Céu vítreo. escrita por Delirium


Capítulo 1
Capítulo Único - Céu vítreo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Uma one meio tristinha e tal :c
Mas espero que gostem, assim como eu tenha gostado de colocar todos os meus sentimentos pra fora, por meio dela.
Sem mais enrolar,
enjoy! ♥

PS: trechos em itálico pertencem a tradução da música "Glassy Sky", cantada por Donna Burke e trilha sonora de Tokyo Ghoul
link: https://www.youtube.com/watch?v=LKSxnNeFCHk



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Capítulo único.

Ela sempre olhava o céu e o admirava, sabe por quê? Porque segundo ela, o céu era uma tela que sempre mudava, ele nunca era o mesmo, nunca uma nuvem se repetia e as cores sempre mudavam em diferentes nuances, tonalidades de azul, laranja, roxo, rosa, cinza, negro. E ela queria tanto alguém que olhasse o céu da mesma forma que ela... Que amasse tanto essa parte da paisagem, mas desde que lera em certo livro que “os humanos apenas olham para o céu ao amanhecer e durante o anoitecer”, as esperanças de ter esse alguém diminuíram.

Eram as mesmas reações, a multidão cansada estranhava a garota por andar de pescoço esguichado e olhar elevado para aquela redoma acima deles, em vez de caminhar encurvada com seus problemas sob as costas, puxando-a para cada vez mais baixo. Depois que lera aquele livro, tomou ainda mais consciência de que não queria andar como todas aquelas pessoas que estavam ao seu redor.

Porém algo faltava, uma companhia. Era quase como as estrelas, elas estavam lá, ao nosso olhar todas parecem unidas em constelações, entretanto eram separadas em distâncias incríveis. Estar entre o todo, ser considerado parte das massas, mas estar separados por universos, por distâncias quase que intransponíveis. A menina suspirou e o ar saiu quente de dentro de si, chocando-se com o frio da noite. Era quase tão sozinha como as estrelas, as pessoas também eram quase tão impossíveis de serem tocadas da mesma maneira que os astros.

Eu às vezes me pergunto

para onde você foi

A história continua

Perdido apenas por dentro

Eu tive este sonho tantas vezes

Os momentos que gastamos

tenham passado e ido embora.

Um dia, caminhando pela multidão cinzenta, entre cabeças baixas e pescoços encurvados, alguém lhe chamou a atenção. Um rapaz observava que o céu estava em um azul incrível, tão lindo que merecia ser eternizado em uma fotografia, então assim ele fez.

— Somos iguais! – ela exclamou, acenando e sendo empurrada pelo fluxo constante.

Ele estava acostumado a ignorar a voz daquelas pessoas, então agiu assim. Porém a menina continuou a gritar, até chamar a atenção. O rapaz virou-se e a encontrou com o olhar. Sem entender o que ela queria dizer, ele fez uma careta, tentando discernir o que ela queria dizer com aquilo. E então ela apontou para o céu e então, ele compreendeu que eram iguais.

Agora não eram mais sozinhos, e comentavam sobre o formato das nuvens, pensamentos sobre o porquê o céu mudava tanto de cor, quais eram suas cores favoritas e que as nuvens de tempestade pareciam algodão cinza. Era ótimo não ser mais sozinho, ambos pensavam. O tempo passava quase tão rápido quanto as nuvens sendo sopradas, um inverno passou e o céu chorou gotas geladas sob a terra, uma primavera tomou o lugar do frio e as flores desabrocharam, um verão chegou com seu calor e chuvas passageiras, para aliviar os pequenos humanos, o outono trouxe suas tonalidades marrons e laranja, e outro inverno teve sua chance de congelar um pouco mais o nariz das pessoas, fazendo-as se esconderem em suas caixinhas de sapato. Nesse inverno, o menino e a menina não eram mais crianças sonhadoras, por mais que tentassem elevar seus olhos. Ela lutava há anos para não ser levada pelo contínuo caminhar de adultos na esteira que os levava do trabalho para casa, para ela, aquilo era sinônimo de deixar de enxergar o céu da mesma forma de sempre.

O toque da mão do rapaz estava cada vez mais distante, acabando por se tornar quase tão gélido quanto aquela estação. E então um dia ele desapareceu.

A hora chegou

O sol se foi e não há mais sombras

Sei que não posso desistir e que a minha vida continua

Eu vou ser forte

Eu serei forte

Até eu ver o fim

E ela também acabou entrando na fila dos adultos, diferente dos que caminhavam pela esteira, com pressa de chegar em seus trabalhos, era arrastada pelo movimento, vez ou outra dava uma olhadela para o céu no meio do caminho, com muito cuidado para não sair da faixa e trombar com as pessoas que estavam voltando. Da janela do cubículo, ela via o rapaz do outro lado, digitando nas teclas do computador, imprimindo relatórios e colocando-os a seu lado, formando pilhas para todos os lados, até que vinha alguém e as levava para sabe-se lá onde.

“Eu sei que ainda somos iguais” – pensava, enquanto fazia seu trabalho.

Porém repetir tantas vezes a mesma frase para si já havia deixado de fazer efeito, como um remédio que o corpo costuma receber. Com tristeza ela correu pelas ruas onde eles um dia foram felizes, uma pedra a fez tropeçar, e com ela lançou para o alto, fazendo aquela imagem trincar. Era tudo uma ilusão. O céu não era real, a felicidade não existia.

E então chorou.

Às vezes me pergunto o que existe além

Eu tentei tantas vezes fazer as pazes com você

Alguém pode me dizer o que fazer?

Achei que fossemos feito um para o outro

Não há mais como voltar atrás.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ;)É meio triste e nostálgico, o ar que essa one tem, e é algoque acontece a muitos... Espero que nunca percam a felicidade e a leveza para viver a vida, que continuem sempre felizes ao olhar para o céu.E seu você se tornou cinza, olhe pro céu e pense que sempre terá alguém do outro lado, olhando também e não se sentirá mais tão sozinho. Não se pode perder a esperança, nunca ;)Um beijo e até outra hora ♥