Entrei em casa ainda segurando minhas lágrimas. Segurei-as desde que Sar havia virado a chave da ignição e dado a partida no carro. Como podia ter feito isto comigo? Ido assim e eu... Eu nem podia pedir para ela ficar, seria totalmente injusto, afinal depois de tudo que ela me falou estava mais que claro de quem era a culpa: Minha.

Na realidade já havia até me esquecido dessa mudança, achei que ia postergar que nem fez no ano passado, e iria postergando infinitamente e ficando aqui para sempre. Sempre que ela me perguntava minha opinião, eu lhe dizia para ir, que seria para o bem dela, que teria um ótimo futuro lá. Fingi que não me importava, e ela acreditou.

Que o erro era meu isto já estava claro. Minha mãe então conseguiu deixar isto ainda mais claro que cristal.

Entrei e quando bati a porta parecia que havia quebrado pelo barulho que fez. Estava zangado como nunca pensei que poderia estar, ao mesmo tempo que triste. Joguei-me no sofá da sala, e tapei meu rosto com a almofada que Sara estava agarrada quando cheguei. Tinha o seu cheiro. Seu doce aroma.

Pude então deixar de ser homem por alguns segundos e chorar.

– Afinal, o que ela queria? – Minha mãe portou-se seca, mais que o normal.

– É. Você conseguiu o que queria não foi? – Tirei a almofada que tapava meu rosto. – Ela foi embora e nunca mais vou vê-la. – Acabei por descontar na minha mãe toda fúria que sentia no momento. – Tudo por culpa sua!

– Minha culpa? – Ela gritou ainda mais alto, com um tom de sarcasmo na voz. – Se você a amasse tanto assim, teria lutado por ela, mas quando disse que para ficar com ela teria de sair de baixo do meu teto, você não fez nada. Se a amasse, se ela valesse tanto assim seu esforço teria saído no mesmo dia. Não, eu não sou a vilã da história, eu apenas achava e continuo achando que ela não serve para você. Que é uma vagabunda querendo ganhar em cima de você.

– Meça suas palavras ao falar dela. – Senti-me raivoso ao vê-la falando de Sar com estas palavras.

– Pelo menos ela seguiu a vida dela a diante, está tentando crescer, e vai ganhar a vida em outro lugar. Sabe-se lá como. A questão é que eu posso até errar com você tentando acertar, mas você é maior de idade, deve ter maturidade para assumir suas responsabilidades e não jogar suas frustrações para cima dos outros como fez comigo agora.

Isso me caiu como um choque de realidade. Minha mãe não estava de toda errada. Exceto a concepção que ela tinha de Sar, que não sei de onde tirou, no mais ela estava certa. Retirei-me tentando não ouvir mais. Não adiantou.

– Só mais uma coisa. Você poder ir atrás dela agora e tentar resolver tudo isto, mas vê se não é tarde demais, se você não vai ser egoísta pedindo para ela ficar. Afinal, de um modo ou de outro ela está resolvendo a vida dela sem você, ela terá muitas oportunidades lá como você deve saber melhor que eu, se estragar tudo para variar, não venha descontar sua raiva em mim de novo.

Finalmente ela me deixou só, mas precisava falar com alguém. Arrependi-me ao escolher Manuel. Pensei que na casa dele poderia desabafar, foi aí que me recordei que Sar e Manuel nunca se deram bem. Nunca soube por que.

– Dá para calar a boca. – Gritei finalmente.

– Desculpa. – Manuel recuou. – Eu só acho que ela não te ama, e ela te amasse como sempre te falou não teria ido embora assim.

– Quem está indo embora sou eu. Péssima ideia vir aqui. – Levantei-me para sair.

– Esse é seu problema, desde que essa garota apareceu na sua vida, você não é mais o mesmo. Até a nossa amizade ela afetou. Ela é só problema cara.

Escapei dali. E na verdade não sabia para onde ir. Já estava escurecendo, e preferi andar sozinho pelas ruas, era melhor que ouvir minha mãe ou ouvir o Manuel. Os dois eram péssimos no momento.