Viajantes - O Príncipe de Âmbar [HIATUS] escrita por Kath Gray


Capítulo 17
Capítulo XVI


Notas iniciais do capítulo

CHEGUEI!
Aqui está o capítulo XVI! Desculpem se demorei... só revisei algumas vezes, então, qualquer erro, não hesitem em me falar!
Novos enigmas e um pouco mais sobre a família de Deaniel!
Bom, aproveitem!



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– Rue! Pinmur!

O dia começava a escurecer quando os dois pássaros finalmente irromperam na clareira.

Katherine ajoelhou-se ao lado da mochila, tirou algumas frutas pequenas de aspecto rosado e ofereceu-as aos Protetores, as mãos estendidas em cumbuca servindo de prato.

– Eles precisam comer? - perguntou Dean a Ty.

– Não. - respondeu ele, simplesmente. - Mas isso não quer dizer que não gostem.

Enquanto comia, Rue de vez em quando erguia os olhos para Kath e piava alguma coisa, ao que a expressão da garota mudava ligeiramente. Dean já sabia que elas estavam conversando.

Um terceiro vulto surgiu das árvores atrás deles. Mesmo ao voar notava-se a diferença; o recém-chegado voava com menos energia do que Rue e Pinmur, mas com muito mais leveza. Parecia deslizar no ar, e seu bater de asas emanava suavidade.

– Ah! Olá, Ellie! - cumprimentou Ty, quando esta pousou em seu ombro esquerdo. - Como foi de viagem? Conseguiu descansar?

O pássaro piou algumas vezes, em resposta.

– Ah, Ellie, eu quero apresentar alguém - respondeu ele. Então, pousou o olhar em Dean, gesticulando com a mão para indicá-lo. - Esse daqui é Dean. Ele está com a gente por uns tempos.

Ellie piou algumas coisas e curvou-se, no típico cumprimento. Dean respondeu abaixando a cabeça para ela.

Katherine finalmente terminou de falar com Rue e juntou-se à rodinha, sentando-se no chão, os dois Protetores empoleirados em seus ombros.

– E então? - perguntou Ty.

Katherine demorou um pouco para responder. Sua expressão estava séria.

– Parece que algo está se agitando nos Reinos do Norte. As Gêmeas não sabem direito o que é, mas sentem uma perturbação estranha próxima à Ilha de Gelo. O Povo do Oeste está inquieto.

Dean não entendeu o que aquilo significava, mas Ty recebeu a notícia com um semblante pensativo.

– Bem que estranhei não termos achado nenhum grande animal quando estávamos vindo. - murmurou. - Eles não têm nenhuma ideia do que seja?

Kath balançou a cabeça em negativa.

– Ei, mas não é para os Reinos do Norte que estamos indo? - perguntou Dean. - Não é perigoso ir com alguma coisa acontecendo?

– Normalmente, seria - admitiu a garota. - Mas do jeito que é vago até mesmo para as Gêmeas não pode ser algo tão grande. Não na área continental. É mais provável que esteja concentrado na Ilha de Gelo. E, além disso, eu tenho que enviar a mensagem a Elliot tão rápido quanto possível. Talvez Shira ou Indra saibam do que se trata.

Os dois irmãos se encararam por alguns segundos, como se falassem pelos olhos.

– Ei, Dean, você não queria falar com os seus irmãos? - Ty quebrou o silêncio, de súbito.

– Ah, é - lembrou-se ele. Ele olhou para Pinmur e já ia começar a falar, quando se deu conta de que não sabia o que dizer. Seu olhar tornou a Kath. - Ahn... o que eu tenho que dizer, mesmo?

Katherine deixou escapar uma risada discreta, achando graça da falta de jeito do garoto e deixando-o ainda mais embaraçado.

– Pinmur, você poderia mandar uma mensagem à Imperatriz? - pediu ela, olhando para o pássaro sobre o ombro esquerdo. - Dean quer ver se pode falar com os irmãos antes de seguirmos viagem. Poderia ver se ela pode organizar uma visita?

O pássaro piou algumas vezes, alegremente.

– Obrigada - agradeceu, sorrindo. Então, voltou o rosto para Dean. - Com nossos Protetores, nós nem precisamos falar, por causa da conexão mental que nos une, mas com os dos outros isso não é o suficiente.

– Hm...

O olhar de Dean deslizou novamente para Pinmur.

– Katherine... - começou ele. - Quando você acha que eu vou poder falar com ele? Sabe, entendê-lo?

– Ah... varia muito - respondeu ela, vagamente. - Pode levar dias. Pode levar semanas. Talvez meses.

– As vezes leva até anos - acrescentou Ty. - E, é claro, há aqueles que nunca conseguem conversar de verdade com seus Protetores.

– Mas isso raramente acontece com alguém que sabe dos Viajantes. - corrigiu Kath, antes que Dean ficasse preocupado, lançando um olhar nada discreto para o irmão. - A maior parte dessas pessoas é gente que nunca vai saber o que realmente é.

O ombro de Dean caiu um pouco.

Katherine percebeu.

– Ah, não se preocupe! - disse ela, sorrindo. - Os Viajantes e seus Protetores têm uma afinidade natural, mas você e Pinmur são especialmente parecidos. Além disso, você parece ter lidado relativamente bem com a história toda. Tenho certeza de que logo, logo você vai poder falar com ele da maneira que se deve.

Esse último comentário inspirou um pouco de esperança no garoto.

Depois de alguns minutos em uma espécie de paz silenciosa, a garota pôs-se de pé, espreguiçando-se.

– Acho que vou dar uma última caminhada. Já está começando a escurecer... daqui a pouco podemos arrumar o acampamento.

Ty concordou com um gesto sutil de cabeça.

O 'acampamento' era igual ao que haviam armado uma noite antes e na noite anterior: simples e prático, consistia em nada mais do que alguns sacos de dormir, fabricados com um tecido fino e algumas camadas extras na parte de baixo. As noites ali não eram quentes, mas não eram frias a ponto de precisarem de algo mais grosso; apenas frescas. As camadas extras serviam para compensar qualquer irregularidade no chão da floresta, como pedrinhas ou fissuras na terra.

Katherine sempre demorava-se na hora de se deitar. Ty, ao contrário, dormia rápido. Dean logo podia ouvir sua respiração suave e despreocupada.

Já o próprio Dean não fazia nem um nem outro. Apenas deitava-se dentro do saco, geralmente de barriga para cima, as mãos sob a cabeça enquanto observava as estrelas no céu azul escuro e esperava o sono alcançá-lo, embalando-o em noites tranquilas e desprovidas de sonhos.

Até a noite era mais bonita ali. Se em sua casa raramente havia estrelas, ali elas eram belas, brilhantes e abundantes. Ele tinha a impressão de que, se contasse, não pararia nunca.

Dean soltou um longo suspiro. Ele nunca havia percebido como o preto poderia ser belo, mas aquele era. Dan, em seus tempos de faculdade, havia estudado teoria das cores. Dean se lembrava vagamente de um dia em que encontrara-o estudando nomenclatura e o círculo cromático enquanto trocava mensagens com Al. O irmão mais velho sempre ficava animado quando falava da profissão de sua vida, e a animação era ainda mais acentuada quando tratava de cores.

Naquele dia em especial, ele falava de preto. Como havia vários tons de preto, mas que poderiam ser agrupados em essencialmente dois tipos. Quais eram, mesmo...?

Acromático, lembrou-se ele, em um flash. Preto acromático.

Sim. Essa era a cor do céu naquela noite.

Sem aviso, uma sensação de pesar pareceu envolver seu coração e afundar em seu peito. Havia apenas uma semana que ele não os via, mas Dean estava com saudades. Saudades de Dan e Simon. Saudades de Júlia e Will.

E pela primeira vez desde aquela manhã na cachoeira, ele sentiu dúvida.

Será que fiz a escolha certa?

Naquela noite, imerso em pensamentos e lembranças, o coração pesado de culpa, Dean nem percebeu quando Katherine não veio dormir.

.

Quando Dean acordou na manhã do quarto dia, Katherine já estava arrumando as coisas, pronta para partir.

– Bom dia! - cumprimentou, colocando o saco dobrado dentro da mochila. - Dormiu bem?

Muito bem - concordou ele, alongando os braços e bocejando. Estava sendo sincero: apesar das preocupações antes de conseguir chegar ao mundo dos sonhos, havia sido uma noite bem tranquila e revigorante. Sentia-se pronto para qualquer coisa. Era surpreendente como aqueles sacos simples e pragmáticos eram tão confortáveis. - Obrigado por perguntar. E você?

A garota torceu o nariz.

– Hmm... nem tanto - confessou, com uma expressão de brincadeira.

Apesar do sorriso também torto, Dean viu a sinceridade por trás de suas palavras.

– O que aconteceu? - perguntou.

– Ah, nada de mais - afirmou ela. - Só uma insônia casual. Costumo ter dificuldade para dormir.

Dean ergueu uma sobrancelha. Na Cidade Erguida, Katherine havia dormido muito bem. Porém, ele não disse nada.

– Ei, onde está o Ty? - perguntou, subitamente consciente da ausência do garoto loiro.

– Heeeey!

Dean olhou para a origem da voz cantarolante, atrás de si, inevitavelmente torcendo o pescoço, que estalou com o mau jeito.

Ai, gemeu.

Ty estava com um sorriso largo esboçado no rosto, e trazia nas mãos várias frutas diferentes, tão grandes que era preciso segurar pelas folhas para carregar todas.

– Café da manhã! - anunciou alegremente.

– Oba! Adoro essas! - comemorou Katherine, radiante.

Os dois se sentaram no chão, cruzando as pernas, e Dean se arrastou até a rodinha, sem se dar ao trabalho de levantar.

Ele estava a ponto de dar uma mordida quando viu os irmãos pegarem pequenas tigelas de madeira nas mochilas e esmagarem as frutas sobre elas, deixando escorrer um suco de aspecto tentador. Prontamente, Dean os imitou.

– A um novo dia em nossas vidas! - brindou Kath, erguendo sua tigela.

– A um novo dia! - ecoaram Ty e Dean.

– E a um café maravilhoso! - acrescentou Ty, fazendo Dean e Kath abruptamente caírem na gargalhada com a frase inesperada.

E então, em um só gesto, todos entornaram suas tigelas, como que em uma cerimônia sagrada ou celebração.

No decorrer do dia, o tédio começava a se apresentar. Três dias andando sem parar no meio de uma área antes misteriosa, mas agora cada vez mais familiar, estava deixando Dean cada vez menos entusiasmado com a viagem.

Katherine e Ty não tinham uma opinião muito diferente, então logo trataram de se ocupar.

Um de cada vez, os três recitariam uma charada. A pessoa que recitava enrolava um fio de palha - que Katherine sempre trazia na mochila para essas ocasiões - em uma forma de anel. A pessoa que acertasse a charada recitava a próxima, enquanto enrolava mais um fio no pequeno disco, que ficava cada vez mais grosso e firme.

Assim seguiram pelas próximas várias horas, até que, ao fim da tarde, eles acharam um lugar especialmente belo para montar acampamento. Era mais uma clareira, mas havia algo nela que não havia nas outras que já haviam visto. Talvez fosse as folhas mais verdes. Ou a grama mais macia.

Dean e Kath resolveram observar o pôr do sol de cima de uma bela árvore. Ela era alta, e se sobressaía acima de todas as outras, o que lhes deu uma visão bem clara daquele espetáculo em vermelho e laranja.

– Ahhhh... - Katherine soltou um longo suspiro. O vento no rosto era e sempre seria uma sensação inigualável para ela. - O pôr do sol é uma coisa linda, não é?

– Com certeza... - respondeu Deaniel, no mesmo tom agradavelmente calmo e despreocupado, como se tivesse todo o tempo do mundo para responder.

E, na verdade, tinha mesmo.

– Ei, Dean... - perguntou a garota, de repente. - Como são os seus irmãos?

Dean olhou para ela, surpreso. A pergunta fora inesperada; era a primeira vez que ela lhe perguntava sobre sua vida.

– Hmm... - ele tornou o olhar novamente para o horizonte, pensativo. - Deixa eu ver... eles são dois. O mais novo se chama Simon. Ele é... bem enérgico. Está sempre correndo de um lado para o outro, correndo atrás de borboletas, saltitando atrás do Dan... acho que ele nunca para quieto.

– Parece simpático - Katherine sorriu.

– É... - concordou Dean. - Ele adora o espaço. Está sempre dizendo que, quando crescer, vai ser astronauta.

– Que legal! - comentou ela.

– É, é bem legal. Mas... para ser sincero, eu estou meio que esperando ele acordar para a realidade. - admitiu ele, um pouco envergonhado. - Ser astronauta é uma profissão muito complicada. É difícil conseguir uma vaga ou um emprego. Mas ele parece levar essa ideia realmente a sério... isso me preocupa um pouco.

– Por quê?

Dean estranhou a indagação.

– Bom, porque é muito improvável que ele vá conseguir algum dia. - respondeu. - Talvez você não saiba, mas mesmo hoje quase não há trabalho para um astronauta... e as pessoas que querem fazer isso não são poucas.

– Improvável não é impossível - replicou ela.

– Mas é muito improvável - argumentou ele. - Quase impossível.

– Podem ser poucas vagas, mas os astronautas ainda têm que vir de algum lugar - apontou ela. - O que faz dele menos capaz do que qualquer outro?

Dean abriu a boca para falar, mas então deteve-se. Primeiro, porque não queria se prolongar nessa discussão.

E segundo, porque, no fundo, ele percebeu que o argumento fazia sentido.

O que faz dele menos capaz do que qualquer outro?

– E o outro? Seu outro irmão? - perguntou ela.

– Ah... Dan é... um pouco diferente - começou ele, sorrindo um pouco. As lembranças, antes tão banais, agora se tornavam um pouco saudosas. Era a primeira vez que ele se afastava por tanto tempo dos dois em muitos anos. - Ele é o mais velho. O nome de verdade é Daniel, mas ninguém o chama assim. Ele se formou há alguns anos na escola em que estudo.

– Ele tem algum sonho? - perguntou Kath.

Novamente, Dean sentiu o familiar peso da culpa sobre seu peito.

– Ele... tinha. - suspirou. - Desde sempre ele dizia que queria ser arquiteto. Sempre praticou e estudou bastante. Até conseguiu entrar na melhor faculdade do estado. Era sempre o primeiro da sala.

Katherine percebeu que ele falava no passado.

– O que aconteceu? Ele não é mais?

Dean hesitou em continuar. Porém, o olhar de Katherine incentivava-o a prosseguir com a história.

– Há pouco mais de um ano, ele... abandonou o curso. - contou. - Como nossos pais trabalham muito, desde pequeno ele se acostumou a cuidar da casa. Dos gastos. De mim e Simon. - Sua voz parecia pesar. - Ele é o mais responsável da família. A faculdade consumia muito tempo, então ele saiu e arranjou um emprego de meio período em uma cafeteria. Assim tinha mais tempo para cuidar de tudo e ainda conseguia trazer algum dinheiro para casa... Ele nunca admitiu. Sempre dizia que ainda não sabia se queria mesmo cursar arquitetura ou que só queria dar um tempo. Mas... eu sempre soube da verdade.

Katherine ficou em silêncio por longos instantes.

– O dinheiro é cruel. - comentou, por fim, desviando o olhar para longe. - Classifica vidas em mais ou menos importantes. Se interpõe entre pessoas e seus sonhos.

Dean nunca tinha pensado por esse lado.

Quando olhou-a de relance, ele percebeu algo em seu olhar. Ela parecia pensativa.

Aquele olhar. Um olhar brilhante, intenso, claro como água, como se apenas com ele pudesse expôr até seus pensamentos mais profundos, mas ao mesmo tempo enigmático, como se, por mais que falasse tudo às claras, sempre houvesse algo mais a descobrir.

Aquele olhar que o fascinava.

No que você está pensando?

.

Naquela noite, Dean dormiu rapidamente.

E mais uma vez ele não reparou no saco vazio a poucos metros de distância.


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