Só mais um dia escrita por Caroline Bueno


Capítulo 10
A Carta




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Voltar para casa sempre me trazia um conforto enorme. Estar no hospital me trazia o tempo todo a viva lembrança de que eu estava morrendo e que não podia mudar isso.
Quando cheguei em casa, minha mãe me levou direto para minha cama, que estava forrada com um lençol bege e edredom branco. Como estava muito frio, não me importei em passar o maior tempo do dia dormindo. Minha mãe tinha feito uma sopa para mim, e estava muito saborosa. Várias pessoas ligavam durante o dia querendo saber se eu estava bem, outras até mandavam presentes e lembrancinhas.
Dra. Emma tinha me dito que depois de eu ficar em repouso absoluto por um dia, poderia assistir TV e fazer outras tarefas que não exigissem esforço físico.
Então o primeiro dia depois de sair do hospital foi quase que todo dormindo, e agradeci por não ter tido pesadelos. No outro dia pela manhã, me levantei e fui até o banheiro. Meu rosto estava pavoroso, os olhos fundos com grandes olheiras e a pele acinzentada, nem meus olhos claros melhoraram minha aparência. O pior era a minha careca. Odiava não ter cabelo, era o fato que mais me fazia me sentir a beira da morte.
Minha mãe apareceu na porta do banheiro e me observou enquanto eu me avaliava no espelho.
- Meu amor, tudo vai passar. É só cabelo.- ela disse carinhosamente.
- Eu sei mãe, mas sinto muita falta dele. Me sentia melhor antes. - lhe falei triste.
- É super normal se sentir assim querida, mas todo paciente com câncer passa por isso.
- Queria não ser uma paciente com câncer. A única coisa que gostaria de ter na vida é saúde.
- Se pudesse eu te dava toda a minha saúde. - ela respirou fundo.
- Eu sei mãe, mas eu não seria nada sem você.
Nos abraçamos, e senti seu coração bater forte. Talvez morrer não fosse a pior coisa e sim ver alguém partir e não poder mudar isso.
Ela desceu para preparar meu café-da-manhã, me deixando só. Voltei para minha cama e para minha surpresa havia uma carta em cima dela. Era de Richard.
“Talvez seja muito estranho você receber uma carta minha Evelyn, mas quando eu estava no hospital pedi para que a Sra. Bennetti a entregasse para você. Bom, não sei muito bem como vou colocar em palavras, mas gostaria sinceramente de dizer que estou arrasado com tudo que está acontecendo com você. Eu realmente não entendo o porquê que você, tão nova, tem que suportar tudo o que está acontecendo. Você é um dos grandes exemplos de força e superação que já conheci, não são todos que passam pelo que você está passando e continuam fortes como você. Eu gosto muito de você. É uma grande amiga. Eu adoro o seu jeito, seu sorriso, seu olhar. Gosto da forma como você conta animada as coisas, do quanto é sincera, da maneira autêntica de ser. Gosto de estar com você. Posso dizer que já te amo, não sei o quanto, mas posso lhe garantir que é verdadeiro. Espero que continuemos próximos e que eu possa te visitar daqui uns dias.
Um abraço, Richard.”
Quando terminei de ler, senti meu coração acelerar. O trecho que mais me deixara nervosa foi “Posso dizer que já te amo, não sei o quanto, mas posso lhe garantir que é verdadeiro.” Eu não sabia interpretar se ele me amava como irmão ou namorado, mas preferi não descobrir nada por enquanto.
Minha mãe apareceu no quarto com uma bandeja com uma salada de frutas.
- Você já leu? - perguntei segurando a carta.
- Claro que não filha, não faria isso com você. Isso é algo pessoal, estaria invadindo sua privacidade. - ela respondeu apreensiva.
- Hm, bom, quando ele te entregou isso?
- Antes de ontem, disse que era algo que queria dizer a você.
- Foi legal o que ele disse. Então, ele vem me ver? - perguntei envergonhada.
- Semana que vem você vai poder ver quem quiser. Combinamos assim?
- Pode ser.
Ela me entregou a salada de frutas, estava muito bom. Eu me sentei na cama e reli a carta. Eu não sabia o que sentir. Nunca fui muito de expressar o que sentia. Talvez eu enganasse as pessoas sobre os meus sentimentos. Eles todos ficavam muito escondidos em mim. Olhei pela janela e me lembrei de quando Richard havia vindo me ver de madrugada. Eu ri. Talvez eu também estivesse sentindo algo por ele, não tinha certeza. Mas algo tinha mudado dentro de mim.
Troquei de roupa e fui para o quintal. Hoje finalmente tinha feito um pouco de sol. Me sentei na grama e deixei que o calor da manhã me fizesse bem. Fechei os olhos e fiquei sentindo a brisa.
- Oi? - uma voz me assustou.
Abri os olhos, era Richard. Ele usava uma blusa xadrez e uma calça jeans preta. Estava ouvindo música com apenas um fone.
- Ah, oi Richard. Estava distraída. - falei envergonhada com minha bermuda surrada e minha blusa velha.
- Você parece melhor. Estou certo? - ele disse sentando ao meu lado.
- Estou sim. Obrigada por se preocupar.
- Como não se preocupar com você, não é mesmo?
Eu ri. Ficamos nos olhando por um tempo. Tudo ficou um pouco estranho. Ele me olhava intensamente. Então, de repente Richard me beijou. Eu mal podia acreditar.


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