Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 8
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Notas iniciais do capítulo

Com o final do último e esse maravilhoso título, vocês já podem ter uma ideia de que tem coisa aí

https://youtu.be/G9GF_TlDcvc



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"Shaking it off, shaking off all of the pain

Breaking my heart, breaking my heart once again"

Fiquei atônita por alguns segundos, e meu semblante assumiu uma seriedade que eu desconhecia. Apressei-me para correr até a sacada, não antes de reparar que algum dos meninos me observava, mas não dei bola pra quem fosse.

Fechei a porta de vidro e me apoiei no corrimão, inclinando-me para frente e pegando um pouco de ar fresco. Respirei fundo e tomei coragem para responder o senhor que me dirigia a voz.

– Sim, ela mesma. O que aconteceu com meu vô? – perguntei segurando a pouca estabilidade que tinha.

– Bom, serei breve quanto a situação que nos encontramos – pausou por um instante, como se procurasse resumir a história – Eu sou neurologista do asilo que seu avô mora, e venho acompanhando o caso dele desde antes de ele entrar. Na verdade, eu que insisti para que ele viesse até nós, por intermédio de sua esposa.

– Como assim, doutor? – falei, sentindo um arrepio percorrer minha coluna por completo ao ouvir menção a ela.

– Antes de falecer, sua avó me procurou, com receio que seu avô estivesse adoecendo aos poucos. E ele realmente estava. Sendo assim, recomendei que ambos se mudassem para o asilo para que pudéssemos dar inicio a um tratamento adequado para o caso dele. Infelizmente, sua avó faleceu dias depois disso e não pode acompanhar seu marido.

– Quando você diz doença...?

– Alzheimer, é claro. Você estava ciente, não?

Aquilo foi como uma facada. Segurei firme no corrimão para manter-me no equilíbrio, ao menos físico, porque o mental já se esvaíra.

– Não – foi o que consegui responder

– Sinto muito em lhe informar dessa maneira. O caso é, tive de fazê-lo pois seu avô não conseguiria por conta própria... – Notando meu silêncio, ele continuou, com a voz um pouco mais baixa – Não sei como dizer isso da melhor forma, mas a doença progrediu muito rapidamente na área da memória, são poucos casos que isso acontece de uma semana para a outra...

– Por favor, vá direto ao ponto – pedi, juntando forças de algum lugar alheio ao meu caos do momento

– Seu avô não tem recordações suas, Ina.

Foi o necessário pra me fazer tombar de costas na porta de vidro, escorregando até me sentar no chão. As lágrimas já corriam livremente por meu rosto, sem emitir um único som. Por uns segundos a voz do outro lado da linha ficou muda, parecendo ver o que acontecia ali.

– E... Agora...? – consegui pronunciar em meio a tremedeira que se apoderava do meu corpo inteiro

– Foi por isso que telefonei. O caso que tenho em mãos não é recorrente, porém não deixa de ser simples. O paciente perdeu todos os vínculos que tem com o presente e, no momento, apresenta um dos sintomas mais comum à síndrome. Em outras palavras, sua realidade é a mesma de 45 anos atrás. Para ele, seu mundo o tem como protagonista aos 28 anos de idade, ao lado de sua esposa de 23, grávida da única filha. – ele suspirou, sem saber como prosseguir – Você foi a última pessoa que ele se recordava do presente.

Depois disso não consegui pensar mais nada. Respondi qualquer coisa para o médico, afirmando que depois entraria em contato, e desliguei a ligação.

Meu único familiar restante havia me perdido no esquecimento.

O que isso significava exatamente? A vida toda meus avós me acompanharam e, de uma hora pra outra, os dois não estavam mais presentes. O pior de tudo era saber que um deles ainda existia, mas eu não existia em seu mundo. Fui deixada para trás. Apagada.

Um vazio transbordava dentro de mim, como se eu não passasse de um fantasma de mim mesma, como se minha presença não pertencesse mais à realidade. Se eu não tenho mais família, o que me assegura de que eu realmente existo? Isso era, no mínimo, solitário.

Só depois de eternos minutos consegui voltar o foco dos ouvidos para a realidade que me cercava.

– Ina, me responde! – sentia um chacoalhar nos ombros, mas não conseguia reagir. Meus olhos estavam vazios e minha expressão não era diferente.

Senti braços me envolverem e me carregarem para dentro, já que eu estava em um estado de choque fisicamente, ao passo que minha mente estava em um turbilhão de pensamentos. Fui colocada na cama do quarto em que dormia sempre, e logo percebi que os demais também se encontravam presentes.

Os dedos musculosos que eu tanto conhecia percorriam meu rosto, em busca de alguma mudança no meu estado vital. Sem encontrar nada, segurou delicadamente meu queixo, de modo que virasse meu rosto para o seu. Quando me encontrei com aquele par familiar de círculos flamejantes, senti uma lágrima escorrer pelos meus próprios olhos.

– Ina... – ele disse baixo, como se implorasse por alguma informação ou pista do que havia acontecido

– Taiga... – respirei fundo, atraindo o olhar dos outros três no canto do quarto, apreensivos – Ele tem Alzheimer – soltei como um sussurro – Meu vô não sabe mais quem eu sou...

Passei o restante da noite no quarto. Eu insisti para que os meninos voltassem para a sala e continuassem jogando, que queria ficar sozinha. De vez em quando um deles vinha ver como eu estava ou se já estava dormindo, mas baixavam o olhar ao perceber que nada tinha mudado.

O tempo passou e eu continuei na mesma posição, nem me dei o trabalho de trocar de roupa. Fiquei sentada esticada na cama, com o olhar fixo em um ponto qualquer à minha frente, enquanto meus pensamentos se imergiam num mar sem fim.

O que eu seria, a partir de então? Minhas ligações com o Brasil se resumiam aos meus avós, coisa que agora não existia mais. Lembrei nitidamente do médico explicando que seria melhor não provocar estresse num paciente delicado, ou seja, não ficar insistindo para que ele retome a memória para não trazer maiores complicações ao tratamento.

Em outras palavras, eu não podia ir atrás dele, para o seu próprio bem.

Sem reparar no tempo passando, me voltei para o mundo com alguém entrando no quarto

– Ina... – Kagami começou dizendo, mas parando subitamente ao ver meus olhos vazios voltarem-se para ele

Neguei apenas com o olhar, eram visíveis os resquícios de lágrimas em meu rosto. Ao fazer contato com o par de círculos em chamas, senti que eu conseguia transmitir tudo o que estava sentindo, sem ter que dizer qualquer palavra.

Kagami estava pegando minha dor para ele, dividindo-a para que eu pudesse suportar.

Como o fim de um estado de transe, pisquei os olhos calmamente, a medida que ele entrou no quarto e sentou ao meu lado. Seus dedos musculosos pegaram os meus gentilmente, mas com muita intensidade. Não era dó, muito menos pena. Ele me confortava.

– Oi... – consegui dizer, deixando transparecer toda a tristeza que eu continha.

Ele encostou o queixo no topo da minha cabeça, segurando meus cabelos levemente para que eu pudesse me apoiar nele.

– Você precisa de alguma coisa? Os meninos já foram dormir... – ele falava calmamente

– Eu vou ficar bem... – tomei cuidado em dizer, sem afirmar que eu estava bem agora, e ele pareceu entender o recado.

– Se precisar de mim, só me chamar ali no outro quarto, tá? - disse começando a se afastar

– Tá... – respondi, mas minhas ações eram contraditórias, já que eu apertava mais ele contra mim

– Quer... Que eu fique aqui? – ele ponderou, um pouco incerto

– Não, eu só... – comecei a dizer, tentando encontrar as palavras – Me sinto vazia, Kagami...

Ao ouvir isso, ele cuidadosamente me ajeitou na cama, arrumando meu travesseiro e me envolvendo no cobertor. Se sentou ao lado da cama e colocou o rosto apoiado no colchão, me fitando de perto.

– Eu estou aqui, Ina – afagou alguns fios do meu cabelo – Não vou a lugar algum. Nem agora e nem nunca.

Com essas palavras, comecei a pegar no sono.

Era incrível a capacidade que esse garoto tinha de me confortar, trazer uma chama calorosa pra dentro do inverno gélido do meu coração. Uma mistura de tranquilidade e segurança, me fazendo sentir amparada.

Mas essa paz interior não durou muito.

Acordei repentinamente de um pesadelo, onde as lembranças por si só dos acontecimentos familiares já eram suficientes para me causar angústia. Olhei ao meu redor e pude sentir a presença de Kagami, dormindo sentado pesadamente.

Um sorriso me escapou. Ele realmente não ia a lugar algum, literalmente.

Levantei cuidadosamente da cama, colocando a coberta que eu estava usando em seu corpo cansado. Perdi-me alguns segundos fazendo um cafuné em seu cabelo bicolor, recebendo uma careta sonâmbula em troca.

Saí do quarto e fui até o banheiro. Lavei meu rosto diversas vezes, buscando uma revigorada, ainda que mínima, em cada enxágue. Respirei fundo e decidi ir até a cozinha, atrás de um copo de água, para engolir o choro que começava a surgir.

Com o líquido em mãos, apoiei-me de frente para a pia da cozinha e de costas para os dois meninos praticamente desmaiados no outro extremo do cômodo. Percebi que estava começando a ficar inquieta com meus próprios sentimentos, então larguei o copo intacto em qualquer canto e fui até a sacada, fechando a porta logo em seguida.

O ar fresco, esse sim me acalmou.

Inspirava e expirava lentamente, ditando um ritmo forçado para meu corpo fora de sintonia.

Ritmo. Pensei soltando o ar rapidamente, em deboche comigo mesma. Até nessas situações o tal do ritmo me perseguia. Mesmo o tempo que fiquei sem o basquete, ele me acompanhava em forma de música. Acredito que em toda minha vida foi assim.

E agora, nessa fragilidade que eu estava, sem basquete e sem música, ele vinha em forma de respiração. Essa é minha essência.

– Vocês sabiam disso o tempo todo, não é? – sorri de olhos fechados, esfregando meu rosto exausto com a palma da mão, sumindo completamente com a vontade de chorar ao lembrar daqueles rostos que tanto me fizeram bem a vida toda. – Por que eu sinto tanta falta...? – apertei o lado direito do peito com força, tentando esmagar aquela dor infinita

Parei rapidamente, ouvindo o barulho da porta da sacada, mas não me virei pra ver quem era. Concluí que seria o único que estava visivelmente tão atordoado quanto eu, que provavelmente acordou e se deu conta que eu não estava mais na cama.

Yo – uma voz sonolenta, diferente da que eu pensava, surgiu se aproximando de mim

Olhei para trás num impulso, para ter certeza de que meus sentidos não estavam me pregando peças.

– Ao...Mine...? – perguntei, visivelmente surpresa, ficando praticamente boquiaberta com o que veio a seguir

Um abraço.

O azulado envolveu seus braços compridos em mim, um na diagonal das minhas costas terminando no meu ombro, e outro em meus cabelos cobrindo quase toda a extensão da minha cabeça, aproximando-me cuidadosamente de seu peito.

Eu não reagi de primeira, deixando meus braços soltos ao lado do corpo, como se esperasse que a qualquer momento ele fosse me soltar e dizer que estava tirando uma com a minha cara.

Até então, ele não tinha se dirigido a mim, depois da ligação. Pelo contrário, ele foi o único que não foi me ver ou tentar falar alguma coisa para me confortar. E, sinceramente, eu não esperava que fosse diferente. Mas agora, ali em seus braços com seu cheiro me envolvendo, era como se tudo estivesse onde deveria estar.

O silêncio se instaurou, e pude ouvir seu coração batendo acelerado, mas não tanto quanto o meu.

O que ele estava fazendo? Por que estava me confortando? Mil perguntas me surgiram simultaneamente, mas a principal era a que mais me incomodava. Ele está com dó de mim?

Geralmente eu sabia dizer se a pessoa estava me ajudando ou só me rebaixando com os gestos, mas nesse caso eu não sabia. E eu estava me coçando por dentro pra descobrir.

– Você aguenta o tranco, eu sei que sim – ele disse, bem baixo e com uma seriedade que eu desconhecia

Em seguida, desvencilhou do abraço aos poucos e se sentou de costas para a porta, olhando o céu. Sem mais, nem menos. Sem cobranças. Sem comentários ou questionamentos. Ele só ficou ali.

– O que você tá fazendo aqui? – perguntei, de costas pra ele, me debruçando no corrimão da sacada

– Ar fresco, e você? – respondeu indiferente

– Ar fresco.

Silêncio outra vez. Mas confesso que a resposta dele foi um tanto satisfatória pra mim. Respirei fundo algumas vezes, chutando pra longe meus pensamentos ruins. Era como se eles tivessem um imã em mim. Na verdade era mais como se eles tivessem uma polaridade igual a qualquer companhia minha, indo embora quando eu estava acompanhada, mas sempre voltando quando eu me afastava.

Passei a mão no rosto diversas vezes, sentindo o vento soprar de leve meus cabelos. Resolvi me sentar ao chão também, escorando na porta, mas a uma distância segura de Aomine. Por mais que ele estivesse muito na dele, eu não estava 100% com essa nova atitude dele de se importar comigo.

– O filme de hoje não foi tão ruim – ele disse, sem se mexer

– Pois é... – concordei, desanimada

– Mas foi o único que fiquei acordado até hoje, fora no meu aniversário quando assistimos Velozes e Furiosos – ele continuou, mantendo o mesmo tom indiferente e a mesma posição

Silêncio outra vez.

Aos poucos, eu sentia meu corpo mais leve, como se eu estivesse saindo de uma anestesia e voltando a retomar os sentidos de mim mesma. Junto com eles, veio o sono, que até ali não me permitia sentir.

– Você gosta de Velozes e Furiosos? – perguntei, tentando esconder um bocejo.

– Aham

– Eu também. – comentei, bocejando outra vez

Silêncio.

Dessa vez, pareceu durar uma eternidade, simplesmente pelo fato de que eu comecei a pescar algumas vezes. Só me dei conta do fato quando o vi me espiar pelo canto de olho com um meio sorriso. Nem dei bola.

Tentei me manter acordada, mas assim que o fazia os pensamentos ruins começavam a me cercar. Em meio a alguns deles, eu pesquei um pouco mais demoradamente.

Acordei assustada, mas reprimi meus movimentos imediatamente.

Eu estava com a cabeça caída no ombro do Aomine. Abri os olhos e comecei a olhar para todos os cantos, sem mover um músculo. De onde eu estava não dava pra saber se ele estava dormindo ou não, ainda mais que ele não mudou de posição desde a hora que sentou.

– Oi

– Como você sabe que eu tô acordada?

– Você fala dormindo

– Ah... Desculpa.

Na verdade eu não falo dormindo. Quando eu fico muito mal, começo a me lamentar, gritar e até chorar quando eu durmo, acordando mais cansada do que nunca. É uma droga sentir isso. E parece que ele percebeu que não era coisa boa. Fiquei me perguntando o que eu falei enquanto dormia, mas sabia que ele nunca iria me contar.

– Quer ir dormir? – ele questionou

– Não – respondi, reprimindo outro bocejo e fazendo-o rir

Mais uma vez, ele não ficou insistindo ou dando sermões. Ele apenas riu. Isso me deixou intrigada e me fez esquecer das últimas notícias por um momento, o que me ajudou a voltar a cochilar.

Estava tendo um sonho, não me lembro do que ao certo, mas aos poucos ele começou a se tornar realidade, quando vozes conhecidas apareceram ao fundo.

– Há quanto tempo ela está aqui? – Kagami perguntou, com a voz arrastada do sono

– Um bom tempo... – Aomine informou, bocejando.

– Você chegou a dormir?

– Não – ele hesitou, escolhendo as palavras – ela...

– Eu sei – o ruivo respondeu, com um tom mais triste.

Silêncio outra vez.

Sobre o que eles estavam falando? Já tinha despertado por completo, mas mantive os olhos fechados por mais um tempo. Senti meu rosto queimar, me deixando desconfortável. A porta da sacada abriu e ouvi os passos de Kagami se afastarem, fechando-a logo em seguida.

– Bom dia, já pode parar de fingir estar dormindo.

Abri os olhos, me erguendo de seu ombro. Parei logo que o fiz, meu pescoço doía muito pelo mau jeito que dormi. Passei a mão nele numa pequena massagem, tentando me situar no mundo.

Então a dor no meu peito bateu com tudo, junto de uma tristeza sem fim. Meus olhos começavam a ficar opacos novamente e eu ameaçava afundar em pensamentos até me perder novamente.

Aomine levantou rapidamente e se espreguiçou, aproximando do corrimão da sacada. Já estava amanhecendo e o sol batia de frente para onde estávamos sentados, me fazendo sentir um pouco de calor.

Ele ficou ali por alguns minutos, e eu fiquei o encarando. Era como se, ao olhar para ele, minha mente se esvaísse de obscuridades e lembranças ruins. Uma anestesia preenchia meu corpo, livrando a sensação de peso de mim.

Isso não estava certo.

Eu não podia ficar dependendo de outras pessoas pra me sentir bem e me recompor de coisas ruins. Eu precisava criar essa resistência sozinha, precisava ter resiliência uma vez na vida.

Eu estava sozinha no âmbito familiar. Não teria para onde correr caso acontecesse algo comigo e isso me deixou irritada. Eu era muito vulnerável naquele momento. Estava à mercê de outras pessoas, me apoiando nelas para crescer quando na verdade eu deveria estar criando meus pilares base para minha sustentação.

Levantei-me num impulso e fui para dentro do apartamento. Kagami tinha voltado ao quarto para dormir e Kise estava desmaiado na sala. Aomine apenas me seguiu, observando minhas ações de certa distância.

Juntei minha bolsa que estava jogada num canto, me certificando de que o essencial estava ali dentro e não deixava nada para trás. Prendi meu cabelo num rabo de cavalo, tentando ajeitá-lo o máximo possível, assim como meu vestido, e me dirigi para a porta.

– Kagami não deixaria você sair sozinha – o moreno sussurrou, nas minhas costas

Tirei a mão da maçaneta e me virei para encará-lo. Sua expressão era leve, não estava encrencando comigo nem nada do tipo. Ele parecia respeitar minhas decisões, sejam elas quais fossem, e isso me trouxe um alívio. Não estava nem um pouco afim de criar confusão ou dar explicações.

– Eu tenho que fazer isso – respondi, buscando entendimento em seus olhos

Ele me analisava, julgando minhas palavras e meu estado atual. Por fim, ele suspirou e assentiu, destrancando a porta pra mim e a abrindo, me dando passagem sem dizer uma palavra sequer.

Passei por ele e atravessei para o corredor, sentindo uma mão segurar meu braço.

– Se cuida

Pela primeira vez, Aomine tinha uma pontada de preocupação exposta em sua feição, por mais ínfima que fosse. Ele estava dando o braço a torcer, saindo da pose de durão e indiferente, por alguns segundos, para demonstrar algo que sentia. Imaginei o quão forte seria esse sentimento, a ponto dele desfazer de suas máscaras.

Aproximei de volta dele e me ergui com os pés, encostando meus lábios rapidamente em sua bochecha. Foi uma sensação estranha pois meus lábios estavam frios, mas seu rosto estava bem mais.

– Obrigada – disse ao me afastar, deixando um Aomine de sobrancelhas erguidas e boca entreaberta para trás.

Caminhei pelas ruas calmamente, sem pensar em nada. Nada além de meu avô.

Ele havia se esquecido de mim, e por um segundo eu desejei ter esquecido ele também. Sua lembrança me causava uma angústia enorme ao me dar conta de que não receberia mais ligações suas, sua atenção e carinho, nada disso.

Meu avô voltou no tempo e, em sua cabeça, ele estava feliz aguardando a chegada da filha ao mundo. Mas quem era eu pra tirar essa felicidade de si?

Parei pra pensar e a realidade não estava tão agradável assim pra ele querer voltar a ela. Sem as três mulheres de sua vida presentes, o quão mesquinho seria eu forçar que ele se lembrasse de mim, apenas para minha própria felicidade?

Quando dei por mim, já estava na porta de casa, ainda imersa nos pensamentos quando resolvi dar um ponto final nisso. Enxuguei as lágrimas que faziam parte do meu rosto nas últimas horas e respirei fundo.

Pela primeira vez na vida eu faria algo pelo bem dele. Eu iria deixa-lo me esquecer e, mesmo que não saiba, cumpriria com o que ele e minha avó queriam pra mim ao pedir que eu viesse para o Japão.


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Notas finais do capítulo

:(

https://youtu.be/G9GF_TlDcvc

Who I Am do Nick de novo, música que talvez pode retratar o que passa na cabecinha da protagonista.

Enfim, beijos!



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