vezes, pois estou tão rouca que tenho a sensação de que alguém passou navalhas por minhas cordas vocais. Em certo ponto, Ethan colocou o braço esquerdo em torno de mim e puxou-me para seu peito – Eu já estava incomodada, esfregando as costas contra minha mochila quando Ethan fez isso. Eu conseguia sentir seu peito inflar quando ele respirava. Sentia o ar que ele soltava em meus cabelos, as vezes. Havia certos momentos, rápidos, em que ele mexia com a cabeça e seu queixo raspava na minha nuca. Sentia que iria derreter.

– Estou começando a sentir sono. – Ethan me interrompe em meio a um bocejo.

– Estamos quase terminando.

– Não é melhor parar? Juro que não consigo mais prestar tanta atenção.

Fico calada por um tempo, decidindo se paro ou não. Por Ethan estar assim tão perto, não precisava mais ler em voz alta, até porque minha voz já estava indo embora. Mas, gente, Ethan é tão quentinho e ele colocou o braço debaixo da minha cabeça como se fosse um travesseiro, o algodão de sua flanela em meu nariz e...

Então percebo que Ethan realmente não está prestando atenção. Seus olhos estão apenas focados em meu rosto e na curva dos meus lábios. Fecho o livro com força e me levanto, pois de certa maneira estou além de constrangida irritada com toda essa situação. Para início de conversa, Ethan não deveria estar aqui e eu não deveria estar lendo um livro de biologia aninhada em seus braços. Não deveria estar me aproveitando do fato de ser tão bom ficar tão perto dele.

– Acho que devemos ir.

Ethan assente e pega minha mochila do chão. Quatro minutos. Fiquei quatro minutos sem respirar na pequena pausa em que ele leu sobre Jasmins. Não sei se fico alegre ou não por isso, por estar conseguindo controlar a respiração mesmo que seja contra a minha vontade e percepção.

Estamos quase saindo da estufa quando algo me chama a atenção. Amarelo, com o caule levemente torto em direção ao norte fixa em um jarro pequeno. Um girassol, do tamanho da palma da minha mão.

Sufoco um grito de animação e corro até o outro lado. Sou apaixonada por girassol desde que me entendo por gente. Foi a primeira palavra que consegui soletrar e separar corretamente. É a única planta que raramente tem em Minneapolis. E o fato de ter uma muda na minha frente em plena fase de crescimento me deixa extasiada.

– Ela não é linda? – Pergunto com um sorriso nos lábios. Sei que estou parecendo uma maníaca quando Ethan olha para mim, mas pela primeira vez em muito tempo, não me importo. Sou o tipo de pessoa que tem absolutamente tudo organizado, programado arquitetado. Além de que aceito o que as pessoas sugerem, sem nunca protestar. Pela primeira vez, estou saindo do controle, abaixada na frente de um pequeno girassol sem me negar ao simples prazer de admirar algo belo. – Só vi um girassol real duas vezes na minha vida. Na minha casa há dezenas de flores artificiais, principalmente essas. E, meu Deus, essa aqui é tão pequeninha, tão delicada que tenho vontade de levá-la no bolso.

– Pegue-a.

– O que?

– Pode ficar com ela. Vou falar com a Sra. Cooper ou até mesmo com o dono da fazenda se precisar, mas você vai conseguir levá-la para casa.

Estou rindo feito uma idiota quando pego o jarro e me levanto.

– Como pode ter tanta certeza de que vai conseguir?

– Eu sempre consigo o que eu quero, Anna.

Ah-na. Ah-na. Ah-na.

Ele poderia repetir meu nome centenas de vezes e eu não abusaria.

...

Ethan de fato conseguiu convencer a Sra. Cooper e o dono da fazenda a me darem a pequena muda de girassol. Não sei como ele fez isso, talvez usou seu charme ou o falso sotaque inglês ou quem sabe pura gentileza, pois quando quer, Smith pode ser um poço de simpatia.

Os outros alunos ficam me olhando de maneira engraçada quando entro no estábulo, onde vamos almoçar antes de partir. Talvez seja porque Ethan está atrás de mim ou porque meus braços rodeiam o jarro como se fosse algo precioso, de qualquer maneira, estou me esforçando para não me escolher. Preciso fazer aquela sensação voltar, aquela mesma sensação de confiança que tive ao me curvar sobre uma flor sem me permitir ter vergonha na frente do garoto que gosto.

– Meu amoooooooor, onde você estava? – Susie aparece caminhando em nossa direção, quando passa por mim esbarra seu ombro no meu propositalmente. –- Meus pés estão esmagados. Minhas unhas todas quebraram. Meu cabelo não para mais quieto. Estou um caco. Quero ir embora, amor.

– Susie, você está maravilhosa. – Meu estômago dá aquele nó sufocante quando me sento. Ethan passa pela nossa mesa abraçado de lado com Susie e eu vejo que sim, ele dá atenção para ela e que sim, eles parecem um casal e que sim, sou uma idiota por achar que alguma coisa mudou. – Eu estava na estufa esse tempo todo, estudando biologia e você?

Desvio o olhar e me concentro no que Rony está falando. Não estamos sozinhos, Henry e um calouro estão sentados em nossa mesa também e eles conversam sobre video-game e jogos de basquete. Rony odeia futebol, mas ama basquete, então não fico surpresa quando vejo que ele e Henry estão se interagindo.

– Você viu aquela cesta de três que o número sete fez naquele jogo passado contra a NBI? Cara, foi demais! – Rony fala especulando com as mãos. Eu suspiro e atraio três olhares para cima de mim. Acho que deveria continuar prendendo a respiração na maior parte do tempo. – O que aconteceu, ruivinha?

– Loira Boi entra em ação e acaba com o meu dia.

– Acho que o Don Juan não merece tanta atenção.

– O Don Juan ficou comigo o dia inteiro, mas na hora que a Loira Boi chegou, Puff.

–A Loira Boi é namorada dele, afinal, você é apenas a fotografa e jornalista da escola.

– Desculpa interromper a conversa de vocês, mas... – Henry está olhando diretamente para mim, com o mesmo olhar que Ethan faz todas as vezes que chego atrasada no treino: Curiosidade. Eu me encolho, pois não consigo fazer contato visual por muito tempo, e também porque as íris de Henry são espetaculares: Douradas. Não castanho claro ou mel, é ouro puro. – Quem é Loira Boi e Don Juan?

– Desculpa Adams, mas isso é segredo de estado. – Rony sorri de lado, ajeitando seu topete platinado e se dirigindo para mim em seguida: – Meu dia foi uma bosta. Ela não tem cérebro, sério, não tem uma gotinha sequer de inteligência. E fala demais. E reclama demais. Você estava no céu e não sabia, querida. – Eu sorrio, pois é muito bom ter inimigos em comum com o seu melhor amigo. – Você vai almoçar ou não?

Assinto alevantando-me, mas quando vejo que Ethan é o último da fila sento-me novamente.

– Acho que posso deixar para mais tarde.

Henry me olha de soslaio e sufoca uma risada. Ai meu Deus, será que ele percebeu alguma coisa?

– Não se preocupe, a Loira Boi está sentada do outro lado do armazém. Só pra você saber: Também não gosto dela. – Henry diz baixinho em meu ouvido. Sei que estou parecendo uma fuinha vermelha de olhos arregalados. – E o Don Juan não morde. Acredito, na verdade, que ele vai até gostar da sua presença na fila. -– Me empurra um prato limpo e sorri. – Bona Petit.

Fico tão constrangida que apenas caminho calmamente até a fila sem dizer um pio. Quando me aproximo Ethan para de falar com a garota que está na sua frente e me olha por cima do ombro.

– Você está bem?

– Claro... Por que?

– Você tá vermelha.

Desvio o olhar e engulo em seco.

– É o sol.

Ele assente e volta a conversar com a garota. Eles estão conversando sobre um blog que Susie tinha, cujo nome era "O que ronda pela Walter", mas foi fechado e abandonado depois de uma publicação sobre a vida de Aria Gomez, uma caloura que amanheceu morta por ter pulado do terraço na escola, poucas horas depois do post ter sido publicado. O que me surpreende é que Ethan não defende sua namorada, pelo contrário, deixa claro que seu blog era "imaturo" e "ofensivo", mas depois constata que "Susie mudou". Queria muito dizer a ele que está enganado. Que Susie é uma víbora, tão víbora que já quebrou minha lente quando fiz uma matéria sobre o fracasso das líderes de torcida, acho que ela ficou brava por eu ter deixado claro no jornal que ela não era um bom exemplo para as outras.

– Mas pensando bem, aquele blog não é nada comparado ao jornal da escola. – A garota diz. Não sei qual é o seu nome, mas lhe acho tola por falar com a voz aveludada e jogar charme para cima de Ethan. Sei que a maioria das meninas solteiras na Walter fazem isso quando conseguem ter a oportunidade de falar com Ethan, mas elas são sim, definitivamente tolas. – Aquele garoto colorido e aquela baixinha são demais, gosto das matérias que eles apresentam.

- Rony e Anna? – Ethan pergunta, depois balança a cabeça em concordância. Estou sufocando o riso, por ter sido rotulada de baixinha e ao mesmo tempo elogiada. - Sim, eles são.

Ethan e a garota começam a falar de atletismo. Afinal, é só sobre isso que as pessoas costumam conversar com Ethan. Ele ficou em segundo lugar nos últimos três anos, as pessoas esperam que ele agora consiga uma medalha de ouro. Mas a verdade, é que nossa maior chance é Hope Adams, irmã de Henry, mas ela jogou fora todas as propostas que o treinador Alex propôs.

Faltam apenas cinco pessoas para que chegue minha vez, mas enquanto isso não acontece vou colocando coisas desnecessárias na minha bandeja. Palito, guardanapo, um pacotinho de sal, talheres extras e uma barrinha de doce de leite. Ethan está parado, acompanhando meus movimentos e só para de fazer isso quando fico de frente para ele.

– O que foi?

– Cadê o seu girassol?

– Ficou na mesa. Rony está cuidando dele.

– Ele combina com você, sabe... – Coloco arroz no meu prato e um pouco de salada, fingindo indiferença, mas na realidade estou prestando atenção em cada palavrinha que saí da sua boca. – Pequeno. Delicado. Doce. Bonito. Você não será mais Anna Palmer, agora será Anna Girassol.

Ah-na Gí-rás-sól.

Minha mão treme levemente e Ethan olha diretamente para mim antes de sair da fila. Olho para a bandeja, deixei o frango cair no chão e atrasei a fila, mas estou sorrindo feito uma boba.

Ah-na. Gí-rás-sól. O sotaque inglês de um garoto que não é inglês.

Sou tão tola quanto todas as outras garotas da Walter quando o assunto é Ethan Smith.

...

Na volta para casa tento não pensar em Ethan e Susie sentados lado a lado no fundo compartilhando o mesmo fone de ouvido e às vezes a mesma saliva. Tento não pensar nos olhares que Henry me dirige, aqueles olhares de "Eu sei o que você esconde" e "Tá na cara que você gosta dele", pois não sei qual é o nível de amizade entre Ethan e Henry e é por esse motivo que estou toda temerosa. Fico tentando me convencer de que não passa de uma admiração, que não é nem sequer uma quedinha boba, mas não consigo, não consigo pois Ethan grita sorrindo: “Anna Palmer virou Anna Girassol” a cada dez minutos e Susie me fulmina com o olhar.

– Você tem que parar de ficar se tremendo toda e ficar quieta. Para de olhar para trás. Tá dando muita bobeira.

– Ah, claro. Aposto que se o seu crush estivesse aqui você estaria fazendo o mesmo.

– Meu crush não é real, ele está preso em um livro do David Levithan e tem namorado, ou seja, minha situação é pior que a sua.

Encosto-me no braço de Rony e aperto o pequeno vazo contra o peito Quando chegar em casa, vou colocá-lo no parapeito da minha janela e todos os dias vou regá-lo e conversar com ele, pois sou do tipo de pessoa que conversa sozinha até com as próprias roupas. Vou lhe dar um nome. E, de alguma maneira, vou sempre me lembrar de quem me deu.

A viagem parece ter sido mais curta e quando menos percebo, já estou em casa. É meio da tarde e mamãe me enche de perguntas. Eu respondo a todas com uma pequena pintada de alegria. Não digo o que estava planejando dizer, não grito que odeio passeios ou novos ares ou conhecer novas pessoas, nem faço piadas sarcásticas. Eu apenas sorrio, balançando o jarro em minhas mãos.

Coloco-o onde planejava colocar e o sol bate bem em cima dele.

– Já que estou tanto tratando você como gênero masculino, seu nome será... Pherbe. Acho Pherbe legal.. Não, Pherbe não. Summer. Gostou? Ah, não. Summer é feminino. – Agacho-me de frente para o vaso e coloco uma mão no queixo. – Se não consigo nem ao menos te dar um nome, como vou conseguir me aproximar do Ethan? Não que isso seja alho importante, pois eu não gosto realmente dele... Ou gosto? Ai Finch, isso tudo é tão... Hey! Finch! Seu nome será Finch.

Fico em pé e bato palmas, como fiz quando o vi pela primeira vez. Converso algumas horas com Finch, deitada em minha cama repassando o dia quando minha irmã bate na porta e diz que uma encomenda para mim chegou. Peço a ela que traga para o quarto, pois não quero descer e Suzana faz um pouco de drama, mas enfim concorda quando lhe ofereço cookies em recompensa. Quando ela volta, está trazendo três jarros de flores nos braços. Mas não quaisquer flores: orquídeas, jasmins e violetas.

– Mas o que é isso?

– Um gatinho da floricultura do centro que entregou. Ele cheirava a rosas, Anna! Meio que indiretamente passei meu número para ele, afinal, não é qualquer dia que um cara bonito e cheiroso bate na sua porta. E com flores!

Ela coloca os jarros no parapeito, ao lado do girassol. As Jasmins são brancas, as violetas em um roxo exuberante e as orquídeas vermelhas. Há um pequeno bilhete entre as jasmins, e eu o leio calmamente.

Uma Jasmim para outra Jasmim.

São apenas para acrescentar na sua coleção, espero que goste, Anna Girassol :]

Ps: Não encontrei orquídeas brancas, só tinha vermelhas. Não é nenhuma indireta, sério, na verdade, quero muito que a sua pureza e virgindade se mantenham intactas. Haha.

Tenha uma boa semana e continue sendo capaz de rotular o processo de mitose, pois sinto muito dizer, chequei a quarta lâmina e não era Telófase e sim Metáfase. Mas vamos fingir que você acertou e que é a ruiva mais inteligente da escola.

Bjs.

Ethan.

Cinco minutos sem respirar. Cinco minutos inteiros estática lendo e relendo o bilhete,

Eu definitivamente sou mesmo mais tola do que todas as outras garotas.

Enquanto estou lá, olhando abobalhada para todas as flores, percebo algo tão notável que até me surpreendo por nunca ter percebido antes. E eu sorrio. E o som da minha risada faz com que a informação me atinja novamente, e eu estou em pânico porque a percepção me atinge mais uma vez, de novo, e de novo e de novo.

Estou desesperada. Ai, o que eu vou fazer? Sou perdidamente apaixonada por Ethan.

Parece algo surreal, parece até mesmo uma doença. Isso. O fato de eu amar Ethan.

Eu amo ele.

Eu amo o olhar curioso que ele faz todas vezes que me vê, amo a maneira como suas íris parecem ficar mais claras ou escuras com o decorrer do dia. Amo quando sua pupila dilata e ele ergue a sobrancelha animado todas as vezes que conversamos sobre atletismo ou basquete. Amo quando ele para de correr rapidamente para me acompanhar e me ensina a controlar minha respiração.

Eu amo Ethan.

Amo tanto que dói. Amo sentar com ele na arquibancada quando Alex decide fazer uma pausa. Amo quando Rony começa a falar dos seus namorados e Ethan nunca parece se incomodar pelo fato dele gostar de garotos. Amo quando Ethan enxuga o rosto com a mesma toalha que eu, e todas as vezes que vou jogar a toalha na máquina sinto o cheiro do seu perfume na minha mão por cerca de três minutos. Amo quando ele ri de qualquer bobagem que Rony diz. Amo seus ombros que chacoalham quando ele corre, amo a postura determinada e a pose ereta. Amo até o seu jeito galanteador, a maneira como faz parecer ser simples flertar com alguém. Amo sua confiança. Eu amo o seu sotaque forçado, e amo a risada de menino que ele faz toda vez que percebe que não está mais soando como um inglês e sim um caipira descontrolado. Amo suas camisas de botão, aquelas quadriculadas que o deixam com pose de modelo. Amo suas sobrancelhas grossas, as rugas ao redor dos olhos quando ri e aquele furinho no meio da testa que surge todas as vezes que ele está estressado. Amo o jeito que ele se expressa, e maneira como lambe e morde os lábios antes de dar uma piscadela fazendo aquela cara de "Eu sei que pareço um galinha miserável conquistador, mas sei ter compromisso." E eu amo suas mãos, e seu pescoço, e as sardas no seu rosto e os seus olhos azuis e amo tanto o seu cabelo loiro liso revoltado que acho que vou morrer.

Eu amo Ethan.

Só existe uma coisa que não amo nele. Uma única coisa que odeio profundamente. Ela. A namorada Susie Miller. Odeio a maneira como ele a abraça, como a beija e parece ser carinhoso. Odeio o fato de ele não lhe dar tanta atenção, mas no fim tratá-la como uma rainha. Odeio suas mãos encaixadas uma na outra perfeitamente. Odeio os sorrisos trocados. Odeio o fato deles dividirem sempre o mesmo fone, o mesmo casaco e aquele gorro verde que lhe dei de natal e costumava amar. Odeio ficar pensando neles a noite, sobre a penumbra. Odeio ficar imaginando se eles fazem amor ou não, odeio imaginar se ela tão bonita nua quanto vestida. Odeio imaginar se ele gosta realmente dela e eu definitivamente odeio ele tratar todas as meninas como trata sua namorada, pois dessa maneira, como vou saber se ela é mais especial que eu? Odeio ela. Odeio o cabelo dela. O rosto perfeito. A voz perfeita. A altura perfeita. Odeio tanto que fico imaginando quando eles finalmente irão terminar e Ethan ficará livre. Odeio tanto que pareço uma maníaca.

E eu me odeio por amar Ethan.

Eu nunca fui a personagem principal de uma história, nem mesmo da minha própria história. Nunca fui definitivamente o centro da minha própria vida. Pois, você sabe, é preciso certos elementos para ser um bom personagem principal. É preciso confiança, beleza, simpatia e opiniões complexas. É preciso ser uma incógnita. E eu não sou assim. Sou normal, como qualquer pessoa normal. E talvez por isso eu passe tão despercebida pelas pessoas.

Mas agora, não quero mais ser assim. As coisas serão diferente, não serei mais Anna, a ruiva baixinha que faz matérias incríveis no jornal da escola, vou ser diferente, vou ser a principal de uma história, mais especificamente, da minha própria história.

Por esse motivo, levanto-me e mando uma mensagem para Ethan:

"Gostei das flores, sim, muito obrigada.

Não se preocupe, tudo continuará intacto por um bom tempo.

Mais uma vez, obrigada, Don Juan.

Ps: Claro que era Telófase, seu mentiroso."

E, em menos de um minuto, obtenho uma resposta.

"Você gostou, é? Não estou surpreso, as pessoas gostam de tudo o que eu faço.

(Sou convencido, mas, quem se importa?)

Don Juan? Que originalidade notável, Anna Girassol, estou até encantado. Cof cof cof.

Ps: Sim, eu menti. Queria me sentir um pouquinho mais inteligente que você uma vez na vida.

Vejo você no treino amanhã?".

Então, dou um sorriso. Isso já é um bom começo para a minha própria história.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acham? Ficaria muito grata se deixassem recadinhos nessa caixinha de texto aí embaixo x.x



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