*Narrador*

—Deixe ele. Termine com ele. Fique comigo.

Magali congela, enquanto Cascão espalha beijos em seu pescoço e continua a abraçando fortemente, como se a qualquer momento, ela fosse sumir da vida dele ali mesmo.

—Cascão... Eu... -gagueja Magali.

—Sei que está confusa. Sei que não posso lhe pressionar desse jeito. Não é justo. Eu me botei no meio de um relacionamento que já tem história. Me intrometi em algo que não era pra eu ter me intrometido. Você tem mil motivos pra me deixar, Magali. Mas eu só vou saber de verdade se sair da sua boca. Eu lhe falo isso porque não posso mais esperar. Pra mim já deu. Pra mim também não foi fácil. Perdi a Cascuda no processo. Eu só tenho você, Magá. Mas, jamais forçarei você a algo que não queira fazer. Por isso, me escolha.

Magali quase cai ali mesmo. Nunca que ela imaginou que ele falaria tais coisas a ela. 

Mas foi aí que a Magali percebeu, não uma coisa só, mas várias.

Mesmo lá atrás, quando ela estava "apaixonada" por Quim, não tinha dúvidas de que rolava um clima entre ela e o Cascão. Ela percebeu que estava muito na cara.

Ela percebeu também que ela gostava de verdade do Quim, porque ele sempre foi uma pessoa muito gentil, caridosa e amorosa, e todos gostavam deles juntos. Eles eram considerados um dos casais mais apaixonados do Limoeiro.

Mas não significa que ela o amava.

O Cascão sempre foi muito descontraído e diferente. Apesar de estar namorando a Cascuda, ele nunca se importou muito com namoro. Talvez ele não seja todas as coisas que o Quim é, mas algo nele a despertou intensamente.

Na noite da formatura, Magali havia notado a imensidão de seus sentimentos por Cascão, e a do Cascão por ela. A Magali não estragou relacionamento nenhum; o Quim estragou.

Agora ela sabia. E já estava na hora de contar pra Deus e o mundo.

—Cascão, eu seria uma idiota se eu te largasse por ele. -disse Magali, virando-se para o encarar. -Eu me sentia na obrigação de estar com o Quim, porque tudo me dizia que sim. Que era o certo. Bom... nem tudo. Eu não escutei a minha própria opinião sobre o relacionamento. E... confesso que eu me via com medo de andar por esse caminho... porque eu sabia que eu queria você. Passei anos da minha vida criando história com uma pessoa que nunca seria capaz de me dar a felicidade, o carinho, o prazer que você me dá. Você notou algo que eu não havia notado, Cascão: uma chance para darmos certo. 

Neste momento, Magali encostou a palma de sua mão no rosto de Cascão, o acariciando enquanto lágrimas desciam de seus olhos.

—Sempre foi você, Cascão. Sempre foi.

Cascão não se conteve e a beijou. Mas não foi erótico e ofegante. Foi um beijo que disse tudo.

O beijo tinha tudo o que estavam sentindo um pelo outro. Tinha tudo o que compartilharam: todas as aventuras, todos os encontros, todos os momentos constrangedores, todos os momentos de desespero. Foi o beijo mais completo da vida deles.

E, caralho, nunca se sentiram tão completos como agora.

Partiram o beijo pra respirar e se abraçaram por um tempo, até que Magali partiu para abrir a porta de seu quarto (ela destrancou primeiro, óbvio).

—Ué, vai pra onde? Já tá fugindo de mim? -brincou Cascão.

Magali riu e disse:

—Não. Vou ali fazer algo que eu deveria ter feito desde a noite da formatura. Terminar com o Quim.

Magali se retirou do quarto, e Cascão comemorou baixo pra ninguém escutá-lo.

—-

Magali desce do quarto com o celular e encontra a galera brincando de "Eu Nunca".

—Tá, pera, agora é a minha vez! Huuuumm... Eu nunca... FIQUEI COM NINGUÉM DA TURMA! -exclamou Isa.

—Ah, vai se fuder, praticamente todo mundo aqui já pegou alguém da turma! -Titi falou.

—Mas essa é a graça do jogo, Titi! -disse Aninha, rolando os olhos pra Titi -E infelizmente eu vou ter que abaixar um dedo.

—Ôh, Ana, eu tô bem aqui! -disse Titi, virando-se pra Aninha.

—ERA PRA VOCÊ ESCUTAR MESMO! -gritou Aninha, já puta da vida com o Titi.

—*Esses dois nunca mudam*- pensou Mônica, rindo baixinho.

—Boa, Isa, boa. -disse Cebola, rindo alto.

E (realmente) praticamente todo mundo havia abaixado um dedo.

—Quim... 

Todos viraram para trás. A Magali finalmente resolve aparecer.

—Gata, achou teu cel? Vem jogar! -disse Denise.

—Eu vou... Mas preciso conversar com o Quim. É urgente. -disse Magali.

Quim levantou-se e foi com ela até o lado de fora da casa. Magali, já prevendo a façanha que ia dar, fechou a porta.

—Pode falar, meu amor. -disse Quim.

Magali suspirou.

—E-Eu não acho que as coisas vão dar certo entre a gente... Estamos brigando muito e... sei que é normal em um relacionamento, mas a verdade é que... Eu não quero mais. Estou cansada e... bom... preciso respirar um pouco...

—Você tá terminando comigo. -disse Quim, logo chateado.

—... Isso.

Houve um silêncio desagradável.

—Eu fui um idiota. 

—C-Como assim...

—Um idiota por ter deixado você e o Cascão acontecer. Eu fui muito burro. Achou que eu não tava sabendo de seu rolo com ele?!

—Ter deixado? Você não manda em mim, Joaquim! E bem antes desse rolo, você já estava traindo a minha confiança! Ou não lembra da noite lá em Goiânia?!

—Ah, pelo amor, Magali, agora cê tá exagerando...

—Quer saber? Você realmente é um babaca. Acha que pode mandar em mim? Controlar com quem devo estar ou não estar?! VAI PRA MERDA! 

Magali entra na casa e fecha a porta com força.

Quim não aceita a atitude esperta da namorada e entra na casa enfurecido, o que chama a atenção de todo mundo.

—ÔH MAGALI, A GENTE NÃO TERMINOU AQUI NÃO!

Todo mundo congela. Nunca ninguém tinha visto o Quim desse jeito.

—TERMINAMOS SIM! FUI BEM CLARA, NÃO ACHA?! VAI A MERDA!

—Eita, cuzão... -sussurrou Jeremias.

—A GENTE SÓ TERMINA QUANDO EU QUISER TERMINAR!

—DÁ PRA VOCÊ SE RETIRAR DA MINHA CASA?! APROVEITA E SE RETIRE DA MINHA VIDA TAMBÉM!

—ESCUTE AQUI SUA VAGABUNDA...

—ÊPA! CÊ FALOU O QUÊ?! -Mônica levantou na raiva.

—Gente, calma! Vamos conversar sobre o que está havendo... -disse Marina, tentando acalmar os três.

—Ai, cala a boca, quero ver a treta do ano! -exclamou Denise.

—Ôh Quim, cara, também não tinha que ter chamado ela de vagabunda... -disse Cebola.

—Não tinha? ELA ESTRAGOU TUDO! NOSSO NAMORO TÁ ACABADO POR CONTA DELA! -gritou Quim mais uma vez.

—Quim, acalme-se, por favor... -tentou Maria Mello.

—NÃO VOU ME ACALMAR ATÉ MAGALI VOLTAR COMIGO...

—Chega.

Todos viraram para a direção da escada.

Cascão estava puto.

—Ora, MAS SE NÃO É O TALARICO...

—Acabou, Quim. Ela terminou com você pelo motivo que ela te falou. Respeite-a e não a chame mais de vagabunda.

—Isso, querido! Aceita que dói menos! -disse Denise (porque é algo que ela falaria).

Quim finalmente entendeu o recado e partiu.

Magali chorava e soluçava muito. Não por conta do término, mas por causa da intensidade da briga. A intenção foi terminar, mas de um jeito em que continuariam amigos.

Mas o mas estranho, foi que ela não estava arrependida.

Ela só queria o Cascão naquele momento. Só ele.

Só ele pra confortá-la...

... e fazê-la esquecer de tudo.