Renascer. escrita por Hailey


Capítulo 7
6. Verde, Azul, Castanho e TPM.




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A única coisa familiar para Xander são seus lábios. Até mesmo seu cabelo, fios crespos em um tom de dourado assim como os de seu pai, estavam cortados e tingidos de castanho claro.

"Platinado por agora é a estampa florida," havia dito Kevin, amigo de Marjo, enquanto enxaguava os cabelos de Xander, "mas o castanho é o jeans - nunca sai de moda, e é sempre bom nos olhos."

O garoto suspira. Passa a mão pelos cabelos agora escuros, seu dedo indicador contorna as sobrancelhas bem feitas, logo sentindo a curva do nariz. Tira a mão do rosto e vira a cabeça, apreciando a maquiagem: Marjorie conseguira fazer algo para suas maçãs do rosto parecerem mais afiadas, suas bochechas afuniladas, acentuando os lábios e olhos em uma maquiagem nude.

Dá um passo para trás. Os olhos verdes examinam as roupas que não lhe pertencem, a jaqueta-blazer preta sobre a camiseta vermelha folgada, a gola exageradamente baixa expondo as clavículas e parte do peitoral ossudo. A calça preta é de linen, apertada em suas coxas grossas e soltas a partir do joelho, pendendo folgada sobre os sapatos mocassim marrom escuro.

Suspira e bate levemente nas mangas da jaqueta, mais como um hábito nervoso do que para espantar a poeira, e encara seus próprios olhos maquiados mais uma vez. Se sentia estranho. Nascera Xander. Por anos, vivera como Xander. Hailey viera quando tinha dezessete anos, e hoje em dia tem 23. Deixara uma garota de 18 anos esconder Xander para ele. Ou ela? Xander não tem certeza. Xander pensa se agora deve parar de se chamar de Xander, o nome que sua mãe lhe dera antes mesmo de nascer, nome de seu avô, aquele que se recusou em sequer olhar para o garoto quando disse que era Hailey, também. Xander está no seu RG. Nos seus documentos está o louro magrelo, sem maquiagem, de lábios finos e pálido, logo ao lado de seu nome: Xander Santenemo.

O corpo pula de susto quando batem na porta do banheiro.

"Xander?"

A voz de Marjo, mesmo abafada, traz um conforto para Xander. Balançando a cabeça para espantar os pensamentos inseguros, o garoto bate mais uma vez na jaqueta.

"Já estou indo. Desculpe a demora."

A amiga murmura um "okay", os passos leves se distanciando. Suspira mais uma vez e passa a mão nos cabelos agora castanhos, esfregando levemente o maxilar forte e macio, limpo de qualquer pêlo. Sorri fracamente para si mesmo antes de sair do banheiro que, por vinte minutos, fora seu pequeno porto seguro.

A barriga revira, mas Xander a ignora, porque no momento em que pisa fora do corredor para a sala de estar - ele pisa dentro do olho do furacão. Roupas masculinas e femininas estão espalhadas pelo sofá, panos de diferentes estampas e cores por toda a mesa de centro junto com maquiagens e papéis pelo chão. De baixo de uma calça listrada, olhos azuis claros o encaram, cheios de julgamento com os bigodes brancos franzidos, e Xander quase pode ouvir a pobre gata reclamando que tudo aquilo era culpa sua.

Porém, o que chama mais sua atenção é a loura com o queixo caído. O garoto sorri fracamente, ainda inseguro sobre a aparência, orbes verdes temerosas contra azuis espantadas.

Valentina é quem quebra o gelo, claro.

"Bem, agora tudo ficou muito mais confuso." Xander cerra as sobrancelhas grossas para a garota em confusão, assim como Marjorie, saindo de seu estupor, "Xander ou Hailey?"

Xander e Kevin compartilham um olhar de diversão enquanto Marjorie encara a morena distraída, incrédulo brilhando nos olhos e em toda a face enquanto balança a cabeça. Valentina, encarando uma tonga rosa chock (que fez Xander mais cedo quase arrancar seus próprios olhos) em distração, levanta as sobrancelhas:

"Xailey?"

Kevin, confortavelmente sentado na bagunça do sofá com as pernas cruzadas, funga uma risada.

"Ou Hander. Hainder..." distraidamente, Valentina levanta as sobrancelhas ainda mais para o homem.

"Tenho certeza que já ouvi uma banda de metal com esse nome."

O momento é quebrado no momento em que um vulto branco salta no meio de todos, assustando-os. Xander deixa uma risada curta escapar quando inspeciona a gata: o pelo encaracolado, normalmente um branco-neve profundo, tinha pontos de tinta castanha salpicados. O rabo longo estava trançado com dezenas de pequenos laçinhos rosa chock, e uma gravata borboleta preta contrastava contra o pelo.

Chiclete encara todos os três humanos com profundos olhos azuis claros. Bufa para Xander e pula para a pia da cozinha, virando o rosto para os julgar mais uma vez antes de pular para a janela e desaparecer.

Silêncio segue. Alguém limpa a garganta.

"Esse gato tem sérios problemas sociais."

Marjorie fuzila Valentina. Valentina balança os ombros.

"É uma gata."

"Oh." A morena balança a cabeça, cachos batendo em sua face. Outro silencio passa. "Gatas têm TPM?"

Exasperada, Marjorie abre a boca. Nada sai. A fecha, rosto contorcendo em confusão quando olha para Xander. O garoto balança os ombros largos. Ambos viram para Kevin que, distraído, os encara por cima dos óculos de armadura grossa em uma cor chocante de azul.

"Não me olhem desse jeito," volta os olhos castanhos para o pedaço rasgado de uma camiseta, o costurando, "gosto de veterinários, não da veterinária."

Xander e Marjorie se encaram novamente, e Valentina ainda está encarando uma planta meio morta de Marjo.

"Eu acho que sim," diz, atraindo a atenção dos dois, "sabe, dês que elas mentruam..."

Todos os três se encaram, pensando na possibilidade. Kevin suspira, e se pergunta como ele foi parar no meio daquilo.


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