Os flashes era tudo que se podia enxergar naquele lugar, a garota de óculos escuros não ligava para aquilo, afinal, ela já estava acostumada, não pelos motivos, mas sim pela curiosidade dos fotógrafos.

As perguntas gritadas faziam parte da sua rotina, os flashes velozes também, mas o que ela nunca se acostumaria seria o fato de precisar se esconder de algo que ela não havia feito.

Ela adentrou o carro com pressa e tratou de arrancar os óculos escuros assim que toda aquela atenção desapareceu, ela podia ver o tanto de fotógrafo que havia do lado de fora, mas ela não ligava, não naquele momento.

— Como você foi pega em um escândalo como esse? – o cara ao lado gritou, fazendo-a grunhir.

— Não grite – ela resmunga e olha pela janela, já haviam saído da frente do hotel e agora já pegavam a estrada – acha mesmo que eu arriscaria minha carreira desse jeito?

— Andar com as pessoas erradas ainda dá a entender que você é culpada Sasha.

— Eu não ando com pessoas erradas Jason, eu não tenho amigos, mal tenho família – ela diz irritada, agora olhando para ele – eu não sei quem fez isso, mas eu não uso drogas, faça um teste, um exame de sangue, sei lá que porra, mas me livre dessa porcaria de escândalo, é esse o seu trabalho, não?

— É, é o meu trabalho – ele suspira agora olhando pela janela, fazendo-a dispersar – faremos o exame de sangue pela manhã, mas você não vai ficar em Los Angeles, voltará para casa – ela o olha espantada, ele não podia estar falando sério, podia? – nem adianta me olhar assim, vai voltar para sua cidade natal.

Ela não disse mais nada, apenas grunhiu e revirou os olhos, voltando a prestar atenção na paisagem. Odiava Long Beach, e odiava mais ainda lembrar o motivo do porque havia saído de lá.

Sasha LeBlanc havia se tornado modelo no auge dos seus 17 anos, saiu muito nova de casa e mais ainda da sua cidade natal, para conquistar sua carreira em L.A., o problema é que antes dela sair de Long Beach, ela sofreu um atentado muito sério, por causa de um cara obcecado por ela, ninguém nunca descobriu quem era o cara, mas ela definitivamente sabia que ter sido acusada de usar drogas não era algo simples, e como o carma sempre vem atrás de você, ela sabia que estava voltando para casa por causa do seu passado.

Sasha foi deixada em seu apartamento, dali só sairia para o hospital no dia seguinte e depois para o aeroporto. Ela tratou de começar a arrumar sua mala, afinal, ela não se faria sozinha, mas ao mirar o buquê de flores sobre a mesa, seu sangue gelou, ela caminhou a passos curtos até lá e engoliu em seco, pegando o cartão no meio das flores.

Ela abriu o cartão e o deixou cair no mesmo instante, encarando a flor com ódio, Lycoris Radiata, ou lírio da aranha vermelha, é uma flor que representa o Equinócio do Outono, mas ela também é associada a morte, e a transição para uma nova vida. Ela sabia daquilo porque havia recebido um buquê igual no dia em que decidirá se mudar e não estava nem um pouco surpresa que estivesse recebendo de novo.

Ela recolheu o cartão e o olhou mais uma vez.

“Somos nossos próprios demônios e fazemos deste mundo nosso próprio inferno – Forever, Your Red Devil”.

Os diabos vermelhos eram como eram chamados os atletas do Westerly School of Long Beach. Aquela era a única pista que a remetia ao seu passado, afinal, ela era uma Viper, parte do time de líder de torcida, a capitã delas.

O dia seguinte veio e onde Sasha ia, havia paparazzis atrás dela, mas aquilo deixou de fazer diferença para ela, só aguentaria mais algumas horas antes de ir embora.

Quando desceu em seu destino final, ela não olhou para trás, não havia muito o que podia fazer, tinha apenas que esperar, o que ela não sabia era que esperar custaria muito mais do que o seu tempo, custaria sua vida.

Sasha adentrou a casa e sorriu quando foi recebida por seu pai, e sua mãe, havia um carrinho de bebê na sala que a fez sorrir genuinamente pela primeira vez, desde que receberá aquela notícia horrível.

— Bem vinda de volta querida – seu pai fala lhe deixando um beijo na cabeça – nós vimos a notícia, logo tudo se resolve, certo?

— Espero que sim papai – ela sorri e suspira.

— Arrumei o seu antigo quarto – sua mãe diz, ajudando com as bolsas, enquanto Sasha ia até o carrinho, vendo a pequena garotinha babando em seu brinquedinho.

— Ela está enorme – Sasha diz sorrindo, enquanto dava seu dedo para a garota brincar.

Os dois nada disseram, apenas sorriram e a deixaram brincando com sua irmãzinha. Seu pai levou as malas para cima e sua mãe foi terminar o almoço, era um sábado, então os dois estavam de folga.

Quando deu o horário do almoço, Sasha subiu, tomou um banho e voltou para a cozinha. Seu pai já estava sentado à mesa, dando a papinha da mais nova, enquanto sua mãe colocava a mesa.

— Sente-se meu amor, já terminei aqui – sua mãe diz sorrindo e Sasha apenas obedece.

Ela não havia falado muito desde que chegara, havia se distraído com a irmã.

— Não está do seu agrado ou você está em algum tipo de dieta? – sua mãe pergunta minutos depois, quando percebeu que Sasha apenas remexia no prato, mas mal comia.

— Não é isso mãe, está maravilhosa, eu só... estou cansada – ela diz com um meio sorriso.

Seus pais se entreolham e assentem, sabiam que Sasha precisava de espaço, e talvez fosse mais conveniente que ela tomasse um tempo para ela.

— Eu sei o que pode te animar – sua mãe diz animada.

— O que? – Sasha pergunta confusa.

— A festa de ex formandos da sua escola é hoje, todos os seus amigos estão na cidade só por isso.

Sasha engoliu em seco, aquilo sim era um desastre, e como se fosse o time perfeito, seu celular apitou, a fazendo olhar para a tela e sentir seu sangue gelar.

“Bem vinda de volta vadia, o inferno aquece na sua presença, bela dama do diabo – Forever, Your Red Devil”.

Aquela festa era uma armadilha e aquela cidade havia se tornado a sua prisão, era como ter um rato de volta na ratoeira, pego com o rabo solto.