– Não por falta de vontade sua. – Ele falou baixinho, porém em um tom malicioso.

– E nem sua santinho do pau oco. – Falei em um tom irônico seguido de uma piscada. – Mas sabe, sua mãe deve ter razão.

– Ein?! – Ele me olhou sem entender, com certeza o tinha feito louco.

– É, talvez sua mãe tivesse razão, mas só em partes. – Comecei a explicar. – Talvez eu te quisesse apenas para ter filhos, mas não pelo seu dinheiro, até por que vocês estão longe de ser ricos, e se sujar por pouca merda não é comigo. – Pausei, ele ainda me olhava sem entender. – Porém tenho que confessar que você é um gato, gostoso, tem seu charme. Queria que meus filhos fossem bonitos e...

Ele cortou-me o assunto. Estava cada vez mais confuso, e eu me segurando para não rir.

– Não transamos mesmo, mas aconteceram diversas outras coisas? Recorda-se? – Sorri maliciosamente. – Uma mão ali, outra aqui, não ia ser difícil provocar uma gravidez mesmo sem ficarmos juntos, entende? – Mantive-me afastada dele, sabia que uma hora ou outra ele iria explodir.

– Você é louca Sara. – Explodiu, gritando.

– Bem, eu já estou atrasada para o curso. Posso ir para aula? Ainda tenho que cuidar das crianças quando voltar. – Disse séria, mas no fundo queria rir.

– Ok. – Ele virou-se por alguns segundos, mas voltou a me olhar. – Pelo menos você não tem que aturar minha mãe dizendo que posso ser pai, que ela pode ser avó e blá blá blá. – Ele suspirou.

– Te vira moleque. A mãe é tua! – Virei-me de costas e fui para o curso.

É incrível como Gil gostava de ser maltratado, era tão absurdo ele acreditar nisto, quando me chateava ele pensar que eu realmente poderia ter feito algo tão sério. Fui para minha aula, no intervalo pedi um favor por whatsapp para Archie, um mestre em fotoshop e tecnologia que havia conhecido neste mesmo local para fazer um favor.

Juntei fotos minhas e de Gil em um site para ver como ficariam nossos filhos, e depois salvei-as e mandei para Archie que se encarregou em colocar esses lindos rostinho em corpinhos de bebês de fotos retiradas do Google. Quando Archie me enviou as fotos, ficaram perfeitas, nossos bebês eram lindos, que vontade tinha naquele momento que fossem reais.

Iria mandar essas fotos para Gil assim que chegasse a minha casa. Porém quando comecei a descer as escadas e cheguei ao terceiro andar, Gil estava lá, sentado em um dos degraus, exatamente onde eu o tinha deixado. Ele me parecia pensativo, com o olhar perdido, leves suspiros. Gil estava tão concentrado em seus pensamentos que nem percebeu minha presença.

Suspirei.

– O que faz aqui ainda? – Tentava não demonstrar emoções.

– Quero ver eles?

– Eles quem? - Por um momento havia esquecido da história dos gêmeos.

– Os gêmeos. – Ele me fitou sério.

Nesta hora agradeci a mim mesma pela ideia que tinha tido. Era obvio que uma hora ou outra ele iria querer vê-los. Pelo menos haviam fotos. Peguei meu celular e comecei a procurar as fotos que Archie havia me enviado.

– Está aí! – Entreguei o celular para Gil. – São a sua cara.

– Quando posso vê-los pessoalmente?

– Nunca! – Disse quase como um grito. Ia lhe apresentar quem? O ar?

Saí antes que ele contestasse, estava cansada e o que queria era descansar. Também não ia me sustentar sem rir por muito tempo.