Dutch conseguiu invadir a fortaleza de Fet em uma determinada hora da noite. Uma olhada para baixo e a hacker percebeu que havia muitos strigois rondando a esquina, portanto ficaria impossível voltar para seu apartamento e difícil conseguir descansar a céu aberto sabendo que as criaturas poderiam subir a qualquer momento.

Munida de uma bolsa cheia de aparatos para destruir as criaturas e o pé de cabra potente com que conseguira arrombar uma das janelas do primeiro andar, ela caminhou com cautela pela escuridão no galpão. Talvez fora isso que a aproximara tanto de Fet, entre tantas coisas, ele era um excêntrico como ela.

A hacker estava passando pelo mezanino de metal, suas botas tilintando na superfície, quando uma barulheira de cadeado na porta alertou-a. Assustada, estatelou no chão e, apoiando nos cotovelos, ergueu a cabeça para observar quem vinha lá.

A sombra robusta cruzou o hall principal e passou, ainda na penumbra, para o interruptor acendendo-o. A luz branca dos lustres verticais incidiu sobre a forma maciça lá embaixo, e entre o alívio e a alegria, Dutch respirou fundo.

— FET! — a loira exclamou do alto, se erguendo.

Vasilly se assustou, surpreendido pela voz repentina, e instintivamente apontou a espingarda de prata para ela.

— Sou eu, não me mate. — Dutch recuou, mais nostálgica do que temerosa. Seu bom e velho Fet com reflexos incríveis de volta.

— Dutch... — o grandalhão boquiabriu-se — O que está fazendo aqui?

A hacker tomou as escadas e falou enquanto descia:

— O de sempre: eu aparecendo de surpresa depois de ser rejeitada pela vida.

— Nikki — ele concluiu molhando os lábios, agora ficando de frente para ela, que se aproximava timidamente.

— Pois é — o homem usava seu casacão verde, uma camiseta preta, jeans gastos e botinas firmes. Era a vestimenta normal dele e, de tão familiar, deixava a moça com frio fazendo voltas na barriga.

— E venho atrás de mim — não foi uma pergunta, mas uma acusação seguida de um olhar de carrancudo.

Fet apoiou sua mochila no sofá e evitou encará-la.

— Sou idiota, eu sei. Não quero te forçar a nada, só quero um lugar para ficar, pessoas para ficar do lado e lutar. Lá fora, não sei se percebeu, mas anda bastante solitário para um ser humano...

Então ele a mirou. Seus intensos azuis perfuraram o peito dela. Sentiu como se todo ar escapasse do peito ao notar o quanto estava apaixonada por Vasilly. No fundo desejava que Nikki tivesse partido e ela pudesse ter a desculpa perfeita para voltar para os braços daquele ucraniano. Ele parecia muito magoado, a hacker temia que com isso não pudesse ser mais capaz de tê-lo.

Fet venceu a distância de seus corpos e abraçou-a. De súbito, Dutch pulou no colo dele e enrolou as pernas ao redor da sua cintura. Felicidade. Logo suas bocas travavam uma luta feroz para descobrir quem sentira mais saudades. A loira aplacou investidas, chupões e lambidas, pelo pescoço do ucraniano e puxou seu casaco para o chão. O caminho para arrancar a camiseta e desabotoar o jeans também foi fácil. Ele habilmente despiu-a em igual disposição e se jogaram no tapete se amando febrilmente.

Dutch não saberia dizer se aquilo era um perdão, nem Fet se ele havia perdoado ela por ter sido descartado. No momento, contudo, só importava estarem juntos, se entregando e aproveitando, afinal o apocalipse se iniciara e questões como essa já não tinham tanta importância. Igual a tantos outros, eles mais do que nunca reconheciam o significado de não serem eternos.