... E de Mais Ninguém escrita por Ceres


Capítulo 1
Capítulo 1 - Profecia


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena amostra do que vem por aí.
Contrariando suas próprias crenças, Fuji procura um velho conhecido para ajudá-lo em seus planos.



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— Preciso... abater um porco.

As palavras saíram estranhas de sua boca. Sujas. Mal reconheceu a própria voz, envelhecida oito anos e maltratada pelo cigarro. Assustador para aquele que um dia fora considerado o prodígio da Seigaku. Épocas tão mais simples, que ele recordava com saudades.

Uma risada histérica ressoou pelo lugar. Irônica e debochada, como esperado do homem diante si. Não mudara em absolutamente nada desde a última vez que se encontraram. No fundo, Fuji invejou sua constância.

Jin Akutsu bateu a ponta do cigarro duas vezes no cinzeiro antes de apaga-lo por completo.

— Você era uma das últimas pessoas que eu imaginei serem capazes de virem aqui. Estou impressionado como o mundo dá voltas.

Fuji manteve-se em silêncio. Akutsu não era nada além de um valentão na época da escola, mas os anos foram generosos a ele... Ao menos, generosos para sua causa.

Koori no Oni, ou o demônio do gelo, era conhecido como o prodígio do submundo japonês. Trabalhava sozinho na maioria das vezes, mas contava com sua própria “empresa de negócios”, se for possível colocar dessa forma. Contratos de assassinato, tráfico (drogas, armas, órgãos, pessoas... dessem uma semana que ele entregava a encomenda em pessoa), chantagens... Akutsu moldara seu império com apenas vinte e três anos de idade. Não importava a situação, ele estaria ali, com seus olhos de lince, à espreita, pronto para se alimentar do mais fraco. Como sempre.

— Eu só preciso de uma arma — Fuji insistiu. A risada de Akutsu ecoou mais uma vez, e isso o incomodou. Sabia que seria daquele jeito, todavia, então buscou manter a compostura.

— Estou curioso... De que porco estamos falando?

— É particular.

— Vamos, me conte! Somos tão amigos...

O tom debochado dele começava a irritá-lo de verdade. Fuji cerrou os punhos, tentando acalmar-se. A ideia era simples em sua cabeça: assinar o contrato, esperar, pagar, pegar a arma e ir embora resolver seus problemas. Na equação, ele apenas não levou em conta a petulância de Akutsu.

— Não preciso te dar satisfação alguma — afirmou com o máximo de seriedade que conseguiu reunir. — Apenas quero uma arma. Eu tenho dinheiro, sei que...

— Dinheiro é o de menos — ele interrompeu. — Você já devia saber disso.

Fuji se calou, aguardando o passo seguinte de Akutsu, que limitou-se a acender um novo cigarro e leva-lo aos lábios. Um silêncio estranho, incômodo, se instaurou enquanto ele tragava pela primeira vez, e Fuji ouviu gritos de desespero vindos de algum lugar do galpão — “escritório”, corrigiria o outro rapaz — quando ele baforou a fumaça. Sentiu calafrios, mas não deixou transparecer. Não era problema seu, afinal.

— Veja bem... Fuji, não é? — Akutsu encarava o teto como se algo muito interessante estivesse acontecendo ali. — Não vou te perguntar mais nada. Mas vai chegar um momento que você vai precisar da minha ajuda. E daí você começa a me explicar cada detalhezinho dessa sua ideia.

A cabeça dele despencou para a frente de súbito, como se os músculos do pescoço tivessem desaparecido. Fuji se assustou com o movimento, mas seu rosto manteve-se neutro.

— Estamos entendidos?

As palavras de Akutsu soaram estranhamente proféticas, e seus olhos o encarando fizeram o rapaz estremecer. Era uma boa ideia?, ele se questionou por um instante. Valia a pena o risco?

Valia.

Com este pensamento, ele consentiu, sério como um soldado em plena guerra. Koori no Oni, o negociador — não mais o ex-Yamabuki —, riu estridente.

— Agora... Vamos falar de negócios.


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